segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Masters of Horror: The Damned Thing de Tobe Hooper (2x01)

O MAL ETERNO

A abrir a segunda e última rodada de “Masters of Horror”, temos, repetente, Tobe Hooper, com este “The Damned Thing” que, diga-se de passagem, ainda que fique aquém de “Dance of the Dead” em termos estéticos e em originalidade, é realmente mais adequado a uma série de médias-metragens de terror, muito mais conseguido enquanto filme do género do que o primeiro, que, de certa forma, ainda que fosse uma história arrepiante e mórbida, não era propriamente um filme de terror. Se fosse numa qualquer outra situação, duvido que esta questão tivesse o mínimo de relevância mas, sendo “Masters of Horror” uma espécie de colecção do género, é de todo pertinente.

Concretamente, “The Damned Thing”, baseado num conto de Ambrose Bierce, é uma história sobre uma força maligna que possui as pessoas conduzindo-as a brutais homicídios e suicídios. É o que acontece com a família de Kevin Reddle, quando, na noite do aniversário, o pai assassina a mulher e, prestes a matar também o filho, é repentinamente estripado por um ser invisível. Vinte e quatro anos depois, Reddle (Sean Partrick Flanery) é xerife da localidade de Cloverdale, Texas. A sua obsessão pela criatura que terá conduzido o seu pai à loucura levara a mulher, Dina (Marisa Coughland), a separar-se dele, levando o filho que tinham em comum.
Com o aniversário de Kevin a aproximar-se, começam a surgir pela localidade vários suicídios violentos e ataques, sem que a sua origem possa ser determinada.
Tentando entender a origem de tudo, Kevin acaba por abrir uma caixa que pertencia ao pai, para nela encontrar uma série de recortes de jornais, acerca de uma perfuração no solo, feito numa comunidade vizinha, com vista à implantação de uma fábrica. Essa perfuração teria estado na origem de um grande massacre que devastara a população da vila; e nela, teria estado envolvido o avô de Kevin.
Com a força maligna a tornar-se cada vez mais activa e mortífera, Kevin acaba por confrontar-se com os seus fantasmas, ao mesmo tempo que tenta salvar a família e a população da “coisa maldita”. E talvez seja esta a tónica mais interessante do filme.
Falando propriamente, este filme segue, tal como “Dance of the Dead”, o caminho do drama familiar, enquanto palco de problemas e traumas, que originarão mais tarde as situações que o filme em si permite explorar.
Não é raro encontrar-mos em filmes de terror indivíduos como Kevin, incapazes de vencerem os seus medos e a perder, por isso, a sua vida. Mais interessante do que o que nos é contado, no entanto, é, neste filme, o que não nos é contado.
Tobe Hooper parece querer guardar a resolução mesmo mesmo para o fim, e a verdade é que só temos acesso à imagem da “coisa maldita” no final, e sem grande tempo para a fixarmos. O filme evolui com lentidão, e parecemos acompanhar Kevin na sua inércia e no seu vazio, enquanto procuramos as respostas sobre a noite em que ele perdera a sua família.


A questão das forças malignas que tomam as pessoas, como parasitas, não é nova. A título de exemplos, cito “Ghosts of Mars” ou “Prince of Darkness” de John Carpenter; ou “Session 9” de Brad Anderson. Tratando-se de uma premissa por assim dizer “vulgar”, a única hipótese de salvação para o filme de Hooper seria a explicação da origem dessa força, e parece-me que, nesse aspecto, Hooper é bem sucedido.
Se há alguns aspectos negativos a comentar, eles parecem-me quase cosméticos. Por exemplo, no início, são muito realistas os efeitos especiais quando o pai de Kevin é esventrado; mas, no final, a figura da “coisa maldita” é tão nitidamente digital que é quase como se os operadores nem tentassem disfarça-lo. Isto, além do voz-off que, defendo, só deve existir se fôr mesmo estritamente necessário, o que não é o caso.
No entanto, estas pequenas falhas são compensadas com pequenas subtilezas, que vêm confirmar o olho certeiro e treinado para a estética do grotesco que é o de Tobe Hooper. Como exemplo, deixo a cena que mais me impressionou, a do suicídio de um homem que desfigura o próprio rosto com um martelo. Os planos utilizados para filmar essa cena em particular merecem, por si só, que se veja “The Damned Thing”.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Prova da Existência da Alma


Deixaste a ressurreição a meio.
Não me lembro de nada tão incompleto como ela.
O meu director fala de objectivos, fazemos mapas
e somos despedidos se. Ou temos prémios
e corrupção. Haja alguma arte em tudo isto.
Senhor, o teu corpo está seco na gaveta.
Estás no meio de nós coberto de bolor.
A morte chega a ser desejada tal o sofrimento.
Nas palavras de São Paulo a criação teve parto e dores
em relação. Um prelúdio, sabemos hoje, prelúdio
sem mais nada. Os animais não aspiram à eternidade.
Nisto devia consistir a alma que lhes foi negada.
Por menos despediria eu um empregado.
O meu cão brinca a que sou eu o cão dele.
Atira-me um osso e corro atrás, todos corremos atrás.
Mas é assim que se sobe na vida porque aspiramos.
Prova provada de que temos alma.

Rosa Alice Branco
O Gado do Senhor
2010, ed. Espiral Maior
imagem de Júlio Resende

Berlusconi com telhados de vidro

Silvio Berlusconi, que já devo ter referido aqui, está no primeiro lugar dos meus assuntos risíveis da semana, ainda que essa lista nunca seja particularmente extensa.
O homem recto, sério, católico, defensor dos bons-costumes e das belas tradições está agora no centro de mais um escândalo sexual.
Sinceramente, desde o caso Bill Clinton-Monica Lewinsky- Hillary Clinton, nunca mais encontrei um escândalo sexual que me parecesse particularmente interessante. Esse, sim, esteve na vanguarda, com mentiras, reconciliações e o envio da letra de "Do What You Have to Do" de Sarah McLachlan de Lewinsky ao presidente Clinton.
A partir daí, cada escândalo sexual é apenas mais um.
No entanto, o caso de Berlusconi, acusado de ter sexo com prostitutas menores, veio lançar dentro de mim uma felicidade extrema.
Berlusconi, o homem sério que proibiu a publicação de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" de José Saramago, para proteger a moral, é afinal agora acusado de crimes sexuais. Claro que eu duvido que haja repercursões fortes na carreira de Berlusconi. Mas a imagem é outra coisa. E, em muitos dos casos, é mesmo a imagem que interessa.
Bem-vindo aos pecadores, Silvio!!!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Lacrimatória 2


Aqui começa a impossível ressurreição do corpo.
Um ácido tapa os dedos do homem como se fosse
uma luva de pedra. Cabe à mulher explicar o desenho
dos ombros, como é feita a curva das ancas no instante
da queda. O silêncio arrepia, não a morte. É preciso
descobrir de onde vem a lua cega, quem a carrega,
quem a anuncia nos dias em que os monstros das
lagoas invadem a terra. O homem arrepende-se,
não suporta a picada das aves que nascem do lodo
abraçadas aos crustáceos. Transforma o ferro em aço,
envolve-o em grandes anéis de pólvora, afugenta as
limalhas com o próprio sopro. O seu destino não
pertence ao chão que pisa, mas a ela, à luz que
transparece dos seus ossos.

Jaime Rocha
Lacrimatória
2005, ed. Relógio d´Água
desenho de Elizabeth Eleanor Siddal

A não perder, no Porto


39.


Corujas nos geraram numa noite imensa.
Baionetas consagraram túmulos degredos.
Morcegos presidiram rituais secretos,
como se f'ossem únicos senhores do tempo.

Mas num momento simples limiar tangente
nasceu outra manhã encantatória e branca :

a cidade era nova vigorosa e tanta,
que extravasou seus muros e chegou aos campos
onde acordou os homens duros que na sesta
retemperavam forças para seus fazeres.

E aí foi que se ouviu um restolhar de gente
pois do frescor da cal chegaram as crianças
que atrelaram carroças a muares em espanto,
levando os homens dentro e as mulheres à frente.


Maria da Graça Varella Cid
Pefeito do Indicativo
1982, ed. &etc

pintura de Gustav Klimt

Anathema: We're Here Because We're Here

PAISAGENS ESTRANHAS

Dos Anathema, não havíamos álbum desde "A Natural Disaster", de 2003.
Pelo caminho, tivémos uma compilação, "Hindsight" (2008), que antologiava pela primeira vez a fase que vai desde "Eternity" (1996) ao álbum de 2003, já que os dois volumes de "Resonace" (2001 e 2002) se ocupavam da fase inicial da banda, mais marcada pela tonalidade doom-metal, que a banda abandonou quando Darren White deixou a banda.
E se "Eternity", ao colocar como vocalista o guitarrista Vincent Cavanaugh, começava uma nova sonoridade para os Anathema, seriam os álbuns "A Fine Day to Exit" (2005) e, principalmente, "A Natural Disaster" a revelar-nos a profunda maturidade dos novos Anathema: uma sonoridade sempre angustiante e tensa, mas marcada pela fusão entre o lado orquestral e sinfónico e o rock pesadote. Tornava-se cada vez mais difícil catalogar a música da banda, e, a partir de 2003, começamos a ouvir com frequência o termo progressive-rock.
"We're Here Because We're Here", lançado em 2010, vem demonstrar que essa definição de progressive-rock estava, afinal, certa.
A capa do álbum mostra-nos uma imagem luminosa, que nos aponta para uma certa libertação. Seria talvez estranho ver esta imagem nos Anathema, principalmente depois da "contemplação carinhosa da angústia" (Empresta a Agustina.) que era "A Natural Disaster".
Mas, logo que começamos a ouvir "Thin Air", percebemos que, realmente, há aqui uma espécie de libertação. Não diria propriamente uma felicidade, mas, definitivamente, uma vontade de criar canções mais luminosas. Outras canções como "Dream Light" ou "Everything" vêm ainda neste sentido. Percebe-se, definitivamente, que sete anos de silêncio tiveram a sua importância, porque talvez "We're Here Because We're Here" não fosse possível antes.
O tipo de construção destas canções também o confirma. A articulação entre o lado orquestral e o lado eléctrico é realmente bizarra, mas muito bem conseguida, contribuindo, de facto, para criar uma grande tensão dentro das composições que, por si só, já são dramáticas. A voz é ainda a mesma, Vincent Cavanaugh canta com uma certa fragilidade, mas com grande segurança e a sua "personalidade" parece inserir-se muito bem neste tipo de atmosferas mais luminosas, tanto quanto nas mais tensas a que já estamos habituados, como acontece com "Universal", que vive de um crescendo, tornando-se cada vez mais densa e cada vez mais tensa, culminando numa espécie de violência libertadora que, de resto, é muito o espírito deste álbum.
Outros exemplos disto: a canção "Summernight Horizon", que me parece uma das melhores do álbum, ainda que uma das mais tristes, a fazer lembrar um pouco os tempos de "Pulled Under at 20000 Metres a Second", mas mais arriscada e, também, mais conseguida; ou ainda "Get Off Get Out", que, sendo uma das canções mais negras, parece ser também a mais inesperada de todo o álbum, não contendo reminiscências a qualquer outro álbum a qualquer outra canção; talvez por ser uma das duas escritas por John Douglas, o baterista, que, ainda assim, revela aqui maior originalidade do que em "A Fine Day To Exit", onde compunha metade do álbum.
"We're Here Because We're Here" está também cheio de pequenas subtilezas, o que já não é estranho nos Anathema, particularmente tendo em conta os álbuns de 2001 e 2003. Exemplo disso é "Everything", onde encontramos uma certa ambiência folk, assim como em "Angels Walk Among Us", que conta com a participação de Ville Valo, o vocalista dos HIM. A letra desta última canção tem ainda uma questão curiosa, que a de fazer lembrar um pouco o estilo lírico de "Serenades" (1993) ou de "The Silent Enigma" (1995), que já não ouvíamos nos Anathema há algum tempo ainda que, como sempre, as canções sejam da autoria de Danny Cavanaugh.
Outra coisa que me parece notória neste álbum, e que vem talvez continuar um pouco o que acontecia em "A Natural Disaster" é que estas canções parecem deliberadamente afastar-se do conceito típico de "canção" com estrofe-ponte-refrão-estrofe-ponte-refrão-coda-refrão. Estas canções parecem vaguear, mais interessadas em desenvolver as possibilidades instrumentais e de letra, tornando-se assim mais fortes e surpreendentes. Se "Thin Air", "Angels Walk Among Us", "Get Off Get Out", "Universal" ou "Hindsight" são bons exemplos disto, "Presence", cuja voz está entregue a Lee Douglas, é exemplo máximo disso, parecendo uma espécie de monólogo de lamento, com cerca de três minutos apenas.
Acima de tudo, "We're Here Because We're Here" é construído por atmosferas e paisagens estranhas, de um orgânico e intrincado, e os Anathema parecem aqui sintetizar todos os sentimentos humanos. Em termos de letras, estas poderão estar ao nível das melhores da banda, lado-a-lado com "A Fine Day to Exit" e "A Natural Disaster".
Em suma, valeu a pena esperar sete anos por este álbum. Intuo nele um novo começo para os Anathema, eles que têm realmente o vício do recomeço. É de notar que ninguém, ao ouvir "Serenades" poderia prever um álbum como "We're Here Because We're Here", mas isso é o menos importante. O mais importante foi ele ter acontecido. E ter acontecido com toda esta grandeza.



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Poe-Mas-Com-Sentidos 13


como é fácil esquecer as coisas
ou ignorá-las após terem passado
o dia de ontem por exemplo ou de amanhã
emaranhada na memória o primeiro
se atolados no hoje não chegamos a dar por nós
feito de um nadinha de ansiedade o segundo
de que só saberemos depois de amanhã
ainda que hoje se vislumbre como será

tarde embora a clarividência do acaso.

Wanda Ramos
Poe-Mas-Com-Sentidos
1986, ed. Ulmeiro
pintura de Salvador Dalí

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Mola da Roupa


Conservei-me afastada do estendal
durante algum tempo.
Sofro de vertigens, por isso
intimidava-me olhar para baixo,
o pátio vazio, restos de flores secas.
Um prédio com dez andares
e ele tinha logo que viver no último,
tendo como horizonte o mar
de terraços e antenas parabólicas.

Quando, chegado com a roupa
da máquina de lavar,
pega em mim,
de suas mãos eu deslizo para o chão.
Apressado, em vez de me apanhar
imediatamente, escolhe outra;
no final, atira-me para o cesto
de verga.

Não é que seja particularmente ardilosa,
mas verdade seja dita, preferia ser
mola de rés-do-chão,
dessas que faça sol ou chuva
sempre prendem a roupa numa corda
estendida no pátio.
O destino quis-me feita de plástico,
com um coração inclinado à melancolia.
Tenho, no entanto, como divisa
antes quebrar que torcer.

Sonho com o dia em que nas mãos da criança
serei um comboio.

Jorge Gomes Miranda
O Acidente
2007, ed. Assírio e Alvim
imagem de Adriana Molder

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Na Insónia Vivem

Dormia nos séculos, na obra (o azulejo),
e hoje vivo a vigília, reparto
os detritos do ouvido (nesses pátios chamam), a poeira urbana.
Se no sono mortal, entre frutos, pensava
na ciência, se os fenos, no exterior,
murmuram; que não recebi dos cereais o
seu dom; nada senti (as úlceras) entre arbustos velhos, portas de sombra
de um só solar; dançam, no peristilo, em pedra, e no entanto
assim dormem (o seu estado: a cerâmica). Só agora me exaltam;
arte, memória, as páginas, na insónia vivem,
lembro, como adormecem os mortos (silêncio vital) no seu tempo.


Fiama Hasse Pais Brandão
(Este) Rosto (1970)
in "Obra Breve"
2007, ed. Assírio e Alvim
imagem de Eduardo Luiz

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lost Days


The lost days of my life until to-day,
What were they, could I see them on the street
Lie as they fell? Would they be ears of wheat
Sown once for food but trodden into clay?

Or golden coins squandered and still to pay?
Or drops of blood dabbling the guilty feet?
Or such spilt water as in dreams must cheat
The throats of men in Hell, who thirst alway?

I do not see them here; but after death
God knows I know the faces I shall see,
Each one a murdered self, with low last breath.

‘I am thyself, — what hast thou done to me?’
‘And I—and I—thyself,’ (lo! each one saith,)
‘And thou thyself to all eternity!’


Dante Gabriel Rosetti
The House Of Life
1881



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pinturas de Elizabeth Eleanor Siddal

Uma vez mais, incitado pela leitura do romance "Adoecer" de Hélia Correia, que concluí há uns dias, lembrei-me de assinalar aqui uma questão que me parece interessante na história de Elizabeth Eleanor Siddal e de Dante Gabriel Rossetti.
Elizabeth é mais conhecida por ter sido obsessivamente desenhada por Rossetti e, eventualmente, mais ainda por ter sido ela a modelo da "Ophelia" de Millais.
Aquilo que é menos conhecido é que Elizabeth era, ela mesma, pintora e poeta. Os seus trabalhos plásticos chegaram, inclusivamente, a ser incluidos em exposições dos Pré-Rafaelitas, sendo ela a única mulher do grupo.
Mais ainda, o romance de Hélia Correia vem suscitar uma dúvida interessante: a de que Elizabeth terá alguma presença autoral na pintura do próprio Rossetti. Fez-me pensar num muitíssimo interessante texto de Rosa Montero sobre a relação de Camille Claudel com Rodin, em que nos explica que a influência de Rodin na obra de Camille é muitíssimo analisada, ao passo que a influência de Camille na obra de Rodin é descurada.
Para o bem e para o mal, aqui ficam, entre desenhos e pinturas, dez trabalhos de Elizabeth Eleanor.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Hanging Wall


Maybe because she's invited
The host waits in line to see
Leaving the room for the exile
A sleeping land mine

And no replys to the hanging wall
If we colide
We miss the guide-lines we speak of

Call me thief after a bargain
Or give me something more to see
Point blank at a riot
And hide your loved one

And no replys to the hanging wall
If we colide we miss the guide-lines

That's how you work on black stars
I travel through fireworks
Twilight's lonely crowned, suddenly down
Mr. Right is so upside down, he drowns
Missing his minor role in a nervous breakdown
Suddenly down

And no replys to the hanging wall
If we colide
We miss the guide-lines we speak of

Last night I dreamed of a long-run ride
Through skins of suede
Where we lay down above water mark
I broke the mirror
Don´t mind if you take the stage
Last night I dreamed of our love

With no replys to the hanging wall
Please no replys, runners lose control
If we colide
We miss the guide-lines we speak of

Miguel Guedes
(Blind Zero)
Luna Park, 2010
pintura de Edvard Munch

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Canção para o dia de hoje

Amália: Não sei por que te foste embora

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Mês de Dezembro 1


continuamente, escuta, me destruo
e as longas águas sem sossego fogem
e os ossos de dezembro coincidem
e são do inverno estas metamorfoses

não falarei da vida porque a vida
perdidamente triste se sustenta
de surdos pensamentos e desastres
e devagar a luz se lhe estrangula

sempre assim foi esta periferia
da escrita a desfazer-se e é no inverno
que nos olhamos com ferocidade
antes que o tempo devore outros discursos


Vasco Graça Moura
O Mês de Dezembro e outros poemas

1972, ed. Inova
pintura de Caspar David Friedrich

Tom Jobim vezes duas

Elis Regina: Águas de Março



Jane Monheit: Waters of March

domingo, 9 de janeiro de 2011

Um Soneto


Apenas do amor quero tão alto preço
do mais pouco ou quase nada peço
dias há em que o verso pede rima
como este a querer o que estima

e que não direi; pois que a vida
se se sente desordenada
ou em ardor que começa e finda
imprevisível em cada coisa e nada

ninguém assim o determina.
Apenas de quando em quando vestígios
por entre duas cidades, dois rios

um a norte, outro a sul que te imagina
ou balouça ou adormenta se o penso
querer dizer aqui o que não posso

Helga Moreira
Tumulto
2003, ed. &etc
imagem de Eduardo Nery