domingo, 9 de setembro de 2007

Sarah McLachlan: Afterglow Live

A TEMPESTATE PERFEITA





Sarah McLachlan é, injustamente, um nome principalmente desconhecido do grande público. E injustamente, porque a sua música, gostemos ou não gostemos, é construída com base na qualidade. E é este princípio, ao qual Sarah se tem mantido fiel ao longo dos quase vinte anos de carreira que tem, que faz com que o seu trabalho, principalmente como compositora, seja geralmente incompreendido. Ainda assim, confirmações ao seu talento não faltam, ainda que sejam poucos, mas as suas canções são utilizadas em filmes (City Of Angles, Kissing), séries de televisão (Six Feet Under, Roswell, Charmed, CSI, Queer As Folk, etc), já venceu vários Grammy Awards, e conta com inúmeras nomeações, só não consegue grandes sucessos de vendas.


Lançado no Natal de 2005, "Afterglow Live" tem no seu título a maior incongruência que se pode encontrar: o alinhamento do concerto a que assistimos no CD/DVD engloba todos os temas de "Afterglow" com excepção de "Time", é verdade, mas o álbum parece ser mais um best of ao vivo do que propriamente uma apresentação do mais recente álbum de originais da musicien canadiana. A abertura é feita, estranhamente, com "Fallen". E estranhamente porque além de ter sido o primeiro single de "Afterglow" foi o tema mais badalado do álbum, já utilizado num episódio de Six Feet Under e no final de um de CSI: Las Vegas. E, após tão bela introdução, continuamos a ser conduzidos por um longo mas irrepreensível concerto. Irrepreensível, se esquecermos o facto de faltar "Time" no alinhamento, por acaso uma das minhas preferidas. No entanto, a certa altura torna-se dificil encontrar seja que defeito for em todo este espectáculo, quando encontramos as versões tão melhores que as de estúdio de "Ice", "Fear", "Possession", "World On Fire", "Perfect Girl" ou "Building a Mystery". Ainda que sem ultrapassar significativamente as versões de estúdio, também pontuam "Angel", "Answer", "Dirty Little Secret" ou "Wait".

Simpática e comunicativa, Sarah traça, após seis anos de ausência uma retrospectiva que só não é perfeita por praticamente esquecer "Touch" e "Solace", que, por muito que já nos pareçam menores ao lado de "Fumbling Towards Ecstasy", "Surfacing" ou "Afterglow", não deixam de conter pérolas como "Steaming", "Vox", "Black", "Into de Fire" ou "Ben´s Song". Fora isto, nada de mau há a dizer.
É verdade que o que "Afterglow Live" nos diz, já "Mirrorball" nos havia dito, há anos atrás- que Sarah é uma mestra de palco- mas se por um lado é injusto que momentos tão paradísiacos se possam tornar quotidianos ao serem gravados e, logo, possivelmente repetíveis, a verdade é que esses momentos não merecem morrer na memória de quem os presenciou. Portanto, este álbum vale a pena.
É pena que o DVD contenha o concerto na íntegra, e o CD não, uma vez que no CD nem sequer estão os mais memoráveis momentos dessa noite.
Mas Sarah McLachlan é sempre Sarah McLachlan. Só isso merece muita coisa...





Veredicto:20/20

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Song To The Siren


On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me,
sail to me;
Let me enfold you."
Here I am,
here I am
waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning,
broken love lost on your rocks.
For you sang,
"Touch me not, touch me not,
come back tomorrow.
"Oh my heart, oh my heart
shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me,
let me enfold you."
"Here I am.
Here I am,
waiting to hold you."


letra de TIM BUCKLEY
imagem: PAUL M PAGI SEPUYA

sábado, 1 de setembro de 2007

As Minhas 20 Canções Tristes

Isto é uma selecção de 20 canções tristes, puramente pessoal, e independente de qual o genero, autor, intérprete ou proveniência da canção. Interessa ser triste, e a selecção não foi fácil, uma vez que 80% do que eu ouço é triste, deprimente, melancólico, etc, etc, etc, etc.


1. Sia: BREATHE ME
(-Sia Furler; Dan Carey-)
Momento de tristeza mórbida demarcada por um piano a desabar e um extraordinário arranjo de cordas. Sia Furler mostra que é mais do que uma das vocalistas dos Zero7, e faz uma canção tão triste que nos dá mais vontade de morrer do que o poema de Álvaro de Campos “Se te queres matar porque não te queres matar?”
"Hurt myself again today
And the worst part is there´s no one else to blame...
Be my fiend, hold me... "
(Do álbum "Colour The Small One" 2004)

2. Placebo: 20 YEARS
(Brian Molko; Stefan Olsdal; Steven Hewitt)
Delírio de pranto do trio de Brian Molko, complementado por um videoclip de estética perfeita. A premonição da morte assusta ou dá esperança? Aceitam-se opiniões. Os Placebo têm a deles. Esperança que os 20 anos que faltam sejam the best of all I hope.Molko; Stefan Olsdal; Steve "But it´s you I take cause you´re the truth not I
There are 20 years to go... the best of all I hope..."
(Do álbum "Once More With Feeling" 2004)

3. Fiona Apple: NEVER IS A PROMISE
(-Fiona Apple-)
História de um desamor agressivamente melancolico. Piano, violoncelo e voz fazem a história da canção mais triste não só de “Tidal”, como de toda a discografia de Fiona. Feliz ou infelizmente, a polémica loirinha nunca mais compôs nada tão severamente triste.
"You say you understand but you don´t understand
Yoy say you never give up looking eye to eye
But never is a promise and you can´t afford to lie..."
(Do álbum "Tidal" 1996)

4. Antony and The Johnsons: THE LAKE
(-Edgar Allan Poe/ Antony Hegarty-)
Antony e os seus Johnsons interpretam Edgar Allan Põe e não se espalham. A história é dramática e arrepiante, pois claro, e a composição não lhe fica atrás. Povoada de um som moribundo e gótico, “The Lake” é uma das melhores canções desta peculiar banda, e uma das melhores composições de Hegarty.
"But when the night had thrown her pall
Upon that spot as upon all
And the wind would pass me by
In its stilly melody
My infant spirit would awake
To the terror of the lone lake"
(Do EP "The Lake" 2004)

5. Aimee Mann: WISE UP
(-Aimee Mann-)
Composta para o filme “Magnólia” de Paul Thomas Anderson, “Wise Up” é uma canção conhecida de todos nós. Mann troca a guitarra pelo piano, e conta-nos histórias de quem se encontra perdido a meio da vida. E diz-nos como reverter a situação. Precisamente por nem sempre conseguirmos, é que ela diz coisas destas.
"You're sure
There's a cure
And you have finally found it"
(Da OST de "Magnólia" 2001)

6. Sarah McLachlan: FALLEN
(-Sarah McLachlan-)
O desgosto e a perda dentro de uma canção digna de génio. Sarah McLachlan abrilhanta a letra triste com a sua voz etérea, e o seu inconfundível piano. Single de avanço do mais recente álbum de originais, a confimar o talento da pianista para as sad songs.
"Heaven bent to take my hand, I´ve nowhere left to turn
I´m lost to those I thought were friends,
Everyone I know, they turn their heads emabarassed
Pretend that they don´t see
That it´s one misstep, one slips before you know it..."
(Do álbum "Afterglow" 2005)

7. Anathema: ARE YOU THERE
(-Vincent Cavanaugh, Danny Cavanaugh, Lee Smith, Jamie Cavanugh, John Douglas-)
Já dizia Fernando Ribeiro que o que interessa é o metal. A banda dos irmãos Cavanaugh, no entanto, não faz disso principio. Balada de choro e de morte, "Are You There" é um dos momentos mais interessantes da discografia da banda de gothic metal.
" but since you've been gone I've been lost inside
tried and failed as we walked by the riverside
and I wish you could see the love in her eyes
the best friend that eluded you lost in time
burned alive in the heat of a grieving mind"
(Do álbum "A Natural Disaster" 2005)

8. Jewel: FOOLISH GAMES
(-Jewel Kilcher-)
A senhora que veio do frio conta-nos, acompanhada de piano e violoncelo como lhe despedaçaram o coração. Pois claro. "Foolish Games" deu Jewel a conhecer ao mundo, estávamos nós em 1994. E não foi injusto. Uma canção simples, sem pretenções, que resulta num dos momentos mais tristes da discografia da menina Kilcher.
"Excuse me, I think I´ve mistaken you for
Somebody else, somebody who gave a damn
Somebody more like myself...
And you took your coat off, stood in the rain
You´re always crazy like that..."
(Do álbum "Pieces Of You" 1994)

9. Bliss: SLEEP WILL COME
(-Stefan Aaskoven; Marc-George Andersen; Banzai Republic-)
Abertura do álbum "Quiet Letters", mais que triste, "Sleep Will Come" é uma canção deprimente. História improvavel de violoncelos chorando, violinos desesperados, e uma estranhamente compassada beat electrónica, a culminar num acordeão violento. Fica um vazio, depois de ouvir.
(Do álbum "Quiet Letters" 2005)

10. Royksopp: TRIUMPHANT
(-Torbjorn Brundtland; Svein Berge-)
Uma música vinda do frio, do gelo e da neve. A duo electrónico grava uma canção orgânica e visceral. "Triumphant" é a introdução de "The Understanding", e um início cheio de força. Canção rara e cheia de vida, que culmina na morte.
(Do álbum "The Understanding" 2005)

11. Marilyn Manson: IN THE SHADOW OF THE VALLEY OF DEAD
(-Marilyn Manson/ John 5-)
Coma Black guia o seu povo pelo Vale dos Mortos. Pelo caminho, fala-nos da necrofilia da televisão, e do massacre de Columbine. “In The Shadow Of The Valley Of Death” é um dos temas mais tristes, e melhores, de Marilyn Manson, e também o subtítulo do seu melhor álbum.
"We have no future
heaven wasn't made for me
we burn ourselves to hell
as fast as it can be
and I wish that I could be a king
then I'd know that I am not alone"
(Do álbum "Hollywood" 2000)

12. Blind Zero: ABSENT WITHOUT PERMISSION
(-Miguel Guedes/ Blind Zero-)
As ruas do Porto ficam todas dentro desta canção. E os dias nublados e pesados também. Miguel Guedes escreve um dos seus melhores poemas e os Blind Zero fazem uma das suas melhores canções de sempre. O sentimento de revolta pela chegada ao point of no return é o assunto, e todos ou quase todos nos podemos identificar com ele.
"On everyday break on every street light
You´re absent without permission
Everywhere is the place I find
To learn by jeart that you´re watching over me..."
(Do álbum "The Night Before and a New Day" 2005)

13. Massive Attack feat. Terry Callier: LIVE WITH ME
(-Robert DelNaja; Neil Davidge; Terry Callier-)
Voz de negro sobre acústica/electrónica inclassificavelmente boa. Uma das canções mais potentes da banda de Bristol, com grande orquestração, percussões crescentes e electronica subtil. A não esquecer.
"Nothing´s right if you ain´t here
I´d give all that I have just to keep you near
I wrote you a letter tryin to make it clear
But you just don´t believe it- I´m sincere..."
(Do álbum "Collected" 2006)

14. Cecilia Bartoli: SI PIANGETTI PUPILLE DOLENTE
(-Antonio Caldara-)
O barroco do século XVIII no seu melhor. Cecília Bartoli resgata Antonio Caldara da treva do anonimato, e interpreta-o brilhantemente.
(Do álbum "Opera Proibita" 2006)

15. Lou Rhodes: WHY?
(-Lou Rhodes, Andrew Barlow, John Thorne, Oddur Mar Runnarson, Nikolaj Bjerre-)
A última canção composta pelos Lamb, interpretada por Lou Rhodes, no seu primeiro álbum a solo. Toada de quem está de partida, e vê a sua vida desabar. A terminar "Beloved One" e a antecipar "Bloom".
"So much of what I´d want for
I couldn´t let it be
So I made me a world where
You had to leave
Tell me why
Why can´t we let the good things in?"
(Do álbum "Beloved One" 2oo6)

16. Katia Guerreiro: VALSA
(-António Lobo Antunes/ Miguel Ramos-)
O lado escondido de António Lobo Antunes. Simplicidade metafórica, e simplicidade de linguagem. Katia Guerreiro canta, e, logicamente encanta. Uma canção de noite de insónia, de medo, e de amor.
"Se chamo som das ondas ao rumor
Dos passos dos vizinhos pela escada
É porque á noite acordo de terror
De me encontrar sem ti de madrugada..."
(Do álbum "Nas Mãos do Fado" 2003)

17. The Devlins: WAITING
(-Colin Devlin-)
Final do episódio piloto de Sete Palmos de Terra, "Wainting", canção de quietude, de espera, de slow motion, e de falta. Um masterpiece dos irmãos Devlin.
"Waiting with the orphans
Waiting for the bee stings,
they tell me that success brings
Waiting in the half-light
Waiting through your whole life."
(Do álbum "Waiting" 2000)

18. Amália Rodrigues: COM QUE VOZ?
(-Luís de Camões/ Alain Oulman-)
A canção que conduziu a grande diva do Fado ao tribunal, no tempo do Antigo Regime, pela interpretação de Luís de Camões. Por sinal, valeu a pena. Alain Oulman, pianista que dedicou toda a sua vida profissional a Amália, tem neste soneto de Camões uma das suas melhores composições. Amália brilha como de costume.
"Com que voz chorarei meu triste fado?
Que em tão dura paixão me sepultou
Que mor não seja a dor que me deixou
O tempo de meu bem, desenganado..."
(Do álbum "Com Que Voz" 1970)


19. Arcade Fire: OCEAN OF NOISE
(-Win Butler; Regine Chassagne; Tim Kingsbury; Richard Roux Perry; William Butler; Sarah Neufeld; Howard Billerman-)
Numa espécie indie de valsa, os canadianos Árcade Fire têm uma das melhores faixas de “Néon Bible” que nos narra a história do oceano de barulho entre duas pessoas. Não ao acaso, Saramago disse há uns anos que “é mais fácil chegar a Marte do que ao outro.” O septeto de Win Butler parece estar de acordo.
"No way of knowing
What any man will do
An ocean of violence
Between me and you
You've got your reasons
And me I've got mine
But all the reasons I gave
Were just lies to buy myself some time"
(Do álbum "Neon Bible" 2007)


20. Rufus Waiwright: THIS LOVE AFFAIR
(-Rufus Wainwright-)

Tema dos mais simples em “Want Two”, voz, piano e orquestra. O rock barroco presenteia-nos por vezes com canções assim. Wainwright perde-se numa narrativa sufocante, que é, á semelhança de um trabalho de Isabel Lhano, “Como se te afastasse e agarrasse ao mesmo tempo”.

"I can't say that I'm waltzin'
Not that I don't like waltzing
Would rather be waltzin' with you
So I guess that I'm going
I guess that I am walking
Where?
I don't know
Just away from this love affair"
(Do álbum "Want Two" 2005)

Dito isto, choremos e soframos todos. Peace.