sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Lou Rhodes: FNAC Norteshopping

SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO




O Café da FNAC do NorteShopping foi palco de um dos mais belos momentos do ano, e quase ninguém deu por isso. Lou Rhodes surgiu, em frente a uma plateia cheia, mas não tão cheia como deveria estar, com duas guitarras acústicas e a sua própria voz, e que voz essa!


O início, abrupto, foi feito com "Gabriel" numa revigorante versão em que Lou canta sobre samplers da sua própria voz como fundo instrumental. Comovente, sem dúvida, e surpreendente. O que já tinha sido clarificado o ano passado no concerto do cinema da Batalha, é agora confirmado: Lou Rhodes consegue redesenhar uma canção que, pela qualidade e pelo sucesso, parece intocável, novas roupagens, que a transmutam por completo.
Não obstante, sendo o motivo de reunião entre a musicien e o público, a apresentação do segundo álbum a solo da ex-vocalista dos Lamb, "Bloom", e, a título disto mesmo, seguem-se as interpretações de "Bloom" e "They Say". A primeira, apresentada como inédito na Batalha, é um emotivo turbilhão de tristeza e alegria, um misto de esperança e resignação. Musicalmente bem estuturado, boa melodia com claros traços folk. "They Say" é, no entanto, mais forte. Acompanhada duma linha de guitarra simples, mas agressiva, e ao mesmo tempo, comovente, Lou canta-nos, desesperadamente "Broken I find your clothes and dress myself in them..." materializando um medo tão familiar a todos, como a solidão ou a ausência. A terminar com vários samplers da sua voz que, sobrepostos, repetem esta frase, "They Say" é, claramente, um dos mais imponentes momentos de "Bloom", pela fusão que faz entre uma dolorosa melodia e barrocos arranjos.
De encore servem dois temas cruciais de "Beloved One", o primeiro álbum a solo de Rhodes. Primeiro, "Tremble", single de apresentação, que não perde, definitivamente, a sua força luxuriosa na versão reduzida a voz e guitarra acústica. No entanto, em "Each Moment New", brilha sem dificuldade. Canção que tanto pode ser abordada pela sua força incontornável como pela sua componente intimista, "Each Moment New" continua a ser uma canção exemplar folk, povoada de lições de uma viagem terminável, mas sem fim á vista.
Simpática, como sempre, Lou foi explicando o que cada canção era para si, e soube ser receptora do evidente carinho do público.


A repetir, mas em versão extensa e numa sala mais adequada, esperemos nós...




Veredicto: 19/20

terça-feira, 6 de novembro de 2007

The Cloud Room: The Cloud Room

ATRÁS DAS NUVENS ESTÁ O SOL




Ainda antes de ouvir "Please Don´t Almoust Kill Me", o EP lançado há semanas, segundo da disocgrafia dos The Cloud Room, sinto-me na obrigação (Comigo mesmo.) de dizer de minha justiça a propósito do álbum homónimo, o primeiro.
O registo primogénito da banda fundada por J Stuart, parente de Philip Glass (Por falar do assunto.), é um agradável sopro musical, povoado da sensação de que o que se ouve é insólito.
E isto em 2005 ainda mais. Entretanto o surgir (Ou o afirmar.) de bandas como os Arcade Fire ou os Clap Your Hands Say Yeah vieram reforçar esta ideia, acompanhando os Cloud Room nesse trilho incerto que é o Indie Rock.
"The Cloud Room" começa com "Hey Now Now", de resto tema de mais projecção do álbum, e que, ainda nos confins de sites na net começou a dar visibilidade á banda de Brooklyn. Nele, além da explosão que tenta, sem sucesso, ser contida, já dá para perceber que J tem noção das limitações da sua voz (E joga que acordo com isso, o que só demonstra inteligência.), e a canção nunca deixa de ser excelente. A sonoridade é diferente do que é costume vermos nas bandas de rock. Não existe a ansiedade de ter uma guitarra eléctrica a rebentar sod uma voz aos gritos até ficar rouca, bem pelo contrário, o que se procura é um equilíbrio dentro do caos, e alguma moderação no aspecto instrumental.
O álbum viaja sempre dentro desta sonoridade em que a explosão surge na tentativa de conteção. A performance dos músicos é perfeita e muito bem programada, surgindo cada instrumento no momento certo, e sempre conseguindo que cada um se ouça. Peca por vezes por abusar da contenção ("O My Love") o que não abona propriamente a favor da banda, e principalmente a favor de J Stuart, cuja voz fica sempre no mesmo registo.




As canções em si são compoisções com um gosto muito apurado, simples, mas engrandecidas pelos arranjos, ora barrocamente desmedidos, ora mais minimalistas. Há uma omnipresente energia em cada uma, e, definitivamente, têm potencial para resultarem num excelente concerto. Ouvindo "Waterfall", "Beautiful Mess" ou "We Sleep In The Ocean" guardamos depois a certeza de estar não só perante um grande álbum como também perante uma grande banda.






Veredicto Final: 19/20

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Laurie Anderson: Big Science (Remastered)

PREVIOUS LIFE




Publicado pela primeira vez e 1982, incluindo "O Superman", provavel e injustamente o tema de maior aceitação por parte do público, "Big Science" não deixa de ser um álbum maior no contexto da discografia de Laurie Anderson. Marcado inevitavelmente pelo universo de constante análise e observação que caracteriza esta musicien/ artista plástica, este é um álbum que, ainda que bem sucedido, para muita gente não passará de uma intelectualização do mundo e da vida cantado ou contado sobreum fundo instrumental. E se para muitos, tal facto deve ser levado no sentido pejorativo, a mim parece-me ser, na verdade, louvável. Em relação á música em si, ela é instrumentalmente simples, com sons sintetizados a saltar em cada faixa, denotando-se um apurado gosto nos arranjos feitos mais frequentemente para violino, instrumento que, aliás, Anderson usa com mais frequência. De reflexões como "Walking and Falling" ou "Born, Never Asked", Laurie retira uma visão particular e muito bem fundada daquilo que é o mundo e as pessoas (O que, aliás, não constitui qualquer surpresa.), como quando nos diz "You were born, and so you´re free".
Acompanhada por vários músicos, que contribuem tanto com instrumentos de percussão, como em arranjos de sopros, etc, a música não deixa de ser centrada na presença, quer literária, quer vocal, quer instrumental de Laurie, o que não deve ser interpretado como aspecto negativo, visto a música de Laurie Anderson não ser apenas música, tentantdo existir também como peça de arte e de literatura, em que o papel criativo cabe á própria.
A edição lançada há alguns meses, no entanto, peca por não oferecer nada de muito aliciante. Acrescenta ás faixas que já faziam parte do álbum videoclip de "O Superman" (Peça largamente interessante tanto como videclip como elemento de Video Art.) e a canção "Walk The Dog". E por isto mesmo a nova edição de "Big Science" não seduz assim tanto: porque a canção, ainda que boa, é apenas uma, e o videoclip é fácil de encontrar no DVD com a videografia de Laurie Anderson.



Veredicto Final
(Album): 19/20
(Edição Nova): 15/20