terça-feira, 20 de agosto de 2013

[fragmento]


Ando com tanta vontade de chorar...
Estar só cria uma melancolia tão profunda!
Só e sem uma ilusão de gosto! Esta impressão de completo deserto moral é acabrunhante. Uma impressão em mim contínua, actualmente. Mas houve dias, de quando? nunca se podem localizar bem estas impressões! _em que eu me sentia com a ânsia de viver, o gosto da vida. E tolerante, quase alegre...
Deve ter sido há muito tempo. Não me reconheço nessa que fui, nem sei quando é que assim fui.
Olho para o que me rodeia, para esta casa, estes bocados de parede tão indiferentes e pergunto-me que é que tenho aqui feito, se isto é viver?
Como tenho gasto o meu tempo?
Eu desejo o que os outros desejam, com certeza, mas eles satisfazem-se e eu não.
A vida repele-me. Tudo me constrange e me desassossega, quase me aterra.
A minha vontade é de perguntar sempre, mesmo sem saber a quem:
É assim que se vive, a isto chama-se viver?
Que tristes horas tem um dia! Tão aflitivas e desacompanhadas!
O inferno vive-se, conhece-se... e não é a rispidez das lutas que o dá, nem a violência dos sentimentos. É este viver à parte, este viver sufocado.
Já houve quem me dissesse que eu sou simples, estupidamente simples, naturalmente, e que o capricho é o sal da vida...
Deve ser isso. Decepciono, desencanto. Das minhas portas e do meu coração para dentro não há senão humildade. 
Mas eu não sei bem porque é que tudo o que me cerca me parece vazio ou irreal. Vivo disparatadamente, à toa, quase sem hábitos nem propósitos.


Irene Lisboa
Solidão
1939, ed. Seara Nova

449






















I died for Beaty _but was scarce Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining Room _

He questioned softly ''Why I failed''?

''For Beauty'', I replied _
''And I _for Truth _ Themself are One_
We Brethren, are,'' He said _

And so, as Kismen, met a Night _

We talked between the Rooms _
Until the Moss had reached our lips_
And covered up _our names _

Emily Dickinson
1862
pintura de Gail Potocki

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Nine Inch Nails: Something I Can Never Have



Do álbum 'Pretty Hate Machine' (1989)
Letra de Trent Reznor

(...) This thing is slowly taking me apart 

Gray would be the colour if I had a heart 
Come on, tell me 

You make this all go away 
I'm down to just one thing 
And I'm starting to scare myself
You make this all go away
I just want something I can never have

(...)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Nine Inch Nails: Copy of A



Do álbum 'Hesitation Marks'  (lançamento previsto para Setembro de 2013)
Letra de Trent Reznor

(...)
I am just a shadow of a shadow of a shadow
Always trying to catch up with my self
I am just an echo of an echo of an echo
Listening to someone's cry for help

(...)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Osso Vaidoso: Animal

TENHO VOZ, ÀS VEZES CANTO*

Dificilmente se encontraria em Portugal, nos anos 90, projecto mais arrojado do que o dos Três Tristes Tigres, banda formada por Ana Deus (voz), Alexandre Soares (guitarra eléctrica), Paula Sousa (teclados, abandona a banda depois do primeiro álbum) e Regina Guimarães (letras). Ainda que, após 'Comum' (1998) a banda tenha começado um interregno só pontualmente quebrado, as colaborações entre os membros da banda continuaram.


O projecto Osso Vaidoso volta a juntar Ana Deus, Alexandre Soares e Regina Guimarães, no álbum 'Animal' que, não estando de todo muito distanciado do trabalho dos Três Tristes Tigres, é relativamente diferente. A electrónica que caracterizava os Três Tristes Tigres e que os destacava da cena musical portuguesa, parece agora ter desaparecido, em detrimento de um som muito mais cru e simples, que continua a coadunar-se perfeitamente com a voz fortíssima de Ana Deus.
'Animal' abre com Elogio da Pobreza, com letra de Regina Guimarães, que posiciona os Osso Vaidoso numa realidade muito actual, porque nela ouvimos o prenúncio na penúria, ainda que haja uma mensagem relativamente irónica que funciona como uma esperança: mas há coisas que são minhas, mesmo que levem tudo, eu ainda sou meu. A voz de Ana Deus sabe aproveitar a subtileza da letra numa performance heterogénia e quase romântica. E será nesse registo que a maioria das canções se vão colocar, com mais experimentalismos umas vezes que noutras.
Seguem-se duas canções com letras de Alberto Pimenta, Coca-Cola Song e Ni Ha Rias, que se ajustam perfeitamente à atmosfera de 'Animal'. Aliás, as letras cheias de cacofonias e trocadilhos funcionam muito bem na voz de Ana Deus, que sabe tornar díspares as repetições e tira o melhor partido do ritmo dos versos.
Poligamia tem letra de Valter Hugo Mãe e é, eventualmente, a canção que mais se destaca pela negativa no álbum. A letra pretensamente subversiva nunca deixa de soar previsível e o roçar na ordinarice não a faz subversiva, antes a torna um tanto anedótica, e nem a performance de Ana Deus, irregular e quase descontrolada, nem a brilhante presença suja e excessiva da guitarra eléctrica chegam para fazer valer a canção.
Felizmente, a canção que se segue, Animal, com letra da própria Ana Deus, é uma das melhores do álbum e a canção, sendo menos irregular, tem uma energia muito intensa, com a voz arrastada e suave a intercalar com os solos de guitarra eléctrica, que parecem como que glosas de um mote qualquer que apenas se pressente. A discreta electrónica que se faz ouvir aumenta a estranheza da canção.
Bem Mal é um poema de Charles Cros, adaptado por Regina Guimarães e resulta numa canção fresca e despreocupada que contrapõe eficazmente a atmosfera algo pesarosa da canção anterior. O refrão acaba por ser muito catchy, e, na sua insistência na mesma frase, acaba por se entranhar.
Uma das faixas mais impressionantes de 'Animal' será Matematicamente, em que a voz da Ana Deus parece fazer um diálogo consigo mesma, fazendo uso da espantosa letra que Regina Guimarães escreveu a partir do seu livro 'Dix-Sept Écoutes' (2010). Uma vez mais, regressa-se ao tema da penúria que encontrávamos em Elogio da Pobreza, mas esta letra é mais dramática, e esse dramatismo é reforçado pela melodia violenta que a guitarra eléctrica faz parecer uma espécie de batimento cardíaco que vai acelerando. Dentro ainda do mesmo registo se encontra Cacofonia, mais uma letra de Regina Guimarães, que inclui uma série de jogos fonéticos, que Ana Deus transforma numa performance mirabolante, a derivar livremente da guitarra eléctrica, pesada e frenética.
O Um e o Muito é uma das canções mais contidas de 'Animal', mas é também uma das letras mais curiosas de Regina Guimarães, que parece partir veladamente da canção infantil do chapéu de três bicos e acaba por criar um poema intenso, de uma orientação quase spinoziana, traçada a partir do corpo como forma de relação com os outros. A sonoridade é também um pouco diferente das restantes canções: há várias mudanças de ritmo, alguns sons mínimos a acompanhar a guitarra eléctrica, que é ora alta e impositiva, ora discreta e subtil.
Segue-se Madame, com um poema em francês de Regina Guimarães onde Ana Deus sabe reinventar alguma chanson française, tendência que depois se anula propositadamente um pouco na sonoridade acústica e luminosa, que parece, como Bem Mal, aludir a uma espécie de despreocupação que resulta algo irónica quando ouvimos o texto que está a ser cantado, um tanto sarcástico, sobre a portugalidade e a emigração.
A terminar fica Ponto Morto, uma canção suave mas sorumbática, que ora parece uma canção de embalar, ora revela um experimentalismo que a torna estranha, tirando partido da letra de Regina Guimarães, que retoma o tema do copo como centro sensível que cria uma percepção do mundo e das relações humanas.


Distanciados, portanto, daquilo que eram os Três Tristes Tigres, os Osso Vaidoso são um projecto original e denso, que por trás da relativa simplicidade sonora escondem uma complexidade conceptual impressionante. Ana Deus revela-se não só uma cantora de uma versatilidade extrema, como uma inteligente intérprete para as letras. Destas, destacam-se evidentemente as de Regina Guimarães, que não abdica da qualidade poética que lhe conhecemos dos livros de poesia para se inserir na 'forma' das letras. Se o fado, principalmente a partir de uma certa parte do trabalho de Amália Rodrigues e da totalidade do trabalho de Mísia tem sabido reconhecer a importância das palavras na música, num universo musical exterior ao fado, dificilmente encontraríamos melhor exemplo de um projecto poético fundido num projecto musical. E uma vez mais, fica provada a criatividade dos três membros essenciais da banda, que continuam capazes de inventar e de reinventar, produzindo assim, em 'Animal' um álbum moderno a todos os títulos.




*é um verso de Elogio da Pobreza

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

The Human Centipede (First Sequence) de Tom Six

CONDE ORLOK EM NEGATIVO

Não passa de uma opinião pessoal minha que, no geral, a grande maioria do bom cinema que se produz actualmente, produz-se na Europa. Hollywood pode tentar ser intelectual e sensível pontualmente, mas é raro que se encontre um realizador cujo projecto pudesse ombrear com o de alguns cineastas europeus, como François Ozon, Agnés Varda, Chantal Ackermann, Eric Rohmer, Pedro Almodovar ou Manoel de Oliveira, isto só para citar os exemplos mais evidentes, excluindo projectos mais alternativos, de um nível de conceptualização ou de conseguimento artístico (essa vertente torna-se cada vez mais secundária) que se torna um desafio para qualquer espectador que esteja habituado, e difícil é não o estar, a um modelo hollywoodesco. Refiro a este título os nomes de Sergei Saguanail Abramovici, Regina Guimarães, António da Silva ou Nicolas Provost, só a título de exemplo. Hollywood, ou pelo menos o cinema americano, não deixam de contar com realizadores muito atípicos que, apesar de tudo, têm sabido permanecer artistas num meio que se torna cada vez mais de mercadores. David Lynch, Woody Allen, Harmony Korine e Larry Clark são, uma vez mais, apenas exemplos. No que ao cinema de horror diz respeito, o caso é, no entanto, muito diferente. O cinema europeu, pelo menos desde a época de ouro de 'Nosferatu' (1922), não tem tentado (e quando tenta, acaba por falhar) produzir um filme de horror que dê mostras do que uma sensibilidade exterior à americana pode fazer neste género específico. O cinema de horror, talvez devido à conotação com o comercial a que tem sido votado desde há largos anos para cá, continua sendo produção essencialmente americana: quer nos casos mais mainstream, quer no caso do cinema independente. O cinema japonês tem sido uma das maiores falácias no que toca ao cinema de horror. Excepção feita a exemplos como 'Ringu' (que originou a versão americana de Gore Verbinski, 'The Ring'), a maioria do cinema japonês que se classifica na Europa e na América como cinema de horror, não é cinema de horror. É gore, é extreme-gore, é violento e explícito, mas isso continua a ser diferente de ser um filme de horror. Basta lembrar que alguns dos exemplos mais bem conseguidos de cinema de horror não têm pingo de sangue, nem entranhas à mostra, nem violência física. Não me canso de dar o exemplo de 'Session 9' (2001) de Brad Anderson, mas podemos também pensar na extrema contenção de um filme como 'Halloween' (1978) de John Carpenter ou até de 'Jeepers Creepers' (2002) de Victor Salva.




O filme que tem tornado conhecido o realizador holandês Tom Six também não será, por um lado, um exemplo de um filme de horror europeu. 'The Human Centipede' (2010) passou inicialmente despercebido mas tem entretanto conhecido alguma fama como proposta de alguma originalidade. E quanto a originalidade, não haja dúvida que este filme a tem.
O começo é como o começo de centenas de filmes de horror e de géneros semelhantes. Duas raparigas americanas, Lindsey (Ashley C. Williams) e Jenny (Ashlynn Yennie) encontram-se de férias na Alemanha, e perdem-se na orla de um bosque a caminho de uma festa, quando o carro que conduzem avaria. Acabam por caminhar pelo bosque, e encontram uma casa isolada. Pedem ajuda ao sinistro dono, Josef Heiter (Dieter Laser), que acaba por drogá-las. Quando acordam, estão na companhia de um jovem japonês (Akihiro Kitamura) e o dono da casa, cirurgião especialista em separar siameses, explica-lhes o seu projecto de fazer uma operação contrária: juntar vários seres humanos numa espécie de centopeia, ligados através do sistema digestivo, numa ligação boca-ânus. As três vítimas esforçam-se por escapar, Lindsey inclusivamente consegue fugir mas, após uma perseguição absolutamente angustiante pela enorme casa do médico, é recapturada e Heiter consegue levar avante a sua cirurgia. As nádegas do turista japonês são costuradas à boca de Lindsey, cujas nádegas, por sua vez, são costuradas às de Jenny.
Enquanto os três sentem a condenação a que não conseguirão escapar, Heiter esforça-se por treinar a sua centopeia humana, enquanto tenta que os seus componentes se conformem com a sua condição. Quando a polícia aparece à procura das turistas desaparecidas, a fuga parece próxima, mas acaba por falhar uma vez mais.
Logo pela sua sinopse, este filme está carregado de uma série de elementos que garantem que seja nauseante e arrepiante, roçando até um certo nível escatológico que o torna extremo e de visionamento delicado. Mas a premissa é criativa. Tom Six parece partir de uma espécie de complexo Frankenstein para imaginar uma criatura, mas aquilo que de mais intenso a criatura tem é a forma de vida dos seres humanos que a constituem. Logo por isso, o filme está já muito conseguido. Não se trata, no entanto, em rigor, de um filme de horror. Uma vez mais, estamos perante uma película asquerosa e revoltante, mas o factor medo não é a primeira forma de relação do espectador com ela.
O que realmente traz este filme para o registo do horror é a realização, extremamente sensível. Mesmo que o início esteja filmado de uma forma parcimoniosamente previsível, a verdade é que todas as sequências filmadas dentro da casa recuperam uma imagética glacial e de um ascetismo que assusta, principalmente no contraponto com o procedimento sangrento que o médico prepara. A própria figura de Heiter é, por si só, um elemento do horrível, com a sua bata branca, cujo corte lhe confere um ar de Conde Orlok em negativo, perfeitamente capaz de nos criar um calafrio. A fuga e perseguição de Jenny faz uso não só dos tempos, como dos próprios elementos da casa, que todos parecem existir para lhe oferecer uma saída que, depois, negam. A própria luz invernosa e nevoenta cria uma espécie de cerco psicológico em volta da casa, que reforça a sensação de que aquelas pessoas não têm hipótese.
Importantíssimas também para a eficácia do filme de Six são as prestações dos actores, particularmente das três vítimas, que são de um realismo impressionante no que toca a mostrar o desespero da situação. Acabam por gerar no espectador um sentimento muito extremo de pena ou de piedade. Akihiro Kitamura faz um monólogo, quase no final do filme, inteiro em japonês. E ainda que não consigamos entender as palavras que diz, ele é de tal forma expressivo e compungente que é impossível que o espectador não entenda, no mínimo, a mensagem que ele tenta passar.


Portanto, bem vistas as coisas, ainda que este filme, à partida, não constituísse exactamente um filme de horror, a utilização que Tom Six faz de uma série de recursos deste género, acaba por conferir ao filme os elementos de horror que a sinopse não contém. E inclusivamente, 'The Human Centipede' parece até conter uma espécie de mensagem política, sobre o perigo de nos deixarmos costurar uns aos outros, de perdermos a nossa individualidade ou a nossa identidade, ficando dependentes do sucesso de outros para obtermos o nosso próprio sucesso. Mesmo nessa mensagem, nota-se uma mão extra-hollywoodesca. Tom Six acaba por produzir uma proposta muitíssimo interessante, que merece de facto ser apreciada nos seus detalhes e na sua sensibilidade, que são o seu ponto-de-vantagem em relação àquilo que se está a fazer no cinema de horror actualmente.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Marilyn Manson: Lamb of God



Do álbum 'Holy Wood (In The Shadow of the Valley of Dead)'
Letra de Marilyn Manson

(...)
If you die when there's no one watching
Then your ratings drop and you're forgotten
If they kill you on the TV
You're a martyr and a lamb of god
Nothing's ever gonna change the world
(...)

[Nous voici parvenus à la froidure,]


Nous voici parvenus à la froidure,
qui est gel, neige et boue,
les oisillons restent muets
à chanter aucun n'incline
Les branches sont sèches dans les haies,
ni fleur ni feuille n'y éclot
ni rossignol n'y chante,
lui que j'aime lorsqu'en mai il m'éveille.

J'ai le cœur si désabusé
qu'à tous je suis étrangère ;
je sais que l'on perd
beaucoup plus vite qu'on ne gagne.
Si je donne le change avec des mots sincères,
c'est que d'Orange me vint la douleur
qui me laissa consternée :
j'en perds en partie la joie.

Une dame place très mal son amour
en plaidant contre un homme de haut parage,
de meilleure noblesse qu'un vavasseur
et, en agissant ainsi, elle commet une folie.
On dit en Velay
que l'amour ne s'accommode pas de l'orgueil,
et je tiens pour déshonorée
la dame qui se distingue de cette manière.

Je possède un ami de grand mérite
qui surpasse tout le monde en noblesse ;
ne me montre pas un cœur infidèle
celui qui m'accorde son amour.
J'affirme que mon amour lui revient,
à qui prétend le contraire
que Dieu donne mauvaise fortune,
ar je me sens fort bien protégée.

Bel ami, bien volontiers
je me suis engagée avec vous pour toujours,
courtoise et de belles manières,
à condition que vous ne me réclamiez rien de déshonorant.
Nous en arriverons bientôt à l'essai
où je me mettrai à votre merci ;
vous m'avez fait la promesse
que vous ne me demanderez pas de faillir [à l'honneur].

A Dieu je recommande Beau-Regard
et plus encore la cité d'Orange,
la Gloriette et le château,
et le seigneur de Provence,
et tous ceux qui là-bas veulent mon bien,
et l'arc où sont représentés les exploits
J'ai perdu celui qui détient ma vie,
j'en resterai à jamais affligée.

Jongleur, vous qui avez le cœur gai,
du côté de Narbonne, portez là-bas
ma chanson avec sa chute
à celle à qui Joie et Jeunesse servent de guides.


Azalaïs de Porcairagues
Trata-se de uma das poucas mulheres trovadoras do século XII, de quem sobreviveu até aos dias de hoje apenas um poema, escrito em occitano (provençal), que aqui se apresenta numa tradução para francês moderno.
pintura de Jacek Malczewski

[Nada mais belo e difícil]





















Nada mais belo e difícil
que os olhos de alguém que olha
assim transformando o mundo
em quarto nunca habitado
e em cama sempre estranha.

Se a cobra nos morde a cauda
e a obra nos morde a corda
por instantes quero ver
como quem já só acorda
por excepção e não por regra.

Do invisível vestida
te arrenego castidade
do destino abusadora.
Pois moro dentro do corpo
onde me aperta a demora.

Regina Guimarães
Cadernos do Eclipse 2 (novembro 2008 a janeiro 2009)
2013, ed. Helastre
imagem de Igor Kozlovsky e Marina Sharapova

A Minha Rua


Uma velha invisível trauteando
no reduto a que chama seu jardim
juízos, juras, injúrias,
sem começo meio ou fim.

Fala de um amor refém
ganindo como se visse
entrar em si o ladrão
sem poder escapulir-se

Da mulher que não tem filhos
se diz que não alcançou...
Que dizer desta surpresa
de só conhecer na vida
as cordas do estendal
esticadas em sobrecarga
para que jamais se enrede
seu cordão umbilical?

Regina Guimarães
Cadenos do Eclipse 1 (junho a outubro de 2008)
2013, ed. Hélastre
pintura de Dario Puggioni

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Katatonia: Leathen



Do álbum 'Dead End Kings' (2012)
Letra de Jonas Renski

(...)

To run along the freeway
To weigh one's heart against the oncoming dark
You left me with the pills
We had plans but you couldn't make it
Through the trees
What took you so long
The high grass
What took you so long

(...)