domingo, 24 de maio de 2009

afinal, deus existe, e está a cantar aqui

"battle for the sun"


"for what it´s worth"

sanaa: disto é que eu gosto










she´s back

entrevista com excertos de canções novas e imagens da digressão de "American Doll Posse"


"Ophelia"


"Curtain Call"


"Flavour"


"Give"

ALINHAMENTO

1. give

2. welcome to england

3. strong black vine

4. flavor

5. not dying today

6. maybe california

7. curtain call

8. fire to your plain

9. police me

10. that guy

11. abnormally attracted to sin

12. 500 miles

13. mary jane

14. starling

15. fast horse

16. ophelia

17. lady in blue

considerações do senhor Artaud



Há em toda a poesia uma contradição essencial. A poesia é a multiplicidade triturada e incendiada. E a poesia, que estabelece a ordem, suscita primeiro a desordem, a desordem dos aspectos incendiados; provoca o choque dos aspectos que leva a um ponto único: fogo, gesto, sangue, grito.

Trazer a poesia e a ordem a um mundo cuja simples existência já é um desafio à ordem, é levar à guerra e à permanência da guerra, é fundar um estado de crueldade incidida, é suscitar uma anarquia sem nome, a anarquia das coisas e dos aspectos que acordem antes de soçobrarem de novo e se fundirem na unidade.





ANTONIN ARTAUD
"Heliogabalo ou O Anarquista Coroado"
trad. Mário Cesariny de Vasconcelos
Assírio e Alvim, 1982


imagem: MAX ERNST

sábado, 23 de maio de 2009

não gosto nada dos globos de ouro, mas estas coisas deixam-me profundamente feliz

Amália Hoje: Sónia Tavares e Nuno Gonçalves (The Gift), Fernando Ribeiro (Moonspell) e Paulo Praça (Plaza).

sexta-feira, 22 de maio de 2009

novos contos portugueses: à beira-mar plantados vemos coisas assim...

1

freddy (krueger-pinto) vs. jason (vohrees-guedes)


2

comédia sexual de uma tarde de aulas







mísia, porque há momentos em que uma música diz tudo

"ese momento" de alfredo manzanero


"garras dos sentidos", letra de Agustina Bessa Luís


"nasci para morrer contigo", letra de António Lobo Antunes


"sou de vidro", letra de Lídia Jorge


"duas luas", letra de João Monge

quinta-feira, 21 de maio de 2009

joão benard da costa

morreu hoje, lamentavelmente. Um dos melhores teóricos de cinema, e assinalável director da Cinemateca Portuguesa.
Pedro Mexia deve estar feliz como um cuco. O país perde. E o ditador da Ler assume o Museu do Cinema, com muita perda nossa. O mundo é injusto.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Antony and The Johnsons no Coliseu do Porto

Escusado será dizer que foi perfeito.


"fistfull of love"




"shake the devil"

domingo, 17 de maio de 2009

anonimato e autobiografia: 3 poemas de Adília Lopes

1.
Um escritor de romances escabrosos
(o seu tema predilecto foi a relação incestuosa
entre três irmãos)
decidiu permanecer anónimo
não por ter vergonha de assinar romances escabrosos
mas para tornar ainda mais escabrosos os romances
assim os leitores suspeitavam que os romances eram autobiográficos
e se ele os assinasse com o seu nome
os leitores ficavam a saber que ele era um filho único
é claro que como filho único
vivia fascinado pelo incesto entre dois irmãos
que inspirou Chateaubriand
(e não podia perceber o aforismo de Joyce
é tão fácil esquecer um irmão como um guarda-chuva)
mas mesmo que se considere como eu
que a leitura de um livro pode ser tão importante
na vida de uma passoa
como ter um irmão
dois irmãos não são três irmãos

2.
Um poeta assinava os poemas com o seu nome
mas um romance por ser autobiográfico
assinou com um pseudónimo pouco banal
contava no romance (e foi isto que o levou
a decidir-se por um pseudónimo)
que comia ao pequeno-almoço
alheiras às rodelas com salada de tomate
no supermercado quando pediu à empregada
da charcutaria às 8h30 da manhã duas alheiras
a empregada perguntou-lhe se ele tinha escrito
As singularidades de Carolina (era o nome do romance)
ele ficou tão embaraçado que pediu à mãe
para ser ela a comprar as alheiras e os tomates
mas quando a mãe chegava ao lugar da hortaliça
com um saco de plástico cheio de alheiras
o indiano do lugar perguntava-lhe logo
se ela tinha escrito As singularidades de Carolina.

3.
Um terceiro escritor escreveu uma autobiografia
em que se limitou a contar
que ao pequeno almoço bebia café com leite
e comia pão com geleia de laranja
assinou a autobiografia com o seu nome
e nenhuma empregada de supermercado
o importunou
mas depois de ter o livro publicado
sempre que bebia café com leite e comia pão com geleia de laranja
ao pequeno almoço
sentia-se mal como se estivesse num palco ou num circo
a ter de beber café com leite e a ter de comer pão com geleia de laranja
diante dos olhso que a abolem a privacidade
e por se sentir assim passou a comer flocos de aveia

ADÍLIA LOPES,
"Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio"
edição da autora, 1991

sábado, 16 de maio de 2009

há literalmente anos

que ando a dizer que, depois da Amália, a melhor voz que Portugal deu à luz foi a de Sónia Tavares. A brilhante interpretação da vocalista dos The Gift de "Gaivota" da diva do fado prova que eu não podia ter mais razão. Do álbum "Amália Hoje", onde além de Sónia Tavares, constam Nuno Gonçalves, também dos The Gift; Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell; e Paulo Praça.

em noites assim, enfim, os pés agradecem

katy perry, hot n cold


eurythmics, sweet dreams (are made of this)


everything but the girl, missing


helena paprizou, mambo

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Maria Teresa Horta: Educação Sentimental

ANATOMIA DE TERESA



As polémicas entre o estado novo e Maria Teresa Horta começaram em 1971, quando esta publicou, na colecção Cadernos da Poesia da Dom Quixote “Minha Senhora de Mim”. O livro de poesia anterior, “Cronista Não é Recado” (Guimarães-Poesia e Verdade, 1967) já demonstrava uma certa vontade de alteração no percurso que a autora iniciara em 1960 com “Espelho Inicial” (Sylex), vontade que seria confirmada pelo romance “Ambas as Mãos Sobre o Corpo” (Europa-América, 1970).
No entanto, esta mudança só se tornou plena com “Minha Senhora de Mim”. A apreensão do livro pela pide, a que se sucederam as ainda mais polémicas “Novas Cartas Portuguesas” com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, a que se seguiu o processo das Três Marias, acabaram por “abafar” um pouco esta profunda ruptura com a obra poética da autora, que contava já mais oito títulos, entre os quais constava “Tatuagem”, participação nos folhetos de Poesia 61.


Em 1975, no entanto, “Educação Sentimental” veio reforçar esta mudança, e de uma forma ainda mais profunda, aspecto ao qual não é alheia a liberdade de expressão conquistada pelo 25 de Abril. Mais profunda, no sentido em que aborda mais directamente quer a linguagem do erotismo e da sexualidade, quer as manifestações de feminismo, e de um ponto de vista feminino sobre as coisas e, acima de tudo neste caso, sobre a sexualidade. Não é ao acaso que a poetisa considera este livro “um acto de pura insubordinação”, e “um dos [s]eus livros mais subversivos” em entrevista ao JL (nº1004).
É necessário ter em conta também que o título deriva assumidamente da “Educação Sentimental” de Gustav Flaubert. Nestas “lições” de Teresa Horta, há como que a intenção de educar não os homens, mas o geral dos leitores, incluindo as mulheres, acerca do corpo e da sexualidade feminina. Nisto, são importantes as citações que abrem e encerram o livro, entre as quais uma de Shulamith Firestone que afirma que “As mulheres conhecem e aceitam tradicionalmente a invalidez emotiva dos homens, ao mesmo tempo que a acham intolerável numa mulher)”.
No poema introdutório, Maria Teresa Horta escreve “Não tenhas medo/ daquilo que te ensino…” (pág.11). E efectivamente, os poemas que constituem “Educação Sentimental” fazem justiça ao título.
A divisão da obra é em três partes. A primeira parece ser uma auto-análise (Apesar da psicanálise se revelar elemento essencial na obra de Teresa Horta principalmente nos anos 80, a sua poesia sempre teve uma forte componente analítica.) como se pode ver em versos como “Não deixo que as coisas/ me dominem/ nem que a vasta secura/ me adormeça” (pág.19) (Possível referência à tentativa de a silenciarem na época de “Minha Senhora de Mim”?). A segunda parte incide mais numa espécie de análise do amor sentido, dirigindo-se ao seu receptor, “Que te interessam/ a ti/ meus meigos sustos// se nos seios/ os adormeço/…” (pag.46).
A terceira debruça-se sobre o corpo, o já dito corpo sentido e experienciado de e por (Simultaneamente.) uma mulher, “Digo do corpo,/ o corpo:/ e do meu corpo,// digo no corpo/ os sítios e os lugares// de feltro os seios/ de lâminas os dentes/ de seda as coxas/ o dorso, em seus vagares.//(…)” (pág.93).
Em todas as secções, os assuntos são abordados de uma forma “erotizante” e “sexualizante”, contrariando as tendências de frieza e ignorância que as citações iniciais e finais denunciam.
O estilo da autora mantém-se sempre ancorado na extrema economia de palavras, na criação de ritmos definidos, e uma forte âncora no cancioneiro português, e é este estilo, apoiado em momentos de grande originalidade como esta “Educação Sentimental” que fazem de Maria Teresa Horta um dos nomes maiores da nossa poesia.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Fiama Hasse Pais Brandão: Em Cada Pedra Um Voo Imóvel


Escrito em 1957, contava a autora à data 19 anos, e publicado em 1958, vencedor do Prémio Adolfo Casais Monteiro, "Em Cada Pedra Um Voo Imóvel" foi excluído por Fiama Hasse Pais Brandão quer de "O Texto de Joao Zorro" (Inova, 1974), quer da "Obra Breve" (Contexto, 1991 e Assírio e Alvim, 2007) como por ela foi preparada em vida. Possivelmente, para a autora, tanto este texto, como "O Aquário" (A Palavra, 1960), eram excessivamente imaturos, uma vez que as suas prosas foram sendo antologiadas ao longo dos anos, como acontece com "Falar Sobre o Falado" (Afrontamento, 1988).



Especificamente, "Em Cada Pedra Um Voo Imóvel" é constituido por duas secções, a primeira "Recitações Dramáticas" e a segunda de poemas em prosa.
Relativamente às recitações dramáticas, estas buscam momentos-chave da existência humana, como sejam o nascimento, a infância e a morte. Ao mesmo tempo, evidenciam já a obcessão que Fiama haveria de manter em toda a sua obra, pela fixação da imagem, por exemplo, "A terra da encosta é vermelha e os homens não amam a terra." (pág.18).
Serve-se essencialmente de situações metafóricas que, nas suas irrealidades, tornam o conjunto não surrealista, mas ilimitado, como se os episódios decorressem dentro de sonhos ou de fábulas (Como haveria de assumir em 2002, em "Fábulas".)
Nota-se uma influência marcada do teatro japonês, e também dos haikus de Bashô, fortalecendo a relação entre os personagens humanos e a Natureza, força telúrica que regressaria em livros futuros como "Melómana" (Inova, 1978) ou o romance "Sob o Olhar de Medeia" (Relógio d´Água, 1998), ainda que por vezes esta relação seja nociva ou destrutiva, "Quando era menino tinha um jardim e as ameixeiras morriam sempre no outono." (pág.35).
A linguagem é assumidamente ligada á poesia, e ganha outra força quando desdobrada pelos "actores", criando um efeito de poesia dramatizada.
Nota-se uma certa tonalidade de melancolia em quase todas as recitações, principalmente da parte dos personagens humanos, muitas vezes contraposta pelas personificações da Natureza ou pelos coros que parecem servir como mediadora entre ambos, "O VIAJANTE: Tenho de andar mais./ CORO I: Mas estás triste./(...)/ O VIAJANTE: O horizonte é uma curva./ CORO I: E depois?/ CORO II: E depois?" (pág.52)

Os poemas em prosa são dissidentes de quase todos os restantes poemas em prosa, estando mais próximos dos poemas em verso da autora. São momentos isolados, que se não interligam à partida, reflectindo ora sobre o que resta da infância ora sobre os momentos actuais.
O mesmo fascínio pela imagem manifesta-se, assim como a obcessão por fixá-la através das palavras, tendo sempre noção de que estas são matéria insuficiente. A lingugem é complexa, dando ênfase ao detalhe, ainda que a dimensão humana seja maior do que nas recitações dramáticas.
Muito conceptual para obra de estreia, mas mesmo assim, não fica a perder perante a obra a que dá origem.


(A indicação das páginas segue "Em Cada Pedra Um Voo Imóvel e Outros Textos", edição de Gastão Cruz, Assírio e Alvim, 2009)

domingo, 10 de maio de 2009

sensibilidade e bom-senso: quatro poemas escolhidos de Sophia



Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.
(Mar Novo, 1958)


As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
(Livro Sexto, 1962)



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(O Nome das Coisas, 1977)


Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
(Livro Sexto, 1962)

domingo, 3 de maio de 2009

é estranho, mas hoje apeteceu-me isto

Que se arruinen los canales de noticias

Con lo mucho que odio la television

Que se vuelvan anticuadas las sonrisas

Y se extingan todas las puestas de sol

Que se supriman las doctrinas y deberes

Que se terminen las peliculas de accion

Que se destruyan en el mundo los placeres

Y que se escriba hoy una ultima cancion

Pero que me quedes tu

Y me quede tu abrazo

Y el beso que inventas cada dia

Y que me quede aqui

Despues del ocaso

Para siempre tu melancolia

Porque yo, yo si, si

Que dependo de ti

Y si me quedas tu

Me queda la vida

Que desaparezcan todos los vecinos

Y se coman las sobras de mi inocencia

Que se vayan uno a uno los amigos

Y acribillen mi pedazo de conciencia

Que se consuman las palabras en los labios

Que contaminen todo el agua del planeta

O que renuncien los filantropos y sabios

Y que se muera hoy hasta el ultimo poeta

Pero que me quedes tu

Y me quede tu abrazo

Y el beso que inventas cada dia

Y que me quede aqui

Despues del ocaso

Para siempre tu melancolia

Porque yo, yo si, si

Que dependo de ti

Y si me quedas tu

Me queda la vida...

sábado, 2 de maio de 2009