sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Body and Soul



Sweet Communion
Sweet Communion

I have waited all my life
You say you are bonafide
To be my judge
Lay your law down on me love
Seven devils bring them on
I have left my weapons
cause I think you're wrong
These devils of yours they need love...

Come and kneel with me
Body and Soul
Come and kneel with me
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul

Sweet Communion
Sweet Communion

In my temple boy be warned
Violence doesn't have a home now but ecstasy
That's as pure as a woman's gold
Seven devils bring them on
I have left my weapons
'cause I think you're wrong
These devils of yours they need love

Come and kneel with me
Body and Soul
Come and kneel with me
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul

I'll save you from that sunday sermon
Boy I think you need a conversion
Body and Soul

Come and kneel with me
Body and Soul
Come and kneel with me
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul
Body and Soul

TORI AMOS para o álbum "AMERICAN DOLL POSSE"
imagem: ROBERT MAPPLETHORPE

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A Nova Lei-Sócrates

Não é meu costume manifestar-me acerca de política. Não que não tenha uma opinião, simplesmente gosto de a guardar para mim. As almas raras que já leram o meu blog sabem que em situação alguma o utilizei para me evidenciar politicamente. E, posto isto, quem ler vai achar, como eu, ridículo que a primeira vez que o faça seja por um motivo destes. Mas a verdade é que tenho mesmo que me manifestar acerca da nova lei da proibição de fumar nos locais públicos. Quanto a restaurantes, eu estou de acordo. As pessoas vão lá para comer, e não é lá muito agradável estar a comer a comida e o fumo dos outros. Mas os cafés são outra conversa. São locais onde se vai, acima de tudo, passar tempo, e não sao assim tão raras as pessoas que gostam de acompanhar o seu café com um cigarro.
Eu incluido. E portanto, após discordar de tantas medidas do executivo de Socrates, vou-me manifestar.
Primeiro: gosto de escrever no café, enquanto tomo cafés e fumo. Sim, pois, claro, sou um idiota.
Segundo: é insultuoso que um governo que se diz de Esquerda tome uma atitude tão pouco liberal. Nunca de discutiu a legalização das drogas leves. Tudo bem, pode ser só distração. Mas agora os locais onde se pode fumar passam, realmente, a ser tratados como salas de chuto, onde os dependentes vão matar o vício. A isto eu chamo mentes abertas.
Terceiro: há cafés que vão fechar. Na rua da minha escola há um café que tem clientes essencialmente nas horas dos intervalos. Quando há furos há um ou outro aluno que falta á aula de substituição (E faz ele muito bem.), e vai para o café. Mas bastam-me os dedos de uma mão para contar o número de vezes que vi alguém nesse café que não pertencesse ao corpo docente ou estudantil da escola. Este, se não permitir que se fume no interior, fecha de certeza.
Quarto: este é um problema menor. Sócrates está á frente de um país que lhe deu maioria absoluta, e que vive com sérias dificuldades, na sua maioria. Há pessoas sem casa, há pessoas sem condições, o desemprego aumenta, a cultura degrada-se, as pessoas no geral estão descontentes. E com que se preocupa o primeiro ministro? Com os fumadores que incomodam os não-fumadores no café. De facto, há que admitir: Sócrates tem bem-definidas as suas prioridades, e estão correctas, não haja dúvidas.
Portanto, o primeiro-ministro é um idiota, e eu, na minha insignificância, apelo ao voto em qualquer um dos candidatos de 2009, que não Sócrates. Pessoas como ele devem estar no café, de preferência um onde se fume muito, muito, muito...

domingo, 23 de dezembro de 2007

Isabel Lhano- Estamos aqui

No outro dia, falei de "Concha Quadrada" de Isabel Lhano. Este é o seu trabalho anterior, levado a exposição em 2005, "O Elogio do Essencial/ Estamos Aqui", onde a pintora retrata algumas das pessoas que admira. Além do seu auto-retrato (o retrato vermelho isolado), há gente como José Luís Peixoto, Graça Martins (Irmã de Isabel Lhano, e, por acaso, minha professora), Valter Hugo Mae, Adolfo Luxúria Canibal, Nelson d´Aires, Ana Abrunhosa, etc, etc, etc.

Natália Correia: Madona

DUAS LUAS


"A Madona" é o título do segundo romance da tardo-surrealista Natália Correia, publicado 24 anos após o primeiro, "Anoiteceu no Bairro". Nestes 24 anos, Natália, dona de um génio ímpar, publicou ensaios, peças de teatro, e algumas das suas mais importantes obras em poesia, livros como "Dimensao Encontrada" (1957), "Cântico do País Emerso" (1961), assim como a sua "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" (1965).



Fosse eu dono do mundo, e nao haveria uma única pessoa que morresse sem ter lido Natália Correia. E "A Madona", cuja leitura terminei há algumas semanas, vem reforçar esta minha certeza.
Esta é a história de Branca, e dos três homens da sua vida, Manuel, Miguel e "o Anjo", Lars Nielsen. E não é só no domínio barroco da linguagem, na densidade das imagens metafóricas/ surrealistas e na pessoalidade narrativa que a autora brilha, é, principalmente, na forma como nos conduz através da história, desmontando a cronologia e encadeando os momentos uns nos outros, sem que nada seja ao acaso, e sem que a linha narrativa principal seja desviada. Todos os outros momentos surgem quase paralelamente, tocando o momento presente num ponto quase imperceptivel.
E, o que seria dificil para muitos bons escritores, para Natália é naturalmente simples: como explorar a virgindade eterna e eternamente atacada de Branca, como explorar a sua espiritualidade, sem que essa exploração violasse essa mesma espiritualidade.
Mas também assuntos como a eterna dúvida de escrever, a influência da política, a homossexualidade, a morte, e a superficialidade religiosa são abordados em "A Madona", com particular perspicácia e exactidão.
"A Madona" é, por isso, um livro obrigatório, e torna-se-o ainda mais quando se trata apenas na segunda incursão da escritora no domínio do romance.



Veredicto: 20/20

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Animal Collective: Strawberry Jam

MORANGOS, AÇÚCAR, ETC

Oitavo álbum do colectivo animal de Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin, "Strawberry Jam" é um grande álbum. Perdoem-me o início fanático, mas a verdade é que o novo álbum dos Animal Collective tem pouco que se lhe diga.







Quando "Peacebone" começa, é bom ver que o som continua a ser inconfundível. O que ouvimos aqui não é ouvido em mais banda nenhuma.
Fanatismos á parte, a música dos Animal Collective sempre foi uma verdadeira rebelião, uma tempestade de sons, eufórica e desmedida, mas sempre harmoniosa, coesa e coerente. E sempre foi essa improvável junção de elementos extremistas, de uma densidade contagiante e de uma complexidade barroca (Rococó, até.), que colocou os Animal Collective num pódio que só a eles pertencia. E pertence.
"Strawberry Jam" é um mais que digno sucessor de "Feels" de 2005. Mais que digno, porque se nota que é talvez o álbum mais solto e liberto de todos os álbuns da banda. Mas essa evolução é pacífica. É verdade que não é uma evolução colossal, cada álbum é, objectivamente, um baby step na discografia do quarteto, mas isso não é mau, porque ao compor, estes quatro senhores conseguem criar peças de facto originais, ou seja, ainda que a sonoridade evolua lentamente, os Animal Collective não se repetem, não escrevem sempre a mesma canção. Bandas como os Red Hot Chili Peppers ou os Arctic Monkeys não têm esta qualidade. Mantêm a mesma sonoridade, mas isso implica que escrevam sempre a mesma música.








De "Strawberry Jam" é muito difícil salientar algumas músicas que se destaquem mais. "Peacebone", "Fireworks" e "Unsolved Mysteries" parecem destacar-se pela sua esquematização imprevisível e perfeita. Mas isto pode aplicar-se também ás outras canções também, e é essa a dificuldade em ouvir este álbum. Não sabemos que canções destacar.
A performance dos músicos é irrepreensível, tem o condão de nos parecer que tocam ao acaso, mas em sintonia, o que só reforça a ideia de libertinagem sonora. Isso torna-se bastante evidente em "Chores".
As vocalizações são prodigiosas na medida em que acompanham na perfeição a instrumentalização, não se deixando, no entanto, guiar por ela, soando assim como um arranjo ao qual se dá protagonismo.
Resultado: este é um álbum a ouvir, sem dúvida. Toda a discografia dos Animal Collective teve sempre em vista uma coisa: qualidade. Outras também, talvez. Mas esta é louvável, sem dúvida. "Strawberry Jam" é mais um passo na discografia dos Animal Collective, talvez o passo de que gosto mais. Só por isso, já vale a pena.




Veredicto Final: 19/20

Animal Collective - Fireworks

Videoclip para "Fireworks". A música fala por si só. Vídeo engraçado.

Joss Stone: Introducing Joss Stone

Á TERCEIRA É DE VEZ?



"The Soul Sessions" e "Mind, Body And Soul" são, segundo a sua intérprete, uma espécie de exercícios preliminares, para aquilo que é agora "Introducing Joss Stone". Mas a verdade é que nisto tudo é dificil perceber quem está mais confuso: Joss ou nós? Na dúvida, talvez sejamos nós...




Se "The Soul Sessions" era a revelação de uma grande voz num reportório ambicioso mas não fora de alcance, "Mind, Body and Soul" demonstrava já uma personalidade própria, e uma pontaria muito certeira na escolha das canções: quer as escritas pela própria Joss Stone, quer por outros compositores, claramente escolhidos a dedo, entre os quais Beth Gibbons, dos Portishead, ou Betty Wright.
"Introducing..." não é um álbum imprevisível. Na verdade, parece ser um dos caminhos possíveis, abertos pelo segundo álbum. Sendo povoado de sabores heterogénios, "Mind Body and Soul" tinha o condão de mostrar uma flexível Joss, que poderia enveredar por vários caminhos. Ela escolheu este. Eu não posso dizer, pessoalmente, que me agrade, mas também não posso dizer que seja mau de todo.
Ao terceiro álbum, Joss é infectada com várias contaminações ligadas ao R&B, ao Sexy Hip Hop e, por vezes mesmo á pop.
Das 14 canções, 12 são da autoria de Joss, o que explica a sua ideia de se apresentar ao público, evidenciada, aliás, pelo título. As duas restantes, são a introdução e "Bruised But Not Broken", de Diane Warren (Autora ou co-autora de não tão más canções de Gloria Estefan, Sarah Connor, Christina Aguilera ou as Pussycat Dolls, por exemplo.), onde Joss consegue, subtilmente, fugir do tom lamechas que a canção parece ter. Ainda posto isto, "Bruised But Not Broken" não sobressai particularmente no contexto do álbum.




O contrário acontece com "Girl They Won´t Believe It", a segunda faixa, e uma das melhores, ainda com uma memória de soul, a juntar a uma beat decididamente boa.
"Tell Me Bout It", primeiro single, é uma das canções mais enérgicas, e a construção previsível não chega para tornar má a canção, que, na realidade, puxa pela voz de Stone. Acaba por resultar bem.
"Music", o dueto com Lauryn Hill também não corre mal, é uma das melhores canções, de facto. Harmoniosa e simplória, a fazer ainda lembrar a Joss da soul.
"Baby Baby Baby" também não é mau. Salta no caminho da pop pastilha-elástica, por vezes, mas a performance vocal de Stone acaba por resgatar a canção ao tédio.
"Introducing Joss Stone" não é, por isso, um mau álbum. É um álbum bastante arrojado até. Joss Stone contraria as expectativas que lhe têm, mas não se espalha. Esperemos que no próximo álbum não nos venha dizer que agora é que é. Como diz o povo, na sua sapiência, "á terceira é de vez..." esperamos nós.







Veredicto Final: 15/20

Joss Stone Tell Me Bout It

Single de avanço, com vídeo de estética assumidamente urbana...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

The Editors: An End Has a Start

A PROVA DOS NOVE



Quando "Smokers Outside The Hospital Doors", a primeira faixa de "An End Has a Start", o novo album dos Editors, chega ao fim, já a sensação de divisão é inevitável. Há algo de trsite e algo de alegre, algo de conformado e algo de revolucionário na música dos Editors, em cada música. Talvez as letras de Tom Smith estejam contra a sonoridade isaltada das composições da banda, onde, mais ainda, se notam influencias como os Depeche Mode (Electrónica sob uma voz forte e beats bem demarcadas.) ou os Joy Division (Simplicidade que, no resultante, ganha uma complexidade quase barroca.); e, se assim é, fico feliz.








Temporalmente localizado algures nos primeiros anos da décade de oitenta, transportados para 2007, com tudo o que isso acarreta, nele, a construcção das canções ganha densidade em comparação ás de "The Back Room", especialmente nos arranjos, onde as guitarras eléctricas passam a viver com teclados que sintetizam sons very 80´s, e com o piano, tocado pelo próprio vocalista, evidenciando mais ainda o tal intimismo. O piano será precisamente essencial quando se trata do quase único instrumento acústico ouvido ao longo do álbum. A voz de Tom Smith está ligeiramente mais cavada, mas sem perder nada da sensualidade anestesiante que o caracterizava. A sua postura encontra na perfeição tanto a carga emotiva das letras, por si só bastante forte, como ainda é capaz de acompanhar muito bem as composições. É muito na voz que se prendem os Editors, e, por boa que ela seja, talvez não fosse má ideia equlibrá-la mais com o restante. Ainda que nem sempre assim seja, alguns momentos do álbum parecem feitos por e para Tom Smith. Win Butler comete o mesmo erro no "Neon Bible" dos Arcade Fire. Not such a good idea.


Quando ás canções, essas, são grandiosas, construídas com base no simples, que ao ser arranjado se torna complexo, mas sem exageros. Existe moderação nestas canções, em vez da necessidade de colocar muito. "Smokers Outside The Hospital Doors" e "An End Has a Start" fazem o início perfeito. "Weight Of The World" é uma boa canção, mas fica a perder de vista quando comparada com outras. Outras como "Escape The Nest", com a sua energia obsessiva, "Spiders" com o seu romantismo, ou o brilhante final, com "Well Worn World", onde Smith brilha não só a cantar como no piano.
O (Previsivelmente chamado.) "difícil segundo álbum" dos Editors não lhes saíu nada mal, bem pelo contrário, supera, até, o anterior. Esta é uma característica que parece ir contra a corrente. Ainda bem. Mais álbuns assim, é do que precisamos.









Veredicto: 18/20

The Editors- An End Has a Start

Videoclip para "An End Has a Start", realizado por Diane Martel, tirando partido de filtros de cor, alto-contraste, etc. Muito estético e muito enérgico, a fazer justiça á canção.

Joanna Newsom: Ys

O ESTRANHO MUNDO DE JOANNA

Quando "The Milk Eyed Mender", album primogénito de Joanna Newsom viu a luz do dia, viu com ela uma verdadeira chuva de críticas positivas, que incluiam umas imprevisíveis comparações com Bjork (vocalmente falando).






Ainda que "Ys" não soe a nada como "The Milk Eyed Mender", a verdade é que também não deita por terra a confiança que a crítica e o público da música indie lhe deu. De facto, a sonoridade solitária do primeiro álbum não é repetida no segundo.
Quando "Emily", a primeira faixa começa, percebe-se que, desta feita, Newsom veio acompanhada, não só pela sua harpa, como também por outros músicos. Neste caso, há uma orquestra, com excelentes arranjos de Van Dyck Parks, baixo e guitarra eléctrica, além dos backing vocals que tanto vêm da irmã de Joanna, Emily, como de Bill Callahan aka Smog, em "Emily" e "Only Skin" respectivamente.
As canções, essas, parecem por vezes remeter-nos a árias de ópera, não só pela sua construção, como também pelo aspecto mais imediato: a duração: a verdade é que em "Ys", a canção mais curta tem uns meros sete mintuos. Mas em relação ao esquema, este é uma espécie de deambulação, em que a voz segue a harpa, acima de tudo, ou não fosse ela a base de composição de Newsom. Heterogénias, as canções assumem personalidades, mas contam com uma fortíssima sensação de unidade.



"Emily" é a nostalgia, por exemplo, enquanto que "Sawdust And Diamonds" é mais positivista.
A voz continua a soar a algo muito estranho, e isto é um elogio. As composições remetem para uma espécie de universo paralelo, povoado de imagens surrealistas, que nos cantam estes agradáveis sons.
Há, felizmente, aquele não comodismo. Este é, não se faça confusão, uma álbum muito arriscado. Se "The Milk Eyed Mender" era um álbum já de si perigoso, passar dele para um outro poderia ser um passo em falso para Newsom e a sua harpa. Mas, na realidade, não há qualquer desilusão em "Ys". Pelo contrário. O crescimento musical é tão notório, que até parece ser uma outra cantora. Sim, sim, "Ys" é melhor do que o seu predecessor. E também mais invulgar. Já não é só a voz, já não é só o tipo de arranjos, já são as próprias canções. Nada em Joanna Newsom é convencional, para muitos, ela é esquisita, até mesmo inserida no universo indie. Mas isto não é nada mau. A verdade é também que não há ninguém como ela. E não há nenhum álbum como "Ys" também.
A pergunta, agora, é: o que vem a seguir?
Veredicto: 18/20

Joanna Newsom - Sawdust And Diamonds

"Sawdust And Diamonds" ao vivo. Tema do meio de "Ys". Muito bom

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Lou Rhodes: Bloom

LOU VOLTA A ATACAR
"Beloved One", primeiro álbum a solo de Lou Rhodes, o renascer das cinzas depois da separação dos Lamb, terminava com "Why", a única canção composta ainda com os músicos da banda de Lou e Andy Barlow. Quando começamos a ouvir "The Rain", single de avanço e abertura de "Bloom", "Why" mostra-se, na verdade uma premonição daquela que viria a ser a sonoridade do segundo álbum.


"Bloom" não abandona de forma alguma, em momento algum, as raízes folk do seu antecessor, mas tem, face a estas mesmas raízes uma atitude diferente, mais expedita e afirmada. Permanece, indubitavelmente, a simplicidade no esquema das canções, mas a abordagem é menos acústica. Logo na primeira faixa, a guitarra eléctrica pontua. É uma fusão do lado folk, provavelmente primeiro sabor da composição, com rock, numa dimensão mais ligada aos arranjos.
Mas não só de sons eléctricos é feita a evolução retratada em "Bloom". "Greatness In Speck Of Doubt" junta-lhe sons mais tribais, mais dançantes também. Tal como "The Rain", "Greatness In Speck Of Doubt" é uma excelente canção.
"Icarus" parece ser uma incursão pelo stroytelling a lembrar, a nível da letra, algumas das grandes canções de "Beloved One". A composição e o esquema são simples, claro, e a canção ganha notoriedade com a ginástica vocal que Lou faz, discretamente.
"Never Loved a Man Like You" é exemplar de uma canção intimista e lânguida, uma declaração rasgada de um amor luxurioso, daqueles que toda a gente quer sentir. "All We Are" é uma das mais belas canções que Rhodes já fez. Melodiosa, suave, emotiva... é muito difícil falar dela... mas é de facto um dos picos mais altos do álbum.
"Chase All My Winters Away" é um belíssimo poema cantado sobre uma belíssima melodia, escrita por Rhodes e pelos músicos da banda, também "This Love" é uma canção a registar.




No entanto, "They Say" parece ser a melhor das canções de "Bloom". O seu esquema é simples, mas foge ás predictabilidades do costume, sendo, por isso, logo uma boa canção. Mas é também o crescimento sonoro que a canção nos faz atravessar, o facto de começar tão simples, quase um solo e ir crescendo gradualmente, tornando-se cada vez mais negra e pesada, até se tornar um grito desesperante, adornado por uma instrumentação perfeita.
"Sister Moon" vem compensar com uma boa onda de positivismo, que é logo a seguir largada com "Bloom" o apoteótico final, que nos deixa uma grande vontade de começar tudo de novo. "Bloom" é uma canção triste, noctívaga, em que se fala de solidão, de saudade. Lou canta com uma guitarra acústica e um glockenspiel e guiá-la, pela escuridão nocturna que a composição encerra.
Este é o álbum de Lou Rhodes que nos demonstra que ela está mesmo decidida a ser Lou Rhodes, e não a ex-vocalista dos Lamb. E este é um álbum dessa Lou Rhodes, mudada, crescida. Na verdade, esta é a coisa boa em Lou Rhodes: a inteligência e adequação, que nos surpreendem sempre. Chega a 2007 com um punhado de canções belíssimas e de qualidade, coesas e interessantes. "Bloom" é, por isso, um dos melhores álbuns do ano.


Veredicto Final: 19/20

Lou Rhodes- The Rain

Single de avanço de "Bloom", "The Rain", exemplar da evolução de Lou Rhodes enquanto cantora e enquanto compositora.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Isabel Lhano: A Concha Quadrada

É sob o título "A Concha Quadrada" que Isabel Lhano, artista nascida em Vila do Conde, expõe uma série de pinturas a acrílico sobre tela, carregadas de um fortíssimo realismo (Quase hiper-realismo.).




"Sinto-te a Boca"



São encontros entre Vénus e Marte, ou Marte e Marte que Isabel Lhano retrata aqui. Imagens eróticas, por vezes homoeróticas, momentos da mais inviolável intimidade, invios de representação (Aparentemente.).
Claramente há sexo e sensualidade em cada uma destas imagens, mas nessa representação violadora da privacidade das fusões destas pessoas num só corpo repartido, não há qualquer violação da privacidade. Raramente vemos as caras, e as cores surgem adulteradas, como se um filtro de cor nos impedisse de chegar á realidade da pele destas pessoas.







"Sentidos Absolutos"

Mas, se é verdade que não ficamos a conhecer as caras a quem pertencem estas mãos, estes mamilos, estas pernas, estes braços, a verdade é que ficamos a conhecer algo de muito mais interessante, e de muito mais belo: a forma como se tocam, as suas maneiras de seduzir, a intimidade que têm... quem é seguro de si, quem precisa de ser protegido, quem tem necessidade de se fundir com o outro para se sentir completo, quem domina quem... é a estas perguntas que Isabel Lhano tão brilhantemente responde com as pinturas de "Concha Quadrada".

O próprio espectador sente-se a mais ao olhar estas telas. Á nossa frente, pessoas tocam-se, pessoas pedem ao outro que lhes entre no corpo, e que lhes entre na alma. E nós assistimos. Talvez reconheçamos os nossos próprios gestos, a nossa própria forma de pedir ao outro que se torne parte do nosso corpo, parte da nossa alma.






"Pousa-me"



E o facto de não vermos as caras, só nos leva ainda mais a ser capazes de encontrar-nos a nós mesmos a segurar o outro assim, a puxar ou empurrar o outro assim, a desejá-lo assim, a saciarmos o nosso desejo assim. E é aí que se torna tão irrevogável, e mesmo comovente, a colecção "Concha Quadrada". Foi nesta concha que já todos nos fechámos, e é nela que nos queremos fechar tantas vezes, fechar a nossa concha em torno da concha do outro, e não largar. Porque pode ser esse o assunto desta exposição: a nossa intimidade com o outro.



"Segura-me o Coração"

A série completa está no site da Galeria de São Mamede, na página http://www.saomamede.com/fr_exposicoes.asp?idexp=258. A não perder.

Gus Van Sant: Paranoid Park

PARANÓIA NÃO-ADOLESCENTE


Quando, a certa altura, o melhor amigo do protagonista do novo filme de Gus Van Sant diz
"_No one´s ever ready for Paranoid Park."
ficamos logo com a certeza muito absoluta de que nada de bom poderá acontecer em tal lugar.


Chama-se "Paranoid Park" o terceiro capítulo da trilogia sobre a adolescência que Gus Van Sant inicia com "Gerry" onde dois Gerries se encontram perdidos no deserto, prossegue em "Elephant" onde nos faz atravessar a sua interpretação do Massacre de Columbine, e, após uma interrupção para distorcer os "Last Days" de Kurt Cobain, Van Sant volta á adolescência com "Paranoid Park".
A premissa é simples: Alex é um skater ou aspirante a skater, que aceita, ainda que contrariado, o convite do melhor amigo, para irem a Paranoid Park, um skate park onde praticam skaters obviamente melhores que Alex. É lá que Alex aceita a proposta de um desses skaters para irem passear, trepando a um comboio de mercadorias. O guarda nocturno que os tenta fazer descer desse mesmo comboio acaba por ser atingido por Alex com o seu skate, cai á linha do combio e morre.
Ora, o que em "Elephant" não era vulgar, ainda não o é agora: Van Sant, autor do argumento, desmonta a ordem cronológica dos acontecimentos, mistura os tempos, e logo, confunde os factos. Vai mais longe, por vezes, misturando imagens de uma forma tão perspicaz que é quase possível acreditar que aquelas imagens pertencem áquele tempo. Só mais tarde é provado que não.
Outro aspecto digno de referência é o facto de todo o filme se desenrolar essencialmente dentro da cabeça do seu protagonista. Isto não é pejorativo. De facto, ao longo dos noventa minutos de "Paranoid Park" temos a sensação de estar a avaliar toda a realidade pelos olhos de Alex. Assim sendo, não sentimos que ele tenha culpa, porque o próprio também não sente culpa. O que, por si só, constitui outro ponto alto de todo o filme: um pouco como acontecia em "Elephant", Gus Van Sant conduz-nos pela história, mas subjuga-nos á mente do protagonista. E, ao longo de filme, Alex tenta pensar em como negar a realidade, e, assim, fugir dela. E o espectador é levado atrás. Não há culpa em parte alguma deste filme. E, se tal facto pode parecer arriscado, a verdade é que a interpretação de Gabe Nevins está a altura, outra coisa, aliás, não seria possível, sendo que, na realidade é um protagonita filmado até á exaustão, presente em todas as cenas, portanto, nunca seria possível um filme assim com um mau actor.





A estética é também digna de destaque. Não só na escolha dos planos, belíssimos, de resto, seguindo Alex de forma calustrofóbica, outras vezes mais relaxante, parecendo, no fundo, uma forma de nos mostrar como Alex se vê a si mesmo e ao que o rodeia; mas também na escolha feita com os actores, mesmo figurantes. É uma estética incomum, que prima pelo inusual, ou seja, o oposto da cada vez mais em vigor estética Morangos Com Açúcar onde beleza é igual a bondade e qualidade. Neste filme, é precisamente a personagem com uma beleza mais canonizada que é espezinhada, é difícil dizer se o protagonista é bonito ou feio, o corpo dele aparece poucas vezes despido, e, quando aparece, revela-se um corpo perfeitamente normal, sem as previsíveis semanas de trabalho árduo num ginásio que normalmente é exigido a quem passa uns minutos em tronco nu em frente á câmara.
Por outras palavras: Van Sant sabe como fazer um filme de adolescentes que não é um filme de adolescentes. E isso não é só na estética, é também na recusa dos clichés que normalmente se justificam com um despudorado clamar de realismo: não há aqui sexo excitante, pelo contrário, não há aqui lirismo ou desespero face ao azar, não há aqui uma moral, ninguém aprende lições de vida, ninguém conhece uma namorada para a vida toda, não há uma perseguidora que não olha a meios para atingir os fins, enfim, há algo de muito adulto e racional na pessoa de Alex, que é invulgar recaír sobre um adolescente. E a culpa não tem nada que ver com isto. Porque este é um filme/psiquiatria: o que se vê é o que está dentro da cabeça desta pessoa, e portanto, ela não tem que se esforçar por se fingir arrependida, por parecer muito humana, muito correcta, muito moralista. Só tem que se recostar e deixar-nos ver, literalmente, o que lhe vai na alma. O resto é o genérico.





Veredicto: 19/20

Paranoid Park (Trailer)

Apresentação do derradeiro capítulo da trilogia de Gus Van Sant sobre a adolescência.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A Perfect Circle: Thirteenth Step

O NÚMERO DA SORTE








Chama-se "Thirteenth Step", o último álbum de orginais dos A Perfect Circle, e merece referência porque comprova a minha teoria de que o número 13 é o número da sorte, contrariamente ao que afirmam os supersticiosos.
Traço de evolução considerável desde "Mer de Noms", a estreia da banda, em 2000, "Thirteenth Step" foi lançado em 2003, e, sem dificuldade, consegue ultrapassar os já clássicos da banda, como o famigerado "Judith", uma vez que parecem ter sido postas de parte ideias como a de que é necessário berrar para fazer rock do duro. "Weak and Powerless" é, sem dúvida o melhor exemplo. E com um vídeo a fugir para o surrealismo a acompanhar. Ouro sobre azul.
Abre com uma brilhante e imprevisível procura de luz, "The Package", um esforço que parece deitado por terra pelo sombrio "Weak And Powerless", uma das melhores faixas de "Thirteenth Step", primeiro single, e, certamente, uma canção rara sem pretensiosismos, construída a partir de uma simploria guitarra eléctrica, de uma bateria bem arranjada e a voz a conduzir de uma forma incerta a canção.
Outros pontos de referência: "The Outsider", feito de uma estética complexa mas equilibrada, e de um forte sentido teatral.
"The Noose" também não corre mal. Ensombrada por uma composição feita de adornos e barroquismos, a letra dersenvolve-se até que, ao contrário do que se espera, termina sem uma conclusão. Muito bom.
Todas as outras faixas, sem se destacarem particularmente, não conseguem ser más canções, bem pelo contrário, a maior parte revela-se, realmente, melhor do que as de "Mer de Noms", o que mostra que o esforço vale a pena, e que, por vezes, a contenção não é antítiese do rock.






Veredicto: 17/20

A Perfect Circle - Weak and Powerless

Video de "Weak and Powerless", avanço de "Thirteenth Step". Estética simbolista/ surrealista. Muito bom.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Joni Mitchell: Shine

O MILAGRE DA CRIAÇÃO

Não será fácil para alguém que carrega consigo não só o estatuto de uma das melhores compositoras vivas como também a composição de coisas tão belas como “Woodstock”, “Same Situation”, “Down To You”, “A Case Of You”, “Dreamland” ou “Both Sides Now” fazer uma longa, longa pausa e depois regressar de repente. A canadiana Joni Mitchell, no entanto, teve arrojo para isso.
Shine” é o título do seu novo álbum, publicado cinco anos depois do anúncio de uma possível retirada, graças a uma mudança de discográfica.



E não é um mau álbum. A voz de Mitchell, claro, sofreu as naturais alterações. Já não é a voz de “Woodstock”, mas todos os seus maneirismos, continuam aí, e, com mudanças de voz ou sem elas, Mitchell continua a reconhecer-se facilmente. As composições simples e bem esquematizadas que sempre a caracterizaram consolidam-se aqui com arranjos de influencia do jazz, criando com a tonalidade sorumbática de Joni uma sonoridade nostálgica e intimista, situado fenomenalmente no tempo entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80. Refrescante.
A introdução é instrumental, com “One Week Last Summer” onde fica explicado muito daquilo que se vai ouvir. Tema com protagonismo para o piano e o saxofone, muito bem ritmado.
Das restantes canções, há várias a destacar:
“Hana”, baseado num filme dos anos 30, pela sua estruturação e ritmo, onde a voz de Joni Mitchell guia os instrumentos, criando uma enorme densidade á volta das palavras.
A nova versão de “Big Yellow Táxi”, uma canção da activista ambiental Mitchell, que não soa nada mal, bem pelo contrário, iguala sem dificuldades a versão original, compensada com um delicioso acordeão, a colar perfeitamente na voz.
“Bad Dreams”, a letra provavelmente mais didáctica de todo o álbum, excelente composição para piano, no seu todo um momento de genuína inspiração, quase a remeter-nos para o sentimento de distanciamento e saudade patente no álbum “Blue” de 1971.
Falando de inspiração, “Night Of The Iguana”, com fantásticos solos de guitarra eléctrica, a dar uma textura rock quase pouco explícita numa deliciosa composição folk.
“If”, inspirado em Rudyard Kypling, termina o álbum, e muito bem. Composição para piano, adornada por uma bateria simples e o habitual saxofone, um final a lembrar os tempos em que a pop era boa.


A capa do álbum é péssima. Com uma fotografia do bailado inspirado na sua música, e com um chocante traço de censura que não ajuda a melhorar a imagem da capa, bem pelo contrário.
Quanto a música, em específico, Mitchell pode não estar no pico da sua criatividade, mas a verdade é que fez um álbum repleto de um evidente amadurecimento pessoal e musical, e constituído com boas canções. Mais assim, é o que se quer. Isso, e um concerto ao vivo cá em Portugal, de preferência que inclua “Woodstock” no seu alinhamento.

Veredicto: 17/20

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Sophie Barker: Earthbound

A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES

Quando vemos o nome de Sophie Barker nos créditos dos primeiros dois álbuns dos Zero7 ou nas “Quiet Letters” dos Bliss, e quando vemos o seu nome na capa de “Earthbound” não é difícil acreditar que são uma e a mesma pessoa. Mas se a ouvirmos em Zero7, em Grooverider, em Groove Amanda, ou em Bliss e se a ouvirmos naquele que é o seu primeiro álbum a solo, é quase sobrenatural pensar tal coisa.


Se também Sia Furler demonstra um outro lado seu nos seus álbuns a solo, a verdade é que “Earthbound” não é só um outro lado de Sophie Barker, é uma Sophie Barker com pouco em comum com a que interpreta as canções das outras bandas. Porque se Sia mantém os seus traços próprios ao apresentar-se sozinha, Sophie renega tudo o que faz acompanhada e entrega-se inteira a simples e acústicas ou semiacústicas composições Folk, despidas de qualquer artifício, e, estranhamente, também de toda a electrónica. O único instrumento não acústico que é ouvido neste álbum é a guitarra eléctrica que surge por vezes, e uma electrónica discreta em “Angel”. As canções não são gravação recente. Esta é uma colectânea de canções que Sophie tem escrito e gravado desde há alguns anos, algumas delas em parceria com Robin Guthrie, dos Cocteau Twins. Talvez isso tenha ajudado a que este seja um álbum curto. De oito canções é feito, mas que valem por muitas.
Apesar da referida dispersão cronológica, “Earthbound” é um álbum focado. Feito de uma imagética ora rústica, ora nocturna, começa com o excelente “Secret”, que, se não for a melhor canção destas oito, será uma das melhores, certamente. Segue pelo excelente “Stop Me”, onde a guitarra eléctrica pontua em sintonia com a voz de uma independentista Sophie que nos canta “Finally I´m alone.” Segue-se “Dreamlife”, delírio acústico, e “Wintertime”, possivelmente o tema mais irrelevante de “Earthbound”. “On My Way Home” é a letra que mais segue a estética do storytelling, inserida numa música que sem ser má, é facilmente ultrapassável, neste contexto.




“Start Me” é o mesmo passo quase em falso de “Wintertime”, não seduz particularmente. Mormente quando é seguida de algo tão brilhante como “Angel”, a canção da electrónica muito subtil, que, com muito boa vontade, nos remete um pouco para os Zero7, ou talvez mais até para os Bliss. A terminar “Strumble” é o tema que se desvia da matriz dos anteriores, soando quase a um country-rock, mais do que a folk, sem deixar de ser uma boa composição, simplória, num esquema canonizado que, com a mestria com que nos é apresentado, se torna agradável, e não banal.
Entretanto, Sophie iniciou uma colecção de álbuns de música para crianças e elas que me perdoem, mas esses álbuns não me interessam, porque provavelmente não gostarei deles. É por álbuns como “Earthbound” que nos devemos lembrar de Sophie Barker, que, de repente, nos mostra que merece ser vista como algo que mais que “aquela que cantava com os Zero7”.

Veredicto: 17/20

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Marilyn Manson: Eat Me, Drink Me

A MORTE DO ARTISTA

Brian Hugh Warner, aka Marilyn Manson pode fazer o que quiser, porque já tem algo que ninguém lhe tira: um estatuto. E, podendo tão seco início parecer pejorativo, não o é, porque este estatuto não foi conquistado á custa de pouco esforço. Bem pelo contrário. O estatuto de Manson deve-se, além da sua peculiaridade como performer, a grandes canções que já compôs, pérolas irrepetíveis como “The Nobodies” (Reacção ao sangrento Massacre de Columbine.), “Coma White” (A cançãoimprovável.), “Better Of Two Evils” (Como não referir?), “Lamb Of God” (Uma reflexão sobre a exploração televisiva da miséria e da morte.)
No entanto, Manson não está, nem seria normal que pudesse estar, isento de produzir más canções, e de receber más críticas por elas: o Passado não é mais do que o Passado, e vale o que vale, mas não deve, de forma alguma, influenciar a visão do Presente.
No passado, os álbuns de Marilyn Manson eram perfeitos ou quase perfeitos. Evoluíam lentamente, até chegar ao apogeu, com “Holy Wood (In The Shadow Of Th Valley Of Death)”, narração da viagem de Coma Black que guia o seu povo pelo Vale dos Mortos, e ao mesmo tempo, uma reflexão sobre a sociedade e a mediatização desta, partindo precisamente do Massacre de Columbine, que tem também o seu peso nas letras do álbum, não tivesse sido Manson ridiculamente responsabilizado pelo sucedido.
Mas o presente, esse é outra coisa. Depois de um não muito mau “Golden Age Of Grotesque”, é a vez de “Eat Me, Drink Me” vir deixar um nó na garganta de quem segue o percurso de Manson. Sim, a música é isso mesmo, música, mas ignorante seria dizer que a música de Marilyn Manson é só música. O sentido teatral, e a densidade narrativa sempre foram tão importantes como a música propriamente dita. E em “Eat Me, Drink Me”, não só praticamente se extingue a teatralidade, como também vemos pouco agradáveis mudanças na música.




Em relação á teatralidade, a maneira de cantar é a habitual, mas houve algo da agressividade que se perdeu. Há uma forma mais controlada de cantar, agora.
A nível de música, não se pode dizer que ela é má, apenas insatisfatória vinda de quem vem. Canções como “The Red Carpet Grave”, por exemplo, seria uma excelente canção noutra banda qualquer. Mas, em Manson, soa a muito pouco.
É esta a história de “Eat Me, Drink Me”. Canções que, não sendo más, não nos satisfazem, porque nos mostram um Manson cantor, que já não tem nada ou quase nada de artista.
E não é fiável, nem sequer muito correcto, atribuir esta mudança a uma suposta crise de meia-idade. É uma palermice. Basta que se repare que a composição de todas as faixas do álbum são compostas a meias por Marilyn Manson e Tim Skold. As composições de Ramirez e John 5 desaparecem, assim como as suas interpretações.


Skold surge pela primeira vez no universo da música de Manson em “Golden Age Of Grotesque”, onde já se nota um desvio na rota, mais distante do Alternative Metal, sem sair dele, e a caminhar por vezes um pouco no caminho de um Rock pesado. Agora percebe-se que é, de facto, Skold o responsável por este desvio. Este é um álbum de longe mais leve e fácil de ouvir do que os anteriores. Não é exigente para quem o ouve.
O arranque é feito com aquele que é um dos melhores temas do álbum, “If I Was Your Vampire”. Depois, vai enveredando pelo referido caminho do rock pesado, com (Bons.) solos de guitarra eléctrica e teclados a soar nos lugares certos. “Just A Car Crash Away” relembra “Godeatgod”, mas numa versão definitivamente mais light. “Heat Shaped Glasses” é provavelmente a mais assumida canção pop de toda a discografia de Marilyn Manson, uma boa composição, bem esquematizada, que, no entanto, não resulta numa canção especialmente boa.
A direcção de arte, apesar da capa deploravelmente má, é boa, com uma boa montagem das imagens, e fazendo uso da caligrafia de Manson. Nada que se compare a “Golden Age Of Grotesque”, mas bom.

Veredicto: 14/20

Marilyn Manson - Heart Shaped Glasses

A versão original do polémico video de apresentação de "Heart-Shaped Glasses", single de avanço de "Eat Me, Drink Me".

domingo, 2 de dezembro de 2007

Klaxons Golden Skans

Videoclip realizado por Saam Faramand. Bom video sobre boa música... passa

Klaxons: Myths Of The Near Future

ELECTRO-QUALQUER-COISA


Há uma indecisão quando se tenta classificar a música dos Klaxons. Indie Pop/ Indie Rock/ Electropop/ Urban/ Electrofolk. Esta indecisão levou á criação de um suposto novo estilo, o New Rave. E esta definição não era assim tão necessária. A definição de Electropop/ Electrorock serve perfeitamente, pelo menos por enquanto. E "por enquanto" porque há algo de proeminente na música dos Klaxons, algo que se esforça por se soltar, mas, lamentavelmente, ainda não o conseguiu. Não quer isto dizer, obviamente que " Myths Of a Near Future" seja um mau álbum, que não é. Essencialmente eléctrico/electrónico, vive de baterias rápidas e nunca passadas para segundo plano, uma interminável lista de sintetizadores, e guitarra eléctrica/baixo aqui e ali. Jamie Reynolds, James Righton e Simon Taylor Davies acabam por contribuir os três, não só instrumentalmente, como vocalmente, o que até dá uma agradável sensaçaõ de gradação e variação a cada faixa, o problema aparece quando entre as diferentes faixas se começa a notar alguma falta de variação.

Pecando, precisamente, por ser abusadamente homogéneo, este é um álbum que usa as vozes para traçar unidade sobre todas as faixas. Assim se perde a originalidade, no abuso da estéticda repetição quase psicadélica, quase versão pop de Portishead, e assim se ganha um nada desgradável travo pop, uma vez que na voz de qualquer um dos rapazes não há nem rasto de agressividade, mas sim suavidade.



As canções em si não devem muito á originalidade em termos de esquema de composição, mas não há nenhuma que se possa apontar como má. Os arranjos são por vezes demasiado exagerados, mas não parecendo incongruentes, estão bem. A nível instrumental é a pouca variação que arruína tudo.
A escolha de "Golden Skans" para single de apresentação não surpreende, sendo um dos melhores temas do álbum.
No proximo álbum, cujo nome ja é conhecido, "A Bugged Out Mix", talvez já se tenha soltado a verdadeira originalidade.





Veredicto: 15/20

Lou Rhodes - Each Moment New

(Effenaar Eindhoven 23-06-06)
Nao fazia a mínima ideia que havia semelhante video no YouTube. A única vez que procurei videos da Lou, saíram-me coisas do tempo dos Lamb. EACH MOMENT NEW, semelhante a este, foi um dos momentos altos no ano passado, na Batalha. No NorteShopping teve um acompanhamento instrumental mais contido, nao deixando de ser um masterpiece... CHEERS