domingo, 31 de dezembro de 2006

Maria Rita: Segundo

SEGUNDOS DE OSCILAÇÃO

De Maria Rita já se disseram maravilhas, e já se disseram palavras menos boas. A estreia da filha de Elis Regina aconteceu há três anos atrás, com um álbum homónimo muito bem sucedido. O disco não era nada mau, ainda que não fosse exactamente a maravilha que muitos proclamavam. O reportório era coerente, e cada canção era obviamente escolhida a dedo. Um problema: Maria Rita tentava levar a sua voz para lugares onde ela não pode chegar. Sim, isso era um problema, e principalmente ao vivo. Não é que a menina desafine, mas a voz é que se nota muito mais insegura, e claramente inadaptada. Em "Segundo", as coisas mudam um pouco de figura, mas só algumas coisas.



Há, numa primeira audição, a sensação de que "Segundo" intenta ser a versão corrigida e refeita de "Maria Rita". Vejamos: os músicos são os mesmos, o principal compositor continua a ser Marcelo Camelo, e a sonoridade mantém a complicada mescla de MPB com jazz. E em "Segundo", Maria Rita repete até um tiro no escuro (Que não acerta em bom sítio, por sinal.) que já tinha dado no primeiro disco: cantar em castelhano. Em "Maria Rita", "Dos Gardenias" já soava a um intervalo para descansar, e o sotaque da cantora já deitava por terra a genuinidade da canção. Em "Segundo", a diferença é que o intervalo com "Mal Intento" chega uma faixa mais cedo.

Apesar deste aspecto, há que referir que o segundo álbum de Maria Rita não é mau, e, em certos aspectos, consegue até utrapassar o seu antecessor. A questão dos terrenos que a voz desta brasileira explora é agora abordada de uma forma mais realista, contentando-se a cantora com os registos adequados ao seu timbre. A sonoridade, de um modo geral, não regista muitas diferenças, o que não é bom, a não ser a nível do ritmo, que é aqui muito mais forte.

No fim, a ideia principal de "Segundo" é a oscilação. Somadas e/ou subtraídas todas as correcções, todas as aceitações, todas as mudanças, e todos os conceitos mantidos, o resultado tanto dá em canções muito boas, o caso da abertura com "Caminho das águas", "Ciranda do Mundo" e principalmente "Muito Pouco", como resulta em momentos indefinidos ("Despedida".) ou até mesmo momentos maus, como "Sem Aviso" ou "Feliz".

Em geral, "Segundo" parece, em certos momentos, ser melhor que "Maria Rita", mas, bem vistos todos os aspectos, esta colecção de canções, colocada ao lado da primeira que incluia pérolas como "A Festa", "Santa Chuva", "Pagu" ou "Agora Só Falta Você", pode no máximo igualá-la, mas ultrapassá-la... ultrpassá-la ainda não.

Juízo final: 14/20

sábado, 30 de dezembro de 2006

Running Up That Hill (A Deal With God)



(Kate Bush)
It doesn't hurt me
Do you want feel how it feels
Do you want to know, know that it doesn't hurt me
Do you want to hear 'bout the deal that I'm makin
You, you and me...
And if I only could make a deal with God
And get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building
If I only could oh...
You don't want to hurt me
But see how deep the bullet lies
Unaware I'm tearing you asunder
Ooh there is thunder in our hearts
Is there so much hate for the ones we love
Tell me we both matter don't we
You
You and me
You and me won't be unhappy
And if I only could make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building
If I only could oh...
You
You and me
You and me won't be unhappy
C'mon baby c'mon darlin'
Let me steal this moment for you now
Come on angel, c'mon, c'mon darling
Let's exchange the experience oh,
And if I only could make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
With no problems.
If I only could
Be running up that hill

Massive Attack: Collected

COLECÇÃO DE ATAQUES MASSIVOS



Tenho que falar de um disco que me ofereceram no Natal, e que, por acaso, eu já devia ter adquirido há muito tempo, ou não fosse uma colectânea do melhor de uma das minhas bandas de eleição e numa edição excelente. Falo de "Collected" dos Massive Attack, ou dos senhores Robert Del Naja (3D), Grant Marshall (Daddy G) e Andrew Vowles (Mushroom).
A edição especial contém, além do disco do best of, um outro dual side, que é um DVD com a videografia completa do trio que depois ficou duo, e um CD com inéditos, raridades e temas de OSTs.

Aparentemente, seria incoerente juntar canções do longínquo "Blue Lines" (1990) com "100th Window" (2003), mas, a verdade é que até nem soa mal. Bem pelo contrário. Traça-se uma evolução jeitosa, e temas antigos como "Safe From Harm" ou "Unfinished Sympathy" não ficam mal perante outras como "Butterfly Caught" ou "Special Cases". Pelo meio há "Protection" (1994) e "Mezannine" (1998).
O álbum cobre quase todos os vocalistas que já trabalharam com a banda: Shara Nelson (Que entretanto segue uma carreira a solo.), Horace Andy (Emblemático músico da Jamaica, tocou no Porto há pouco tempo.), Tricky (Colaborou com Björk em "Post".), Liz Fraser (Cocteau Twins.), Tracey Thorn (Anything But The Girl.), Nicolette (Nigeriana/ Escocesa, tem uma carreira a solo no acid jazz.), Terry Callier (Guitarrista de Jazz e Funk.), Sinead O´Connor (Quem não a ouviu em "Nothing Compares 2 U"?) e Mos Def (Rapper com pouca projecção em Portugal, ainda assim.), além de outras vozes que participam aqui por outras razões, o caso de Madonna em "I Want You", e de Damon Albarn (Blur, Gorillaz.) em "Small Time Shotin Em Up". Fica de fora Sara Jay, a minha preferida em "Dissolved Girl" e isso é pena.
Quanto aos vídeos, encontramos aqui Dani Levi, Michael Gondy, Wiz... mas uma colecção muito equilibrada, e cuja evolução acompanha a evolução da música.
Ainda apesar de tudo isto, "Collected" prima por mostrar as várias vertentes e contaminações da música dos Massive Attack, desde o soul de "Live With Me", "Safe From Harm" ou "Unfinished Sympathy", até ao hip hop em "Karmacoma" ou "Daydreaming" (Só presente em vídeo.), á electronica de "Butterfly Caught" ou "Inertia Creeps", ás influências orientais de "Sly" com Nicolette á voz, até sons mais melodiosos, como em "Protection" ou "Teardrop" a outros mais agressivos como em "Five Man Army" ou "Future Proof".


Shara Nelson
Horace Andy
Tricky
Tracey Thorn
Elisabeth Fraser
Sara Jay
Sinead O´Connor
Terry Callier
Damon Albarn

domingo, 24 de dezembro de 2006

Royksöpp: The Understanding

A MELANCOLIA TAMBÉM SE DANÇA
Tem muito mais de um ano a primeira edição de "The Understanding", segundo´álbum de originais do duo norueguês Royksöpp, e o que quer isso dizer? Absolutamente nada, exacto.
"Melody AM", o filho promogénito de Svein Berge e Torbjorn Brundtland, era feito com ritmos suaves mas fortes, e com melodias tristes, essencialmente. Desde então até "The Understanding", os tirmos é que se tornaram menos suaves, e a melancolia acentuou-se.
"Only This Moment" ou "Follow My Ruin" são, de facto, as provas de que a tristeza é dançável, e muito dançável. Obviamente que não é um disco perfeito para ouvir em casa, mas, num bar, num café... algures fora de casa, a história é outra.
O início engana quem ouve: o piano acústico dá o mote em "Triumphant", os sintetizadores engrandecem a coisa, mas em "Only This Moment", tudo muda de figura, o registo é agitado, electonico, faz lembrar os bares do underground de que eu tanto gosto. "49%" é o pior momento do álbum, mas é logo compensado por "Sombre Detune" e a música mantém-se oscilando entre o bom e o medíocre até fechar com "Tristesse Globale", um talvez regresso a "Triumphant". Não é um disco de que se goste á primeira. Á primeira audição, gostei apenas de "Triumphant" e "Only This Moment". Mas, á medida que se ouve, coisas como "Circuit Breaker", "Alpha Male" ou "Someone Like Me" vão ganhando consistência... 
O que correu mal? Acima de tudo, que muitas das canções resultem bem enquanto peças individuais, mas mal enquanto partes de um disco. Faltam conceitos comuns, cada canção é distante da outra. A voz também tinha uma exploração mais abrangente e variada em "Melody AM"... Em conclusão: canções muito boas, canções muito más, álbum muito disperso...


sábado, 23 de dezembro de 2006

All The Good Things


by Nelly Furtado

Honestly
what will become of me
don't like reality
It's way too clear to me
But really life is daily
We are what we don't see
Missed everything daydreaming

Flames to dust
Lovers to friends
Why do all good things come to an end
Flames to dust
Lovers to friends
Why do all good things come to an endcome

Travelling I
only stop at exits
Wondering if I'll stay
Young and restless
Living this way ~
I stress less
I want to pull away when the dream dies
The pain sets in and I don't cry
I only feel gravity and I wonder why

Well the dogs were whistling a new tune
Barking at the new moon
Hoping it would come soon so that they could
Dogs were whistling a new tune
Barking at the new moon
Hoping it would come soon so that they could
Die die die die die

De chamas a cinzas, de amantes a amigos, porquê que todas as coisas boas acabam? Adorava poder acrescentar alguma coisa a isto, mas a verdade é que a menina Nelly Furtado diz tudo. A minha pergunta é mesmo essa: why do all the good things come to an end? Eu espero que nem sempre seja bem assim...


fotografia tirada pelo je, em frente ao CCB, Lisboa, a 3 de Fevereiro de 2006

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Minha Alma de Amor Sedenta, Sequiosa

por António dos Santos



Minha alma de amor sedenta, sequiosa
Barco sem rumo e sem Deus, fora do mundo
Anda á mercê da tormenta, tenebrosa
Desse mar dos teus olhos, negro e profundo

Essa dádiva total e quase louca
Que me pedes hora a hora, a cada instante
É o que a minha alma de dá, sem nada em troca
Quando de amor por ti chora, soluçante

Se eu um dia te perder, na tua vida
Jurarei virado aos céus, ao sol e á lua
Os perdoes que Deus me der, arrependido
Meu amor, são todos teus como eu sou teu

É uma causa perdida, pois não deve
O ser proibido amar e desejar
Quem perde um amor na vida, que é tão breve
Jamais deveria cantar e até sonhar...

fotografia de Gabriele Basilico

Disse-te Adeus Á Partida, O Mar Acaba A Teu Lado



Disse-te adeus á partida
Digo-te adeus á chegada
Se quero tudo da vida
Já de ti não quero nada

Disse-te adeus e depois
Fiquei no mesmo lugar
O leito de nós os dois
Só tem raízes no mar

Dizer adeus é diferente
Quando te digo baixinho
No meio de tanta gente
É que me sinto sozinho

Com uma gaivota na voz
Disse-te adeus e parti
Se esta cama somos nós
Não hei-de morrer sem ti...


António Lobo Antunes
Fotografia de Jorge Molder

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

As Minhas Queixas

Caro Pai Natal:

Chegando o Natal, é tempo de fazer uma retrospectiva. Para merecer os meus presentes de Natal, posso não ter feito muito, mas aconteceram-me coisas muito desagradáveis este ano, que bem me fazem merecer as All Stars e o pack das Donas de Casa Desesperadas.

1.º- A atruibuição do Nobel da Literatura a Orhan Pamuk. Tinha que começar por aqui. Há anos que ando a dizer que depois do Saramago, o António Lobo Antunes já deveria ter ganho o Nobel. Isto está a tornar-se pessoal, a academia sueca está a fazer isto para me irritar. Estou farto disto.


2.º- Não fui á exposição da Frida Kahlo ao CCB. Problemas de agenda, problemas de agenda, e quem ficou a ver navios em vez de ver "A Coluna Partida" ou "Auto Retrato com Macaco" fui eu. Aliás, a ver barcos rabelos, porque no Douro nem há navios.


3.º- O final da série "Senhora Presidente" sem a promessa de uma segunda temporada. Privem-me de quase tudo, mas não da Geena Davis a interpretar MacKenzie Allen, senhora da Casa Branca, e Donald Sutherland como Presidente da Câmara de Representantes, ou simplesmente Nathan Templeton.

4.º- Mais uma vez, esqueci-me de metade dos aniversários dos meus amigos. Não faço por mal, mas tenho muita dificuldade em fixar datas, principalmente quando são datas tão parecidas no nome como Aniversário da Né, Aniversário do Fred, Aniversário da Nita, Aniversário do Diogo... enfim... é desgradável...

5.º- A minha irmã nem cresceu nem se tornou menos chata, e isto está na minha lista de prendas do Pai Natal há sabe Deus quantos anos...

6.º- Os Morangos com Açúcar continuam aí... apesar de eu tanto ter cortado na casaca do sr. José Eduardo Moniz...

7.º- Ainda não foi desta que provei Kibe Cru, que é um prato colombiano que eu ando curioso para experimentar.

8.º- O Justin Timberlake voltou aos discos com o FutureSex/LoveSounds, para mal dos meus pecados. Ouvi-lo cantar Rock Your Body era mau. Ouvi-lo em Let Me Talk To You My Love é pior...

9.º- Ainda não comprei uma casa no Algarve. É uma coisa de que ainda não desisti. Mas tinha sido tão bom, se tivesse sido este ano... principalmente no Halloween...,

10.º- Não foi desta que consegui gostar dos Sissor Sisters (As noites no Maus Hábitos não contam.) apesar de prometer a mim mesmo que vou conseuir descobir qual o motivo para que tão bem se diga deles.

11.º- Não consegui gostar de nenhuma música do novo álbum da Beyoncé Knowles, B Day, e eu acho que, depois de um ano de obsessão, na altura de Dangerously In Love, eu devia isso a mim mesmo.

12.º- Não descobri quem é o Tubarão. Andam praí ás voltas com o Bráulio, com a Raquel... e nada.

13.º- Não arranjei coragem para vestir uma T-Shirt cor-de-rosa...

14.º- Não consegui despir-me do veneno do sarcasmo nem um bocadinho...

15º- O Rui Rio entregou o Rivoli ao Felipe La Feria, e já lhes chamei todos os nomes...

Por tudo isto, querido Pai Natal, quero umas All Stars cinzentas e o pack dos DVDs da primeira temporada das Donas de Casa Desesperadas, e á meia-noite de 24, se faz favor. Um abraço, teu

SuperMassive Black Hole

O Meu Filme de Natal


Adoro cinema. Tive essa disciplina o ano passado, na Soares, no módulo de Comunicação Audiovisual, adoro ir ao cinema, vasculhar os DVDs nas lojas, e ver o Onda Curta, porque adoro curtas-metragens. Portanto, e lobo-antunianamente repetindo-me
Adoro cinema.
Mas, confesso que o ano passado desisti de ir ao cinema no Natal. Passo a explicar. Fui ao cinema com alguns colegas, a Guimarães. Como foi? Nada bom. O único que ainda nenhum de nós tinha visto era um de desenhos animados, que não posso garantir que não fosse o Lillo & Stitch 2. Estava cheio de famílias felizes com os filhinhos sorridentes, segurando com esse sorriso um colossal balde de pipocas. Sentámo-nos numa das filas do meio, e eu fiquei na ponta. Pus-me a pensar na minha vida, já que os filmes de desenhos animados raramente me agarram, e, a certa altura, estava a suspirar tanto que um rapazinho de seis anos me mandou calar. Um mimo. De uma forma ou de outra, passei o resto do dia em baixo, suponho que precisava de alguém que me dissesse que tudo ia ficar bem. Enfim, coisas natalícias.
Portanto, agora, não vou ao cinema, do meio de Dezembro até ao meio de Janeiro. Fugi.
Agora, limito-me a ver o meu filme de Natal, que é The Nightmare Before Christmas- O Estranho Mundo de Jack, do Tim Burton (Um dos meus definitivamente preferidos.) porque tenho uma edição especial em DVD, logo posso ver em casa dos meus pais, ou no meu PC, no primeiro caso, na sala, debaixo de um cobertor que detesto ficar constipado, e não me ponho a pensar na minha vida, uma vez que este filme me prende, apesar de já o ter visto um número de vezes nunca inferior a 584865497508435646752364162537804945859069, e, mesmo que pusesse, como o vejo sozinho, não haveria criancinha de seis anos que me mandasse calar. Pode ser que um dia ganhe coragem de voltar ao cinema na altura do Natal, não sei. Espero que sim. Por enquanto, não consigo ir. Se fosse, faria o máximo dos máximos por não ficar numa da pontas, porque, ao menos entre os meus amigos, estaria protegido, protegido como acabo de ouvir que a Carolina Salgado vai passar a andar, uma vez que corre perigo, derivado ás graves acusações que faz em "Eu, Carolina"... próxima candidata ao Nobel de Portugal. Isto era um parêntesis. O que eu queria mesmo era perceber porque não vou ao cinema nesta altura. Acho que descobri...

domingo, 17 de dezembro de 2006

post blue


(brian molko; stefan olsdal; steve hewitt)

it´s in the water baby
it´s in the pills that bring you down
it´s in the water baby
it´s in your bag of golden brown
it´s in the water baby
it´s in your frequency
it´s in the water baby
it´s between you and me

it´s in the water baby
it´s in the pills that pick you up
it´s in the water baby
it´s in the special way we fuck
it´s in the water baby
it´s in your family tree
it´s in the water baby
it´s between you and me

bite the hand that feeds
tap the vein that bleeds
down on my bended knees
i break the back of love for you

O Quereres


Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor...

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor...

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

Caetano Veloso



Imagem: "Máquina Assassina" de Kurt Schwitters

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Será Bráulio o Tubarão?


Ontem á noite fui bombardeado com 4 sms que continham basicamente o mesmo texto:
"Será Baúlio... o Tubarão?"
Pois é, a vida tem destas coisas, e as novelas também.
Depois de "Quem matou o António?", Rui Vilhena deixa todos curiosos com "Quem é o Tubarão?" Depois de um episódio em que Mónica telefona ao Tubarão e 499 telemóveis tocam, temos outros tantos suspeitos: Beatriz, Filipe, Braúlio, Célia, Fernando, Bárbara, Raquel, Bernardo, Afonso, Lídia, Fátima, Maria Laurinda... e por aí adiante... mas por alguma razão as pessoas decidiram implicar com o Bráulio. O problema é que isto já se tornou uma questão social. Mais que o aumento da idede da reforma, mais que as aulas de substituição, mais que o pagamento dos internamentos, os portugueses estão preocupados com a identidade do Tubarão. Pensem... o Tubarão esteve no Oceanário (Deduzo que lá fosse um entre muitos.), esteve no lançamento da nova colecção da Martins de Mello, mandou um colar a Mónica para ela utilizar nas comemorações do dia do Fim de Fausto.
É uma capacidade brilhante do senhor Rui Vilhena, sempre que escreve uma novela, agarra mais que as idades das reformas e etc... acho que o povo português nunca mais foi o mesmo depois de descobrir que quem matou o António foi a Guida! E agora querem saber se o Bráulio é o Tuba...
Não sei... sigo vagamente a novela, principalmente ás Sextas Feiras, porque durante a semana, eu e os meus roomates acabamos por n0s esquecer, entrte a programação do AXN ou do Hollywood, mas a minha aposta vai para a Beatriz... só porque tem charme.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Vem aí o Vento

Tomo sempre café com a Catarina C na Fnac de Santa Catarina ás Quartas Feiras, e passo pela mesma rua várias vezes. E ultimamente, tenho-me demorado um pouco a reparar nas iluminações de Natal. Não são bonitas mas são tão bonitas. É muito estranho. A rua toda iluminada é bonita, ainda que as iluminações sejam fatelas. Enfim, e tudo isto porque é Natal. Ainda no outro dia vinha a subir a rua, após a terceira dos The Gift e vinha a cantar
"_É Natal, é Natal
Tudo bate o pé..."
ou seja, eu e o Natal adoramo-nos. Palavra que gosto daquela época que os católicos gostam de chamar de advento (Não, não sou católico, nem gosto do termo "advento", parece que vem aí o vento... não acho que seja esse o objectivo.), gosto das pessoas que parecem bem-dispostas (E algumas só estão bem-dispostas no Natal.), gosto das montras das lojas cada uma mais possidónia que a anterior, das cançõezinhas que enchem as ruas com a sua sonoridade previsível... enfim, até acho que tem o seu quê de lógico a televisãoi fazer galas e tal... mas se há coisa que eu não entendo é mesmo as galas do Natal dos hospitais. Sim, acho muito bem que façam isso, mas não era preciso estarem a passar isso na TV, e ainda por cima a tarde toda. Quer dizer, não chegam as rádios locais, como agora, uns dias antes do Natal temos que levar com o Tony Carreira, a Ágata, a Romana, o Emanuel, os D´ZRT ou os 4Taste... deve ser para os doentes fugirem e deixarem os hospitais vagos, é que só pode. Mas não sei o método é eficaz, porque qualquer pessoa com o mínimo de bom-gosto vê cinco minutos daquilo na televisão, e começa a vomitar, e corre para o médico. Má ideia.
Mas avance-se a parte má da época natalícia, e saltemos para as compras de Natal, que eu gosto muito delas. Gosto mais que se compre para mim, mas, que remédio, também tenho que comprar para os outros. Felizmente, para mim e para os que me rodeiam, nunca achei que a história do Pai Natal estivesse bem contada. Não conseguia conceber que um velho gordo coubesse na chaminé da casa da minha avó, na casa da qual passo sempre a consoada. Pior ainda, nunca consegui perceber como é que ele entrava lá em casa, se a casa dos meus pais é um apartamento, e nem chaminé tem. Mais... como é que ele não morre? Como é que ele consegue estar á meia-noite nas casas todas? Como é que ele consegue estar nos centros comerciais todos ao mesmo tempo? Onde é que ele vai arranjar dinheiro para as prendas de toda a gente? Realmente, essa história não tem pés nem cabeça. No entanto, um belo Natal, tinha eu aí uns cinco anos, a minha mãe decidiu por cobro a essa treta toda do Pai Natal. Estávamos no Centro Comercial, e ela, em jeito de brincadeira, pergunta-me o que é que eu quero. Eu digo um número de coisa entrer vinte e trezentos e quarenta e um. A minha mãe tenta com calma explicar-me que não posso ter tantos presentes. Eu insisto. Afinal de contas, é um velhinho que me vai dar as prendas, que tem ela a ver com isso. Ela agarra-me num braço, para evitar que eu fizesse um escãndalo e leva-me a um canto
"_Quem te dá as prendas somos eu e o teu pai, o Pai Natal não existe, por isso, vais escolher menos coisas, estamos entendidos."
e posso dizer que o Mundo não me caíu aos pés. Foi como quando os The Gift ganharam o prémio da MTV (Este ano mais uma vez bem entregue, aos Moonspell.), eu ainda não sabia que eles tinham ganho, mas no fundo, sabia que só podia ser isso. Pronto, com o Pai Natal foi o mesmo. Eu ainda não sabia que ele não existia, mas no fundo, tinha plena consciência que ele nunca poderia existir. Não fiquei traumatizado, só um pouco chateado por ter que escolher menos tralha.
Portanto, hoje em dia, em vez que andar a ver os intervalos dos programas e escolher entre os 777 Action Man´s e 50000000000 carros telecomandados, limito-me a dar uma voltinha pelo Porto e decido-me por umas All Stars (Mais umas, desta feita, cinzentas.) e o pack das Donas de Casa Desesperadas, talvez mais um ou dois CDs se os meus tios que quiserem dar alguma coisa. E acho que não se deviam contar essas histórias aos putos. Depois por isso é que eles ficam habituados a ter tudo. Acham que é um homem que cai das chaminé que lhes dá. Ou seja, tudo isto, porque faltam poucas semanas para o Natal e eu já me sinto um pouco mais calminho dentro das minhas psicoses. Quando elas voltarem, talvez deva pedir ao Pai Natal uma Barbie, porque ela faz tantas coisas, que entre elas, há-de ser psiquiatra...

sábado, 9 de dezembro de 2006

A Toada dos Aguaceiros

Caem aguaceiros
deste céu pesado
Que são mensageiros
dum vento salgado
VIVIANE, "Toada dos Aguceiros" (José Medeiros)
Não me entristece a chuva a bater nas vidraças das janelas. Não me apoquenta o meu nariz vermelho vivo a ameaçar caír tipo Michael Jackson. Não me chateia ter que usar muita roupa para andar na rua. Não tenho medo da trovoada quando ela cai. Não me preocupa a tosse constante. Até gosto de ficar de manhã meio acordado meio a dormir a ouvir o barulho da chuva contra os vidros (Principalmente se os estores taparem a luz e tiver o meu MP3 com a canção Come Away With Me da Norah Jones em repeat.). O nariz é uma parte da cara das pessoas em que raramente reparo (Só no caso de ser ESCANDALOSAMENTE invulgar.). Até gosto que esteja frio porque gosto muito de casacos e é da maneira que já os posso usar. E adoro trovoada. A tosse é como o vento, vem e vai. Agora o que eu não suporto é andar na rua quando chove. E não é porque não goste da rua quando chove. O que me leva á completa loucura são as pessoas. A sério. São tão enervantes. Apetece-me utilizar as técnicas da tortura medieval que se usavam na Inquisição naquelas pessoas irritantes que, não lhes chega ter quarda-chuva como sempre que passam debaixo de um toldo ou de um coberto de uma loja têm que passar lá por baixo. Quer dizer, eles não podem andar á chuva e o guarda-chuva também não? Que merda é essa? Eu devo referir que nunca possuí um guarda chuva por mais do que um dia, pelo que a maior parte das vezes, ando na rua com o capuz do meu casaco, e a meter-me debaixo dos toldos e cobertos das lojas. Isto quando posso. Porque graças a esses anormais, por vezes, eles, com guarda chuva, ficam debaixo dos toldos e eu mantenho-me á chuva. Ainda por cima há aqueles que levam isto ao cúmulo de se deixarem a conversar uns com os outros debiaxo dos toldos, e com guarda-chuvas. Nem passam, nem deixam passar. O garrote era um instrumento da Inquisição. Consistia num cinto com um parafuso na parte interior que era apertado um volta do pescoço das vítimas, até que asfixiassem. Eu que tivesse um...
Aquelas pessoas que passam de carro em passadeiras sem semáforo e, apesar de verem pessoas ali, especadas, debaixo da chuva a quererem atravessar, não têm a gentileza de parar. Para esses reservava um método que consistia em pendurar as pessoas ao tecto pelos pés e serrás-las a partir do meio das pernas. Estando atadas de pernas para o ar, não desmaiavam e por vezes só morriam quando já estavam serradas pelo peito. Era o que esta gente merecia... Está ali um gajo á chuva e de pé, e eles, recolhidos e sentados, não podem parar, que estão com pressa... que crueldade.
Os transportes públicos, que mais do que nunca ficam cheios. As pessoas já os usam para irem do mercado do Bolhão á Trindade (Quem é do Porto sabe que a distância é mínima.), mas, com a chuva, ficam ainda mais preguiçosas e metem-se dentro dos autocarros e do metro que é uma coisa desgraçada. Por sorte, vivendo na Baixa, estou perto da minha escola, de quase todas as lojas que posso precisar... o problema é quando preciso de ir a casa da Catarina M, que vive em Francos, e tenho que ir de Metro, ou pior, quando tenho que ir a Serralves e, como nem Metro há, tenho que ir de autocarro. Há umas semanas fui lá, e, no caminho de regresso á Baixa, vinha a dar letra com a Nita e, ás tantas, no seio de uma brincadeira, eu pus a mão na perna dela. Ok. Má ideia. Uma senhora de cerca de oitenta anos desata a desfiar o terço e nós que a ouvíssemos.
Outra coisa. A cidade fica, em geral, sem esplanadas. E isso é do pior. Espero um dia vir a ser escritor, e, se há sítio onde gosto de escrever é num café, e, se fôr numa esplanada, tanto melhor. Com a chuva, lá se vão elas, e, que remédio, escrevo no interior dos cafés, ou em casa.
Também detesto ter que andar a saltitar nos passeios porque estão cheios de poças de água. Educação Física não é o meu forte, e saltar não é um hobbie.
Tenho, por agora, a ideia do forte romantismo na chuva. Isso não passe.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

The Bitter End


(Brian Molko; Stefan Oldal; Steve Hewitt)

Since we're feeling so anaesthetized
In our comfort zone
Reminds me of the second time
That I followed you home
We're running out of alibis
On the second of May
Reminds me of the summer time
On this winters day

See you at the bitter end
See you at the bitter end

Every step we take that's synchronized
Every broken bone
Reminds me of the second time
That I followed you home
You shower me with lullabies
As you're walking away
Reminds me that it's killing time
On this fateful day

See you at the bitter end
See you at the bitter end

See you at the bitter end
See you at the bitter end

From the time we intercepted
Feels alot like suicide
Slow and sad, going sadder
Arise a sitting mine
(See you at the bitter end)
I love to see you run around
And i can see you now
Running to me
Arms wide out
(See you at the bitter end)
Reach inside
Come on just gotta reach inside
Heard your cry
Six months time
Six months time
Prepare the end
(See you at the bitter end)



all of you... I´ll see you at the bitter end

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

The Gift: Fácil de Entender

OUTRA LOIÇA

Há cerca de uma semana que me encontro no mais pleno extase após o lançamento de "Fácil de Entender" , o primeiro registo ao vivo dos The Gift de Sónia Tavares.
É um livro- DVD- Duplo CD que tem tudo aquilo que um fã poderia desejar. Além dos temas ao vivo, uma selecção irrepreensível, duas músicas novas (645; Nice and Sweet) e duas versões (a versão de estúdio de "Fácil de Entender" e uma versão de "Índios" dos Legião Urbana)
Não posso falar dos Gift sem ser afectado por uma subjectividade óbvia. Poderia escrever milhentas palavras sobre ele, e não ia acertar. Não é possível. Posso tentar.



Acho que os Gift são acima de tudo música e músicas. Boa música e boas músicas. Os Gift são a simplicidade de "Ok! Do You Want Something Simple?" e ao mesmo tempo a complexidade de "Cube", são a festa de "Driving You Slow" e o intimismo de "Me Myself and I", são o dramatismo de "Truth" e a leveza de "Clown", são a suavidade de "The Difference Between Us" e a agressividade de "11:33".
Mas ainda mais do que as canções, este DVD permite ver aquilo que há muito tempo já se tinha percebido: por muito que os discos de estúdio sejam perfeitos, ao vivo a força consegue ser superior. Há alturas (Me Myself and I, 11:33, Cube, My Lovely Mirror) em que até parece ingrato ter um momento tão perfeito num DVD que parece retirar o ênfase á unicidade do momento. Mas por outro lado, essa perfeicção merece estar registada e ser vista vezes e vezes sem conta.


Quem não conhecia os The Gift tem neste uma oportunidade de se redimir e quem não gostava tem uma oportunidade de mudar de opinião.
Não é preciso que o álbum tenha vindo parar directamente ao segundo lugar do top, nem sequer o prémio da MTV para provar que os Gift são o que são: a melhor banda portuguesa e uma das mais sólidas também. Nisto tudo, a única coisa que não é é como é que os Gift ainda não atingiram a plenitude da internacionalização. A vida é um puta e discos bons, são outra loiça.


segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Quelqu´un M´a Dit









(Carla Bruni)

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux
Pourtant quelqu'un m'a dit...


Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors

On me dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou
Pourtant quelqu'un m'a dit ...

Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"Il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"
Tu vois quelqu'un m'a dit...

Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?
On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,
Pourtant quelqu'un m'a dit ...

(os meus conhecimentos de francês reduzem-se praticamente á bela letra desta bela canção desta bela senhora...)


IMAGEM: MARCEL DUCHAMP- O Rei e a Rainha

Blow It All Away

(Autor: Sia Furler; Blair Mackishan; Felix Howard; Kevin Armstrong)

(foto: Alfred Stieglitz)

Without a sound ever heard
Without a lesson I have learned
You are foolish
And diluted
Too many lies have you burned
Where there’s eyes to be found
This seems life’s underground
But even if you had it all
You would find
I could never let you stay
'Cause you blow it all away
You blow it al away
Blow it all away
If you goI will stall
Yes I see it
Yes I feel it
You have no oppressions at all
But if life is truly devoured
I'll strip your bare 'till the truth comes out
But even if you had it all
You would find
You blow it all
You blow it all away
Blow it all away
Blow it all, blow it all, blow it all... away
Forever is your mind to be naive
Remember it will bring us to our years
You blow it all away
But even if you had it all

You would find
You blow it all
You blow it all away
Blow it all away
Blow it all, blow it all, blow it all
Blow it all, blow it all, blow it all
Blow it all away

Blow it all away
Blow it all away
You blow it all away

Circles

(Sarah McLachlan)


There are two of us talking in circles
And one of us who wants to leave
In a world created for only us
An empty cage that has no key
Dont you know were working with flesh and blood
Carving out of jealousy
Crawling into each other its smothering
Every little part of me

What kind of love is this that keeps me
Hanging on
Despite everything its doing to me
What is this love that keeps me coming
Back for more
When it will only end in misery

I know too many people unhappy
In a life from which theyd love to flee
Watching others get everything offered
They're wanton for discovery
Oh my brother my sister my mother
You're loosing your identity
Can't you see that its you in the window
Shining with intensity

What kind of love is this that keeps me
Hanging on
Despite everything its doing to me
What is this love that keeps me coming
Back for more
When it will only end in misery...



da banda sonora da 3º season de "Sete Palmos de Terra

Imagem: Henri Matisse- "A Dança" (1912)

Muse: Black Holes and Revelations

OS DIAS DO FIM


Bem longe de um mundo onde a Floribella vê a vida magicamente resolvida por fadas, sapatilhas, e árvores que não só são a sua mãe como lhe fazem as vontades todas; e onde dos Morangos com Açúcar saem bandas em catadupa, mas com muito poucas qualidades, os Muse lançam um disco que prima por viver neste mundo e não num outro completamente idealizado.
Não escondo a minha longa carreira como fã dos Muse, que poderia facilmente influenciar a minha opinião sobre o quarto álbum de originais da banda britânica. Mas a verdade indiscutível é que “Black Holes and Revelations”, que não tem medo de parecer uma profecia dos últimos dias na Terra, tem qualquer coisa de especial.

São onze temas onde análises sociais/políticas e paranóias futuristas desfilam pela voz de Matthew Bellamy, acompanhadas com guitarras, baixo, bateria, piano e sintetizadores, além dos arranjos de cordas e sopros.
O melhor dos Muse é que evoluem sempre, e aqui a evolução é mais evidente do que nunca. A introdução de ritmos muito demarcados e de uma componente electrónica considerável criam uma atmosfera própria que não se conhecia nos álbuns anteriores (Ainda que em “Absolution” já existissem alguns conceitos confirmados agora, parece que “Assassin” não existiria sem que primeiro existisse “Stokholm Syndrome”.) e também há uma exploração mais alargada dos vários registos da voz de Matthew Bellamy.
Como em qualquer bom disco, não se desgosta de nenhuma, mas há aquelas de que se começa a adoecer. É o caso de “Hoodoo” com um ambiente sonhador, o dramatismo de “City Of Delusion”, “Exo Politics” em ambiente de hospital psiquiátrico, a violência explosiva de guitarras e sintetizadores em “Assassin”, “Supermassive Black Hole” com a parte electrónica vivendo a paredes-meias com um registo sussurrado da voz, e principalmente a perfeição aparentemente inatingível de “Map Of The Problematique”.
As influências são mais que evidentes, Depeche Mode, The Cure, David Bowie, Jimmy Hendrix e ainda Ruffus Wainwright (“Starlight” ou “Soldier´s Poem” não deixam espaço para dúvidas.), e ainda se encontram pontos comuns com os Placebo.
No fim, entre buracos negros e revelações, fica a certeza absoluta de que estamos perante uma GRA NDE banda, e fica a boa notícia de que os Muse visitam a nossa capital a 26 de Outubro de 2006. A má notícia é que ainda falta muito.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Helena Almeida


Seduzir



Dentro de Mim



Tela Habitada



Intus

terça-feira, 19 de setembro de 2006

A Frase






"_You see, baby? This is not just playing with toys!"
"_No, it is better... It´s playing with people!!"




John Cusack e Catherine Keener em
"QUERES SER JOHN MALKOVICH"
realizado por SPIKE JONZE e escrito por CHARLIE KAUFMAN
Imagem: FRANCIS PICABIA "Uma Mulher Feliz"

sábado, 19 de agosto de 2006

10 Discos Para o Verão

VIVIANE “Amores Imperfeitos” (2005)

O primeiro álbum a solo da ex-vocalista dos Entre Aspas (E dos Camaleão Azul e dos Linha da Frente.) produzido pela própria e por Tó Viegas, também ele resgatado dos tempos idos da banda de “Uma Pequena Flor”. Ao longo de 11 canções vamos encontrando autores como Hugo Costa, José Medeiros, Fernando Cabrita, Armindo Marques Araújo, Rui Freire, Nelson Cascais ou Carlos Silva, além da própria Viviane. É fácil perceber as raízes algarvias (!!!) da cantora, pela frescura, luminosidade e leveza das canções. Trunfos como Fado Mambo, Coração Despido, Alma Danada, Toada dos Aguaceiros, Amores (Im)Perfeitos (dueto com José Medeiros), mas principalmente A Vida Não Chega são indispensáveis ao calor do Sol e á proximidade do mar…
Veredicto: 16/20


VANESSA CARLTON “Be Not Nobody” (2003)

Depois de um primeiro disco muito mal sucedido, publicado aos doze anos, Vanessa Carlton fez sucesso com o seu álbum “Be Not Nobody” que dada a qualidade excessiva chegou mesmo aos Grammy Awards de 2003.
A pianista/ cantora é a autora da totalidade das canções (Com excepção feita para a cover de Paint It Black dos Rolling Stones.), canções simples e sofisticadas, essencialmente acústicas, dotadas de um ambiente etéreo ideal para ir ao som do calor. Baladas maioritariamente, claro, desde Sway a Rinse e aos incontornáveis Unsung, Prince e Paradise. A genialidade dos arranjos (Escritos em parceria com o maestro/ produtor executivo/ A&R Ron Fair.) ajuda a abrilhantar a simplicidade sóbria das canções. Excelente, mesmo que (Como eu.) não se suporte ouvir A Thousand Miles, o single de avanço.
Veredicto: 16/20



CORINNE BAILEY RAY “Corinne Bailey Ray” (2006)

“A nova Billie Holliday” e tal… pode até a voz ter semelhanças, mas musicalmente, esta cantora de Leads está a milhas do jazz de Billie Holliday. Quem ainda não ouviu “Put Your Records On” de certeza que não permanecerá nesse estado durante muito mais tempo. A cantora negra de música soul, voz suave e dona de uma inocência mais ou menos evidente estreou-se com um álbum homónimo que caiu imediatamente nas graças da crítica, e que até já começou a gerar burburinho para os Grammy de 2007. Canções simplórias e minimalistas, á base de voz, guitarra, bateria, baixo, teclas e sopros, ideal para aliviar corações em crise por uma ou outra razão.
Veredicto: 14/20



SADE “Lovers Live” (2004)

Em jeito de retrospectiva, esta cantora da Somália apresenta ao longo de um concerto os temas mais marcantes da sua carreira, que já vai longa desde a estreia com “Diamond Life”. Com uma voz dotada de um charme irresistível, e canções muito sensuais, Sade faz desfilar consigo um ambiente etéreo, sonhador e leve. “Paradise”, “Jezebel”, “No Ordinary Love”, “Cherish The Day” e “Somebody Already Broke My Heart” fazem parte do alinhamento, tal como o inevitável “Smooth Operator”. Imperdível. Mesmo.
Veredicto: 17/20



NORAH JONES “Come Away With Me” (2002)

A filha de Ravi Shankar dispensa apresentações, digo eu, principalmente depois de ter arrecadado oito Grammys em 2003, incluindo as categorias mais importantes (Álbum do Ano, Disco do Ano, Canção do Ano, Álbum Pop do Ano, Artista Revelação do Ano). O disco em questão “Come Away With Me” era o primeiro e melhor de dois álbuns que a cantora/ pianista já publicou até agora.
Canções de sonoridade acústica e intimista, quase como que gravadas ao vivo, da autoria de Jesse Harris, Lee Alexander, e da própria Norah Jones, entre outros, além de covers muito interessantes de Turn Me On (Não, não é a do Kevin Lyttle, é de JD Loudermilk) e The Nearness Of You.
Para ouvir debaixo do calor abrasador do sol ou da lua, Cold Cold Heart (cover), Feelin The Same Way, I´ve Got To See You Again, Lonestar, Come Away With Me ou o badaladíssimo Don´t Know Why.
Veredicto: 16/20



DIANA KRALL “The Look Of Love” (2001)

Também Diana Krall dispensa apresentações. Igualmente galardoada nos Grammy Awards constantemente, Diana começou a cantar há muito tempo, exactamente ao mesmo tempo que a sua música começou a ser questionada (Os fãs do Pop dizem que ela canta Jazz, os fãs do Jazz dizem que ela canta Pop, e as pessoas como eu afirmam que ela canta Jazz, ainda que com influencias de outros tipos de música.). “The Look Of Love” viria a ser o último álbum de estúdio a não conter nenhum original (O sucessor “The Girl In The Other Room” conta com canções da autoria de Diana e do marido, Elvis Costello, a par com as versões de Joni Mitchell, Mose Allison, Elvis Costello e ainda o fantástico Love Me Like a Man de Bonnie Raitt.). Aqui se cantam coisas doces como S´Wonderful, Besame Mucho, Maybe You´ll Be There e como o fantástico The Look Of Love, tudo engrandecido por uma orquestra dirigida por Claus Ogerman. Para ouvir repetidamente numa tarde de Sol, e depois, á noite, complementar com “Diana Krall Live In Paris”, onde figuram algumas destas canções, mas ao vivo na cidade da luz.
Veredicto: 17/20


MÍSIA “Drama Box” (2005)

Ao oitavo álbum, Mísia revolta-se. Assume a interpretação de Boleros e Tangos a conviver com os Fados, produzindo sozinha um perfeito álbum de World Music. Neste disco vivem pessoas com dramas, com tristezas e com psicoses, mas todas conscientes disso. Neste disco vivem poemas de Vasco Graça Moura, José Luís Peixoto, Rosa Lobato de Faria, Paulo José Miranda, José Saramago, Natália Correia e Luís Macedo, existem músicas de Armando Manzanero, Astor Piazzola e de muitos outros. Neste disco vivem ainda as vozes de Maria de Medeiros, Fanny Ardant, Ute Lemper, Cármen Maura e Miranda Richardson, as drama queens que interpretam em várias línguas um poema de Vasco Graça Moura que inicia o reportório dos fados do disco, musicado por José Fontes Rocha- Fogo Preso, Feu de Bengale, Firwerk, Fuego Preso e Fireworks, respectivamente. Para ouvir no sol-pôr, principalmente se este coincidir com “Coração Agulha” de Paulo José Miranda e Mário Pacheco.
Veredicto: 20/20


SARAH McLACHLAN “Surfacing” (1997)

Não para um dia de verão, mas para uma noite. Sarah McLachlan é um turbilhão de talento, ela toca vários instrumentos, compõe, escreve e arranja, dá concertos memoráveis ao vivo… enfim. “Surfacing”, o quarto disco de originais desta cantora canadiana foi um grande sucesso, além de ter entrado a matar pelos Grammys.
Sarah conta com uma banda á sua altura em canções muito elaboradas, sem fugirem da simplicidade rock, a par com canções minimalistas em que se acompanha a si mesma no piano, o caso de Do What You Have To Do ou do famosíssimo Angel (Momento alto do filme A Cidade dos Anjos.). Ainda importante é ouvir Building a Mystery, no seu perfeccionismo, Full Of Grace como uma narrativa e ainda o fantástico Black and White, onde Sarah faz praticamente dueto instrumental com Ashwin Sood, baterista e também o seu marido até á data.
Veredicto: 18/20


JEWEL “Spirit” (1998)

Tem oito anos o segundo álbum de Jewel, o primeiro onde a cantora/ guitarrista do Alasca se faz acompanhar por uma banda (Em vez de gravar em directo com a guitarra como na estreia “Pieces Of You”.), mas qualquer apreciador de música, não deixa de gostar dela por ter mais ou menos tempo. “Spirit” é feito quase como que a apalpar terreno, no que diz respeito a explorar instrumentos como o piano, o baixo, a guitarra eléctrica ou a bateria, tudo isto com a ajuda do produtor Patrick Leonard (Que produziu “Ray Of Light” de Madonna, o (Segundo dizem.) melhor disco da rainha da pop.). A sonoridade parece realmente remeter-nos ao mar, desde Deep Water a Barcelona, Do You ou Life Uncommon, mas principalmente Down So Long.
Sem nunca perder de vista o minimalismo que a caracteriza (Esquecendo o devaneio pop de “0304”.), Jewel apresenta uma série de canções muito positivas, adornadas de uma sensação agradável proporcionada pela voz que sopra como se fosse vento.
Veredicto: 16/20


KATE WALSH “Clocktower Park” (2004)

Kate Walsh é uma cantora/ compositora/ guitarrista inglesa de 21 anos. Só muito recentemente conseguiu o reconhecimento que tanto merece pelas terras de Sua Majestade. Ainda que no nosso paísinho não tenha feito nenhum sucesso memorável, já passou por cá várias vezes acompanhada pela sua guitarra acústica. Não sei bem para que momento do dia, mas diria que para o por do sol, fim de tarde… enfim, estas canções têm uma espécie de aura negra, escondida por uma suavidade proeminente, ou seja, Kate Walsh conseguiu por duas sonoridades opostas no mesmo disco, e ás vezes na mesma canção (Veja-se Impressionable, um dos melhores momentos do disco.). Canções simples, acústicas na sua totalidade, com guitarras aos saltos, pianos discretos, baterias fortes e arranjos minimalistas. Memoráveis Animals On Fire, Quicksand, Same Old, Holes In My Jacket e principalmente It´s Never Over.
Veredicto: 17/20

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Nelly Furtado: Loose

SHE´S ON THE LOOSE...


Foi um pouco a medo que ouvi o novo álbum de Nelly Furtado, "Loose", depois do choque inicial de ter visto (E ouvido) o videoclip de "Maneater".
Enfim, mas eu não julgo um livro pela capa, nem um álbum pelo single de avanço, por isso decidi gastar um tempinho na FNAC a ouvir a luso-canadiana e os novos amigos/colaborações.
Não posso deixar de expressar a minha surpresa acerca desta viragem no percurso da cantora/ compostiora.
Começando pelo início, Nelly Furtado foi a primeira cantora a assinar contracto c0m a DreamWorks, a discográfica de Steven Spielberg, e gravou um disco chamado "Whoa Nelly", o qual (Pessoalmente) nunca me agradou especialmente, com excepção de alguns lampejos de bom gosto, mas que deixava antever uma musicien promissora.
Depois veio a primeira surpresa: o disco "Folklore". Um disco perfeito (Sim, perfeito). Desde o primeiro segundo (Em que os Kronus Quartet iniciam "One Trick Pony") até ao último (Um brilho nostálgico em "Childhood Dreams") o disco toca uma qualidade que eu nunca arriscaria apostar que Nelly atingiria.
Apesar do parcial fracasso de vendas (Suavizado com a escolha de "Força" para Hino do Euro 2004), o disco merecia a tripla (Quintopla) platina, por canções como "Try", "Picture Perfect", "The Grass Is Green" ou o dueto com Caetano Veloso "Island Of Wonder".
Nelly Furtado, folclórica, era a Nelly Furtado como seria bom que ela tivesse continuado.
No entanto, há umas semanas atrás, estava no café com uns amigos, e a nossa atenção é chamada ao ecrã, na MTV, pela imagem da Nelly a correr atrás de um cão. Ficámos curiosos para ver o que aí vinha, e é então que começa a canção.
Não. Não podia ser. Aquela não podia ser a Nelly Furtado que cantava há não muito tempo "Powerless (Say What You Want)". Não podia. Ainda tentámos acreditar que tivéssemos confundido com a Rhianna, mas não havia margem para dúvidas. A açoreana agora deu em devoradora de homens.
Fiquei com a pulga atrás da orelha, e tive que ir ouvir "Loose" do início ao fim para formular uma opinião.
Foi o que fiz.
A ideia da femme fatalle não deve ter sido da Nelly, porque nunca antes lhe tinha visto tais ideias, deve ter sido coisa do Timbaland (Quem não o viu junto ás Pussycat Dolls... enfim), mas a verdade é que acho que a voz doce e potente de Nelly e o tom inocente acada por divergir com as letras provocadoras e os ritmos frenéticos.
Nem tudo é mau, vá lá (A participação de Juanes não correu assim tão mal e algumas baladas merecem ainda uma segunda oportunidade ("God´s Hands"), ainda que soem a um simples regresso ao passado.) mas no final, só duas músicas são realmente boas: Afraid e All The Good Things... duas é pouco.
O resultado final, devo dizer, não está nada á altura do precendente "Folklore", e se eu ontem não tivesse lido uma entrevista com a senhora no JN em que ela afirma que a seguir vai experimentar coisas novas, diria que isto foi uma fortíssima desilusão.
Vamos lá ver o que o futuro reserva...

Veredicto: 10/20

quinta-feira, 6 de julho de 2006

O Espírito



(Natália Correia)


Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas




E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.




Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera




Andorinha indene ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.





Imagem: "O Baloiço"1767, de Jean Honoré Frangonard

Natália Correia nasceu em 1923 em Fajã de Baixo, nos Açores. Inserida no contexto do surrealismo, Natália está entre os mais assinaláveis autores da literatura contemporânea, tendo escrito poesia, romances, ensaios, apontamentos políticos, teatro, crónicas, tendo sido também tradutora, editora e jornalista. Morreu em 1993, legando á literatura algumas das mais brilahntes obras que esta já conheceu.

Jean Honoré Fragonard nasceu em Grasse em 1732, estudou brevemente em Itália, e, regressado a França, tornou-se num dos mais emblemáticos pintores do rococó. A obra "O Baloiço" é uma das mais importnates não só do seu trabalho como de toda a pintura rococó.

Morangos com Bolor



Há aquelas músicas que uma pessoa ouve e dá por si mesma a pensar, alto ou baixo, ou sem voz, mas a pensar
“_Vou fazer uma loucura!”
e eu hoje estava a ouvir “Black Rooster” dos The Kills, e pensei para mim mesmo, em segredo
“_Vou fazer uma loucura!”
e fiz mesmo. Então, deixei-me ver os Morangos com Açúcar.
Antes de mais, eu só gostava de fazer um pequeno parêntesis, sobre o Director Geral, o senhor José Eduardo Moniz, que é uma pessoa muito, muito, muito, muito modesta, adoro ver a forma humilde (E principalmente realista) como ele comenta os programas da TVI. (É pena não se poder ver a minha cara de ironia neste momento.)

Então, era a chegada a hora, e eu, com as mãos a tremer de medo, a suar, a olhar discretamente para todos os cantos (Não fosse alguém perceber o que eu estava a ver, seria o meu fim), a pôr a televisão baixinha, só com som suficiente para eu ouvir a voz dos actores (Ou imitações de actores, na maior parte dos casos) e a banda sonora (Um pormenor importante). Os segundos passam, sucedem-se sem pudor, tornam-se minutos, e, em pouco tempo, a série vai para o ar.
Já uma notinha muito negativa para a música do genérico (Mas quem é que escreveu aquilo? Foi por acaso um dos letristas da Claudisabel? Ou terá sido o da Romana? Bem, suponho que até esses escrevem melhor!) porque aquilo não tem nem pés, nem cabeça, nem tronco, nem braços, nem pernas (E as pernas são uma parte muito importante). Enfim, uma treta sem jeito nenhum.

No geral, tenho a dizer umas coisinhas muito más sobre a série. Verosímil? Penso que não. Aquilo é sim uma forma previsível e exagerada de retratar os adolescentes, que parece baseada ou num daqueles livros típicos de senhores e senhoras que pensam que sabem tudo sobre a faixa etária em questão, mas na verdade não sabem nada; ou então numa meia dúzia de exemplares da idade: pegam-lhes na vida e põe ali, como se fosse a vida de todos os adolescentes. (Por favor, eu tenho quase 17 anos, tal como a maior parte dos meus amigos, e nenhum de nós se comporta ou age daquela forma, e somos mesmo MUITOS- só da minha turma somos 30!)

Outro facto: aqueles personagens têm uma sorte de invejar! Não têm pais, nem encarregados de educação, nem nada do género, ninguém a quem justificar as irresponsabilidades que comentem em catadupa. Não há pais que se zangam, que os castigam, que os obrigam a estudar, a trabalhar… enfim, é tudo tão fácil quando somos nós os únicos responsáveis pela nossa pessoa.

Mais um: a história não é sempre a mesma? É que eu acho que sim. É sempre um rapaz/rapariga quem tem respectivamente uma namorada/ namorado, e depois chega outra rapariga/ rapaz, que lhe dá a volta á cabeça. O rapaz/ rapariga acaba a relação actual para se juntar a quem lhe deu a volta á cabeça, e a/o ex. despeitada/o empenha-se a 100% em fazer-lhe a vida negra.
Ora veja-se:
Na primeira série, a Joana namorava com o Ricardo. O Pipo chegou do Porto e deu-lhe a volta á cabeça. Ela acabou tudo com o Ricardo e juntou-se ao Pipo. Depois o Ricardo arranjou outra amiga (A actriz era a Filomena Cautela que agora está simpaticíssima na MTV- assim já gosto dela) para as tropelias e começaram a fazer a vida negra ao Pipo e á Joana.
Na segunda série, o Simão namorava com a Carlota. A Ana Luísa chegou com uma bolsa de estudos e deu-lhe a volta á cabeça. Ele acabou tudo com a Carlota e juntou-se á Ana Luísa. Depois a Carlota arranjou outro amigo (O actor era o Hélio Pestana que agora está a braços com o papel complicadíssimo de um alcoólico em “Dei-te Quase Tudo) para as tropelias e começaram a fazer a vida negra ao Simão e a Ana Luísa.
Na terceira série, tiveram o cuidado de mudar um pormenor ou outro. É que a ex maluca surge no seguimento de uma separação do grande amor. Ou trocado por miúdos: o Tiago e a Matilde amam-se muito. Depois separam-se. Ele começa a andar com a Cláudia. Acabam. E a Cláudia começa a fazer tudo para manter o Tiago separado da Matilde. Entretanto ela desiste e eles juntam-se de novo. Mas, como quem se ama, neste folhetim sem jeito nunca pode ter descanso agora surge uma tal Isabel que os está a tentar separar.
Não é tudo estranhamente parecido???? Eu acho que é.

Continuando nos funny facts:
Não é incrível como os únicos bons actores da série são os veteranos? Ora vejamos, a Ana Zanatti, a Paula Neves e a Sónia Brazão. E se quisermos ir ás épocas antigas, Helena Isabel, Vasco Esparteiro, Dalila Carmo (Actualmente a vestir a pele de uma bêbada em Tempo de Viver- está fantástica), Rita Salema, Carlos Mendes, Joana Seixas (Num papel muito ingrato, ainda assim), Sofia Grillo (Bem, como sempre), Almeno Gonçalves (Mal aproveitado), ou uma (Inexplicável presença de) Lurdes Norberto.
Os actores jovens são na sua infeliz maioria uns tristes sem um pingo de talento, que têm a sorte de terem uma cara e/ou um corpo bonito(s). O problema é que caras bonitas, há muitas, e o que está hoje da moda, amanhã já é do dia anterior.
E estranhamente, todos os jovens actores que passaram pelos Morangos tiveram aí as suas piores prestações, recuperando depois em trabalhos posteriores:
Liliana Santos (Brilhante no papel de Isabel Albuquerque) e Benedita Pereira em Ninguém Como Tu, Hélio Pestana e Marta Melro em Dei-te Quase Tudo, Pedro Teixeira, Ana Guiomar e Dânea Neto em Tempo de Viver e João Catarré e Patrícia Candoso em Mundo Meu (Aquela que se passava no Algarve...). Tenho que salvaguardar aqui duas pessoas:
Rita Pereira como uma excepção muito positiva, já nos Morangos mostrou como é uma excelente actriz, o que confirma agora com um papel muito medíocre, mas boa interpretação em Dei-te Quase Tudo.
E Cláudia Vieira: Infelizmente, voltei a vê-la em televisão a representar (Em “Fala-me de Amor”), e “infelizmente” porque convenhamos que ela estava muito mal, mesmo para os Morangos com Açúcar. Enfim, depois de a ver encarnar tão vergonhosamente o papel de Ana Luísa, vai ser difícil fazer-me acreditar que ela saiba representar (Vai ser preciso um papel muito muito muito muito bom…)

Mais: é impressão minha ou três quartos dos personagens são tão inconsequentes que se tornam perfeitamente dispensáveis???
Os meus exemplos preferidos: aqueles quatro besugos, o David, o Zé Milho, o Ruca (Principalmente o Ruca) e o Tópê eram para quê? Para nada. Não havia uma simbologia por trás deles (Mas isso não me surpreende, não há simbologia por trás de nenhum personagem aqui), não havia nada de importante neles, estavam ali para fazer render o peixe: formavam uma banda com nenhuma qualidade, mas sucesso garantido, e dessa forma promoviam a série. Assim sendo, andavam para ali dum lado para o outro, com a mania que eram grandes cantores (No irritante caso do irritante Angélico Vieira, a exibir o corpo também, como se faltassem por aí rapazes que vão ao ginásio) e a encher elenco.
FF, aquele fantástico cantor (Esqueci-me de avisar que sofro da Síndrome da Ironia Constante- deve ser de ouvir o “Ironic” da Alanis Morissette desde os nove anos) é igualmente um personagem previsível e sem interesse
Também o Ed, o Link, o Jota e o Sérgio (Nomes lindos, não haja dúvidas) estão ali para o mesmo efeito, têm igualmente a mania que são grandes músicos, e a música é (Supreenda-se) desprovida de qualquer qualidade.
Mas nem só a cantar são metidos os personagens inúteis, e nem só inúteis são esses personagens. Mimi podia desaparecer (Ainda que Jéssica Athaide mereça uma nota positiva, porque não é qualquer actriz que encarna uma personagem tão enervante), o Manel também podia eclipsar-se (Aquela falsa rebeldia vê-se á distância), a Bia idem aspas (os desesperos dela são desesperantes), o Cristiano (Ainda que o personagem não seja dos piores, também não acrescenta nada), a Catarina (Além do sotaque exasperante, ninguém muda de estilo e aspecto com aquela rapidez, e é das piores actrizes que por ali anda) e o próprio Gil não faz falta alguma (Uma ridicularização dos gordos, eu recusar-me-ia a interpretar tamanha auto-humilhação, eu sei do que falo, que já fui gordo, e nunca me portei daquela forma).

Continuando a desencantar os defeitos da “série juvenil” tenho que falar da banda sonora.
Como é que se consegue fazer SEMPRE uma banda sonora com escolhas tão más?
(Tenho que resguardar o “Shine On” dos meus Blind Zero, mas fora essa, não se consegue resgatar uma única boa canção para amostra.)
Ainda me lembro de quando eles passavam o “Lena” ou o “Hip Hop (Sou Eu e És Tu)” do Boss AC (Deplorável), ou ainda Belinda More, Edyta, Daniel Bedingfield, O-Zone, Blue, Kevin Lyttle, Denzel, Marieke, Paranormal, Os Moleques, Orishas, Gutto, Mito, J-Five, Daddy Yankee, Expensive Soul, Projecto X… quero dizer… enfim, quem é que não fica surdo a ouvir tanto lixo junto… felizmente, é junto, e não muito junto, porque os nomes acima referidos são exemplos contidos ao longo das seis séries que se sucederam nos últimos anos.
Também á nível de música, há que frisar alguns nomes:
Uma Melanie C com um (Comestível) “Better Alone”, acaba por sem querer, sobressair, não pela qualidade da sua canção, mas pela falta de qualidade das outras.
Uma Anna Sahlene muito promissora com “We´re Unbreakable” e “Creeps”. Ainda que não simpatize muito nem com esta loirinha, nem com a música que ela canta, reconheço que está ligeiramente acima dos restantes nomes da banda sonora.
Os Deep Insight, com “Hurricane Season” que consegue ficar á parte (Junto ao “Shine On”) das outras canções, na segunda série.
Os Fingertips que se arriscaram muito ao verem “Picture Of My Own” integrar a segunda série, ao lado de Blue, Skye Sweetnan, Patrícia Candoso e Milénio.
Uma Rita Guerra na primeira série, com “I Thought You Would Leave Your Heart With Me”, ainda que desligado de tudo o resto que esta cantora portuguesa já cantou.
Mas o maior destaque tem que ir para uma rapariga chamada Diana, que eu não sei quem é, mas que canta MUITO bem (peço desculpa, mais uma vez fui atacado pela minha Síndrome). É que ainda que a menina só cantasse mal… o problema é também o que ela canta. Fica aí uma amostra de “Apenas Um Amigo (Tu és)” para que se perceba do que eu estou a falar:

Ó baby estás enganado
Não sonhes mais acordado
Gostaste e eu também
Mas não procuro ter ninguém
Adorei sair contigo
Mas não passas de um amigo
Foi tão bom, tão bom, mas não quero compromisso

Muito bonito, não é? Aposto que depois disto o João Monge e a Sarah McLachlan vão deixar de escrever letras para canções, ao verem como ficam pequeninos, aliás, minúsculos ao lado deste masterpiece do Boss AC e de um/a tal A. Arcada para esta rapariguinha com uma histérica voz mistura de Kelly Clarkson com Spice Girls. Aliás, cantoras como Kátia Guerreiro, Mísia, Mariza… vão começar a encomendar as suas letras aos autores deste “Apenas Um Amigo (Tu És)”, abandonando assim António Lobo Antunes, Vasco Graça Moura, José Luís Peixoto, Pedro Campos, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Fernando Pessoa (Hoje estou que nem posso da minha Síndrome).

Em conclusão, o que eu tenho estado a tentar dizer: só o Rui Vilhena é que sabe como é que se escreve uma novela. Ninguém Como Tu e agora Tempo de Viver são as melhores provas. E não é só estarem bem escritas. A nível de direcção de actores e tudo isso… estão muito acima da média. E isto é para mostrar que eu sei fazer mais coisas do que criticar. Senão ainda me vêem como um seguidor da filosofia do Vasco Pulido Valente, e eu não quero muito… enfim, eu sei falar bem (Ainda que me custe apoiar palavras do senhor José Eduardo Moniz…)

Mais umas rectificações antes do final ou (Como diriam os meus Placebo) the bitter end:
Acho uma piada aos dias em que “por acaso” aparece por lá um cantor ou uma cantora! A sério, não é impressionante? Um belo dia, uns minutos após o sol-pôr, quem é que aparece no Bar do Fred (Que nome fantástico, não haja dúvidas)? O Daniel Bedingfield. Mas isso é normal… ele ia a passar pela Praia Azul e lembrou-se
“_Olha, vou ali tomar um café ao Bar do Fred…”
e foi. E depois entrou e apareceu a mal-criadona da filha do Fred e pediu-lhe que cantasse e ele cantou. (Esqueci-me de referir o péssimo exemplo que personagens como a Teresinha constituem… Essa é que devia ser minha filha. Não me falava assim, de certeza absoluta).
Muito bonito.
E as Sugababes? As Sugababes também passaram por lá, na altura do Bar dos Rebeldes.
Elas iam também a passear por Lisboa, como fazem provavelmente todos os dias… e de repente, diz a Keisha
“_Estou cansada, dormi pouco, estou com sono.”
e a Heidi responde
“_Não te preocupes, vamos aqui ao Bar dos Rebeldes e tomas um café…”
e lá foram elas as três, e depois cantaram.
Assim como o vocalista dos Simply Red, que também passou pelo Bar dos Rebeldes. Ele estava na casa dele, e lembrou-se
“_Já sei. Vou tomar um café ao Bar dos Rebeldes.”
e lá foi ele até ao bar do Rafa cantar e tomar café…
Enfim.

E mais uma coisinha:
Depois desta série POR FAVOR não façam mais nenhuma… é que já chega de nadar na mesma pocilga… (É que eu ouvi uns murmúrios preocupantes que diziam que este projecto se vai arrastar por mais uns 7 anos e fiquei logo sem sono…)

Por último: um agradecimento á minha irmã, que me forneceu os dados [CD´s, revistas, nomes de personagens e lugares, resumos do enredo…] todos para dilacerar a imagem de uma das suas novelas preferidas. Obrigado.