sexta-feira, 28 de março de 2008

Ice

Helena Almeida: "Pintura Habitada" 1976

The ice is thin come on dive in
underneath my lucid skin
the cold is lost, forgotten
Hours pass days pass time stands still
light gets dark and darkness fills
my secret heart forbidden...


I think you worried for me then
the subtle ways that I'd give in but I know
you liked the show
tied down to this bed of shame
you tried to move around the pain but oh
your soul is anchored


The only comfort is the moving of the river
You enter into me, a lie upon your lips
offer what you can, I'll take all that I can get
only a fool's here...


I don't like your tragic sighs
as if your god has passed you by well hey fool
that's your deception
your angels speak with jilted tongues
the serpent's tale has come undone you have no
strength to squander


The only comfort is the moving of the river
You enter into me, a lie upon your lips
offer what you can, I'll take all that I can get
only a fool's here to stay
only a fool's here to stay
only a fool's here

SARAH MCLACHLAN para o álbum FUMBLING TOWARDS ECSTASY (1993)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Shivaree - John 2/14

Resgatado dos confins do YouTube: John 2/14 dos Shivaree, do álbum Rough Dreams. Excelente...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Histórias Improvaveis de Benedita Kendall

"Histórias Improvaveis" é o nome da mais recente exposição de Benedita Kendall, artista nascida no Porto em 1971. Tendo formação em várias áreas, do Desenho de Arquitectura á Pintura, nestes trabalhos essas várias áreas cruzam-se. Era importante, não só para a diversidade de referências artísticas como pela diversidade de referências culturais o sentido gráfico que a artista apresenta, tela a tela.


"Conectividades II"

A primeira característica que se nota é a agressividade dos fundos. Neles, a pintora assume a pincelada, furiosa, frenética, entrecruzada e entrecortada. Noutros ainda, ela simula através da pincelada essa mesma agressividade, mas já remetendo a alguns padrões como os círculos interiores de uma árvore, a casca da árvore, caracóis de cabelo ou rendilhados. Sobre estes fundos, a artista aplica imagens que nos levam ao universo da fábula, com animais personificados (Vestidos, a fumar, a discutir, etc.), outras vezes para personagens mais introspectivas ("A Máquina do Tempo".), ou para imagens de reminiscência social. Em tudo isto, a artista não se coibe de utilizar métodos de representação muito variados e com incontáveis referências. Se nuns, as figuras simplificadas e deslocadas do espaço nos levam imediatamente ao universo da ilustração ("Fábula Sobre a Solidão."), noutros os edifícios surgem desenhados, o que nos leva á aquitectura ("Histórias Improvaveis".), noutros a ilustração é feita como se faria num prato ou numa jarra ("Margem de Segurança".), nalguns surge a pintura, com os modelados, noutros apenas a linha, desenhada. As figuras em si são ora plácidas e concentradas na sua própria forma ou nos seus próprios gestos ("Histórias Improvaveis".), ora dotadas de uma apresentação mais barroca ("Rivalidades".), ora um desenho mais ligado á banda desenhada ("Fábula sobre a Fragilidade".).



"Histórias Improvaveis"



Algumas referências á representação tradicional oriental também se fazem sentir, bem como figuras ligadas a esta mitologia, como o dragão com a cauda na boca ("Timidez".).
Assim não é só no cruzamento de tantas personagens e temáticas diferentes que as histórias de Benedita Kendall se tornam improvaveis. É também na multiplicidade de referências artísticas tão distantes, que também parecem originar um ecótono de tempos.
É nisto que o novo trabalho de Kendall é interessante: pela capacidade que a artista tem de, utilizando as suas capacidades gráficas, fundir referências tão variadas, vindas de áreas distintas (Ilustração, pintura, literatura, arquitectura.), que resultam, no final, em telas muito coerentes, e capazes de suscitar ideias multiplas.


"Rivalidades"

Para ver até Abril na Galeria de Sao Mamede, em Lisboa.

cowboys

a minha música preferida dos Portishead. Não há bilhetes para mim! Damn you!!!!
Na imagem, uma fotografia da instalação "ANTROPOFAGIA" de Rute Rosas



Did you sweep us far from your feet,
Reset in stone this stark belief,
Salted eyes and a sordid dye,
Too many years.

But don't despair,
This day will be their damnedest day,
Oh, if you take these things from me.

Did you feed us tales of deceit,
Conceal the tongues who need to speak?
Subtle lies and a soiled coin,
The truth is sold, the deal is done.

But don't despair,
This day will be their damnedest day,
Oh, if you take these things from me.

Undefined, no signs of regret,
Your swollen pride assumes respect,
Talons fly as a last disguise,
But no return, the time has come.

So don't despair,
And this day will be their damnedest day,
Oh, if you take these things from me.
Oh, if you take these things from me

de BETH GIBBONS para "PORTISHEAD" dos Portishead, 1997

terça-feira, 25 de março de 2008

sad empire



Sad Empire is shaking from the inside
Picks all the faces of last soldiers in battle
Says goodnight and sleeps, restless
Kill switch-mode, communicator presets
Quite obscure, the purpose is grateful
No one will keep silence apart from what I see coming in
I see the storm, it´s rushing by
Reporting damage



Rainy hearts
And the sky is suffering from natural diseases
I hear sounds
And they clap their hands like if they wish to be seen



Take all the blame
My world apart
And the worst nightmare on earth
Take all the rest
My world apart
I will spin it backwards

And the worst nightmare on earth...

MIGUEL GUEDES para "A Way To Bleed Your Lover" Blind Zero

Imagem: "ELE" de JOAO PEDRO RODRIGUES

segunda-feira, 24 de março de 2008

Portishead- Machine Gun

Vídeo do primeiro single do novo álbum, "Third" a ser lançado em Abril. Onze anos depois de "Portishead", é o regresso aguardadíssimo de Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley.

Caravelas



Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
De um estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!

Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
FLORBELA ESPANCA

domingo, 23 de março de 2008

Final Examination de Fred Olen Ray

O REPROVADO

Quando John Carpenter realizou "Halloween" em 1978, digo eu que não imaginaria o que, alguns anos depois comeariam a fazer com essa ideia dos filmes sobre "serial killers". Arrastado pela lama, esse subgénero de filme de terror teve alguns picos de qualidade: "Scream" de Wes Craven que funcionava como uma crítica tambem á repetição da fórmula e "Mitos Urbanos" de Jamie Blanks que primava pela história mais do que por outra coisa qualquer. Isto exluindo "Sexta Feira 13" e "Texas Chainsaw Massacre", filmes arruinados pelas sequelas e pela exploração ridicula dos seus assassinos. Jason Vorhees é agora motivo de gargalhadas em vez de arrepios de medo...
"Final Examination" de Fred Olen Ray é um desses filmes que mergulha na vergonha o conceito do serial killer.



Um detective de Los Angeles é enviado para o Hawai por ser demasiado "louco" a resolver os seus casos com dealers de cocaína. Supostamente num local com menos agitação, depara-se com um serial killer a assassinar um grupo de turistas recém-chegados.
Quem fizer tenções de ver o filme, coisa que não recomendo, a não ser que se queiram rir, não deve ler o resto da crítica, uma vez que me vejo obrigado a fazer referência ao final.
A primeira sequência do filme é o suicidio de uma teenager típicamente americana.
Depois vemos um grupo de mais teenagers com um aspecto ainda mais insultuoso (Do genero cilicone por todos os centimetros, cabelos loiros pintados, riso histérico e de uma conversa a deixar o fútil a perder de vista...), e o namorado de uma delas, com o aspecto típico de um surfista (Eu diria que é surfista da banheira, mas isto é uma opinião pessoal.). A namorada deste sujeito é a primeira a morrer, numa cena que prima pela falta de jeito.
A estas coisas, juntam-se outros elementos típicos do filme fácil: sexo com particular atenção aos corpos esculturais, uma terrível cena no chuveiro que deixaria Hitchcock insultado, mortes em cenários improvaveis, com contornos improvaveis e exibicionismo qb, para que não haja dúvidas de que se trata de um slasher movie americano recente. O amor que começa a despontar entre o nosso detective e a sua colega, igualmente típico, também marca pontos.
De facto, típico é a primeira palavra que se associa a "Final Examination". Tudo é típico, tudo é vulgar.
Depois, ha outra palavra que também se aplica, mas só depois de se ver o final: insultuoso:
Não há um assassino, há três, e são todos irmãos da rapariga que s suicidava, e por um motivo, diga-se, muito estúpido.
É uma abundância de Kinkades (O aplido da família da rapariga e dos irmãos assassinos.) que não se vê em qualquer sítio. Nem num filme tão palerma como "Sei o Que Fizeste no Verão Passado" nos mostravam uma resolução tão estúpida, que nos deixa a sentir um nervosismo que provavelmente advém do facto de estarem a atentar contra a nossa inteligência.
Resultado: um filme muito, muito mau. Razões para vê-lo:
a) se estiverem a precisar de umas boas gargalhadas
b) se não acreditarem que é tão mau como estou a dizer
c) se quiserem um pseudo-erotismo desinteressante tipo "Marés Vivas"
d) se gostarem de filmes rascas sobre assassinos que nunca poderiam ser reais.
Caso contrário, a sério, não vejam.




Veredicto: 5/20

sexta-feira, 21 de março de 2008

Goldfrapp: Seventh Tree

SOB ÁRVORES ESTRANHAS

Um passo tão repentino como a mudança de som de "Felt Mountain" para "Black Cherry" podia ter custado muito caro aos Goldfrapp. O som acústico e melodioso do primeiro álbum transformava-se em ritmo electrónico e desconcertante no segundo. Felizmente, ou devido ao manter da qualidade, tal não aconteceu. Allison Goldfrapp e Will Gregory mantiveram os seus seguidores, que aceitaram a nova sonoridade. "Supernature", o terceiro álbum era mais equilibrado. Ainda estavam lá os sons electrónicos e dançantes do segundo, mas já havia uma presença forte dos grandes arranjos do primeiro.


No entato, "Seventh Tree" vem agora mostrar que "Supernature" não era plenamente uma síntese conceptual dos dois primeiros álbuns. Isto porque este quarto álbum vem equilibrar as coisas. As músicas continuam a poder dançar-se e são, como não podiam deixar de ser, muito electrónicas, mas agora a tónica é posta na inserção de elementos acústicos e nos grandes arranjos de cordas a la "Felt Mountain". Ouça-se "Eat Yourself", "Clowns" ou "Road To Somewhere". Uma outra faceta do álbum prende-se na exploração dos potenciais da bateria e de instrumentos acústicos como forma de traçar um ritmo forte. "Happiness" e "Cologne Cerrone Houdini" são exemplo.
O resultado é uma sonoridade menos sexual, mas mais elaborada, mais barroca. A voz de Allison Goldfrapp adapta-se tão bem a este tipo de som como se adaptada ao "alternative dancefloor", mas isso já estava há muito provado. As composições, como sempre a meias com Will Gregory, a outra metade da banda, prendem-se num som mais fluido e numa procura de uma beleza melodiosa, suave e quente. Nos arranjos, nota-se um misto de agressividade (Os violoncelos em "Some People".) e de relaxamento (As cordas de "Eat Yourself".).
Como sempre, no final, fica a sensação de que soube a pouco. São dez faixas. Claro que é melhor ter dez faxias muito boas do que vinte medíocres, mas mesmo assim, os Goldfrapp já provaram que fazer má música não é muito o seu estilo.


Ninguém pense que aqui se perde a bizarria e a individualidade da música dos Goldfrapp. Nada disso. O regresso ao acústico não é marca de um retroceder, antes uma reciclagem de um conceito utilizado no passado, mas que não é utilizado como no passado.
A versão com DVD é uma opção a considerar, vale a pena: inclui um documentário de produção do álbum, bem como o video de "A&E".

Veredicto: 18/20

quinta-feira, 20 de março de 2008

dissolved girl

uma das grandes canções dos Massive Attack, retrato de uma dor anestesiante. Sara Jay, uma então desconhecida, assume a voz e a letra. Na imagem, outro retrato de sofrimento: "Borderline Case" de Graça Martins.











Shame, such a shame
I think I kind of lost myself again
Day, yesterday
Really should be leaving but I stay

Say, say my name
I need a little love to ease the pain
I need a little love to ease the pain
It's easy to remember when it came

'Cause it feels like I've been
I've been here before
You are not my savior
But I still don't go
Feels like something
That I've done before
I could fake it
But I still want more

Fade, made to fade
Passion's overrated anyway
Say, say my name
I need a little love to ease the pain
I need a little love to ease the pain
It's easy to remember when it came

'Cause it feels like I've been
I've been here before
You are not my savior
But I still don't go,
I feel live something
That I've done before
I could fake itBut I still want more, oh.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Susana Bravo: Circo Aberto


É essencial ao estar-se perante uma obra de arte saber quais são as armas de se devem usar para a ver e apreciar devidamente. A arte como lente que abre as portas para uma observação de uma realidade é importante e, felizmente, cada vez mais comum. A intervenção, ou seja, a capacidade de expressar alguma ideia relativa a essa realidade é um segundo passo, igual ao primeiro em termos de importância. Assim sendo, a observação é levada a um segundo estatuto, o da análise.
Em Susana Bravo, a observação é óbvia. A análise não é perceptível á primeira vista. O que se denota é, primeiro, uma tentativa de ver o mundo através dos olhos destes personagens, e só daí podemos retirar uma análise. Essa análise não existe no sentido em que critica alguma coisa, no sentido em que choca; mas no sentido em que coloca á vista do espectador algo que não estava explicito antes.


Em termos técnicos, as telas estão muito bem conseguidas. Povoadas maioritáriamente por mulheres, o sentido caótico não se perde: as figuras sobrepõem-se, criam uma espécie de revolução sobre a superfície. O sentido cénico é aguçado, pondo em evidência este espaço que é o circo, e que a exposição coloca em aberto. Para isto, acaba por fundir pintura e desenho na mesma tela: algumas das figuras estão, de facto, pintadas outras são sugeridas apenas pela linha desenhada. No entanto, este caos que reina, acaba por ser inserido em cores suaves, que funcionam como um elemento que embeleza ou confere algum brilho ás imagens, tornando-as menos agressivas e mais idílicas.


Susana Bravo explora também o acto de ver. Em vários componentes de "O Circo Aberto" existe um personagem de costas, que olha para a sua frente, ou até um personagem fixo noutro ponto da tela. Esta inserção de um observador acaba por nos guiar, por nos fazer ver o que a pintora quer que vejamos.


Há, no entanto, um defeito nestes trabalhos: por vezes, parece demasiado óbvia a influência de Paula Rego no que toca á representação do corpo feminino. Ainda que a pintora use uma forma suave e tranquila no desenho das figuras, por vezes remete demasiado para Paula Rego, quer pela distorção das proporções, quer por pequenos detalhes como as figuras que surgem em escalas diferentes.
No entanto, eu sou apologista de que devemos ter uma noção tão larga quanto possível do que está á nossa volta, e esta colecção explora um tema quase insólito. Portanto, a ver, até dia 29 de Março, na Galeria Artes do Solar de Santo António.

Susana Bravo (Video)

Video com as obras de "O Circo Aberto" a da pintora no seu atlier, durante a execução dos trabalhos.

terça-feira, 18 de março de 2008

Editors - The Racing Rats

O vídeo mais recente de "An End Has a Start", muito bom, para uma música muito boa. A contagem decrescente para os concertos em Portugal já começou.

caspar david friedrich

é um dos maiores pintores românticos.

Retrato de Friedrich por Gerhard Von Kuglegen

Idealistas e carregadas de simbolismo, as suas obras demonstram uma extrema veneração pela Natureza. Conheceu o poeta Novalis, e o próprio Goethe que lhe facultou uma exposição em Weimar. Começou com aguarelas e desenhos, depois passou para a água forte e para a gravura em metal, e, por último, encontra a plenitude na pintura a óleo. Já com uma obra bem divulgada, tornou-se membro da Academia de Dresden. Tinha na altura em atlier conjunto com Dahl. A crescente implementação da pintura realista e naturalista começou a dificultar-lhe as vendas, pelo que acabou por morrer na miséria. O seu legado incluiu belíssimos e melancólicos quadros em que a presença humana surge com a força de um intruso involuntário, mas também numa posição de contemplação.




Friedrich é um dos meus pintores preferidos, e aqui deixo algumas imagens.

História de Uma Desculturização

ou Porque é Que La Féria Nunca Devia ter Ficado com o Rivoli




É um espaço arquitectonicamente bom, muito agradável, bem situado, e melhor que tudo, pertence aos moradores do Porto. Era isto o Rivoli, até há cerca de um ano.

Depois, surge a notícia: o Rivoli será privatizado. Lá se vai o Auditório Municipal. De facto, privatizar o Rivoli tornaria a história de que pertencia aos moradores do Porto uma ficção. Mas, entregue á pessoa certa, nao havia razões para deixar de ser um espaço cultural e um dos locais obrigatórios de passagem no Porto.

No entanto, Rui Rio não deu atenção a esta última parte, e fala-se de entregar o Rivoli a Filipe La Féria. Contra tudo e contra todos, La Feria conseguiu mesmo ficar com a sala.
Depois deste tempo todo, necessário para avaliar o comportamento de La Féria, digo-vos o que acho.

Acho que Filipe La Feria, se não é a pessoa mais anti-cultural em Portugal, tem que estar no Top 3.

A cultura tem um príncipio básico, e julgo que isto é conhecimento comum: diversidade. A cultura constroi-se com a música, o teatro, o cinema, o bailado, as artes plásticas, a literatura, etc. Mas, para La Feria, ficar com o Rivoli não foi ficar com um espaço cultural, foi alugar uma casa. E, desde então, tudo o que passa pelo Rivoli são as peças de La Feria, desde Jesus Cristo Superstar até á Música no Coração e ao Principezinho.

Acabaram-se os concertos, as exposições, enfim, acabou-se tudo o que não seja de La Feria. Pode ser teatro, mas não é cultura, é auto-promoção.Eu próprio não cosigo descrever o nó na garganta com que fico quando passo junto ao Rivoli e vejo tanta gente amontoada para ir assistir a uma peça desse sujeito. Da mesma forma, também não sei descrever a sensação de vitória que tive quando, no Fatasporto via muito mais gente do que para assistir a qualquer peça de La Feria, mas não iam ver a peça de La Feria.

Mas mesmo no Fantas, esse sujeito teve que fazer das suas: recusou-se a tirar as garrafais letras, a estúpida foto gigante da actriz de Musica no Coração com os braços abertos e uma expressão completamente palerma, assim como as estúpidas estelas com as cabeças das crianças do musical na entrada. Tudo isto, para ser sincero, deu-me uma enorme vontade de trepar as paredes e arrancar aquelas promoções megalómanas e despropositadas a uma pessoa muito inchada e pouco dotada.
No sentido oposto, ou seja, exemplo de um excelente trabalho, foi Paulo Brandão, a quem foi entregue o Theatro Circo de Braga. Devo dizer que considero o cartaz do Theatro Circo senão o melhor, um dos melhores do país. Prima pela diversidade, e pela selectividade cultural.

Em compensação, de La Feria, só tenho a dizer que espero que saia o mais rapidamente possível da direcção do Rivoli. A sala pertence aos habitantes do Porto, mas, mais importante ainda, pertence á cultura, e está a ser privado disso por uma pessoa com um ego enorme e infundado. Quem viu o musical de Amália só pode ter ficado escandalizado...

segunda-feira, 17 de março de 2008

My Sweet Prince

Versos de Brian Molko, esse senhor...

Never thought you'd make me perspire. Never thought I'd do you the same. Never thought I'd fill with desire. Never thought I'd feel so ashamed. Me and the dragon can chase all the pain away. So before I end my day, remember.. My sweet prince, you are the one, My sweet princeyou are the one. Never thought I'd have to retire. Never thought I'd have to abstain. Never thought all this could back fire. Close up the hole in my vein. Me and my valuable friend can fix all the pain away, so before I end my day, remember: My sweet princeyou are the one. My sweet prince you are the one. You are the one, you are the one, you are the one, you are the one. Never thought I'd get any higher. Never thought you'd fuck with my brain. Never thought all this could expire. Never thought you'd go break the chain. Me and you baby, still flush all the pain away, so before I end my day, remember: My sweet prince, you are the one. My sweet prince, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one, you are the one. My sweet prince...My sweet prince...

Coco de Colbie Caillat

TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA

De facto, muitas vezes, a promoção que se faz de uma pessoa só a leva a ser prejudicada. O mito que se cria á volta de tanta gente acaba por lhes ser fatal, quando não conseguem corresponder.
Isto acontece com Colbie Caillat.
Dela, contam aquela história tão típica como desinteressante: a da menina que chegou ao mundo da música por acaso. Especificamente, Colbie fez upload de uns videos seus no YouTube, e alguém descobriu a sua fenomenal voz e convidou para gravar um álbum onde figuram muitas das grandes canções do ano.



Eis o erro. Dizerem que ela é autora de grandes canções deixa-nos um travo amargo na boca quando ouvimos "Coco", o álbum de estreia. "Coco" tem quatro ou cinco boas canções e outras tantas medíocres, não tem nenhuma grande canção, e a sua voz não é nada de fenomenal, é uma boa voz, suave, quente, meiga, mas sem nada de especial.
Assim, se a tivessem apresentado como uma debutante do rock acústico e melódico, dela dir-se-ia ser merecedora de todos os elogios que lhe apontassem. Mas Caillat é destruída pela sua campanha.
Falemos objectivamente de "Coco". É construído de canções rock acústicas e simplificadas, entre a Jewel de "Pieces Of You" e a Natalie Imbruglia de "Left Of The Middle", só não é tão surpreendente como era Jewel, nem tão expedita como era Natalie. Mas é aqui que se situa.
"Bubbly" é uma escolha inteligente para primeiro single, pois é uma das melhores faixas de "Coco". Além desta, contam-se "Battle", "Feelings Show" (Ainda que por vezes seja demasiado lamechas.), "Capri", "The Little Things" e talvez também "Oxygen".
A parte mais apagada e escusada do álbum passa por "Midnight Bottle" e "Realize" onde a menina se excede e a doçura torna-se pegajosa. Má ideia.
As restantes canções são médias: interessantes enquanto composições, um pouco previsíveis na letra, sempre bem interpretadas, simplorias e na mesma tonalidade fresca.
Assim sendo, não se pode dizer que o álbum de estreia de Colbie Caillat seja mau, porque não é. Mas ninguém diga que é um grande álbum e que é uma das melhores coisas que a música já ouviu, porque isso está longe de ser verdade. A César o que é de César, e a Colbie o que é de Colbie. Não a Colbie o que é de César. Nem o contrário...


Veredicto: 14/20

Colbie Caillat - Bubbly

Video de avanço de "Coco". Pode ser previsível, mas é coerente. E a canção é boa...

domingo, 16 de março de 2008

Goldfrapp- Utopia

Talvez já tenha fugido á memória de muitos o álbum "Felt Mountain" dos Goldfrapp, a sua estreia em 2000, e com ele "Utopia", primeiro single. Se assim é, a injustiça fica evidente no videoclip oficial, um delírio estético que reforça a carga onírica e etérea da canção.

FamaShow

Portugal é um daqueles países que não dá realce á cultura, mas adora ter supostas vedetas. Na realidade, aqueles que de facto merecem reconhecimento, como são os nossos grandes poetas, os nossos excelentes artistas, os nossos brutais escritores, os nossos óptimos músicos; não saem muito de um quase anonimato que é uma condenação prévia da decisão de serem pessoas ligadas á cultura. No entanto, existem aquelas vergonhosas coisas a que se dá o nome de colunas sociais. E as colunas sociais são fenomenais, porque nada é exigido a quem é falado. As palavras chave são "estar", "aparecer". E são essas as pessoas a quem se dá realce em Portugal. Cinha Jardim, Lili Caneças, Paula Bobone, Vicky Fernandes, Florbela Queiroz, Elsa Raposo... enfim, pessoas que não têm contributos para a cultura, que não têm dinheiro, mas que "aparecem" constantemente na casa uns dos outros, e que "estão" invariavelmente nas mais variadas feiras de vaidades.
"FamaShow", programa da Sic no qual tropecei acidentalmente, é um programa sobre este tipo de pessoas. Aliás, a Sic, no que toca a realçar nulidades não tem concorrência. Desde o "Extase" á "Tertulia Cor de Rosa"... Mas realmente não percebo qual é o interesse de passar um quarto de hora a ouvir o Herman José falar dos cintos que coleciona, enquanto os mostra; ou ouvir falar Tony Carreira da sua biografia...?
Quanto á "Tertúlia Cor-de-Rosa", não resisto em falar do assunto. Costuma estar a passar no restaurante onde almoço com os meus amigos, e só continuo a perguntar-me que prazer masoquista é este que tenho, porque acabo sempre por olhar. Juntam a Maya, o Nuno Eiró, o Cláudio Ramos, a Ana Maria Lucas, a Florbela Queiroz e o Daniel Nascimento á volta da Fátima Lopes (Que não percebo porque se sujeita a espéctaculos deste calibre.) a discutir se o José Castelo Branco tem ou na razão quando diz na capa da Lux (?) que aos 45 anos já atingiu a perfeição (Como se fosse sequer possível duvidar de que não.), a discutir o vestido da Lili Caneças, o rompimento entre o Cristiano Ronaldo e a Merche... enfim, a não falar de nada.
Tudo isto existe, e tudo isto é triste, já diria Amália, mas aqui o sentido é mesmo muito pejorativo. Portugal atrasou-se culturalmente durante a ditadura, e agora, em vez de se preocupar em recuperar o tempo e a sabedoria perdidos, está preocupado em saber quem acabou com quem se foi Merche ou Cristiano. Se eu fosse milionário, eu comprava a Sic e a TVI e fecháva-as... É que eu acho que há limites no que toca a entertenimento. A Sic acha que o "FamaShow" e a Tertulia Cor-de-Rosa são formas de entertenimento, mas são formas de estupidificação de massas, e isso devia ser crime...

sábado, 15 de março de 2008

Tori Amos - A Sorta Fairytale

Eu sei que tenho postado muitas coisas sobre a Tori Amos, mas estava hoje em viagem quando me lembrei deste excelente videoclip, e não resisti em fazer alusão a ele. Tem a participação do vencedor do óscar de Melhor Actor, Adrien Brody, além de ser uma das melhores músicas, tanto do álbum "Scarlet´s Walk" como de toda a discografia da minha querida Myra Ellen Amos. Cheers Tori!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Lovely de Frank Ronan

O ALUCINOGÉNIO

Confesso a minha ignorância, nunca tinha ouvido falar de Frank Ronan, e, se acabo agora de ler “Lovely” é só porque mo emprestaram.
E, não conhecendo a restante obra do autor, é para mim como caminhar em areias movediças estar a falar deste romance. Mas, arriscando-me a dizer asneiras, aventuro-me a comentar uma história que tanto me tocou, precisamente por isso.
“Lovely” é a alucinante história de amor entre Nick e Aaron, dois homens que se conhecem em Goa, no seu ciclo de festas que incluem mulheres chai, álcool, música até de madrugada e vários tipos de droga. Não se trata de um amor á primeira vista, mas de algo que ambos reconhecem como o encontrar de algo que há muito se procurava. Assim sendo, na primeira parte, “O Amor”, é-nos descrita forma como a sua relação germina, numa espécie de mundo onírico em que nada poderá correr mal, pois tudo é apanhar sol na varanda ou na praia, passear com os amigos, viajar de barco e fumar charros até ás tantas da madrugada. Assim, Nick e Aaron dão-se a conhecer um ao outro, o primeiro proveniente de um passado problemático que inclui prostituição e um sem-número de relações mal sucedidas; ao passo que o segundo tem apenas histórias bonitas e quase surrealmente boas, que passam por uma vida em que atingiu tudo o que quis atingir. Estas insignificantes realidades opostas virão a ganhar relevância na segunda parte, “A Vida” em que os vícios de Nick com a droga e o álcool se revelam diários, e não esporádicos, ao passo que o círculo de classe média-alta de Aaron considera o seu novo namorado indigno do amor dele. E, enquanto Aaron se esforça por ajudar Nick, este parece empenhado em dar razão aos descrentes amigos e familiares de Aaron.
Assim, a relação de ambos vai-se destruindo, enquanto fica cada vez mais ténue até para o próprio Aaron se ama Nick ou o que Nick poderia ser, e este último fica demasiado afogado em álcool para permitir que as coisas corram bem, e para permitir a si próprio honrar o amor extremo que tem por Aaron.
Inserido no Dirty Realism de David Leavitt, Jay McInnerney e Raymond Carver, Frank Ronan consegue atingir aquele que é um dos objectivos máximos desta corrente: retratar um tipo de realidade que, mesmo nos dias de hoje (Não devemos considerar um livro de 1996 antigo.) é abordada com muito pudor, ou então não é abordada de todo. É o caso deste romance sobre uma relação amorosa entre dois homens, mas Ronan consegue, ao mesmo tempo, relatá-la sem cair nos lugares-comuns de mostrar como é que uma relação vítima de preconceitos sociais consegue triunfar. Não há rumores de preconceito social aqui. A questão é assumida da forma como (Afirmo.) deve ser assumida: como uma coisa normal. É essa a qualidade principal da narrativa deste escritor: foca-se na realidade íntima destas pessoas, aproxima-se da esfera do inconsciente, e não se deixa distrair por questões paralelas que pouco acrescentariam. Por outro lado, em relação á escrita, é a normal dentro desta tendência essencialmente americana: descrições rápidas (Que deixam um espaço para a imaginação do leitor.), ambientes mais ligados ao underground e uma brutal fluidez de texto que faz dele pouco maçudo e muito empolgante.
Portanto, recomendo.

Veredicto: 18/20

quinta-feira, 13 de março de 2008

o poema

Poderia gastar muita tinta a escrever sobre um corpo ou vários. Porém apenas o instante do encontro é precioso. Viver a cena sem palavras, o ritual.
Na penumbra os corpos tocam-se antes da sílaba inaugural. Começar é sempre um escândalo, é desviar a instituição da sua verdadeira finalidade e da sua inocência.


ISABEL DE SÁ
"Em Nome do Corpo", 1985






ISABEL DE SÁ, "O Caminho do Paraíso", 1981

quarta-feira, 12 de março de 2008

Tori Amos - Me and A Gun

Ao vivo, uma das melhores canções de Mayra Ellen Amos. Um daqueles intemporais...

Marilyn Manson - The Beautiful People

Lembram-se???

terça-feira, 11 de março de 2008

downhearted blues


Gee, but it's hard to love someone
when that someone don't love you!
I'm so disgusted,
heart-broken, too;
I've got those down-hearted blues;
Once I was crazy
'bout a man;
he mistreated me all the time,
The next man I get has got to promise me
to be mine, all mine!

Trouble, trouble,
I've had it all my days,
Trouble, trouble,
I've had it all my days;
It seems like trouble going to follow me to my grave.

I ain't never loved but three mens in my life;
I ain't never loved but three men in my life:
My father, my brother, the man that wrecked my life.

It may be a week,
it may be a month or two,
It may be a week,
it may be a month or two,
But the day you quit me, honey,
it's comin' home to you.

I got the world in a jug,
the stopper's in my hand,
I got the world in a jug,
the stopper's in my hand,
I'm gonna hold it until you meet some of my demands.

BESSIE SMITH

segunda-feira, 10 de março de 2008

o livro

que eu gostava de ver publicado.

Chama-se "Holy Wood" e seria a versão literária do melhor álbum de Marilyn Manson. Devido á controvérsia política e religiosa, nenhuma editora o quis publicar. Mas seria bom, a avaliar pela narrativa do álbum...

domingo, 9 de março de 2008

uma das mais cómicas

recordações do Fantas de 2008, será certamente o spot do Toyota Aygo Fantas...

http://www.youtube.com/watch?v=XlsdJhw78mc

sábado, 8 de março de 2008

hoje estou

ao lado dos professores, em Lisboa... força nisso!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Europa de Lars Von Trier

EUROPA QUERIDA EUROPA

Muito se fala, escreve, filma, canta... sobre a Europa. De facto, por muito que os EUA sejam uma grande potência, ou que África cresça, a Europa é um espaço único, rico em História e histórias, em que todos os povos têm altos e baixos que sempre são dignos de serem retratados pela arte, que nunca se coibiu de o fazer.



Encerrando a trilogia sobre a Europa que começa com "The Element Of Crime" (1984) e "Epidemic" (1988), "Europa" (1991) de Lars Von Trier é, provavelmente, um dos melhores exemplares artísticos a reflectir sobre essa Europa em que vivemos mas que por vezes não vivemos. Escrito a meias com Niels Vorsel, o filme decorre na Alemanha do pós-2ª Guerra Mundial. Esta é uma época em que muitos já se debruçaram, não fosse a história de uma carismática carga romantica/ nacionalista (No bom sentido.) de um país humilhado e destruído que se reconstroi e volta a erguer a cabeça para entrar no futuro. É neste contexto que um idealista jovem americano se muda para a Alemanha, na esperança de mostrar alguma simpatia pelo tal povo que se reconstroi.
Arranja emprego a bordo do chamado sleeping car (comboio onde há quartos para viagens de vários dias) a bordo do qual se apaixona pela filha do dono da Zentropa, a empresa que possuiu esses comboios.
Incuido, então, no círculo íntimo da casa do patriarca, vê-se frente-a-frente com a parte suja da Alemanha pós-Nazi, em que se procuram aqueles que haviam apoiado Hitler, e quando não se encontram, a corrupção resolve o assunto, encontrando os culpados através de provas forjadas. É o caso do dono da Zentropa.
Envolvido no meio da trama, o nosso protagonista acaba por se ver envolvido numa conspiração menos recomendável, e por descobrir uma Europa bem diferente daquela que fantasiava quando vivia nos Estados Unidos.
A nível técnico, Von Trier arrisca tanto como arrisca em quase todos os seus filmes. Utiliza mairoitariamente o preto e branco, e por vezes, a cor, utilizada de forma simbolista ou para representar uma qualquer alteração de ambiente (Físico ou psicológico.). Os planos em que vemos a linha férrea do "ponto de vista" da frente do comboio são belíssimos, assim como as frases que o voz-off diz nesses mesmos planos.
Há influências claras do film-noir, desde a corrupção por parte das autoridades, á conspiração, á pelicula a preto e branco, á femme fatale, á degradação cénica.
A realização em si é excelente, por vezes drástica, mas sem excessos, o que faz com que o forte dramatismo de certas imagens não caia no ridículo e não pareça inusitado e feito mais para chocar do que para contruir uma narrativa.
Seria possível inserir este filme numa espécie de realismo, no sentido do século XIX, no sentido em que retrata com exactidão a realidade de um tempo, neste caso a Europa desmoronada dos anos que se seguiram á II Guerra Mundial, com todas as rupturas e todas as implicações que esses anos trouxeram. Aliás, em certas cenas, é tão realista que é difícil acreditar que este filme foi realizado em 1991, 45 anos depois do fim da guerra.
É mais uma obra prima de Lars Von Trier, exibida no Pequeno Auditório do Rivoli, como parte do Tributo do Fantas a Max Von Sydow. De qualquer forma, para o ano, desliguem o aquecimento na sala, senão adormece-se ao fim de meia hora.


Veredicto: 20/20

quinta-feira, 6 de março de 2008

Killer Condom de Martin Walz

PROTECÇÃO PERIGOSA

É muito, muito, muito frequente em cinema que uma comédia boa seja um filme mau. Ir pelo caminho do humor intelectual de Woody Allen ou Almodovar pode originar grandes filmes (E origina.) mas origina também uma má recepção por parte do público.



Martin Walz envereda pelo caminho de um humor mais fácil e até brejeiro neste "Killer Condom". A premissa baseia-se nos comic books de Ralf Konig: uma manhã, a polícia é invadida de queixas de homens a quem foram arrancados os órgãos sexuais. O detective Luigi Mackeroni é chamado para vir resolver o caso. No decorrer das suas investigações, que começam no hotel onde trabalhavam as prostitutas acusadas do crime, envolve-se com Billy, um prostituto, mas antes que consigam fazê-lo sexualmente, um preservativo munido de dentes arranca um testículo a Mackeroni.
Agora envolvido pessoalmente no caso, Luigi acaba por chegar á origem destes seres que se revelam na realidade astutos projectos de engenharia genética.
O que estraga o filme, no entanto, não é a história, mas sim a excessiva normalidade com que esta é contada. Quando uma personagem diz qual é o voo em que Jesus Cristo chegará a New York isso é como dizer qual é o dia da semana em que estamos.
Além disso, algumas imagens surgem por via do facilitismo. Podem fazer rir o público, mas só pioram em termos técnicos o filme, que é um dos mais medíocres que tenho visto.
A realização é normal, por vezes um pouco parada, ao longo de filme, encontram-se também cenas em que é demasiado óbvio que tudo é encenado. Peca também pela apresentação esteriotipada de certos personagens como o travisti Bob/ Babette.
Sem ser um filme pertinente, vale pelo que vale, é um amontoado de risos acumulado num filme dispensável.




Veredicto: 9/20

quarta-feira, 5 de março de 2008

La Habitacion de Fermat de Luís Pedrahita e Rodrigo Sopeña

MATEMÁTICA APLICADA

Pode o filme não ser brutal, pode ter muitas arestas por polir, mas há que dar crédito a Luís Pedrahita e Rodrigo Sopeña porque o seu primeiro filme é, na realidade, um excelente início.


La Habitacion de Fermat” parte de uma premissa simples: quatro matemáticos respondem correctamente a uma carta de apuramento para irem passar o fim-de-semana a tentar resolver ao que o enigmático Fermat, autor da carta, chama “o maior mistério matemático de sempre”.
Ao chegar lá, os matemáticos vêem-se encurralados na sala que começa a encolher á medida que levam demasiado tempo a resolver os enigmas que lhes são enviados por PDA.
Lentamente, começam a aperceber-se das ligações que existem entre si.
Ainda que esta premissa nos possa remeter intuitivamente para o díptico de “Cubo” e “Hipercubo”, “La Habtacion de Fermat” não envereda por esse caminho, nem pouco mais ou menos.
Á primeira vista, no filme, há um abuso insultuoso da coincidência, mas, na realidade, a resolução do filme vai mostrar-nos que não há coincidências, pelo menos aqui. Também uma reviravolta no final, relacionada com o facto do protagonista ter resolvido o enigma de Goldbach (Sem resolução há 250 anos.) vem acrescentar alguma credibilidade á história.
O argumento está bem conduzido, a realização arrisca pouco, mas ainda arrisca, alguns planos estão francamente mal concebidos (Ver um acidente de carro de cima não é uma boa ideia, é irreal e óbvio.)
Algumas partes do filme desenrolam-se muito depressa, o que nos vem mostrar, ou pelo menos a mim, que matemática não é mesmo a minha área.
Enfim, estes cineastas prometem mais, eu acredito. Gostei do filme, não o adorei, recomendo, e fico feliz por vê-lo no Fantas.

Veredicto: 16/20

terça-feira, 4 de março de 2008

I´m a Cyborg But That´s Ok de Park Chan Wook

O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO



Provavelmente, por mais que faça, Park Chan Wook será sempre relembrado por “Old Boy”. Rapidamente, tal filme ganhou o estatuto de filme de culto, e o nome do seu realizador está a ele para sempre associado. O que não quer dizer que Chan Wook não tenha feito filmes tão bons ou que venha a fazer melhores do que “Old Boy”.
Melhor, “I´m a Cyborg But That´s Ok” não será, mas é, certamente, em muitos aspectos, tão bom como “Old Boy”.
Esta é a história de uma rapariga que, na sequência de um acidente que se assemelha a uma tentativa de suicídio, é internada num asilo psiquiátrico. Na sequência do acidente, a rapariga começa a acreditar que é um cyborg. Mas não se importa.
Remexendo o seu passado, descobrimos que é filha da dona de um restaurante e neta de uma senhora que acreditava ser um rato, tal como agora a neta pensa ser um cyborg.
A psicose da avó leva-a a ser também internada. A neta acredita, então, que a sua missão é ir resgatar a avó, levar-lhe os rabanetes que esta comia o tempo todo, e aproveitar para matar os médicos que haviam levado a senhora.
Mas a rapariga sente compaixão desses médicos… pensa se eles não terão avós que também sofram com a sua perda.
Assim sendo, é de todo o conveniente que encontre um rapaz que consegue roubar características ás pessoas. Então, ela pede-lhe para lhe roubar a compaixão, para poder prosseguir na sua missão. É neste contexto que se apaixonam.
Ora, Park Chan Wook tinha muitas formas de explorar esta premissa, e, consequentemente, muitas maneiras de o arruinar. Mas a verdade é que não o faz. O seu percurso que muitas vezes passa pelo violento e pelo (Não tenhamos medo da palavra.) gore, mas a abordagem que faz á história de “I´m a Cyborg But That´s Ok” é não só bastante sensível como por vezes também idílica, o que só é conveniente, uma vez que faz um uso mais pleno da situação espacial e psicológica dos personagens.
O que falha então, na mais recente película de Chan Wook? Uma coisa crucial: a montagem. Terá o realizador esquecido o significado do conceito de “eliminar cenas”, para retirar o obsoleto? Poderá até ter sido intencional, mas, a verdade é que este excesso de pormenores desnecessários não melhora em nada o filme. Dá, aliás, a sensação de que estes 105 são três horas. O melhor exemplo é o final do filme que poderia ser contado de uma forma mais rápida e eficaz com a primeira das três cenas finais.
Ainda assim, temos em “I´m a Cyborg But That´s Ok” um sério candidato ao prémio do Fantasporto 2008. E não estaria mal entregue.

Veredicto: 17/20

segunda-feira, 3 de março de 2008

Graça Martins: Sleeping Beauty (2004)

Qualquer texto com referências biográficas começaria por dizer que Graça Martins nasceu em 1952, mas o ano em que nasceu, e a consequente idade não parecem influenciar o trabalho desta artista, na medida em que não reflectem um envelhecimento enquanto pessoa. A base do trabalho desta artista plástica é a sua capacidade de olhar para o que a rodeia, e de se conseguir identificar em tudo isso. Posto isto, não é de estranhar que, ainda que as raparigas que pinta, retratando ao mesmo tempo as realidades urbanas contemporâneas, não sendo auto-retratos, não perdem a evidente carga autobiográfica.
Se quisermos dividir o seu trabalho em fases, de forma a traçar uma evolução, podemos dizer que, primeiramente, havia um primado do desenho, que acabava por proporcionar uma abundância de pormenores e um perfeccionismo obsessivo (Não no sentido pejorativo.). Aqui se inserem, por exemplo, as suas características meninas em pijama, onde a cabeça é eliminada, de forma a concentrar a atenção do espectador na expressão das riscas e das curvas dos pijamas. Iriam ser precisamente estes desenhos, a grafite, que haviam de levar a Graça Martins o 1º Prémio do Bicentenário da Invenção do Lápis, concorrendo com cerca de 700 candidatos. E não ao acaso. A astúcia com que domina a técnica vem de facto mostrar que só podemos estar perante uma postura artística prodigiosa.




Nesta tendência mais “desenhista” enquadram-se também os inúmeros retratos de escritores, quer seus amigos, como os poetas Isabel de Sá ou Eugénio de Andrade, quer outros que admira, como Florbela Espanca ou Rimbaud. As capas de livros que faz, também, desde os anos 70, marcam um registo ainda mais poético do desenho de Graça Martins. Contam-se capas para livros de Isabel de Sá, Maria Teresa Horta, entre outros.
Numa fase mais recente, o trabalho de Graça Martins evoluiu no sentido da simplificação. Num registo ligado á influência da pop art, continua a retratar as suas tão características meninas, sempre no sentido de evidenciar alguma ideia. Como feminista que é, os seus trabalhos remetem-nos frequentemente para temáticas ligadas á condição feminina. Olhemos para “Silence”, em que uma menina de beleza extraordinária se resigna ao silêncio. Nestas séries, ainda que haja um equilíbrio entre pintura e desenho, não deixa de se notar a mesma subtileza no traçar do desenho. Também a sua formação em Design Gráfico se nota, indo, também ele, de encontro á tendência da pop art. Quer seja na inserção de fotografias nas telas (Veja-se a homenagem a Rimbaud.), quer pela utilização de palavras (“Don´t Forget Me”), quer pelo desenho de objectos do dia a dia (“As Minhas Botas”).


“Silence”


“Sleeping Beauty” será, provavelmente, o expoente máximo da fase actual da obra de Graça Martins. A fase em que o desenho meticuloso se encontra com uma pintura simples pop art, com uma tendência gráfica também.
São raparigas de ambientes urbanos, a denunciar problemas e condições ligados ao universo feminino urbano. Não no sentido de reivindicar ou escandalizar, mas usando a observação como forma de denúncia desses problemas ou ambientes. Não só o silêncio, o resumo á beleza, os estereotipos que vitimam a mulher, como também outras mais poéticas, por exemplo, a beleza e simplicidade de um olhar em “The Look” ou a vontade de expressão em “The Key”.


“Enquanto Não Se Esquece o Passado”


Mas, há algo de comum em todos os trabalhos da colecção, seja qual for a sua temática: a sensibilidade com que são abordados. Há erotismo em cada uma das telas, há simbologias, evidentemente, mas há, principalmente, sentimentos, que o corpo, e a sua expressividade nos mostram, há sentimentos em cada cara que é tapada (“The Night Of Cinderella”, “Enquanto Não Se Esquece o Passado”.), em cada seio que se revela quase involuntariamente (“Sleeping Beauty”, “Enquanto Não Se Esquece O Passado”.), em cada abraço (“Urban Teenagers”), na solidão ou companhia de cada uma (“Lolitas”). São meninas ora resignadas, ora emancipadas, ora desorientadas, ora conscientes, ora acordadas, ora adormecidas. A isto pode-se chamar, sem perigo, poesia visual.



“The Look”



A utilização da cor insere também as personagens nesses estados de alma. O azul calmo e nostálgico de “Enquanto Não Se Esquece O Passado”, o laranja quente em “The Look”, o cor-de-rosa sensual de “The Night Of Cinderella”, os laranjas tropicais em “I´ve Got You Under My Skin”.
E, para finalizar, as imagens que se inserem na imagem principal culminam a ideia. As botas de “As Minhas Botas”, os sapatos da Cinderella, a Vitoria de Samotrácia de “Enquanto Não se Esquece o Passado”, as fotografias silenciosas de “Don´t Forget Me”, a apetecível romã de “The Look”.
É certo que a exposição já é de 2004, e correntemente, não está exposta em nenhum lugar, mas qualquer reposição deve ser vista, por toda a gente.

domingo, 2 de março de 2008

Lou Rhodes na Casa da Música

BETWEEN WONDER AND WONDER

As onze horas Oddur Mar Runarsson subiu ao palco para cantar algumas das suas canções, carregando assim o peso de uma plateia que não estava ali para o ver. Ainda assim, não se pode dizer que tenha corrido mal.

Pouco depois, acompanhada das suas duas guitarras, a cantora que todos esperavam entra em palco: Lou Rhodes é uma mulher bonita, cheia de ambiguidades, há nela algo de sereno e algo de selvagem, algo de angelical e algo de humano, tem um aspecto jovem, mas a sua voz parece velha, as suas músicas parecem existir há muito tempo, e no entanto, parece que cada momento da música nasce ali mesmo pela primeira vez.
De facto, é estranho que, ao promover “Beloved One”, mais simples a nível instrumental, Lou tenha feito digressão com uma banda, e, agora, em “Bloom” onde a diversidade e complexidade instrumental são bem maiores se apresente em palco sozinha. Mas, logo em “The Rain”, uma coisa fica muito evidente: as músicas não perdem força nem energia ao serem despidas de tudo o que não seja guitarra acústica e voz.
Lou tem uma postura tímida, por vezes até demais, mas a entrega ás canções é total, e canta-as como quem de facto as sente.
Assim, quando a sua voz de faz ouvir cantando
“I know a man with the world on his shoulders
And angel´s wings on his back…”
não há muitas probabilidades de sentirmos a falta dos restantes instrumentos. Prossegue por “This Love”, que, estranhamente soa melhor assim, na versão de solo de guitarra.
No Re-Run” marca o primeiro ingresso pelo primeiro álbum, “Beloved One”, numa versão que o que perde em fluidez ganha em ritmo. Em “Tremble” pede a ajuda do público para marcar o ritmo (De que a canção muito vive.) batendo palmas.
Uma das melhores músicas de “Bloom”, “Bloom”, ainda que muito bem interpretada, é uma das poucas que de facto, perde pela redução instrumental. Sem as notas de xilofone, apenas com a guitarra e a voz, fica a parecer uma música demasiado repetitiva e simples. O som nocturno não se perde, ainda assim. “Each Moment New” pontua também, sendo não só um dos mais comoventes momentos ao vivo como uma das melhores canções que Rhodes já escreveu (Lamb incluídos.) e nesta nova roupagem ganha um intimismo que muito bem lhe fica. Depois de uma pequena conversa sobre como uma música assume diferentes significados de acordo com a fase que uma pessoa atravessa, Lou lança-se na interpretação de “Beloved One” que, como “No Re-Run”, o que perde em fluidez, ganha em ritmo. A versão de “Tin Angel” de Joni Michell é lindíssima, sem dúvida. Antevisão de um terceiro álbum, “Some Magic Day”, resulta numa canção que, ainda que musicalmente muito interessante, peca pela predicabilidade da letra. “Icarus”, momento nada transcendente no álbum, soa ao vivo a uma espécie de feixe de luz sobre a figura introspectiva de Lou Rhodes: muito bonito. Segue-se um dos picos de beleza de “Bloom”, “All We Are”, do qual é melhor nem falar por ausência de palavras. Como que apalpar terreno, segue-se a versão á capella de “Gabriel”, resgatada ao “What Sound” dos Lamb. Momento de uma estética muito diferente do que Rhodes faz agora, resulta bem. “Never Loved (A Man Like You)” é também um belíssimo momento, onde, mais uma vez, os instrumentos fazem alguma falta, ainda que não retirem de todo a carga emotiva á canção. Fazendo-me sofrer até ao último momento, Lou guardou a minha preferida para o final, “They Say”, absolutamente perfeita. Os encores foram feitos com “Save Me” (Onde Lou se engana na letra, o que não devia ter deixado perceber…) e com “Sister Moon”, uma das canções que me parece menos pertinente no contexto do álbum.
Relatado o concerto que amei, ficam as minhas palavras de ódio:
Primeiro ao público: estava a sala cheia de pessoas que claramente desconheciam as canções de Lou Rhodes, limitando-se a conhecer, provavelmente, “What Sound”, álbum de mais projecção dos Lamb. Não se esforçavam por aderir ás canções, limitando-se a aplaudir sem grande convicção no final. Devem ter sido meia dúzia de pessoas a bater palmas quando Lou o pediu em “Tremble”. No final, os comentários que ouvi eram de uma grande ignorância do contexto desta carreira a solo: queixavam-se da falta de banda (Quando Rhodes alega, desde “Beloved One” que quer que a sua música se faça apenas do que lhe é essencial, o que muitas vezes pode ser só uma guitarra e voz.) e da timidez da cantora (Que sempre assim foi.). Sinceramente, acho que quem não conhece a música nem devia poder ir ver. Se estivesse no lugar de Lou Rhodes estaria muito mal impressionado com o público. Desrespeitaram-na totalmente, atirando-lhe uma indiferença que é nojenta, como se ela só tivesse o direito de cantar as músicas do Lamb. O PÚBLICO PORTUGUÊS É UMA VERGONHA!
Segundo, á Casa da Música: é suposto ser um espaço onde se abriguem vários tipos de música, mas, na realidade, há por norma orquestras de música erudita e bandas de jazz. O resto das duas uma: ou não vai, ou vai á sala pequena, que é o caso. O programa da Casa da Música é elitista e fechado, ignora muitos tipos de música. Fica a minha deixa. Recomendo que vejam estas canções ao vivo, vivamente. Blessings Lou…

Veredicto: 19/20

sábado, 1 de março de 2008

o poema

tragam-mo ainda que ao
longe, esse amor meu, dou
alvíssaras de fantasma, subirei
à tona dos sorrisos como flecha
do vosso cupido, tragam-mo
por favor ainda que ao
longe, a ver-me o vazio dos
olhos onde só ele pode caber

perguntem-lhe por mim e
se pode vir
para recolher o
meu corpo no fim
só bulido pelo vento

e se o vento é conjunto
de pássaros invisíveis ou seres
tão claros, escondam que sou
cruel, que fico a debulhar
anjos como flores para saber
se bem ou mal me quer


valter hugo mãe
"o resto da minha alegria"
isabel lhano, "volúpia" 2001