sexta-feira, 7 de março de 2008

Europa de Lars Von Trier

EUROPA QUERIDA EUROPA

Muito se fala, escreve, filma, canta... sobre a Europa. De facto, por muito que os EUA sejam uma grande potência, ou que África cresça, a Europa é um espaço único, rico em História e histórias, em que todos os povos têm altos e baixos que sempre são dignos de serem retratados pela arte, que nunca se coibiu de o fazer.



Encerrando a trilogia sobre a Europa que começa com "The Element Of Crime" (1984) e "Epidemic" (1988), "Europa" (1991) de Lars Von Trier é, provavelmente, um dos melhores exemplares artísticos a reflectir sobre essa Europa em que vivemos mas que por vezes não vivemos. Escrito a meias com Niels Vorsel, o filme decorre na Alemanha do pós-2ª Guerra Mundial. Esta é uma época em que muitos já se debruçaram, não fosse a história de uma carismática carga romantica/ nacionalista (No bom sentido.) de um país humilhado e destruído que se reconstroi e volta a erguer a cabeça para entrar no futuro. É neste contexto que um idealista jovem americano se muda para a Alemanha, na esperança de mostrar alguma simpatia pelo tal povo que se reconstroi.
Arranja emprego a bordo do chamado sleeping car (comboio onde há quartos para viagens de vários dias) a bordo do qual se apaixona pela filha do dono da Zentropa, a empresa que possuiu esses comboios.
Incuido, então, no círculo íntimo da casa do patriarca, vê-se frente-a-frente com a parte suja da Alemanha pós-Nazi, em que se procuram aqueles que haviam apoiado Hitler, e quando não se encontram, a corrupção resolve o assunto, encontrando os culpados através de provas forjadas. É o caso do dono da Zentropa.
Envolvido no meio da trama, o nosso protagonista acaba por se ver envolvido numa conspiração menos recomendável, e por descobrir uma Europa bem diferente daquela que fantasiava quando vivia nos Estados Unidos.
A nível técnico, Von Trier arrisca tanto como arrisca em quase todos os seus filmes. Utiliza mairoitariamente o preto e branco, e por vezes, a cor, utilizada de forma simbolista ou para representar uma qualquer alteração de ambiente (Físico ou psicológico.). Os planos em que vemos a linha férrea do "ponto de vista" da frente do comboio são belíssimos, assim como as frases que o voz-off diz nesses mesmos planos.
Há influências claras do film-noir, desde a corrupção por parte das autoridades, á conspiração, á pelicula a preto e branco, á femme fatale, á degradação cénica.
A realização em si é excelente, por vezes drástica, mas sem excessos, o que faz com que o forte dramatismo de certas imagens não caia no ridículo e não pareça inusitado e feito mais para chocar do que para contruir uma narrativa.
Seria possível inserir este filme numa espécie de realismo, no sentido do século XIX, no sentido em que retrata com exactidão a realidade de um tempo, neste caso a Europa desmoronada dos anos que se seguiram á II Guerra Mundial, com todas as rupturas e todas as implicações que esses anos trouxeram. Aliás, em certas cenas, é tão realista que é difícil acreditar que este filme foi realizado em 1991, 45 anos depois do fim da guerra.
É mais uma obra prima de Lars Von Trier, exibida no Pequeno Auditório do Rivoli, como parte do Tributo do Fantas a Max Von Sydow. De qualquer forma, para o ano, desliguem o aquecimento na sala, senão adormece-se ao fim de meia hora.


Veredicto: 20/20

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