quarta-feira, 15 de junho de 2011

Lamb no CCB (11.6.11)

O aguardado regresso dos Lamb a Portugal contou com três concertos, no Algarve, em Lisboa no Porto. Aquele a que assisti, no CCB é, de facto, merecedor de algumas notas.
Para alguém como eu, um concerto destes só pode ser boa notícia. Não só porque "5" me pareceu um bom retorno da banda, pelo qual valeu a pena esperar seis anos, como porque detesto os santos populares e um concerto destes é uma excelentíssima alternativa.
Depois da primeira parte, entregue a Jay Leighton, os Lamb entraram no palco acompanhados apenas por Jon Thorne, contrabaixista. Lou Rhodes vinha, claro, lindíssima, ela sim, verdadeiramente angelical, e Andy Barlow bem-disposto, como esperaria qualquer um que já tenha assistido aos Lamb ao vivo.

A entrada em palco foi feita com Another Language, o tema que abre "5". A escolha não podia ser mais acertada. Um regresso depois de um hiato em que os Lamb anunciaram o seu fim, não pode senão marcar-se pela busca de algo novo; e essa ideia fica muito bem explicada por esta canção.
O álbum "5" seria o protagonista da noite, contrariando a tendência natural da revisitação dos clássicos, que até seria natual numa banda que tem bastantes, como é o caso dos Lamb.
Regressos ao passado aconteceram com Little Things e Lusty do álbum "Fear of Fours", com Gabriel e What Sound de "What Sound" e com Gorecki e Trans Fatty Acid de "Lamb". De fora, com muita pena minha, ficou "Between Darkness and Wonder".
Repare-se ainda que Trans Fatty Acid vem terminar o concerto: isto mostra-nos como, de facto, em "5" não deixa de haver um certo retorno àquilo que foram as origens dos Lamb, mais ligados a uma crueza e acidez que, entretanto, se foi suavizando e ganhando outras matizes.
E fica também claro que, ainda assim, "5" está muito longe de ser uma mera repetição daquilo que já fora feito. O público manteve-se de pé a maior parte do tempo, abanando-se muito ligeiramente, mas demonstrando, de qualquer forma, alguma receptividade ou até mesmo algum agrado por canções novas como Strong the Root, Wise Enough, Butterfly Effect, She Walks, Existencial Itch ou The Spectacle. O que continua a desagradar-me nos concertos dos Lamb, e este não foi excepção, é a obsessão que o público tem por ouvir Gabriel, dando a nítida impressão de não se interessar por ouvir mais nada. No entanto, para aqueles que se interessem realmente pela banda, este concerto terá sido bastante positivo.
A meu ver, esta actuação pecou apenas pela escolha de utilizar quase na íntegra todos os samplers que constituem as versões de estúdio das canções. Ao contrário do que aconteceu na digressão de "Between Darkness and Wonder", de que assisti a um concerto no ido ano de 2004, desta vez os Lamb não tocam com uma banda, apenas com um contrabaixista. E esta teria sido uma boa oportunidade de dar ao público um outro lado das canções, mais acústico ou mais simplificado, que talvez tivesse bastante interesse. E estranho mais ainda esta situação ao lembrar-me que Lou Rhodes fez precisamente o contrário com os seus primeiros dois trabalhos a solo: ao passo que em "Beloved One", em estúdio, estava quase sempre sozinha, em palco apresentou-se com banda, invertendo depois essas situações em "Bloom".
É uma opção, esta de usar o samplers, discutível portanto.
Fora isso e o facto do concerto ter durado apenas cerca de uma hora, nada a dizer. Valeu a pena esperar.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lamb no CCB (11.6.11) alguns vídeos



"Wise Enough" do álbum "5" (2011)



"What Sound" do álbum "What Sound" (2001)

domingo, 12 de junho de 2011

A Mal Acabada 6

E tudo nasce de tão mudo
gritando
entre dois instantes de tristeza
ou de estudo

Acordo estranha a mim
como fato esquecido num roupeiro
e saio da cama
sabendo o muito que fica
por despertar


Regina Guimarães

A Mal Acabada

2011, ed. Hélastre

sexta-feira, 10 de junho de 2011

É já amanhã



Lamb: Wise Enough (do álbum "5", 2011)

15:00 showcase na Fnac do CC Colombo
21:00 concerto no Grande Auditório do CCB (primeira parte: Jay Leighton)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Hoje



às 18:30 no Palácio do Marquês de Fronteira (Monsanto), acontece o lançamento de "As Luzes de Leonor", o novo romance de Maria Teresa Horta. Partindo da personagem de Leonor de Almeida Portugal, quarta Marquesa de Alorna, Maria Teresa Horta escreve um longo romance a que não escapam uma formação poética por inteiro, e também feminista.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mal por mal

De acordo com as sondagens publicadas no dia anterior às eleições, a vitória de Pedro Passos Coelho nas Legislativas de ontem não constitui surpresa alguma. As percentagens de votos é que talvez possam surpreender. Relembre-se que o PSD conseguiu 38,63% dos votos, o PS 28,05%, 11,74% para o CDS-PP, 7,94% para o PCP-PEV e 5,19% para o Bloco de Esquerda.

Apesar da nítida impreparação de Pedro Passos Coelho (Nada a ver com a experiência que, boa ou má, era vasta de Manuela Ferreira Leite.), o PSD sobre, em comparação a 2009, 9,52%. Eu penso que isto significa que o problema não era Portugal querer Passos Coelho mas sim, acima de tudo, não querer José Sócrates. Não só o PS desce 8,5% em comparação a 2009, como, desta vez, nem sequer consegue chegar a ter 30% dos votos, o que já não acontecia desde 1991, quando Jorge Sampaio concorreu contra Aníbal Cavaco Silva. O resultado, vergonhoso, não pode propriamente surpreender ninguém: os dois executivos de Sócrates foram demonstrações de pura falta de capacidade de governação, pois, afinal de contas, usou uma maioria absoluta, em 2005, contra os eleitores, denotando um perfil assustadoramente ditatorial e, ao perder essa maioria em 2009, mostrou-se ainda mais incapaz de governar, culminando as suas peripécias com a vinda do FMI para Portugal, de que, aliás, notavelmente Sócrates lavou as mãos, usando, como sempre foi seu costume, doses e overdoses de demagogia, manipulação e arrogância.

Sendo José Sócrates o tipo de homem que não convém ter-se por Primeiro Ministro, verdade se diga que Passos Coelho não é grande alternativa. Com um currículo político diminuto e um exacerbado talento para más escolhas a que, ainda por cima, falta subtileza; Passos benificiou, principalmente, de dois factores: o primeiro, já referido, foi a repulsa que os portugueses ganharam -e com razão -a José Sócrates; o segundo foi uma interessante campanha, arquitectada por alguns Górgias, em que o PSD conseguiu dissimular satisfatoriamente o facto de ter tido um papel importante, senão decisivo, nos eventos políticos que nos conduziram à situação em que nos encontramos. Os portugueses, pouco dados a hipermnésias, provavelmente esqueceram-se que os primeiros três PECs tiveram a participação e a aprovação do PSD e que, se o mesmo não sucedeu com o PEC 4, foi porque, por essa altura, já Sócrates avançava no seu jogo de recuperação de Poder que, afinal, resultou ao contrário.

De destacar, mas não de surpreender, é também a demissão de José Sócrates do cargo de secretário-geral do Partido Socialista. Nunca fui sequer simpatizante deste partido, mas acho que qualquer um de nós, com um pouco de objectividade, pode concluir que faz falta ao PS um outro líder que, se não mais, pelo menos seja de esquerda, num partido de centro-esquerda. Como seria de esperar, há já alguns sussurros não-oficiais sobre novos líderes, dos quais se destacam António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, Francisco Assis, deputado eleito pelo Porto e António José Seguro, eleito por Braga.

A terceira força política mantém-se à direita, com o CDS-PP, que sobe 1,31%. Contrariamente ao que possa parecer, este resultado é, na verdade, muitíssimo insatisfatório para o partido, por mais que os seus representantes digam o contrário. Isto porque, afinal de contas, até ao momento da vitória, muitos dos próprios militantes do PSD não acreditavam em Passos Coelho. Com a direita pouco convicta, seria de esperar uma subida considerável para o CDS e basta recordar que havia sondagens que apontavam para os 13% e Paulo Portas deixava subentendido que esperava mais. Pergunto-me eu se finalmente os portugueses terão percebido que Portas não passa de um sensacionalista que aproveita deixas vindas de todos os partidos, à direita e à esquerda, para fazer oposição; prostituindo, de certa forma, o programa que apresenta. Ninguém mais do que eu gostou de o ver desancar em José Sócrates, mas há que manter os pés bem assentes nesta terra e perceber que há um abismo entre os argumentos que Portas apresenta nos seus debates e as ideias que apresenta no seu programa. Tal como Miguel Sousa Tavares, eu não compreendo por que Portas ainda não se demitiu.

Já a CDU pode cantar de alegria. Apesar de uma subida quase imperceptível, de 0,08% em comparação a 2009, passam para quarto partido da Assembleia, acrescentando um deputado aos 15 que já contavam. Jerónimo de Sousa beneficia assim de se ter mantido firme ao programa e às ideologias do partido, nomeadamente no que toca a ter recusado o acordo com a troika.

O mesmo já não se pode dizer do Bloco de Esqueda, por mais que isso me incomode. A verdade é que foram os primeiros a recusar o acordo, mas isso não apagou o facto de se terem juntado ao PSD e ao CDS-PP na Moção de Censura ao Governo. Entenda-se que, por mais que o Governo o merecesse, todos sabiam de antemão que o resultado seria nulo e, de qualquer maneira, o Bloco juntou-se precisamente aos dois partidos de direita representados na Assembleia. Mais ainda, a junção ao PS para apoiar Manuel Alegre é capaz de não ter agradado a muitas pessoas de esquerda que já andavam de candeias às avessas com o partido de Sócrates. O resultado é a perda de metade dos deputados e a passagem para último partido na Assembleia.

O resultado não é mais do que um "mal por mal". O problema é que, seja como fôr, o futuro não aparenta ser em nada melhor do que o passado. O melhor é irmos todos embora e o último que sair apaga a luz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

25 canções para 25 situações difíceis

1. Para aqueles dias em que só nos apetece morrer: A Fine Day to Exit, Anathema

2. Para terminar um namoro com jeitinho: Thinkin About You, Norah Jones

3. Para terminar um namoro violentamente: Back to Black, Amy Winehouse

4. Para uma declaração de amor difícil: Strange and Beautiful, Aqualung

5. Para uma declaração de amor evidente: Whiskey Thoughts, Greta Gaines

6. Para nos mostrarmos altruístas com aqueles que amamos: Gates of the Country, Black Lab

7. Para dizermos subtilmente que queremos sexo: Body and Soul, Tori Amos

8. Para dizermos declaradamente que queremos sexo: Ooh La La, Goldfrapp

9. Para fazer promessas quando não se tem certezas: Till We Run Out of Road, Jewel

10. Para matar o/a namorado/a: Gun, Emiliana Torrini

11. Para pedir desculpas sinceras: White Flag, Dido

12. Para nos livrarmos de um desgosto amoroso: Ready to Let You Go, Michelle Branch

13. Para aconselhar um amigo com problemas: All Is Full Of Love, Björk

14. Para percebermos o que a vida realmente custa: Breathe Underwater, Placebo

15. Para anunciar uma deliciosa vingança: Empty, Anathema

16. Para manifestar o nosso desagrado com a classe política: Yo George, Tori Amos

17. Para sossegar um/a namorado/a inquieto/a: A Place Called Home, PJ Harvey

18. Para ficarmos felizes por estarmos apaixonados: Jungle Drum, Emiliana Torrini

19. Para falar do futuro: Leave no Trace, Anathema

20. Para delirar numa monumental bebedeira: My Stomach is the Most Violent of All of Italy, The Legendary Tigerman feat. Asia Argento

21. Para falar de desejos não-consumados: Paradise Circus, Massive Attack feat. Hope Sandoval

22. Para ter medo de tudo e acabar a tentar controlar tudo e mais alguma coisa: 8 Easy Steps, Alanis Morissette

23. Para convidar alguém para dançar: Sway, Vanessa Carlton

24. Para convidar um/a desconhecido/a para dançar: Please Don´t Stop the Music, Jamie Cullum

25. Para nos sentarmos e ficarmos à espera da morte: Forgotten Hopes, Anathema

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Purificação sacrificial

89.
Do condenado que me está mais próximo, não sei sequer o nome. Sei que matou num mês de Março e que, no dia em que matou, passou a existir. Foi então que lhe deram

um nome,

catre

e chicote, e lhe dirigiram a palavra para o interrogar

se só havia mar.

Nem tinha intuição suficiente para medir a ironia da pergunta, e


90.

o seu espírito entrou no jardim do meu pensamento, porque a porta imaginária estava aberta, e a comida irreal das imagens de Psalmodia cheirava bem.

Vieram, depois, um a um, quando me viram a fazer um momente de ramos mortos e de madeiras velhas. Desmanchava as naus para que houvesse lume e calor, e convidei-os a que renovassem intensamente pelo fogo os destinos quue traziam.


91.

Para arder, trazem poucas ideias.

E as intenções, e as atitudes, são as habituais:

mão pesada, boca suja, faca e caralho mortais.

Mas acabaram por me dizer, porque eu lhes disse ou lhes inspirei o que deviam dizer, que tinham lançado matreiramente e, por vezes, a grande distância, e corda da forca no Oceano,

que, nas suas vidas, não fora nem cova, nem senda.

Sabiam, todavia,


92.

que a linha de vida de um podia salvar a linha de vida de outro e que a frota, onde não eram mais nem humilhados, nem distinguidos, era o conjunto ermo das naus e sinal da paranóia real "puer natus est nobis, cujus imperium...".

_Onde está o vosso capitão? -perguntou-lhes Psalmodia, e viu-lhes nas cervizes o medo.



Maria Gabriela Llansol

Da Sebe ao Ser

1988, ed. Rolim