sexta-feira, 30 de maio de 2008

hoje

ás 21:30 o Movimento Não Apaguem a Memória, representado por Maria Rodrigues levará ao Palácio dos Viscondes de Balsemão uma sessão sobre o General Humberto Delgado, em que o orador será o Deputado e Investigador Fernando Rosas.
Lá estaremos.
devem mesmo ir ao concerto da Maria de Medeiros.

Está para breve

o concerto de Maria de Medeiros no Centro Cultural de Ílhavo. Dia 6 de Junho, mais propriamente. Um cheirinho sugerido por mim, "Tanto Mar" de Chico Buarque, aqui misturado com a "Grândola" de Zeca Afonso

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Manisfesto Anti- Auto-estradas

Detesto auto-estradas. Muito sinceramente, só lhes vejo uma piada: deixam-nos a sós.
Em tudo o resto, as auto-estradas são um dos piores conceitos da idade contemporânea, e acho que deviam acabar com elas.
O verdadeiro prazer de uma viagem consiste, essencialmente, pelo conhecimento que nunca chega a sê-lo, dos não-lugares pelos quais passamos a caminho dos locais para onde nos deslocamos. É muito melhor ir para um lugar qualquer e pelo caminho passar pelo meio das vilas e das pequenas cidades, ver as ruas, os cafés, as pessoas, do que andar pelo meio do deserto interior onde tudo são árvores e mais árvores.
A auto-estrada é mais rápida. Mas na auto-estrada vemos a belíssima luz dos candeeiros de rua a incidir nas fachadas das casas? Vemos as pessoas a passear, compenetradas na sua vida? Não vemos. E isso não tem piada nenhuma.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

2 poemas de Isabel de Sá

"A cinza de luz é tanta que não posso abandonar-me.

Lento sofrimento este
sem tocar dedos de sombra, queimaduras ou luva.
Ou respirar de outro ser, tão fuído, desolado e frio"
em "Restos de Infantas", 1984





"Um rapaz amarra-se á noite. Queima os dedos em papel de estanho. A chuva violentíssima e a pétala vermelha do braço eclodia. Outro espaço e outro iluminados em cadeia, o olhar do rapaz. Pele de estranho brilho."

em "Nervura", 1984

terça-feira, 27 de maio de 2008

suspensão



and if you ever find the time
i´ll still be waiting

domingo, 25 de maio de 2008

para sair da onda depressiva

em que tenho andado mergunlhado, lembrei-me desta música dos The Strokes, aqui ao vivo no Jools Holland. É a banda de Julian Casablancas no seu melhor, com "Heart In a Cage".

(letra: Julian Casablancas)
Well I don't feel better
When I'm fucking around
And I don't write better
When I'm stuck in the ground
So don't teach me a lesson
Cause I've already learned
Yeah the sun will be shining
And my children will burn

Oh the heart beats in its cage

I don't want what you want
I don't feel what you feel
See I'm stuck in a city
But I belong in a field

Yeah we got left, left, left, left, left, left, left

Now it's three in the morning and you're eating alone

Oh the heart beats in its cage

All our friends, they're laughing at us
All of those you loved you mistrust
Help me I'm just not quite myself
Look around there's no one else left
I went to the concert and I fought through the crowd
Guess I got too excited when I thought you were around

Oh he gets left, left, left, left, left, left, left

I'm sorry you were thinking; I would steal your fire.
The heart beats in its cage
Yes the heart beats in its cage
Alright

And the heart beats in its cage

do álbum "First Impressions Of Earth"

reflexões escusadas de um niilista

Estou sentado nesta mesa faz muito tempo, ainda que eu não saiba quanto. Á minha volta soa repetidamente "Don´t Bring Me Down" de Sia Furler, o que me conduz ainda mais á escusa do pensamento. Julgo que há luz lá fora. E vento. Muito vento. Olho vagamente pela janela, vejo que o vento empurra o arbusto que o sol ilumina. E eu estou cá dentro. Estou cá dentro e estou a cair lentamente ainda mais para dentro. Ontem á noite, aparei a barba para que a cara me ficasse mais luminosa, numa tentativa esquisita de parecer menos triste. Olho-me ao espelho e só me falta a barba, o resto está igual.
Penso provavelmente em ti. Nos restos do teu rosto que não se me apagaram da memória. São esses restos que deslizam pelo meu corpo adiante, que desmancham tudo o que já estava ganho. Fecho os olhos. Tu sais devagarinho das trevas, e eu fico a ouvir-te respirar baixinho, a precisar de alguma coisa. A tua cara deita-se levemente sobre o meu peito. E tudo desaparece, "estou cego, estou cego, estou cego" ou talvez seja porque tudo fica desfeito porque afinal existo, porque nos tornamos num só, porque os teus olhos se tornaram no céu.
Abro os olhos. Percebo que caí mais ainda, que não parei, de facto. Não estou cego, nada está desfeito, existo, não somos um só e os teus olhos ainda são o céu.
IMAGEM:KAZEMIR MALEVICH

se calhar

mataste-me, e nunca mais consigo sair daqui. Se calhar por mais que fique dia eu não serei mais capaz de ver mais nada. A não ser o teu corpo aninhado no meu. E ouvir a tua voz lá longe. E dizer um palavrão enquanto espero que isto passe.

sábado, 24 de maio de 2008

A Eternidade e o Desejo de Inês Pedrosa

SAUDADES DO BRASIL EM PORTUGAL

De Inês Pedrosa já nos chegaram romances tão bons e tão humanos como “Nas Tuas Mãos” ou “Fazes-me Falta”. E este último demarca-se não só pela humanidade e sobriedade do próprio texto, como pela aclamação por parte do público, tendo Marcelo Rebelo de Sousa afirmado que este seria “inquestionavelmente o melhor romance de Inês Pedrosa”. Tudo isto é um problema, porque o próximo romance parece já estar condenado ao fracasso.
E é “A Eternidade e o Desejo” um fracasso? Não. Na realidade, este é um texto mais rápido que qualquer um dos outros (Em particular do que “A Instrução dos Amantes” em que uma tendência barroca acaba por assombrar a história.), sem, por isso, perder qualidade.

A origem está em 2005 na viagem do percurso do Padre António Vieira pelo Brasil, na qual, a convite do Centro Nacional de Cultura, Inês Pedrosa participou. Foi esta viagem (Que está presente no romance.) que inspirou a escritora para, finalmente, nos dar o seu novo romance, seis anos depois do primeiro.
Clara, uma professora universitária portuguesa cega, viaja ao Brasil na companhia do seu amigo Sebastião, o Brasil onde, além de ter ficado cega, perdeu o grande amor da sua vida. Precisamente um professor universitário brasileiro especialista em António Vieira. E foi quando foi ter com ele ao Brasil que foi baleada e perdeu a visão.
No seu retorno, junta-se á viagem do percurso do Padre António Vieira, cujas palavras a guiam pela descoberta do sentido da vida. É ao longo deste percurso que a sua relação com Sebastião, que está apaixonado por ela se vai destruindo lentamente, e que Clara percebe que é no Brasil, mais propriamente na Bahia que tem que ficar.


É aqui que o romance mais peca: de repente, é como se Portugal fosse só defeitos e o Brasil fosse a terra da virtude. É um fanatismo um pouco incompreensível: eu reconheço que Portugal é de facto um país deplorável em muitos aspectos, mas não é como se o Brasil fosse tão perfeito assim: afinal, se os portugueses não sabem rir, os brasileiros não sabem chorar, que também faz falta.
Em tudo o resto, nunca se consegue duvidar da veracidade destes personagens, dos seus sentimentos e das suas reacções.
É uma leitura absolutamente recomendável, aparte da capa que resulta mesmo muito mal (Parece um livro técnico.).

Veredicto: 19/20

sexta-feira, 23 de maio de 2008

something must break



acho que não sei bem o que pensar. afinal porque estou aqui? ou pior, porque estou a escrever isto? nem eu sei. para quem estou a escrever? não consigo distinguir. acho que estou a escrever por e para muita gente. que me confundem. "vivo do que me dão, nunca falto ás aulas de esgrima, todos os dias agradeço a deus esta depressão que me anima". e o que me dão? bela pergunta. certamente uma depressão, mas que não me anima, limita-se a manter-me aceso.
"got a love song in my head killing us away"
apetece-me sair daqui, e vaguear pela estrada, até já não fazer a mínima ideia de onde estou. fecho os olhos e com toda a nitidez vejo-me fazer sexo contigo. nem sei bem a que esfera essa imagem pertence. vejo o teu corpo a deslizar em cima do meu extase. vejo a luz da lua a entrar pela janela, a caír sobre a tua pele, não sei se é branca ou se é da lua. "the lenghts that I would go to, the distance in your eyes." aqui estou eu, de pé, á espera que a chuva pare, talvez apareças assim. "with your halo slippin down". só gostava que alguém me dissesse o que fazer, eu não sei. quero ficar aqui parado á espera de perceber o que tenho. que coisa é esta? quero aproximar-me de ti. "and i swear that I don´t have a gun". Levem-me daqui. os teus olhos abandonam-me lentos pela rua, perco-te o rasto, o impacto imediato, a sensação, de "quando se ateia em nós um fogo preso".
Deixo-me vaguear, e fico enebriado de pensar em ti. "well, whatever, nevermind"



Referências:

"Esta Depressão Que me Anima" (Maria Rodrigues Teixeira/ A Naifa)

"The Love Song" (Marilyn Manson/ Marilyn Manson, John 5)

"Losing My Relligion" (R.E.M.)

"The Noose" (A Perfect Circle)

"Come as You Are" (Kurt Cobain/ Nirvana)

"Fogo Preso" (Vasco Graça Moura/ José Fontes Rocha)

"Smells Like Teen Spirit" (Kurt Cobain/ Nirvana)







PS: Peço desculpa a quem ler isto. Tenho que perder este hábito de desabafar assim.


(Belíssima) Imagem: "Postmortem Bliss" de Floria Sigismondi

quinta-feira, 22 de maio de 2008

more or less some time ago


Hoje é uma noite inteira
Vesti-me de preto, estou drogada,
encosto-me, húmida, a uma esquina escura,
com vómitos, e a tremer. Vejo rasgadas
as minhas meias negras, nos joelhos.
Terei caído. A cidade oscila,
os olhos vêem-na tremer, sem luz.
Seguro ainda, com estas garras,
a bolsa que roubei no bar.
Alguém me apalpa e vai ferir-me, rio,
rouca, de baba na boca, e oscilo.
Roubaram-me agora a bolsa, grito
roucamente, e caio de novo no
passeio, muito branca.




ALICE CORINDE, 2º de 6 inéditos publicados na colectânea "Amor Luxúria e More", 1985
imagem: RAY CAESER

quarta-feira, 21 de maio de 2008

contratempo [poema(?) escrito enquanto eu não tinha paciencia para ouvir uma aula]

O tempo urge. Doi-me. Doi-me. Quero-te mais do que posso. Perco-me. O tempo passa. Tu, porque ficas? Porque não corres para fora do meu peito? Tanto te quero sentar á minha frente, dizer-te estas coisas. "Quero-te tanto que não te sei querer."


Maio. 2008
(última frase com referência a "Memória de Elefante" de António Lobo Antunes, "amo-te tanto que não te sei amar" (1979))

terça-feira, 20 de maio de 2008

foda-se

11:33





Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me


Where you could answer my questions
The way you can show your repentance
I’ve wasted my time no I know more is less...
I guess... I’ll choose the logic way.


Next time you’ll have time
to think why l.o.v.e. is a hard, hard think to keep
(hard, hard thing to keep)
Then you’ll understand what I’m saying


Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
‘Cos again and again and again you’ve broke my heart


I wanna know how you’re bringing me so down
‘Cos it ain’t nobody’s love that can save me
I wanna know how you’re bringing me so down
‘Cos again and again and again you’ve broke my...


So try not regain my attention,
it’s late for your useless redemption
I’ve wasted my life and now my heart is a mess...
I guess... I’ll choose the tragic way
Next time I have time to think why L.O.V.E.
Is a hard, hard thing to keep,
Then you’ll understand what I’m singing


Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help
you’ll understand what I’m singing
You’ll understand what I’m singing

I wanna know how you’re bringing me so down
‘Cos it ain’t nobody’s love that can save me
I wanna know how you’re bringing me so down
‘Cos again and again and again you’ve broke my...


‘cos everybody tell me how to love
I can run to you right now

‘Cos again and again and again you’ve broke my heart
I wanna know how you’re bringing me so down:

Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me
Ain’t nobody’s love that can help me


SÓNIA TAVARES, para "AM-FM", The Gift, 2006
Imagem: FLORIA SIGISMONDI

segunda-feira, 19 de maio de 2008

un chien andalou

Argumento dividido entre Luis Buñuel e Salvador Dalí, "Um Cão Andaluz" é o percursor e o mais mediático filme surrealista. Buñuel sonhara com uma lâmina a cortar um olho, Dalí com uma mão que deitava formigas. Cruzaram os sonhos. Buñuel alegava que ambos declinaram qualquer imagem que pudesse ter uma explicação racional. Mas, como sempre acontece, é pouco claro se realmente assim foi. Muitas imagens parecem fazer sentido e ter de facto um determiando objectivo. Burros estão sepultados em pianos que arrastam padres. A mulher tem a axila depilada enquanto o homem cospe pelo. Os anos passam mas as pessoas estão no mesmo sítio e não envelhecem. Este é um filme brutal. E essencial para qualquer um que queira perceber em pleno o surrealismo.

domingo, 18 de maio de 2008

Picabia/ Tzara: Exemplos de Dadaísmo





Onde nós vivemos as flores dos relógios pegam fogo e as plumas circundam o brilho na distante manhã de enxofre as vacas lambem as rosas de sal
meu filho
meu filho
deixa-nos sempre arrastar pela cor do mundo
que parece mais azul que o metro e a astronomia
somos demasiado magros
não temos boca
as nossas pernas são demasiado hirtas e batem uma na outra
as nossas caras não têm forma como as estrelas
pontos de cristal sem força basílica queimada
louca: as fendas em zig-zag
telefona
morde a manipulação liquefeita
a arca
escala
astral
memória
para o norte através da sua dupla fruta
como carne crua
fome fogo sangue


poema: TRISTAN TZARA, o grande lamento da minha árvore da obscuridade

imagem: FRANCIS PICABIA, o olho cacodylato

hoje

é bom que estejamos todos de LUTO.

sábado, 17 de maio de 2008

encontros com poetas do porto

A Fundação Eugénio de Andrade, pela segunda vez, está a promover ciclos de encontros com poetas da capital do Norte. Fica aqui o programa, imperdível, claro:

17 de Maio: Rui Lage
31 de Maio: Rosa Alice Branco
7 de Junho: Inês Lourenço
14 de Junho: António Barbedo
21 de Junho: Isabel de Sá
28 de Junho: António Rebordão Navarro
5 de Julho: Daniel Maia-Pinto Rodrigues
12 de Julho: José Emílio-Nelson
19 de Julho: Daniel Jonas
26 de Julho: Helga Moreira

o poema



Despertei com o espírito liberto de qualquer pensamento.
Afastaste a boca do meu rosto
como se recolhesses as rodas do avião depois de levantar e
despedimo-nos daquele radar que nos protegeu e
ao mesmo tempo nos prendeu a Lisboa.





João Miguel Queirós ("Veludo 038")
Imagem: George Braque

sexta-feira, 16 de maio de 2008

back to grunge

Não é back to black, mas quase podia ser. Há quase dois anos, percebo agora, que ouço muito pouco aquelas músicas daquelas bandas a que chamamos grunge. Agora apetece-me voltar. E estas são as obrigatórias:

PEARL JAM
Black
Given To Fly
I Am Mine
Come Back
Better Man
World Wide Suicide
Once
All Or None
Low Light
Rearviewmirror
Even Flow
Red Mosquito
Light Years
Pilate
Alive
NIRVANA
Smells Like Teen Spirit
You Know You´re Right
In Bloom
Lithium
Polly
Sliver
Rape Me
Something In The Way
All Apologies
Paper Cuts
Lounge Act
Blew
Come as You Are
Heart Shaped Box
PUDDLE OF MUD
Blurry
Control
Abrasive
Time
You Don´t Know
She Hates Me
Psycho
Basement
Cloud9
Famous
BLIND ZERO
Lowstrteetsidewalksequence
Nothing Else Goes
Gasoline Boy
Big Brother
Criminal Grace
Wish Tonight
Day1
Toxic
Keepin In Wonder
Lately
About Now
Absent Without Permission
Turn It On

IMPORTANTÍSSIMO

Já estreou em Cannes a versão cinematografica de um dos melhores romances de José Saramago. E se o Nobel lhe chamou "Ensaio sobre a Cegueira", Fernando Meirelles, já conhecido pela "Cidade de Deus", chamou-lhe simplesmente "Blindness". A protagonista é uma das minhas actrizes preferida: Julianne Moore, no papel da Mulher do Médico. Estou á espera para ver...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

creio que

sonhei contigo ontem. Com percorrer o teu corpo todo com as minhas mãos. Encostar a cara ao teu peito e sentir o cheiro da tua pele misturado com o gel de banho.
Creio que algures, acordei.

a fénix (ou texto dito poético que encontrei entre apontamentos de história de arte)



Rendidos aos mais íntimos desejos do sangue, os nossos corpos colidem; o teu cheiro mistura-se com o meu cheiro, num só cheiro que depois se instalará no quarto. A perfeição é teres no meu corpo a mais exacta correspondência com o teu. É a fundição da nossa pele que resgata aos deuses a inveja do que nós temos e eles não.
Num último espasmo de prazer, a parede desaba e por trás dela uma luz cose-me na boca um sorriso. Nesse momento, eu sei tudo o que não se pode saber.
Já deitados lado a lado, os lençóis enterram-nos, moribundos. A luz filtrada escreve na cabeceira da cama os nossos nomes acima do nosso ano de nascimento e do nosso ano de morte.
Depois, a simpatia do silêncio permite que se ouça a nossa respiração, prenuncio do renascer que vem provar a existência efectiva do mito da Fénix.
Abraçados um no outro, o silêncio grita em nossa vez. A tua boca que não se move canta-me uma trova já esquecida na Idade Média, cuja linguagem arcaica que não sei falar consigo compreender.
Quanto mais os teus olhos me fixam, mais eu esqueço aquilo que há pouco aprendera. São os teus olhos Hugolino e os meus os filhos que te acompanham na condenação injusta da tua fome.
Logo a seguir é a noite que se aproxima dizendo-me com os olhos que tens que partir.
Das estantes caem todos os livros que se empilham na porta, para nos protegerem. Baltasar e Blimunda, Osvaldo Campos e Maria London Loureiro, o príncipe Nekliudov e Katiucha Maslova, Nastenka, Gregor Samsa, o Psiquiatra, todos eles fogem das respectivas páginas para impedir que a noite te escorrace do quarto a que pertences.
Por alguma razão que a todos escapa, tu sorris. Dos céus caem as estrelas. Ridicularizada pela vulgaridade do seu manto, a noite aninha-se sobre a cidade, e nesse momento conhecemos a ampliação da paz.
Encolhes-te, encostas-te no meu tronco, e os meus braços apertam-te contra mim, certificando-se que não foges. Ficamos para sempre assim, fiéis á convicção da madrugada.
Nessa lealdade, desfalece a noite, criada obediente do Cronos a quem, matreiros, conseguimos escapar.
Lentamente, o sono fecha-nos as pálpebras sobre a vista turva. Em breve chegará a manhã. Podem ter-nos tirado a morte, mas nós ficámos com a luz.




Porto, 28 de Fevereiro de 2008
Imagem: Graça Martins- "A Última Ceia"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

dragon





Don't tell me
A woman did this to you
Candy lies
Candy lies
Candy lies

You touched my hand
I felt a force
You called it dark
But now I'm not so sure

Just stay awhile
Stay awhile
Stay awhile
Why don't you
Stay awhile
Stay awhile
Stay awhile

Cause your wild card boy needs playing
Don't believe the lie
Your Dragon needs slaying
Won't you lay here with me
And I will bring
Kisses for the beast
Lay here with me
Here with me

Don't tell me
A woman did this to you
Candy lies
Candy lies
Candy lies

When I look back over
Documents and pages
Ancient savageries
Christened those inflated.
Now it has come to light
The Gods they have slipped up
They forgot about the power
Of a woman's love

Just stay a while
Stay awhile
Stay awhile
Why don't you
Stay awhile
Stay awhile
Stay awhile

Cause your wild card boy needs playing
Don't believe the lie
Your Dragon needs slaying
Won't you lay here with me
And I will bring
Kisses for the beast
Lay here with me
Here with me
Don't tell me
A woman did this to you
Candy lies
Candy lies
Candy lies
Candy lies
Forgive my
Candy lies

Letra: TORI AMOS para American Doll Posse (2007)
Imagem; BRANDON HERMAN

terça-feira, 13 de maio de 2008

Ornamento e Essência: A Bipolaridade na Música dos The Gift

Nunca, ao falar de música em Portugal se poderia não falar dos The Gift, ou não estivéssemos a falar de uma das bandas mais originais e coesas na paisagem musical deste nosso país.
Este é um percurso difícil, mas triunfante. Quando, em 1994, os Gift fazem uma edição de autor do seu EP “Digital Atmosphere”, ninguém podia prever que efectivamente a banda fosse capaz de continuar. Isto porque, e ainda que este EP seja marcado por uma certa hesitação, nota-se já que é um projecto arrojado e sem precedentes no que toca a composição e principalmente a arranjos. O que em 1998 irá tornar-se muito óbvio com o álbum “Vinyl”, é que nos The Gift existem duas vertentes contínuas: a essência e o ornamento. É justo dizer que estamos perante música alternativa, mas é igualmente justo dizer que estamos perante uma tendência mais barroca desta. Trazendo na bagagem as influências de Bjork, Portishead, Massive Attack ou Divine Comedy, o resultado era absolutamente impressionante.
Tudo nos The Gift é calculado, o maximalismo e a obsessão pelo detalhe a isso obrigam: a quantidade infinita de sons que se sobrepõem e complementam, as composições intensas, a fortíssima voz de Sónia Tavares e as letras vagas e no entanto impactantes (Principalmente as da vocalista.).
E se “Vinyl”, primeiro álbum com edição comercial, continha canções que pareciam o máximo que uma banda pode dar, como sejam “Time”, “Truth”, “My Lovely Mirror” ou “Weekend”, “Film”, o álbum de 2001, viria a provar que ainda há mais e melhor, e assim nos surgiam mais pérolas como “Front Of”, “Me Myself and I”, “Water Skin”, “So Free”, “Actress” ou “Next Town”.
“AM-FM”, álbum de longa produção, fazia a divisão exacta entre o íntimo e o eufórico, nos dois lados correspondentes a dois CD que compunham a caixa. E este parece ser um ponto de fim de ciclo, além de ser mais um passo evolutivo no percurso da banda de Alcobaça. E esta ideia de fim de ciclo é confirmada por “Fácil de Entender”, o registo ao vivo at last. Mais do que a gravação de um concerto, “Fácil de Entender” é um espectáculo pormenorizado e uma explosão estética visual a fazer justiça á música. São apresentados alguns dos momentos mais significantes de “AM-FM”, como “Cube”, “11:33”, “Pure”, “Red Light” ou “Wallpaper”, além de outros mais antigos, agora em versões muito diferentes.
Depois de “Fácil de Entender”, há que esperar pelo que aí vem. Pelo caminho, surge “In Repeat”, música da colectânea “Lisboa”, de várias bandas. Uma música de sonoridade electrónica, noctívaga e etérea, para ouvir in repeat.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

in repeat


Can you wait there for so long
Can you be there if I fall
Can you fall and stay strong
Can you dry your eyes and laugh
Can you show me your heart once more
Can you breath a new life now
Can I freeze this moment with you
Can my hand fix your heart and you
Did you ever touch the ground
Can we sing out of time in repeat,
and look both of us underneath
or forget and reset
Cause the beat will change your life,
and the sweat will turn you on,
and your veins will shine outside...
letra SÓNIA TAVARES (The Gift- participação na colectânea LISBOA, 2007)
imagem ROBERT MAPPLETHORPE (auto-retrato de 1975)

domingo, 11 de maio de 2008

Mulholland Drive

do mestre absluto David Lynch, a cena do Clube Silencio.

"NO HAY BANDA
THERE IS NO BAND!"

Deus telefona a Bush

em American Dad. Uma conversa no mínimo hilariante...

A Naifa: Uma Inocente Inclinação Para o Mal

ESTA POP QUE TEM FADO

Mesmo que os A Naifa fossem uma banda péssima, havia sempre que lhes dar crédito por uma coisa: por arriscarem muito mais do que o comum das bandas portuguesas.
Isto de juntar a pop com o fado num país de puristas, onde alguns fadistas mais inovadores como Mísia ou Cristina Branco já são rotuladas de não-fadistas, é algo que não lembraria a alguém que goste de jogar pelo seguro.
No entanto, há que dizer que a esta junção pouco segura, há que acrescentar que foi bem-sucedida: os Naifa são uma das melhores bandas portuguesas da actualidade.
Depois da estreia com “Canções Subterrâneas”, chega “Três Minutos Antes da Maré Encher”, um álbum que pontuava em relação ao primeiro por uma ainda maior profundidade, e por um muito maior á-vontade nas movimentações pouco ortodoxas que os definem.


Em 2008, é a vez de “Uma Inocente Inclinação Para o Mal”.
O álbum abre com "Um Feitio de Rainha", um tema mais folclórico que fadista, até na letra que, apesar de não se poupar a análises sociais do nosso pequeno país, percorre também um caminho mais popular. Isto não é pejorativo. É um apontamento. A verdade é que "Feitio de Rainha" é uma muito boa canção. Ainda que não seja tão boa como "Filha de Duas Mães", que se segue, num ritmo frenético que quase podíamos aplidar de futurista; ou como "Na Página Seguinte", canção tristíssima um pouco a fazer lembrar a letra de "Fé", do álbum anterior, mas desta vez com um texto mais fatalista.


"Esta Depressão que me Anima" é possivelmente a melhor performace de Mitó, a vocalista, uma vez que consegue uma profundidade tão forte como delicada. Isto para não referir a letra, como todas escrita por Maria Rodrigues Teixeira, que prima pela ironia e pela subtileza.
Outros temas de referência sao "Ferro de Engomar", impressionante, com um toque quase de flamenco. "Dona de Muitas Casas" é também interessante pela junção da letra com a música.
A lentidão de "O Ar Cansado dos Meus Vestidos" marca os mintuos mais depressivos do álbum, ao contrário de "Pequenos Romances", que se destaca pela tonalidade expedita com que Mitó diz que se descartou do amor.
Resultado final: "Uma Inocente Inclinação Para o Mal" não desilude definitivamente. Aliás, é um álbum que parece ir mais a fundo no que toca ás raízes (Os temas mais folclóricos como o referido "Feitio de Rainha" ou "Nas Tuas Mãos Vazias".), o que só mostra que o "nada temer" é uma boa filosofia.
Esta nova série de canções termina com "Apanhada a Roubar", um pouco a lembrar uma espécie de fado malandro, e também um tema mais minimalista e pouco exaltado, "uma ligeira dor de cabeça", e um final excelente.
Um destaque para a direcção de arte, belíssima, em especial a capa, a fazer lembrar trabalhos inciais ("A bispalhada".) da artista Isabel de Sá.


Veredicto: 18/20

sábado, 10 de maio de 2008

Nada melhor

quando se está deprimido do que ir fazer resgates. Eu hoje resgatei esta música da Natalie Imbruglia, que já não houvia há que anos. No entanto, devo dizer que ainda soa bem, estranhamente. É certo que o percurso de Imbruglia é muito incerto, oscilante e escorregadio. Mas esta música é um clássico. "Torn" foi a canção que a deu a conhecer ao mundo, e que eu odiei. Quando todos a esqueceram, eu passei a gostar, ou talvez tivesse a ver com a fase em que estava... enfim, tudo isto vai dar ao facto de estar a aborrecer-me a mim mesmo. O video é a fugir para o estúpido, mas passa. Boa mesmo é a música.

"I thought I saw a man brought to life
He was warm
He came around
And he was dignified
He showed me what it was to cry

Well you couldn't be that man I adored
You don't seem to know
Or seem to care
What your heart is for
I don't know him anymore

There's nothin' where he used to lie
My conversation has run dry
That's what's going on
Nothings right
I'm torn

I'm all out of faith
This is how I feel
I'm cold and I am shamed
Lying naked on the floor
Illusion never changed
Into something real
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn
You're a little late
I'm already torn

So I guess the fortune tellers right
I should have seen just what was there and not some holy light
But you crawled beneath my veins
And now, I don't care
I have no luck
I don't miss it all that much
There's just so many things
That I can't touch
I'm torn

There's nothin' he used to lie
My inspiration has run dry
That's what's going on
Nothing's right
I'm torn"

Do longínquo álbum "Left Of The Middle".

bird gehrl


I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly

Antony Hegarty para "I Am a Bird Now" Antony and The Johnsons (2005)
Imagem: Izima Kaoru, "Aure Atika Wears Paul & Joe" (2001)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guns kill

Cena da série de desenhos animados "American Dad". Excelente

A Hero Never Dies de Johnnie To

BORDERLINE CASE

Se houvesse um daqueles inquéritos estúpidos sobre cinema em que a pergunta fosse qual era o filme mais tenso que já vimos na vida, provavelmente, eu responderia que era “A Hero Never Dies” de Johnnie To.
Isto porque de facto, a característica que mais ressalta á vista do espectador é que todo o filme se desenrola numa atmosfera muito borderline, quase demasiado. O conceito de uma situação de fronteira, de uma situação-limite é certamente muito familiar ao cinema, á literatura, e á arte em geral. Mas, neste filme, todas as situações parecem ser de fronteira.
E, se por vezes, isto é uma qualidade, por vezes é um excesso, e logo, um erro.

Mas sejamos específicos: os primeiros e arrastadíssimos momentos do filme, que parecem ser o início da história, são, na realidade, uma contextualização. Vemos pela primeira vez Jack e Martin, dois chefes de dois gangs rivais que defendem importantes homens de negócios, rivais, claro. E se percebemos que estão em sintonia no que toca a competência e a ferocidade, também percebemos que o choque, além de inevitável, será um momento intenso. E é. Quando este derradeiro confronto se dá, num motel, To sabe como fazê-lo em termos de ritmo, de realização, de encenação, de aspecto visual, só não sabe fazê-lo no que toca a tempo. Trocado por miúdos: esta sequência é o verdadeiro início do filme. É um momento de verdadeira e justificada tensão, mas, para início de filme, é demasiado longo, e, em vez de parecer um começo, parece um final.
A história desenrola-se a partir daqui. Há um realce aos papéis das mulheres destes dois homens, que se revelam verdadeiras heroínas, e ainda que tenham caminhos opostos, há o fim em comum.
E este fim há-de ser o impulso para o verdadeiro clímax do filme, que não é, como poderia parecer, a cena do motel.
Há que referir a forma como To retrata os homens de negócios, grandes negócios da China, literalmente, em que vale tudo, de sangue a violência, e, principalmente, a traição. E da traição, vem o passo mais lógico: a vingança por parte de quem é traído.
Espremido tudo, há os dois pólos de qualidade no filme: a parte má passa pelo arrastamento de várias cenas que chegam a ser irrealistas (A cena dos copos de vinho, ou no motel, onde todas as pessoas são baleadas no mesmo lugar- abaixo do ombro.); e por outro lado, a parte boa que passa pela humanidade e pela força emotiva tremenda que To consegue colocar nos personagens, muito também pelo excelente desempenho dos actores e das actrizes.
Antes de terminar, gostava de dizer que acho uma excelente ideia a reabertura do Cinema da Trindade, ainda por cima para passar filmes do Indie Lisboa. Só lamento que seja apenas por oito dias. É uma pena que não se utilizem aquelas duas salas para passar bons filmes o ano todo.

Veredicto: 17/20

quinta-feira, 8 de maio de 2008

2 anos de Camel e de Coca Cola

big brother



They bang,
They drown,
They look for the man
They run, they hide,
they search fraternize
They crawl,
They bite,
They rise despite
They beam,
They feel,
They fight, big brother

They meet billionaires,
jump upon favours
React, silent, slowly, believe
They catch, arrest,
crumble, tonight
They dry, they dye,
withdraw, grave full

Won't you beat me please
Hope you feel some relief
Find you knocking, knocking on the past
In your gloomy dreams
Sure of dying away

They suck,
They seek,
drop full and tick
They scape
trough the tunnel,
satisfied, moralized
They drug,
They doubt,
gnawing a mankind
They kill,
They still
supervise,
big brother

Hide and
run fast,
got no time
to rest


That guy, long hair,
tough boots, danger
Communist, terrorist,
enemy, nigger
Kill the beast,
rest in peace,
loved God,
pull the trigger


Won't you shoot me
Please
Blame it on me
For the fact that you
Cannot avoid
Feeling me
Sure of dying away







MIGUEL GUEDES, para "TRIGGER", Blind Zero, 1995
Imagem: "O Crítico de Arte" de RAOUL HAUSMANN, 1919

IMPORTANTE: Peço desculpa pelo José Figueiras estar a falar no início do vídeo linkado. O que interessa é a música

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Hoje

Inês Pedrosa estará no Teatro Carlos Alberto a falar sobre a obra da escritora portuense Agustina Bessa Luís. Importante ouvir, afinal, trata-se de uma das nossas boas escritoras a falar sobre uma das mestras da literatura.

(Ainda) por falar em bandas portuguesas


há que não esquecer os A Naifa. São um bom exemplar de uma banda para quem ser português é importante, mas não essencial. Isto porque a génese da sua música é a fusão entre o fado e uma pop melancólica: com toda a naturalidade, a guitarra portuguesa toca a paredes meias com a bateria e o baixo. Também não utilizam certos tradicionalismos por norma associados ao fado. Nomeadamente no que toca ás letras. Isto porque na música dos Naifa, as palavras estão sempre ligadas a um universo simultaneamente urbano e interior: esta associação poderia ser literaria- afinal, é normal que num ambiente urbano, movimentado, rápido e impessoal,as pessoas acabem por se defender fixando-se no seu próprio interior. Entre os poetas que já escreveram para os Naifa contam-se Rui Pires Cabral, José Miguel Silva, Carlos Luís Bessa ou José Luís Peixoto.
O novo álbum, "Uma Inocente Inclinação Para o Mal", sucessor do excelente "3 Minutos antes da Maré Encher", já está publicado. A ouvir, mesmo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

quero ser um dragão

Na verdade, recriar

não deixa de ser criar. Salvador Dalí fez do corpo da Vénus de Milo um armário com gavetas, não foi. Na música, o conceito de cover é mais do que usual. Algumas das minhas preferidas, não necessariamente por esta ordem:



Tori Amos: "Raining Blood" (cover dos Slayer)
Do metal ao piano quase solo. Tori Amos é um génio, disso não se duvide, mas esta cover bate todos os recordes. Ouçam aqui



Placebo: "Running Up That Hill" (cover de Kate Bush)
A banda de Brian Molko torna o desespero dramático duma das mais importantes cantoras da história da pop num momento absolutamente deprimente. Imperdível, claro. Ouçam aqui



Jamie Cullum: "Everlasting Love" (cover de Robert Knight)
Cullum faz uma versão mesmo romântica (No bom sentido.) desta canção que podia ser uma desgraça. Ouçam aqui



Marilyn Manson: "Sweet Dreams (Are Made Of This)" (cover dos Eurythmics)
Música emblemática dos Eurythmics, Manson parece criar a antítese dos conceitos desta banda. Annie Lennox será sempre Annie Lennox, mas Manson não se sai mal. Ouçam aqui



Sia: "I Go To Sleep" (cover dos The Pretenders)
Sia Furler aventura-se pelas covers, primeiro ao vivo, em "Lady Croissant", e depois em estúdio no seu álbum mais recente. A cover é dos Pretenders, e fica muito bem assim. Ouçam aqui



This Mortal Coil: "Song To The Siren" (cover de Tim Buckley)
Talvez a versão desta banda seja mais conhecida do que original, mas "Song to the Siren" é mesmo de Tim Buckley. Liz Fraser está, claro, no seu melhor. Ouçam aqui

segunda-feira, 5 de maio de 2008

fado alexandrino


Amanhã chegaste à minha vida
e disseste bom dia e era noite lá fora
puseste-me na mesa o prato da comida
acenaste-me adeus e não te foste embora

E como era manhã vestiste o meu pijama
tomaste um comprimido para dormir acordada
como era hora do almoço chamaste-me para a cama
como era hora da ceia bebeste-me ensonada

E quando temos frio aquecemos à lua
as mãos que penduramos na corda de secar
quanto mais roupa trazes, mais eu te sinto nua
e quanto mais te calas mais te sinto cantar


poema: ANTÓNIO LOBO ANTUNES
imagem: RENÉE MAGRITTE

domingo, 4 de maio de 2008

Absolutamente obrigatoria

esta versão ao vivo de "Dragon", o tema que encerra o mais recente álbum de originais dessa minha Tori Amos. A personagem é Santa, na fase em que avalia os seus erros. Ao que parece, há um DVD ao vivo á vista. Eu cá espero que sim. Estes concertos da American Doll Posse Tour nunca podiam não ser publicados. Seria crime e maldade.

sábado, 3 de maio de 2008

the noose



So glad to see you well, overcome them
Completely silent now
With heaven's help
You've cast your demons out
And not to pull your halo down
Around your neck and tug you off your cloud
But I'm more than just a little curious
How you're plannin' to go about makin' your amends
To the dead
To the dead



Recall the deeds as if they're all
Someone else's
Atrocious stories
Now you stand reborn
Before us all
So glad to see you well
And not to pull your halo down
Around your neck and tug you to the ground
But I'm more than just a little curious
How you're plannin' to go about makin' your amends
To the dead
To the dead


With your halo slippin' down
Your halo slippin'
Your halo slippin' down
Your halo slippin' down

Your halo slippin' down
(I'm more than just a little curious)
Your halo slippin' down
(How you're plannin' to go about makin' your amends)
Your halo slippin' down
Your halo's slippin' down to choke you now.


letra: A PERFECT CIRCLE para "THIRTEENTH STEP"
imagem: BERNARD PLOSSU

(para ouvir, clique aqui)

Falando de músicos portugueses

há que não esquecer os Blind Zero, claro. Com um percurso muito coeso, que começa em 1995 com "Trigger" e se prolonga até á data, sendo a mais recente publicação é o álbum ao vivo "Time Machine (Memories Undone 1993-2007)". Do mais recente álbum de originais, "The Night Before And a New Day", sai este "Shine On", aqui em versão ao vivo. Para que não nos esqueçamos de que em Portugal se faz, efectivamente, boa música. A letra de Miguel Guedes (voz) destaca-se pela dimensão metafórica (O que aliás, é muito habitual na sua escrita.) que cola na perfeição na composição de caracter obsessivo/compulsivo. Isto são boas ideias.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

a fadista



A palavra cantada, bem cantada, é duplamente poética. Em Portugal, Amália foi pioneira no que toca a ser selectiva com as palavras que cantava, não desde o início (Marcado por um reportório mais popular, que, na minha humilde opinião, é menos interessante.), mas a partir do momento em que começa a cantar David Mourão Ferreira, Pedro Homem de Mello, Vasco de Lima Couto, Cecília Meirelles e até Camões. No entanto, se há pessoa que desde sempre teve essa preocupação com a palavra, essa pessoa foi Mísia, conterrânea do Porto, dona de uma voz brutal que já interpretou Vasco Graça Moura, Lídia Jorge, Agustina Bessa Luís, José Saramago, António Lobo Antunes, Mário Cláudio, Rosa Lobato de Faria, João Monge, Pedro Tamen, Sérgio Godinho, entre muitos outros. Actualmente pronta a lançar o seu próximo álbum, “Lisboarium”, fecha assim o ciclo de “Drama Box”, o seu melhor álbum até á data (Acho eu.) onde a palavra é, como sempre, um dos elementos fulcrais.
Fica a sugestão.