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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Biophilia

Com lançamento previsto para 27 de Setembro deste ano, 'Biophilia' é o sétimo álbum de originais de Björk, e, pelo que pudemos já ver dele -e não foi pouco- pode muito bem tratar-se de um dos álbuns mais complexos e experimentais duma cantora que nunca foi simples. Acompanhado de um ambicioso projecto multimedia, continuando o lado visual que acompanhou sempre o trabalho de Björk, 'Biophilia' explora a teoria da biofilia, que defende que há uma ligação instrínseca e nata entre o Homem e os restantes sistemas biológicos. Assim, as canções contam com referências aos mais variados fenómenos naturais que, está prometido, poderemos ver com mais detalhe nos vídeos das canções -e haverá um vídeo para cada uma. Pelas amostras entretanto chegadas a nós, Crystalline, Virus e Cosmogony, o facto é o que álbum promete. Se podemos dizer que na música de Björk houve sempre um interesse fágico pela natureza, principalmente desde 'Medulla' (2003), é caso para pensar que esse interesse tomou agora as rédeas da criação. O projecto é ambicioso, mas miss Gudmundsdottir sempre deu mostras de estar à altura de qualquer projecto. Ficamos à espera, e já não falta muito, felizmente. Teremos novo concerto em Portugal, para 2012? Esperemos que sim, esperemos que sim.
Aqui abaixo, ficam Virus, Moon (As outras duas já foram aqui postadas anteriormente.):






sexta-feira, 18 de março de 2011

The Gift: Explode

QUARTO CRESCENTE

Finalmente, chega-nos às mãos o quarto álbum de originais dos The Gift. O último, "AM-FM" era de 2004, e neste hiato de sete anos, os The Gift lançaram ainda "Fácil de Entender", um CD-DVD ao vivo, que fazia uma espécie de apanhado de algumas das melhores canções desde "Vinyl", de 1998. Estava visto que esta colectânea expressava uma certa vontade de iniciar um novo ciclo, que se sentia já nos dois inéditos que tínhamos no álbum ao vivo, "654" e "Nice and Sweet".
O projecto Amália Hoje reuniu Nuno Gonçalves e Sónia Tavares a Paulo Praça e Fernando Ribeiro. É discutível a qualidade desse álbum, porque além do álbum em si, houve todo um aproveitamento dele que em muito condiciona a percepção que se poderá ter dele.


Ainda assim, é em tempo-record que nos chega este "Explode". E, logo a começar pela capa, vemos que definitivamente, alguma coisa mudou.
Ainda que pessoalmente eu ache a capa muito desagradável, sendo objectivo, penso que ela dá testemunho da nova fase que agora se inicia para os Gift. A sessão fotográfica, feita na Índia, dá-nos conta de um universo colorido ao ponto do fantasioso e, de certa forma, hedonista.
Quando começamos a ouvir "Let It Be By Me", percebemos a ligação entre a capa e a atmosfera que se ouve. Estes não são os Gift que tocavam "Me, Myself and I" nem "11:33", e também não são os Gift que ouvíamos em "Wake Up" ou "Real (Get Me For)".
Independentemente disso, a qualidade e a entrega que se sente nestas canções é a mesma de sempre: total.
A primeira coisa que se sente é que a música dos Gift nos surge simplificada. O álbum parece ser mais baseado no trabalho dos quatro músicos da banda e do baterista, Mário Barreiros. Desaparecem os arranjos de cordas tocados por uma orquestra, a que já nos habituáramos desde "Vinyl" mas que, de certa forma, era uma tendência já um pouco contrariada pelo lado FM de "AM-FM".
Mesmo assim, a aposta na electrónica mantém-se firme, sendo esta a estrutura de todas as canções. Paralelamente, ouvimos aqui mais guitarras e mais piano acústico do que ouvíamos habitualmente. Esse lado é particularmente claro em "RGB" ou "Mermaid Song".
Outra tendência que parece clara em "Explode" é a inclinação para o rock, se, de certa forma, mesmo sendo as canções mais alegres dos Gift, mesmo assim têm algo de realmente explosivo, de pesado, que tem mais a ver com o rock. Este lado é também claro nas canções menos frenéticas, como é o caso de "The Singles" ou de "Race is Long".
"The Singles" parece-me ser uma das canções centrais deste álbum. Será talvez a que mais perturbação nos causa. A construção é irrepreensível, com mudanças de ritmo constantes e fundindo sonoridades diferentes, além de ser o exemplo de uma excelente letra, da autoria de Sónia Tavares.
A meio do álbum, e depois dos quase treze minutos de "The Singles", encontramos o lado mais calmo de "Explode". Primeiro, com "Primavera", uma balada cantada em português, tornando-se assim a terceira canção dos Gift em português (Sendo as primeiras "Ouvir" e "Fácil de Entender".), que é particularmente eficaz no sentido em que consegue fundir uma melodia algo triste com um ritmo aparentemente dissidente, mas que, como bem vemos, acaba por não sê-lo. Depois, "Aquatica" continua esta linha, fazendo até lembrar outros tempos dos The Gift, mais barrocos e, neste caso, com um certo sabor a chanson, o que não deixa de ser surpreendente.
"My Sun", que se segue, retoma o lado de mais frenesi. Além disso, faz-nos também perceber algo: este álbum dos The Gift não vem do nada, já anteriormente houve indícios de que eles seriam capazes de um álbum assim. "My Sun" vem precisamente recordar alguns desses momentos, como fossem "An Answer" ou "Red Light", ambos de "AM-FM" ou "Clown" e "Question of Love", que encontramos em "Film". Nesta canção, é ainda de notar um certo e tímido retorno aos arranjos de cordas, ainda que aqui sejam sintéticas. Acontece um pouco por todo o álbum, o que é óptimo porque, para o bem e o mal, os Gift estarão sempre um pouco associados a um tipo de música mais complexo, mais barroco, se quisermos e o facto de aparecer aqui, significa que nada disso é impossível num álbum que se quer mais festivo.
"Suit Full of Colours" é outra das canções serenas de "Explode" e, eventualmente, a mais simples de todas. A canção em tudo se aproxima daquilo que são os The Gift em palco, e "Fácil de Entender" é disto particularmente um bom exemplo. E uma vez mais aqui vemos que os Gift não precisam de abdicar do lado grandioso da sua música, esse sim, verdadeiramente explosivo desde sempre.
A fechar, encontramos "Always Better If You Wait For The Sunrise", que, além de uma das melhores canções deste álbum, parece ser uma das melhores dos The Gift. Representa realmente um trabalho de uma banda de cinco músicos por si só, e capazes de criar uma canção assim tão hipnotizante e verdadeiramente perfeita. E, uma vez mais, palmas para a letra de Sónia Tavares.
À primeira vista, em "Explode" parece mais fácil apontar influências aos Gift do que nos anteriores. Parece-nos ouvir aqui qualquer coisa de Arcade Fire, de Clap Your Hands Say Yeah ou até de alguma coisa dos Kings of Convenience (É de assinalar que o produtor deste álbum, Ken Nelson, trabalhou com estes últimos.). No entanto, ouvindo o álbum segunda vez, percebemos que essas influências, podendo ocorrer-nos quase intuitivamente, na verdade não são tão garridas como poderia parecer. É facto que este é, até à data, o álbum mais trendy dos The Gift. Mas, se bem ouvido, percebemos que não é tão fácil como possa parecer. Por um lado, ele tem algo daquilo que se passa na música alternativa em geral, mas, por outro lado, não deixa de soar também como uma espécie de reacção, ou seja, como uma prova de que determinados conceitos podem ser utilizados sem significarem propriamente uma cedência ou uma perda de identidade. De facto, não há nem cedências nem perdas de identidade aqui.


Uma das coisas mais importantes para um músico é, a meu ver, a capacidade de não se repetir. É facto que "Explode" não vem repetir nada daquilo que os Gift têm feito, ainda que em algumas canções encontramos já alguns indicadores do que viria a ser este álbum. Por um lado, é sempre boa esta capacidade de reinvenção. Os novos Gift são, de facto, mais coloridos e mais "explosivos", mas há algumas reservas que, àparte tudo isso, tenho que colocar. A maior será, penso, esta: os The Gift têm como vocalista uma das melhores cantoras portuguesas. A voz de Sónia Tavares, goste-se ou não, é sempre um prato-forte da banda, quer pela força portentosa, quer pela invulgaridade. Pergunto-me se em algumas (Mas mesmo só em algumas.) canções de "Explode" a voz de Sónia não estará demasiado discreta. Talvez não seja bem assim, mas é facto que, de alguma forma, por vezes se sente falta daqueles delírios que ouvíamos em "Nowadays" ou "Cube".
Aparte isso, penso que "Explode" vem mesmo trazer algo de novo para os Gift, e algumas das suas melhores canções estão precisamente neste álbum. Fico curioso em relação à transposição para o palco. No Teatro Tivoli temos concertos hoje e amanhã e depois nos dias 25 e 26 de Março. A base é boa e eu confio que os Gift não vão desiludir em palco. Como sempre.




sexta-feira, 11 de março de 2011

Massive Attack: Heligoland

KAFKA PASSOU POR AQUI


Surgidos em 1991 com "Blue Lines", os Massive Attack acabariam por se tornar uma das bandas mais influentes da década e também uma das mais originais. O álbum de estreia mostrava-nos uma interessante fusão entre um experiementalismo electrónico com soul, gospel e hip-hop, uma mistura que parecendo quase impossível, acabou por se revelar verdadeiramente revolucionária, particularmente pelas participações de Shara Nelson, que entretanto não voltou a cantar com a banda, que não tem vocalista fixo.
"Protection" (1993) levava essa mistura a um outro nível, mais denso, com participações de Tracey Thorn e Nicolette absolutamente inesperadas. Para muitos, a maturidade chega com "Mezzanine" (1998), onde os Massive Attack decidem enveredar pela electrónica, ainda que por vezes a articulem com instrumentos acústicos. Para a história fica "Teardrop", que contava com Elizabeth Fraser na voz, além de outras canções não menos merecedoras de atenção, como "Angel" (Voz de Horace Andy) ou "Dissolved Girl" (Voz de Sara Jay).
E se "Mezzanine" foi aceite por unanimidade, já "100th Window" (2003) caiu muito mal a muita gente. A decisão da electrónica conhece aqui uma garrida plenitude. O álbum, que conta com Sinead O'Connor como vocalista em 4 das canções, é denso, atmosférico, violento e indubitavelmente bizarro. Bizarro de mais para muita gente. Para mim, "100th Window" é um dos melhores álbuns dos Massive Attack e também um dos mais nítidos.
Ao mesmo tempo, é também um álbum que vem fechar um ciclo, por ter levando os conceitos ao extremo, e que exigiria aos Massive Attack um certo tempo de reflexão sobre que caminho tomar agora.
Em 2008, "Collected" vem antologiar o percurso iniciado em 1991, acrescentando uma ou outra canção nova, das quais se destaca, evidentemente, "False Flags".
Foi pouco tempo depois do final da digressão de "100th Window" que a banda começou a trabalhar no seu quinto álbum. Já havia sido anunciado à imprensa com o título "LP5", depois como "Weather Underground", e é sabido que várias canções chegaram a ser gravadas com as vozes de, entre outros, Elizabeth Fraser, Terry Callier, Beth Orton, Mos Def, Feist, Alice Russel e Tom Waits.


Em 2010, o EP "Splitting the Atom" vem já anunciar o lançamento do álbum, que por fim chega, com o título definitivo "Heligoland".
Sete anos depois do último álbum, finalmente temos em mãos o novo. Demorou-me bastante até conseguir lidar com ele e escrever este texto.
"Heligoland" é um álbum não muito fácil de compreender. Ou melhor, ainda que ele tenha um tipo de sonoridade que, por mais que se estranhe, nos consome, é preciso ter em atenção o que ele significa em contraponto com tudo o que os Massive Attack têm feito até ele.
Começa com "Pray For Rain", que nos traz na voz Tunde Adebimpe, o vocalista dos TV on the Radio. Percebemos imediatamente que "100th Window" ainda tem aqui presença. Há aqui uma densidade electrónica que é, definitivamente, a decisão dos Massive Attack, e que, ao que parece, está para ficar. No entanto, "Heligoland" aposta bastante mais do que o álbum de 2003 em instrumentos acústicos, numa percussão fortíssima e em arranjos de cordas a dar o outro lado das canções, mais sinfónico e menos agressivo.
"Pray For Rain" é desde logo uma das melhores canções de "Heligoland", e também uma excelente introdução, pois sintetiza um pouco todos os conceitos que encontraremos nas restantes canções.
A percussão volta a ser prato forte de "Babel", com a voz de Martina Topley-Bird. Percebemos como de facto estas músicas são bastante livres, vagueando em mudanças de ritmo e de esquemas de instrumentos.
Neste álbum, o ritmo torna-se mais marcado, tendo um papel quase estrutural, como vemos acontecer em quase todas as canções.
Aqui, regressam também as guitarras eléctricas que já há muito não ouvíamos aos Massive Attack. Outra questão é que este álbum retoma também uma certa experimentação a nível electrónico. Disto é exemplo particularmente evidente "Flat of the Blade" que faz uso de vozes sampladas, a fazer um pouco lembrar o "Medulla" de Björk.
Horace Andy, que tem sido o vocalista sempre presente dos Massive Attack tem aqui também as suas melhores interpretações desde "Angel", em "Splitting the Atom", onde canta ao lado de 3d e de Daddy G, e em "Girl I Love You".
"Girl I Love You", que é outra das melhores canções de "Heligoland", é também aquela onde sentimos mais a presença de "100th Window". Mas é também aqui que percebemos a volta que a banda deu aos conceitos desse álbum, pois aqui se nota que a densidade electrónica se inclina muito na direcção do rock, o que não acontecia em 2003.
Portanto, ainda que o ponto de partida possa ser o mesmo, a finalidade é outra. Em "Paradise Circus", o single de avanço, que tem Hope Sandoval na voz, mostra-nos precisamente essa finalidade. É uma canção onde, uma vez mais, a estrutura é ditada pela percussão, mas, utilizando linhas de piano repetitivas e incisivas, vai caminhando sempre no sentido de algo de pesado, terminando depois numa explosão orquestral. É uma canção difícil, apesar de tudo; e que nos mostra os novos Massive Attack, que procuram um equilíbrio entre o peso da electrónica e as potencialidades infinitas do lado acústico.
"Rush Minute", que conta com a voz arrastada e sussurrante de 3D, parece ser uma continuação de "Paradise Circus". E também a prova por A+B desta inclinação para o rock, uma vez mais conseguida através da articulação electrónica-acústica. Uma das canções mais pesadas do álbum, e também uma das mais conseguidas.


Se os Massive Attack foram sempre definidos, muito a custo, como trip-hop ou mais simplesmente, alterantiva, penso que "Heligoland" nos empurra um pouco mais para uma espécie de electro-rock e é esse um dos maiores logros do álbum.
"Saturday Come Slow", com a voz de Damon Albarn é literalmente uma continuação de "Rush Minute" vem confirmar aquilo que digo.
Ouvindo estas três canções em particular, percebemos que estamos muito muito longe de "Protection" ou de "Mezzanine". É importante que isto se perceba, uma vez que os Massive Attack acabam por ser perseguidos pelo seu passado. São autores de alguns dos melhores álbuns dos anos 90 e 2000, e as pessoas acabam por esperar deles determinado tipo de coisas. E eles mostram que a qualidade do passado mais não representa que uma fasquia. Não se deixam prender nem fazer mais do mesmo. Talvez "Heligoland", na sua agressividade, não caia bem a quem ainda não esqueceu "Teardrop", mas isso é já um problema de quem ouve.
A canção que me parece mais amarrada ao passado, ainda que não no sentido de ser uma simples repetição, é "Atlas Air", mais uma cantada por 3D. Nela sentimos uma certa influência de "100th Window", mas também de "Blue Lines". Para começar é surpreendente que se consiga na mesma canção aludir a álbuns tão distintos. Mas isso só vem provar que, de facto, as raízes daquilo que é "Heligoland" existiam já, e era uma questão de tempo até que se desenvolvessem desta forma.
As letras andam dentro do estilo de sempre, vagas e com uma certa secura, mas, de alguma forma, incisivas.
Em 2008, na altura de "Collected", assisti ao concerto dos Massive Attack no Coliseu do Porto, que terminou com uma longa canção, cantada por Elizabeth Fraser, anunciada como uma das integrantes do álbum ainda inédito. Essa canção não faz parte do corte final, o que é pena, visto que me pareceu realmente muito boa. No entanto, há que admitir que a impressão com que fiquei dessa canção está muito presente em "Heligoland". Ficaremos sempre a perguntar-nos como seriam as canções excluídas.
Mesmo assim, com as poucas que tem, "Heligoland" revela-se um álbum de forte personalidade e, afinal, um dos melhores dos Massive Attack. É uma drástica e bem sucedida metamorfose ao mais alto nível kafkiano e só por isso, merece já um aplauso.




terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dido: Safe Trip Home

QUIET TIMES

Dido é daquelas cantoras cuja voz parece, por si só, ser uma boa razão para que se ouça a música. Estreada em 1999 com "No Angel", foi com toda a facilidade de Dido afirmou o seu projecto como um dos mais interessantes no panorama da música da década que agora termina. A boa aceitação por parte da crítica chegou com o álbum, o reconhecimento do público chegou mais com a escolha de "Here With Me" no genérico de Roswell High, e, no caso de Portugal, a inclusão de "My Lover´s Gone" na banda sonora de uma novela brasileira. O resto chegou daí para a frente, e é justo que canções como "Hunter", "Thank You", "Slide" ou "Isobel" (Que fazia parte da b.s.o. de "Sete Palmos de Terra".) ainda nos estejam na memória.
"Life For Rent", de 2003, vinha re-afirmar a qualidade da música de Dido, desde "White Flag" a "Sand In My Shoes" ou "Life For Rent" ou "Don´t Leave Home".
Dido era a autora de uma música dreamy, suave quer na melancolia quer na alegria, uma música sóbria, elegante. E, mesmo quando as canções soavam um pouco vagas, o que acontecia por vezes, a voz melodiosa e quente compensava.
Terá sido isso que fez com que Dido seja daquelas cantoras que, se não se gosta dela, pelo menos se diz "não gosto de tudo, mas gosto de muita coisa".
A "Life For Rent" seguiu-se um silêncio de cinco anos, em que Dido editou apenas um álbum ao vivo, em 2005.




"Safe Trip Home" chega aos escaparates em 2008. A lista de colaboradores incluiu agora o famoso Brian Eno, e Matt Chamberlain, cuja lista de colaborações incluiu os Pearl Jam, Fiona Apple, Natalie Merchant e Tori Amos, que acompanha desde "From The Choirgirl Hotel", entre muitos outros.
É caso para dizer que o título do álbum está muito bem escolhido. O grande problema de "Safe Trip Home" é justamente que joga demasiadamente pelo seguro. De certa maneira, este álbum teria feito mais sentido um ano após "Life For Rent" ou um ano antes, mas a verdade é que não parece reflectir cinco anos de composição e produção e, principalmente, de evolução.
Porque "Safe Trip Home" não é um mau disco, bem pelo contrário. Cá está de novo a fenomenal voz de Dido, cá está o estilo que lhe conhecemos, cá estão as grandes canções, como "Grafton Street", "Us 2 Little Gods", "The Day Before The Day", um dos momentos de mais quietude do álbum e talvez o momento mais insólito, ou "Quiet Times" ou "Let´s Do The Things We Normally Do". "Northern Skies" parece ser a única canção em que somos surpreendidos, com um ritmo electrónico discreto, e uma composição que quase nos faz pensar em jazz. O senão é que estas canções poderiam perfeitamente fazer parte dos álbuns anteriores, não se nota uma muito grande diferença senão em pequenos detalhes.
Para começar, a música de Dido parece agora atravessar uma fase em que encorpora um certo gosto pela improvisação, como se nota principalmente em "It Comes and It Goes", por outro lado, os arranjos são mais subtis, mais invulgares, como se vê em "Don´t Believe In Love", que mesmo assim me parece um dos momentos mais frouxos de "Safe Trip Home". Poderá parecer sem sentido que diga isto, mas é como se Dido tivesse "acalmado". Parece sem sentido dada a serenidade que sempre caracterizou a sua música, mas parece-me que ao terceiro disco, Dido se torna menos imediata, preferindo um caminho menos evidente, o que resulta bem.
E aí é que bate o ponto: é que, fora essa mudança subtil, pouco se pode dizer de "Safe Trip Home" que não se possa dizer também de "No Angel" ou "Life For Rent".
Porque mesmo as referências, que neste caso sempre soam longínquas, mas que poderíamos atribuir-lhe parecem ser ainda as mesmas, Sarah McLachlan, Suzanne Vega, talvez até alguma Sade Adu.
O álbum de 2008 rebusca as composições suaves e luminosas de sempre, aceita o ritmo que surgira quase como uma novidade no de 2003, em termos de letras mantém a simplicidade que não é predicabilidade que sempre foi o estilo de Dido.



Salientam-se algumas canções, as que acima enumerei, mas a verdade é que este álbum, no bom e no mau, não representa nenhum especial avanço.

Há que entender que "Safe Trip Home" é uma colecção de boas canções, apenas não o é de novas canções. É uma prova de que Dido não consegue fazer nada de mau, porque neste disco não há nada que piore, que represente uma queda. O que fica por saber é se é capaz de fazer mais do que já fez.



o vídeo de "It Comes and It Goes"

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sia: We Are Born

RENASCER, OUTRA VEZ
Sia Furler, ou só Sia, começou por ser conhecida como uma das vocalistas dos Zero7: era ela que dava voz a canções belíssimas como "Distractions" e ao lado de Sophie Barker em "Destiny", ambas de "Simple Things", o álbum de estreia em 2001 do duo de electrónica. O álbum "Healing Is Difficult", que saíra uns meses antes do álbum dos Zero7, é hoje pouco lembrado, mesmo pela própria Sia. Era um álbum de pop-pastilha-elástica com muito pouco de memorável, além da realmente boa voz e de escassas canções de qualidade, que seriam talvez "Blow It All Away" e "Fear". O problema de Sia é que estava a fazer um álbum que não parecia nada convicto. Faltava ali um conhecimento dos mecanismos que por norma gerem música desse estilo, nomeadamente a imagem de Sia, que não correspondia à entertainer que conhecemos noutras cantoras ou "cantoras" do género.
Demorou três anos até que Sia voltasse a aparecer em nome próprio. O álbum, "Colour The Small One" apresentava-nos uma nova Sia, focada na sua voz e nas canções harmoniosas e requintadas, com arranjos grandiosos e de grande intimismo, que parecia mais de acordo com a personalidade musical dela. Mesmo assim, foi a inclusão de "Breathe Me" no encerramento da série "Sete Palmos de Terra" que trouxe alguma atenção ao álbum. Nele encontrávamos outras canções de igual qualidade, como "Numb", "Don´t Bring Me Down", "Rewrite", "Where I Belong" ou "Sunday".
Em 2004 voltava a colaborar com os Zero7 em "When It Falls", e em 2006 grava a voz de seis canções de "The Garden". Em 2007 lança um pequeno EP ao vivo, "Lady Croissant" (Falei dele aqui.).
2008 marca o regresso em nome próprio para "Some People Have Real Problems" (Aqui), que continuava a partir de "Colour The Small One" um percurso singular e de muita qualidade, num registo rock-semi-acústico. Era, na verdade, um muito bom álbum, onde se assumiam todas as decisões.




Em Junho deste ano, Sia lança "We Are Born", quarto álbum. Desta vez, não podemos ignorar "Healing Is Difficult". E se anteriormente o usássemos como ponto de comparação para os dois seguintes, e percebíamos que eram redondamente diferentes, desta vez há que reconhecer que os tempos de "Healing Is Difficult" têm aqui presença. E não é leve.
Mal ouvimos "The Fight", a primeira canção, percebemos que esta Sia não é a mesma cantora serena de "Don´t Bring Me Down", que por vezes sussurrava mais do que cantava. Nada disso. Se há avanço que logo pela primeira faixa se percebe, é que Sia agora é menos tímida. Esse tom sussurrante desapareceu por completo, Sia agora canta, muitas vezes em plenos pulmões.
Se por um lado essa atitude mais desenvolta se manifesta numa sonoridade mais polida, mais forte, não podemos negar que essa inclinação empurra Sia não raras vezes para um registo mais pop (Agora que penso nisso, tem acontecido a vários álbuns que tenho ouvido ultimamente...), uma pop que nos faz pensar em Cyndi Lauper, Suzanne Vega ou até nalgumas canções de Kate Bush, afastando-se consideravelmente das influências que me pareciam mais evidentes no segundo e terceiro álbum, que seriam Aimee Mann, Dido, alguma Tori Amos, alguma Alanis Morissette, e o primeiro álbum de Jewel.
Participam neste álbum Dan Carey (Conhecido pelas suas colaborações com Kylie Minogue, Lilly Allen ou os La Roux.), Samuel Dixon (Christina Aguilera, Corinne Bailey-Ray ou Duffy.), Greg Kurstin (Gabriela Climi, Sophie Ellis-Bextor ou Britney Spears.), entre outros; mas destaco estes por serem já colaborações antigas. No entanto, se antes se notava que, maioritariamente, eles haviam aderido a Sia, parece que em "We Are Born" é Sia quem se molda mais às tendências pop com que os seus co-autores/produtores habitualmente trabalham.
Uma vez mais, a grande questão sobre este álbum é perceber que o registo pop acenta bem a Sia. Acenta. Este não é o registo pop cheio de pretensões que era "Healing Is Difficult". É um álbum completo, em que não se fica com a sensação de que falta alguma coisa. E a verdade é que, como em tudo, há boa pop e má pop. E Sia consegue filtrar o que a pop possa ter de melhor.
Canções como "Be Good To Me", "Cloud", "You´ve Changed" ou "Stop Trying" aí estão para o provar.




Não encontramos aqui o registo íntimo a que nos habituámos, e talvez se possa sentir falta dele. Mas isso não significa que esta versão de Sia não resulte bem. Nalguns aspectos, até parece funcionar perfeitamente. Ela consegue manter o seu registo de voz, onde é importante o prolongamento das palavras (De que por vezes abusa ao ponto de se tornar incompreensível o que diz.), mostra ter grande capacidade vocal e flexibilidade, e isso, de certa forma, equilibra as canções, porque não parece que haja aqui um excesso de rigidez. As antigas canções "calmas" estão ainda aí, mas parecem diferentes, mais firmes, como acontece em "I´m In Here" que se destaca do conjunto por ser a única "balada".
Por isso, a conclusão mais evidente é mesmo que Sia encontrou a sua identidade, e agora procura as várias maneiras de se mover nela. Não me parece, como acima disse, que recue aos tempos do primeiro álbum, antes toma toda a experiência dos outros dois e a assimila num trabalho mais "leve". Por isso mesmo, "We Are Born" é um (re)nascimento, uma espécie de "começar de novo", sempre partindo do princípio que já se esteve aqui antes, mas que se precisa de mudar.
Essa ideia de "leveza" é o que mais me ocorre sobre "We Are Born". É, talvez, o que mais mudou em Sia, há nela algo de alegria, de luminosidade, ouçam-se "The Co-Dependent" ou "Clap Your Hands" (Lembro "Little Black Sandals" ou "The Girl You Lost To Cocain".). E mesmo assim, há aqui algo que se reconhece, principalmente do álbum anterior: como Sia por vezes fala de situações desagradáveis, mas consegue cantá-las de uma forma liberta, quase alegre e nada depressiva. Sia deslocou-se das canções tão tristes como eram "Breathe Me"
De referir é também a coerência tão evidente de "We Are Born". As canções conseguem gerar uma certa homogeneidade, sem por isso se tornarem meras repetições umas das outras. Há, por isso mesmo, algumas canções que se destacam. "The Co-Dependent" parece-me a mais conseguida, mas pode-se falar também de "The Fight", "I´m In Here", "Stop Trynig" ou "You´ve Changed".
Com tudo isto, parece-me que, no seu renascimento, "We Are Born" está a milhas de ser um mau álbum. Pelo contrário, é um corajoso passo em frente na discografia de Sia.



o vídeo de "You´ve Changed"

domingo, 15 de agosto de 2010

Delta Goodrem: Delta

CRESCE(U) E APARECE(U)

É já de 2007 o álbum "Delta" de miss Delta Goodrem, e foram vários os motivos que me levaram a nem procurar o download do álbum (Indisponível em Portugal.) e esse o motivo por que nunca disse nada sobre ele. Os dois motivos essenciais do meu desinteresse foram, em primeiro lugar, a desilusão do anterior, e em segundo lugar, um vídeo que vi no YouTube e que não prometia nada de bom para o álbum mais recente.
Relembremos que Delta Goodrem, cantora e pianista, iniciou a carreira musical em 2003 com "Innocent Eyes", que era um álbum de uma menina de 18 anos que demonstrava uma tremeda inclinação para a beleza, a sensibilidade, construindo uma pop que não era dançável, preferindo o lado intimista e orquestral, que acentava melhor com as suas tendências algo líricas. "Innocent Eyes" tinha o problema que muito se aponta a artistas tão novos, que é por vezes cair numa excessiva fragilidade, que mais não faz que expressar uma outra forma de angústia adolescente, que não deixa de o ser.
Tinha ainda 18 anos quando lhe foi diagnosticado um cancro, que a afastou dos palcos por algum tempo. A experiência da doença naturalmente verteu-se para a música, e em 2005 chegava "Mistaken Identity". Se por um lado se notavam atmosferas mais negras nas composições, o resultado estava longe de ser o melhor. O segundo álbum tinha mais de adolescente frágil do que propriamente o primeiro. Não era, de facto, um álbum a ser recordado.





O que "Delta", em 2007 veio mostrar era uma nova Delta Goodrem. A começar pela imagem, demasiado "stronger woman", citando Jewel.
É, por isso, um descanso, começar a ouvir o álbum. Sobre "Delta" disse-se que seria um álbum de música pop/dance, e "Bring Me Home" era prenúnico desse desastre. No entanto, a canção acabou por não integrar o alinhamento final, sendo arrumanda no cd-single de "In This Life"."
Na verdade, "Delta" não é um álbum de dança, é, aliás, um muito bom álbum pop, melhor do que "Innocent Eyes". Talvez "melhor" não seja a palavra indicada: mais maduro.
Ela bem diz em "Woman" o seguinte:

I´m not a girl who don´t know
What she wants
I´m a woman (...)
Cause being your woman
Is not enough

E é bem verdade.
"Believe Again" faz a abertura. O início faz-se com um belíssimo arranjo de cordas, e, quando a canção ganha ritmo, com bateria e baixo, quase se acredita que estamos perante a canção dançável. Não é o caso. É uma balada que, não sendo triste, não deixa de ser forte.
"In This Life", que foi single de avanço, prossegue dentro do mesmo estilo, e mostra-nos uma Delta Goodrem que já nada tem da menina que cantava "Born To Try". Ela é mesmo essa cantora mais forte, com uma personalidade mais vincada.
Mesmo quando parece recuperar alguma fórmula do passado, como em "You Will Only Break My Heart", que nos faz lembrar "Throw It Away", Delta mostra-se capaz de uma reinvenção total, anulando os seus próprios fantasmas.
E se referimos fantasmas, tenho que evidenciar o meu desagrado por baladas como "The Guardian": não se trata de um fantasma do passado de Delta, mas de uma desagradável incursão pela power ballad celebrizada por Celine Dion. De facto, a menina tem voz para acompanhar, mas o resultado é demasiado lamechas para resultar. Em "Woman", que poderia cair na mesma precabilidade, isso não acontece, estranhamente: Delta foge dos excessos e até se faz acompanhar por um pequeno coro no final que, por mais que se utilize, never gets old.



Felizmente, nem tudo é assim, e canções como "Bare Hands", "One Day" (Uma espécie de mistura de pop/rock com algo de folk.) e "Good Laughs" trazem-nos a absolutamente nova Delta. O caso da primeira canção mostra como ela sempre deixou transparecer essa tendência para a pop-pastilha-elástica, com aquela linhazinha de sintetizador muito característica, mas a verdade é que ela dá-lhe a volta com o gotejar do piano, e fá-la resultar.
Consegue muito bem oscilar entre canções mais alegres, como "In This Life" ou "Brave Face" com outras mais tristes, como "I Can´t Break It To My Heart", e, mais importante do que demonstrar-se capaz de ambas as matrizes, consegue equilibrá-las. E essa é uma das características mais interessantes em "Delta": é um álbum muito equilibrado, mesmo sendo heterógeneo. Corre mais riscos do que os primeiros dois, pensa mais "ao lado", mas é bem sucedido, e é isso que interessa.
"Angels In The Room", outra das grandes canções de "Delta" e de Delta, fecha o álbum fundindo o piano e a orquestra com uma estranha electróncia que não soa intrusa, mas muito apropriada.
Vocalmente, Delta decidiu, e não mal, fugir do estilo delicodoce que por vezes nos fazia torcer o nariz em "Innocent Eyes" e "Mistaken Identity". Mesmo quando se mostra delicada, consegue estranhamente ser forte na sua vulnerabilidade. "I Can´t Break It To My Heart" é exemplo disso mesmo.
As letras, não sendo de Shakespeare, não deixam de ser interessantes, com ideias mais polidas e líricas do que acontecia no passado. "Bare Hands" parece-me ser a melhor. "Woman", que resulta como uma espécie de grito feminista/independentista, funciona também como uma espécie de cartão de visita da ideia de crescimento que "Delta" traz.
Isolando algumas canções que me parecem as melhores, escolheria "Bare Hands", "One Day", "Angels In The Room" e "Believe Again".
A verdade é que não consigo ouvir Delta Goodrem como ouço outros músicos, nem a consigo ouvir como ouvia ao tempo de "Innocent Eyes", mas isso é pessoal. Tentanto ser imparcial, parece-me que "Delta" é um álbum de decisões acertadas, que resulta muito bem. E é, ainda entre nós, um álbum pop de rara qualidade.


"In This Life", ao vivo

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Amy MacDonald: This Is The Life

YOUTH OF TODAY
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Seja mau ou bom, confesso que não estou muito a par das tendências nas playlists das rádios, mas tenho uma vaga ideia de que Amy MacDonald é a nova coqueluche destas. Nos últimos tempos assistimos a isso com Colbie Caillat e depois com Brandi Carlile. As rádios têm esta necessidade de criar fenómenos, e de os renovar. Se isto é benéfico ou maléfico para os ditos fenómenos, isso é outra história que não é assunto deste texto.








Do que queria falar era de “This Is The Life”, o álbum de estreia de Amy MacDonald, uma cantora/compositora escocesa cujo nome vem agora a lume, não sem a influência que hoje parece obrigatória de vários sites de internet que de certa maneira vêm substituir os longínquos concertos acústicos em bares.
No entanto, parece-me que este é um álbum que merece referência. O próprio título, embora possa parecer um tanto pretencioso, é certamente muito explícito em relação ao objectivo da sua autora, e, devo dizer, parece-me que tal objectivo é atingido: a descrição de um determinado estilo de vida de uma determinada faixa etária (Pós-adolescente.).
Mas nesse processo (De descrição, entenda-se.) Amy MacDonald destaca-se por conseguir um tom analítico que não cai na predicabilidade de uma poser do género Avril Lavigne.
Parece-me que dentro deste conceito, MacDonald terá conseguido alguns picos de qualidade, que passam pela titletrack, por “The Youth Of Today” ou “Let´s Start a Band”. O estilo de escrita é depurado e desabrido (Isto diz-se?), por exemplo ao dizer “Maybe if you had a true point of view/ I would listen to you/ But it´s just your one-sided feelings/ They keep getting in my way/ And you don´t know a single thing/ About the youth of today/ Stayed in your opinion/ Making it ring nin my head all day…” (Youth Of Today).

Além disso, Amy MacDonald distingue-se das restantes cantoras adolescentes da adolescência por não centrar em si ou nas suas ideias toda uma faixa etária e consequente postura, relatando por vezes situações que lhe são claramente exteriores.
Musicalmente, a sonoridade funde o rock simples/semi-acústico com um travo de folk provavelmente ancorado nas raízes pessoais (Quero eu dizer, o facto de ser escocesa.), com influências que remetem tanto para um certo estilo mais recente, do género Kate Walsh, e o inevitável contágio de Alanis Morissette, Jewel, Tori Amos, Fiona Apple ou Feist. Assim sendo, consegue, sem perder a coerência, momentos de maior frenesi como sejam “Mr. Rock and Roll”, “Run” ou “Let´s Start a Band” e outros mais deprimidos/melancólicos, “Footballer´s Wife”, “This Is The Life” ou “The Youth Of Today”.
Com ou sem rádio, fica-se à espera de mais notícias de Amy MacDonald, preferencialmente algo que não anule as qualidades deste álbum de estreia.






"Run"






"This Is The Life"

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Madonna: Hard Candy

QUANDO A RAINHA SE JUNTA AOS SUBDITOS

Depois de enveredar por uma linha de música mais madura iniciada em “Ray Of Light” em “American Life” e de ter trazido de volta o dancefloor à moda antiga com todo o estilo em “Confessions On a Dancefloor”, Madonna muda de matriz uma vez mais. E se os três referidos álbuns serão três bons exercícios pop, além dos três melhores (Pela ordem em que surgem.) da cantora, este novo “Hard Candy”, se não é o seu pior álbum, será apenas por existir “Erótica”.
Se há razão para louvar Madonna, e a esta ninguém pode fugir, é por nunca ter ido atrás de modas, e ter sempre iniciado ela própria as tendências no universo pop (Por alguma razão é chamada de rainha.). E em “Hard Candy” podemos mesmo falar de uma rainha convertida.
Em vez de ser criativa e de trazer alguma coisa nova á monotonia da música pop, Madonna revela-se Maria-vai-com-as-outras por seguir a muito em voga reminiscência hip-hop em que á pop se acrescentam uns toques de R&B e de funk e pela lista de convidados que apresenta: de Timbaland a Justin Timberlake.
Assim, e numa primeira análise, ouvir “Hard Candy” é ouvir Madonna, mas podia perfeitamente ser ouvir Rhianna ou a mais recente Nelly Furtado. É a mesma estética, a mesma repetição de conceitos destinados ao sucesso de que Madonna, quanto mais não seja, apenas por ser Madonna, já não precisa.
Depois, relativamente ás canções, há que dizer que estas também são, no geral, desinteressantes e algumas mesmo más.

“Candy Shop”, o início, seria boa se não fosse o desagradável rap no final, a destruir completamente o ritmo subtil apenas para tornar a música mais vulgar.
“4 Minutes” é provavelmente a melhor canção, e dispensava completamente Justin Timberlake que não está, basicamente, a fazer nada. Em tudo o resto, a canção não foge ás tendências hip-hop nem ao esforço por ser rádio-friendly, pelo que resulta bem como primeiro single.
“She´s Not Me”, apesar de por vezes roçar uma certa histeria, podia vir de uma fase after-hours de “Confessions On a Dancefloor”, e segue uma linha mais ligada à electrónica.
Sobre “Devil Wouldn´t Recognize You”, idem aspas, apenas se acrescenta que é quase uma balada.
As restantes oito canções não se aproveitam, são de uma imaturidade e predicabilidade inesperadas. Resultarão bem certamente nos tops e nas discotecas da moda, mas não são suficientes para ficar para a história, e não permitem que o álbum seja bom.

Veredicto: 9/20

domingo, 11 de maio de 2008

A Naifa: Uma Inocente Inclinação Para o Mal

ESTA POP QUE TEM FADO

Mesmo que os A Naifa fossem uma banda péssima, havia sempre que lhes dar crédito por uma coisa: por arriscarem muito mais do que o comum das bandas portuguesas.
Isto de juntar a pop com o fado num país de puristas, onde alguns fadistas mais inovadores como Mísia ou Cristina Branco já são rotuladas de não-fadistas, é algo que não lembraria a alguém que goste de jogar pelo seguro.
No entanto, há que dizer que a esta junção pouco segura, há que acrescentar que foi bem-sucedida: os Naifa são uma das melhores bandas portuguesas da actualidade.
Depois da estreia com “Canções Subterrâneas”, chega “Três Minutos Antes da Maré Encher”, um álbum que pontuava em relação ao primeiro por uma ainda maior profundidade, e por um muito maior á-vontade nas movimentações pouco ortodoxas que os definem.


Em 2008, é a vez de “Uma Inocente Inclinação Para o Mal”.
O álbum abre com "Um Feitio de Rainha", um tema mais folclórico que fadista, até na letra que, apesar de não se poupar a análises sociais do nosso pequeno país, percorre também um caminho mais popular. Isto não é pejorativo. É um apontamento. A verdade é que "Feitio de Rainha" é uma muito boa canção. Ainda que não seja tão boa como "Filha de Duas Mães", que se segue, num ritmo frenético que quase podíamos aplidar de futurista; ou como "Na Página Seguinte", canção tristíssima um pouco a fazer lembrar a letra de "Fé", do álbum anterior, mas desta vez com um texto mais fatalista.


"Esta Depressão que me Anima" é possivelmente a melhor performace de Mitó, a vocalista, uma vez que consegue uma profundidade tão forte como delicada. Isto para não referir a letra, como todas escrita por Maria Rodrigues Teixeira, que prima pela ironia e pela subtileza.
Outros temas de referência sao "Ferro de Engomar", impressionante, com um toque quase de flamenco. "Dona de Muitas Casas" é também interessante pela junção da letra com a música.
A lentidão de "O Ar Cansado dos Meus Vestidos" marca os mintuos mais depressivos do álbum, ao contrário de "Pequenos Romances", que se destaca pela tonalidade expedita com que Mitó diz que se descartou do amor.
Resultado final: "Uma Inocente Inclinação Para o Mal" não desilude definitivamente. Aliás, é um álbum que parece ir mais a fundo no que toca ás raízes (Os temas mais folclóricos como o referido "Feitio de Rainha" ou "Nas Tuas Mãos Vazias".), o que só mostra que o "nada temer" é uma boa filosofia.
Esta nova série de canções termina com "Apanhada a Roubar", um pouco a lembrar uma espécie de fado malandro, e também um tema mais minimalista e pouco exaltado, "uma ligeira dor de cabeça", e um final excelente.
Um destaque para a direcção de arte, belíssima, em especial a capa, a fazer lembrar trabalhos inciais ("A bispalhada".) da artista Isabel de Sá.


Veredicto: 18/20

domingo, 27 de abril de 2008

Portishead: Third

LONGOS DIAS TÊM 11 ANOS



"Esteja alerta para a regra dos três
O que você dá retornará para você
Você só ganha aquilo que você merece
Essa lição você tem que aprender..."
é assim mesmo, com uma voz foleira a falar português com sotaque do Brasil que abre o terceiro álbum de originais dos Portishead, quando o segundo, homónimo, comemora 11 anos de lançamento. Estes 11 anos são muito tempo, e se os Portishead não fossem uma banda de culto, com um público leal, certamente nem valeria a pena publicar "Third". Felizmente, não é o caso: ainda que impacientes, soubemos esperar e receber a mais recente colecção do trio de Bristol.
No entanto, Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley não são estúpidos e sabiam que ao fim de tanto tempo, o melhor seria mesmo ter uma boa desculpa: nada melhor do que uma radical mudança de sonoridade, ainda que se mantenham sempre fieis á sua própria identidade musical.





Assim sendo, quando começamos a ouvir o som ecoante de "Silence" (originalmente "Wicca".), repetindo-se sempre a mesma sequencia ritmica, percebemos que já não estamos a ouvir a mesma coisa, e ao mesmo tempo estamos: ainda é a voz de Beth Gibbons, sempre dolorosa e agressiva, os ritmos ácidos e psicadélicos, a complexidade instrumental bem construída, enfim, os Portishead em 2008, por assim dizer.
Se há alguma canção mais parecida aos albuns anteriores, ela será "We Carry On" (originalmente "Peaches".), e esta aproximação será pura coincidência.



Tudo o resto é absolutamente inédito em Portishead: os ambientes eléctricos/electrónicos próprios da música downtempo, mas uma construção instrumental a lembrar a rock gótico dos Depeche Mode, dos Dead Can Dance, dos The Cure ou dos Bauhaus, ainda que a voz seja a mesma de sempre, e sempre excelente, mas isso é óbvio.
Beth Gibbons tem também um papel mais interventivo, a nível de produção e de instrumentos: certamente que a gravação do seu álbum "Out Of Season" não lhe terá passado ao lado. As suas letras surgem mais politizadas, mas sem perder as ideias amargosas ou niilistas a que fomos habituados no passado.
De todas as faixas, "Machine Gun" (Em que a beat de bateria electrónica parece, efectivamente, imitar uma metralhadora.) é provavelmente a mais bizarra, talvez por isso tenha sido escolhida para single de avanço. A par com esta, destacam-se "Nylon Smile", a tal amargura niilista, "We Carry On", repetição esquizofrénica da mesma tristeza, "Plastic", numa sonoridade fluida a lembrar uma electrónica downtempo quase Massive Attack e "Magic Doors", uma das mais interessantes em termos de esquema, e das que suscita mesmo a vontade de ver ao vivo.
A questão do transporte das canções para o palco é também interessante. A agressividade e multiplicidade/simultaniedade de sons de "Dummy" e a estética barroca de "Portishead" pareciam ser verdadeiros desafios de palco. "Third" é mais simples e parece mais próximo ao que se ouve da banda, ao vivo.
Enfim, da mesma forma que o mar é sempre o mar, Portishead é sempre Portishead. E garanto que valeu a pena todo este tempo de espera. Se Agustina me permite o roubo e a alteração, "longos dias têm 11 anos", mas quando no final há um álbum assim, não há problema.


Veredicto: 19/20

sexta-feira, 21 de março de 2008

Goldfrapp: Seventh Tree

SOB ÁRVORES ESTRANHAS

Um passo tão repentino como a mudança de som de "Felt Mountain" para "Black Cherry" podia ter custado muito caro aos Goldfrapp. O som acústico e melodioso do primeiro álbum transformava-se em ritmo electrónico e desconcertante no segundo. Felizmente, ou devido ao manter da qualidade, tal não aconteceu. Allison Goldfrapp e Will Gregory mantiveram os seus seguidores, que aceitaram a nova sonoridade. "Supernature", o terceiro álbum era mais equilibrado. Ainda estavam lá os sons electrónicos e dançantes do segundo, mas já havia uma presença forte dos grandes arranjos do primeiro.


No entato, "Seventh Tree" vem agora mostrar que "Supernature" não era plenamente uma síntese conceptual dos dois primeiros álbuns. Isto porque este quarto álbum vem equilibrar as coisas. As músicas continuam a poder dançar-se e são, como não podiam deixar de ser, muito electrónicas, mas agora a tónica é posta na inserção de elementos acústicos e nos grandes arranjos de cordas a la "Felt Mountain". Ouça-se "Eat Yourself", "Clowns" ou "Road To Somewhere". Uma outra faceta do álbum prende-se na exploração dos potenciais da bateria e de instrumentos acústicos como forma de traçar um ritmo forte. "Happiness" e "Cologne Cerrone Houdini" são exemplo.
O resultado é uma sonoridade menos sexual, mas mais elaborada, mais barroca. A voz de Allison Goldfrapp adapta-se tão bem a este tipo de som como se adaptada ao "alternative dancefloor", mas isso já estava há muito provado. As composições, como sempre a meias com Will Gregory, a outra metade da banda, prendem-se num som mais fluido e numa procura de uma beleza melodiosa, suave e quente. Nos arranjos, nota-se um misto de agressividade (Os violoncelos em "Some People".) e de relaxamento (As cordas de "Eat Yourself".).
Como sempre, no final, fica a sensação de que soube a pouco. São dez faixas. Claro que é melhor ter dez faxias muito boas do que vinte medíocres, mas mesmo assim, os Goldfrapp já provaram que fazer má música não é muito o seu estilo.


Ninguém pense que aqui se perde a bizarria e a individualidade da música dos Goldfrapp. Nada disso. O regresso ao acústico não é marca de um retroceder, antes uma reciclagem de um conceito utilizado no passado, mas que não é utilizado como no passado.
A versão com DVD é uma opção a considerar, vale a pena: inclui um documentário de produção do álbum, bem como o video de "A&E".

Veredicto: 18/20

segunda-feira, 17 de março de 2008

Coco de Colbie Caillat

TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA

De facto, muitas vezes, a promoção que se faz de uma pessoa só a leva a ser prejudicada. O mito que se cria á volta de tanta gente acaba por lhes ser fatal, quando não conseguem corresponder.
Isto acontece com Colbie Caillat.
Dela, contam aquela história tão típica como desinteressante: a da menina que chegou ao mundo da música por acaso. Especificamente, Colbie fez upload de uns videos seus no YouTube, e alguém descobriu a sua fenomenal voz e convidou para gravar um álbum onde figuram muitas das grandes canções do ano.



Eis o erro. Dizerem que ela é autora de grandes canções deixa-nos um travo amargo na boca quando ouvimos "Coco", o álbum de estreia. "Coco" tem quatro ou cinco boas canções e outras tantas medíocres, não tem nenhuma grande canção, e a sua voz não é nada de fenomenal, é uma boa voz, suave, quente, meiga, mas sem nada de especial.
Assim, se a tivessem apresentado como uma debutante do rock acústico e melódico, dela dir-se-ia ser merecedora de todos os elogios que lhe apontassem. Mas Caillat é destruída pela sua campanha.
Falemos objectivamente de "Coco". É construído de canções rock acústicas e simplificadas, entre a Jewel de "Pieces Of You" e a Natalie Imbruglia de "Left Of The Middle", só não é tão surpreendente como era Jewel, nem tão expedita como era Natalie. Mas é aqui que se situa.
"Bubbly" é uma escolha inteligente para primeiro single, pois é uma das melhores faixas de "Coco". Além desta, contam-se "Battle", "Feelings Show" (Ainda que por vezes seja demasiado lamechas.), "Capri", "The Little Things" e talvez também "Oxygen".
A parte mais apagada e escusada do álbum passa por "Midnight Bottle" e "Realize" onde a menina se excede e a doçura torna-se pegajosa. Má ideia.
As restantes canções são médias: interessantes enquanto composições, um pouco previsíveis na letra, sempre bem interpretadas, simplorias e na mesma tonalidade fresca.
Assim sendo, não se pode dizer que o álbum de estreia de Colbie Caillat seja mau, porque não é. Mas ninguém diga que é um grande álbum e que é uma das melhores coisas que a música já ouviu, porque isso está longe de ser verdade. A César o que é de César, e a Colbie o que é de Colbie. Não a Colbie o que é de César. Nem o contrário...


Veredicto: 14/20

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Annie Lennox: Songs Of Mass Destruction

ELEVEN BEAUTIFUL THINGS
Imagine-se Annie Lennox num belíssimo e simples vestido preto de pé sobre uma barra cronológica, com um pé pousado nos anos oitenta e o outro pousado em 2007. Pronto: Isso chama-se "Songs Of Mass Destruction".
Se "Diva", "Medusa" e "Bare" se faziam de canções simples focadas na brutal voz da ex-vocalista dos Eurythmics, "Songs Of Mass Destruction" é mais marcado pelo conceito das canções grandiosas, ficando a voz a dividir o protagonismo com os talentos de Lennox como compositora.
Interessante, para começar, é ver como, de facto, "Songs Of Mass Destruction" parece ser o passo mais apropriado depois de "Bare". Assim, ainda há a multiplicidade sonora que já se fazia notar no predecessor, mas agora, é a génese de "A Thousand Beautiful Things" que prevalece em que o minimalismo instrumental se encontra com a força dos arranjos de cordas. É aqui que reside o maior traço de modernidade do álbum. De facto, a partir do final dos anos oitenta, e Kate Bush e Bjork tiveram a sua importância nisto, os arranjos de cordas, quase como aceitação ao clássico, fazem-se sentir em quase toda a música alternativa. Annie Lennox decide não ser excepção naquele que é o seu quarto álbum.


Mas, de facto, em tudo o resto, este é um álbum muito ligado á sonoridade de que Annie provem. Assim, estão recolhidos os elementos para que possam nascer grandes canções e canções grandiosas também. Como "Dark Road", "Smithereens", "Throught The Glass Darkly" ou "Sing".
Ainda que por vezes pareça escorregar para determinados clichés, principalmente no que diz respeito á composição das baladas do álbum, a verdade é que, em grande parte das faixas consegue sempre manter um certo nível de qualidade a que nos tem vindo a habituar.
O próprio título do álbum remete-nos para uma vontade de criar algo avassalador, objectivo, aliás, que por vezes consegue atingir facilmente, não só pela já referida grandiosidade de arranjos, mas também pela beleza das composições. "Dark Road" ou "Lost" marcam, definitivamente uma primeira vertente do álbum, ligada precisamente á beleza; "Ghost In My Machine" ou "Sing" marca outra, ligada ao ritmo e a composições mais assumidamente (Ou destemidamente.) pop. "Sing", incluida na campanha contra a SIDA de Nelson Mandela, conta com a participação de nada mais nada menos do que Anastacia, Isobel Campbell, Dido, Céline Dion, Melissa Etheridge, Fergie, Beth Gibbons, Faith Hill, Angélique Kidjo, Beverley Knight, Gladys Knight, k.d. lang, Madonna, Sarah McLachlan, Beth Orton, Pink, Bonnie Raitt, Shakira, Shingai Shoniwa, Joss Stone, Sugababes, KT Tunstall, e Martha Wainwright.
Impõe-se então falar de "Songs Of Mass Destruction" como se impõe falar de Annie Lennox, que, apesar de passar despercebida pelos escaparates se mantém firme na sua identidade musical que cresce sem ser adulterada.




Veredicto Final: 18/20

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Vanessa Carlton: Heroes and Thieves

A TERCEIRA PARTE DO TRÍPTICO



O videoclip de "Nolita Fairytale", single de avanço do terceiro álbum de originais de Vanessa Carlton, começa com ela a destapar um piano e a começar a viajar, nele sentada, como acontecia no seu primeiro video, "A Thousand Miles". Depois levanta-se e um taxi destroi o piano. Isto, e o facto de Linda Perry ser produtora de "Heroes and Thieves", são só sinais de uma tremenda vontade de ruptura com o passado musical desta cantora/pianista/ compositora, imortalizada ao primeiro álbum pelas tais "Thousand Miles" que a canção percorreu, dos tops aos Grammies, passando (Estranhamente.) pela MTV.




Mas, se "Be Not Nobody" esse primeiro álbum, era quase perfeito, "Harmonium", o seu sucessor era uma evolução muito insatisfatória, apesar de constituir, se por si só, uma excelente e exemplar peça pop afastada de preocupações com vendas e tudo isso.
"Heroes and Thieves" é uma tentativa de fazer algo novo que não é nem mal nem bem sucedida. Se, por um lado, encontramos aqui canções fluidas e leves (Contrariando as tendências mais complexas dos primeiros dois álbuns.), por outro lado, a sonoridade ainda nos remete para a Vanessa dos dois primeiros álbuns- a simplicidade compositiva não altera a utilização dos instrumentos, que se mantêm dentro do que Vanessa costuma fazer.
Outra das curiosidades maiores neste álbum é a mesma de "Harmonium". Nesse segundo álbum, Calrton compunha algumas canções com Stephen Jenkins (Além de produtor do álbum, era o seu namorado na altura.), mas era estranho ficar-se com a sensação de que Vanessa conseguiria isso sozinha. Em "Heroes and Thieves", Carlton assina as canções sozinha ou na companhia de Jenkins ou Linda Perry, mas estas colaborações parecem inúteis. E isso é estranho, porque Perry já fez Christina Aguilera cantar algo belo em "Beautiful".

As canções são boas, não são assim tão inovadoras, mas são boas. "Hands On Me" é um bom exemplo da génese do álbum, tem uma boa construção instrumental sobre uma composição fluida, com a voz a pontuar numa utilização entre a agressividade do primeiro álbum e a excessiva inocência no segundo. O que resulta bem, tendo em conta a voz muito ameninada que Vanessa tem.
"Nolita Fairytale" é uma canção interessante, mas uma escolha errada para primeiro single (Isto é provavelmente uma imagem de marca em Carlton.), uma vez que, apesar de até nem ser má, não apresenta diferenças tão consideráveis para poder evidenciar um dos objectivos do álbum, precisamente a diferença.
"Spring Street" teria sido uma melhor opção, uma canção idílica e etérea, como poucas de Carlton.
"The One" é uma canção razoável, mas um dueto péssimo: mal se dá pela presença de Stevie Nicks. Muito má ideia.
É um pouco assim o terceiro álbum de Vanessa Carlton. Do quarto, há a esperar que seja abissalmente diferente. Mais um álbum com diferenças tão pequenas será fatal a Carlton e a nós. Uma sugestão: que tal ser produzida pelo Patrick Leonard? O melhor álbum da Madonna foi produzido por ele...





Veredicto Final: 16/20

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sia: Some People Have Real Problems

Á TERCEIRA É DE VEZ


Beck e Zero7 trouxeram Sia Furler ao mundo da música. Em “You´re The One I Want” ela junta a sua voz á de Beck, no ano de 2001, na sequência de “Simple Things” dos Zero7, em que ela dá voz a “Distractions” e “Destiny”. Em 2002, surge o primeiro registo em nome próprio. “Healing Is Difficult” era um álbum insatisfatório. A voz de Sia era a mesma de sempre, e sempre excelente. As letras eram no geral, boas, tanto eram reflexos crus e duros de experiências tristes, sendo o expoente máximo o namorado que lhe morrera há algum tempo, mas as músicas descambavam para uma desagradável pop pastilha elástica, infectadas com lembranças dos primeiros álbuns de Britney Spears ou Christina Aguilera. “Blow It All Away” ou “Drink To Get Drunk” conseguiam escapar, mas sem serem canções assinaláveis. Depois de ter passado pelo segundo álbum dos Zero7, voltou aos álbuns com “Colour The Small One”. E este sim, era um álbum bom. Não irrepreensível, mas bom e definitivamente melhor que o primeiro. Havia mais suavidade e mais complexidade, e uma densidade inacreditável. Beck escreve com Sia “The Bully”, Allan Ball escolhe “Breathe Me” para encerrar o último episódio da sua série “Sete Palmos de Terra”. Pode não ter esgotado edições nem ter levado Sia aos quatro cantos de um mundo que tivesse a seus pés, mas era um álbum a fazer justiça ás qualidades que lhe confiavam. Após um despercebido e curto registo ao vivo, “Lady Croissant”, surge o novo álbum de originais.



Some People Have Real Problems” sera, ao que parece, uma decisão definitiva de qual o rumo a tomar. E é, desde já, a escolha acertada. Todos, incluindo Sia, percebemos que a pop dançável não é para ela. A pop melancólica, complexa e densa que inicia em “Colour The Small One”, no entanto, já é uma área em que se pode mover á vontade, e com distinção. E assim prossegue, naquele que é o terceiro álbum de originais.
Começa com uma das melhores canções do álbum, senão mesmo a melhor: “Little Black Sandals”. O esquema instrumental é simples e sem pretensões, é uma das músicas mais melódicas, e o facto de ser também uma das mais emotivas não prejudica.
Outras canções de referência serão “Lentil”, que já se dera a conhecer em “Lady Croissant”, com a sua sonoridade valseante, e os arranjos simplórios mas coesos, que ora acompanham ora guiam a voz de Sia. Parece, principalmente no final, o protótipo de uma boa canção pop. Se Christina Aguilera ou Rhianna não estivessem tão preocupadas com as vendas, talvez soassem assim.
“The Girl You Lost To Cocaine” é a composição mais agressiva, mas ao mesmo tempo a mais feminina, a lembrar os tempos de “Whatever” de Aimee Mann, ou o “Under Rug Swept” de Alanis Morissette.
“Beautiful Calm Driving”, apesar de soar por vezes a uma versão menos trágica de “Breathe Me”, vale pelo vale, e é uma canção simplesmente bela, com tudo no seu lugar: da colocação da voz, á sintonia da letra com a música, aos arranjos.
“Day Too Soon”, tal como “Lentil”, parece ser um exemplo de como devia soar a pop, e, apesar de por vezes parecer exageradamente sentimental, resulta bem.
Encontrado o bom caminho, esperemos pelo quarto álbum de Sia. Quanto ao terceiro, tem força para igualar o segundo, apesar de não ter genica para o ultrapassar.
Gostaria só de realçar o facto de nenhum dos álbuns de Sia estar publicado em Portugal. Começa a ser irónico como é que todo o lixo que a pop tem é publicado worldwide e o pouco que a pop tem de bom, fica-se pelo seu país de origem… Muito bonito.

Veredicto: 17/20

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Animal Collective: Strawberry Jam

MORANGOS, AÇÚCAR, ETC

Oitavo álbum do colectivo animal de Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin, "Strawberry Jam" é um grande álbum. Perdoem-me o início fanático, mas a verdade é que o novo álbum dos Animal Collective tem pouco que se lhe diga.







Quando "Peacebone" começa, é bom ver que o som continua a ser inconfundível. O que ouvimos aqui não é ouvido em mais banda nenhuma.
Fanatismos á parte, a música dos Animal Collective sempre foi uma verdadeira rebelião, uma tempestade de sons, eufórica e desmedida, mas sempre harmoniosa, coesa e coerente. E sempre foi essa improvável junção de elementos extremistas, de uma densidade contagiante e de uma complexidade barroca (Rococó, até.), que colocou os Animal Collective num pódio que só a eles pertencia. E pertence.
"Strawberry Jam" é um mais que digno sucessor de "Feels" de 2005. Mais que digno, porque se nota que é talvez o álbum mais solto e liberto de todos os álbuns da banda. Mas essa evolução é pacífica. É verdade que não é uma evolução colossal, cada álbum é, objectivamente, um baby step na discografia do quarteto, mas isso não é mau, porque ao compor, estes quatro senhores conseguem criar peças de facto originais, ou seja, ainda que a sonoridade evolua lentamente, os Animal Collective não se repetem, não escrevem sempre a mesma canção. Bandas como os Red Hot Chili Peppers ou os Arctic Monkeys não têm esta qualidade. Mantêm a mesma sonoridade, mas isso implica que escrevam sempre a mesma música.








De "Strawberry Jam" é muito difícil salientar algumas músicas que se destaquem mais. "Peacebone", "Fireworks" e "Unsolved Mysteries" parecem destacar-se pela sua esquematização imprevisível e perfeita. Mas isto pode aplicar-se também ás outras canções também, e é essa a dificuldade em ouvir este álbum. Não sabemos que canções destacar.
A performance dos músicos é irrepreensível, tem o condão de nos parecer que tocam ao acaso, mas em sintonia, o que só reforça a ideia de libertinagem sonora. Isso torna-se bastante evidente em "Chores".
As vocalizações são prodigiosas na medida em que acompanham na perfeição a instrumentalização, não se deixando, no entanto, guiar por ela, soando assim como um arranjo ao qual se dá protagonismo.
Resultado: este é um álbum a ouvir, sem dúvida. Toda a discografia dos Animal Collective teve sempre em vista uma coisa: qualidade. Outras também, talvez. Mas esta é louvável, sem dúvida. "Strawberry Jam" é mais um passo na discografia dos Animal Collective, talvez o passo de que gosto mais. Só por isso, já vale a pena.




Veredicto Final: 19/20

Joss Stone: Introducing Joss Stone

Á TERCEIRA É DE VEZ?



"The Soul Sessions" e "Mind, Body And Soul" são, segundo a sua intérprete, uma espécie de exercícios preliminares, para aquilo que é agora "Introducing Joss Stone". Mas a verdade é que nisto tudo é dificil perceber quem está mais confuso: Joss ou nós? Na dúvida, talvez sejamos nós...




Se "The Soul Sessions" era a revelação de uma grande voz num reportório ambicioso mas não fora de alcance, "Mind, Body and Soul" demonstrava já uma personalidade própria, e uma pontaria muito certeira na escolha das canções: quer as escritas pela própria Joss Stone, quer por outros compositores, claramente escolhidos a dedo, entre os quais Beth Gibbons, dos Portishead, ou Betty Wright.
"Introducing..." não é um álbum imprevisível. Na verdade, parece ser um dos caminhos possíveis, abertos pelo segundo álbum. Sendo povoado de sabores heterogénios, "Mind Body and Soul" tinha o condão de mostrar uma flexível Joss, que poderia enveredar por vários caminhos. Ela escolheu este. Eu não posso dizer, pessoalmente, que me agrade, mas também não posso dizer que seja mau de todo.
Ao terceiro álbum, Joss é infectada com várias contaminações ligadas ao R&B, ao Sexy Hip Hop e, por vezes mesmo á pop.
Das 14 canções, 12 são da autoria de Joss, o que explica a sua ideia de se apresentar ao público, evidenciada, aliás, pelo título. As duas restantes, são a introdução e "Bruised But Not Broken", de Diane Warren (Autora ou co-autora de não tão más canções de Gloria Estefan, Sarah Connor, Christina Aguilera ou as Pussycat Dolls, por exemplo.), onde Joss consegue, subtilmente, fugir do tom lamechas que a canção parece ter. Ainda posto isto, "Bruised But Not Broken" não sobressai particularmente no contexto do álbum.




O contrário acontece com "Girl They Won´t Believe It", a segunda faixa, e uma das melhores, ainda com uma memória de soul, a juntar a uma beat decididamente boa.
"Tell Me Bout It", primeiro single, é uma das canções mais enérgicas, e a construção previsível não chega para tornar má a canção, que, na realidade, puxa pela voz de Stone. Acaba por resultar bem.
"Music", o dueto com Lauryn Hill também não corre mal, é uma das melhores canções, de facto. Harmoniosa e simplória, a fazer ainda lembrar a Joss da soul.
"Baby Baby Baby" também não é mau. Salta no caminho da pop pastilha-elástica, por vezes, mas a performance vocal de Stone acaba por resgatar a canção ao tédio.
"Introducing Joss Stone" não é, por isso, um mau álbum. É um álbum bastante arrojado até. Joss Stone contraria as expectativas que lhe têm, mas não se espalha. Esperemos que no próximo álbum não nos venha dizer que agora é que é. Como diz o povo, na sua sapiência, "á terceira é de vez..." esperamos nós.







Veredicto Final: 15/20

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

The Editors: An End Has a Start

A PROVA DOS NOVE



Quando "Smokers Outside The Hospital Doors", a primeira faixa de "An End Has a Start", o novo album dos Editors, chega ao fim, já a sensação de divisão é inevitável. Há algo de trsite e algo de alegre, algo de conformado e algo de revolucionário na música dos Editors, em cada música. Talvez as letras de Tom Smith estejam contra a sonoridade isaltada das composições da banda, onde, mais ainda, se notam influencias como os Depeche Mode (Electrónica sob uma voz forte e beats bem demarcadas.) ou os Joy Division (Simplicidade que, no resultante, ganha uma complexidade quase barroca.); e, se assim é, fico feliz.








Temporalmente localizado algures nos primeiros anos da décade de oitenta, transportados para 2007, com tudo o que isso acarreta, nele, a construcção das canções ganha densidade em comparação ás de "The Back Room", especialmente nos arranjos, onde as guitarras eléctricas passam a viver com teclados que sintetizam sons very 80´s, e com o piano, tocado pelo próprio vocalista, evidenciando mais ainda o tal intimismo. O piano será precisamente essencial quando se trata do quase único instrumento acústico ouvido ao longo do álbum. A voz de Tom Smith está ligeiramente mais cavada, mas sem perder nada da sensualidade anestesiante que o caracterizava. A sua postura encontra na perfeição tanto a carga emotiva das letras, por si só bastante forte, como ainda é capaz de acompanhar muito bem as composições. É muito na voz que se prendem os Editors, e, por boa que ela seja, talvez não fosse má ideia equlibrá-la mais com o restante. Ainda que nem sempre assim seja, alguns momentos do álbum parecem feitos por e para Tom Smith. Win Butler comete o mesmo erro no "Neon Bible" dos Arcade Fire. Not such a good idea.


Quando ás canções, essas, são grandiosas, construídas com base no simples, que ao ser arranjado se torna complexo, mas sem exageros. Existe moderação nestas canções, em vez da necessidade de colocar muito. "Smokers Outside The Hospital Doors" e "An End Has a Start" fazem o início perfeito. "Weight Of The World" é uma boa canção, mas fica a perder de vista quando comparada com outras. Outras como "Escape The Nest", com a sua energia obsessiva, "Spiders" com o seu romantismo, ou o brilhante final, com "Well Worn World", onde Smith brilha não só a cantar como no piano.
O (Previsivelmente chamado.) "difícil segundo álbum" dos Editors não lhes saíu nada mal, bem pelo contrário, supera, até, o anterior. Esta é uma característica que parece ir contra a corrente. Ainda bem. Mais álbuns assim, é do que precisamos.









Veredicto: 18/20