tag:blogger.com,1999:blog-277416382024-03-13T20:55:33.322+00:00Camel & Coca ColaI´m circling down through white clouds, falling outSupermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.comBlogger1766125tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-59547019157019359802015-09-26T19:55:00.001+01:002015-09-26T19:55:23.061+01:00Outrebleu/ Outremer (2)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-yXnFVEVU24E/Vgbp8VNwa3I/AAAAAAAAIDw/7MtK3c6BUQU/s1600/a1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-yXnFVEVU24E/Vgbp8VNwa3I/AAAAAAAAIDw/7MtK3c6BUQU/s400/a1.jpg" width="391" /></a></div>
<br />
Nunca mais nada<br />
será como dantes.<br />
Eis-nos enfim de visita<br />
ao lugar que não havia<br />
onde as árvores se abraçam<br />
até à nossa asfixia.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Regina Guimarães</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Outrebleu/ Outremer</b></div>
<div style="text-align: right;">
2010, ed. Hélastre</div>
<div style="text-align: left;">
pintura de <span style="font-size: large;">Michele del Campo</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-88301194088324924312015-07-12T14:28:00.000+01:002015-07-12T14:28:45.372+01:00The Inner or Deep Part of an Animal or Plant Structure<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ZEZeBB_SHWo" width="420"></iframe>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Documentário sobre a produção de «<span style="font-size: large;">Medúlla</span>», o álbum de 2004 de <span style="font-size: large;">Björk</span>. Mal recebido na altura, talvez agora possamos retomá-lo. Quase inteiramente vocal, «Medúlla» é um exercício magnífico de diálogo entre a identidade individual e a natureza, entre a civilização e as sobrevivências arcaicas.</b></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-41658275679880823832015-06-19T14:15:00.000+01:002015-07-12T14:21:52.819+01:00Street song<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-05gxtgysCIc/VaJp3Hwnw4I/AAAAAAAAIDY/6EjfDPJMFaE/s1600/mapplethorpe.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="272" src="http://1.bp.blogspot.com/-05gxtgysCIc/VaJp3Hwnw4I/AAAAAAAAIDY/6EjfDPJMFaE/s400/mapplethorpe.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
I am too young to grow a beard<br />
But yes man it was me you heard<br />
In dirty denim and dark glasses.<br />
I look through everyone who passes<br />
But ask him clear, I do not plead,<br />
Keys Lids acid and speed.<br />
<br />
My grass is not oregano.<br />
Some of it grew in Mexico.<br />
You cannot guess the weed I hold,<br />
Clara Green, Acapulco Gold,<br />
Panama Red, you name it man,<br />
Best on the street since I began.<br />
<br />
My methedrine, my double-sun,<br />
Will give you too lives in your one,<br />
Five days of power before you crash.<br />
At which time use these lumps of hash<br />
- They burn so sweet, they smoke so smooth,<br />
They make you sharper while they soothe.<br />
<br />
Now here, the best I've got to show,<br />
Made by a righteous cat I know.<br />
Pure acid - it will scrape your brain,<br />
And make it something else again.<br />
Call it heaven, call it hell,<br />
Join me and see the world I sell.<br />
<br />
Join me, and I will take you there,<br />
Your head will cut out from your hair<br />
Into whichever self you choose.<br />
With Midday Mick man you can't lose,<br />
I'll get you anything you need.<br />
Keys lids acid and speed.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Thom Gunn</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Collected poems</b></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; color: #333333; line-height: 19px; text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">ed. Farrar, Straus and Giroux, 2005</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-42425192770990711672015-06-03T21:36:00.000+01:002015-06-03T21:36:52.756+01:00Notas sobre «Why bodies matter» de Judith Butler<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ZGnhibktnLQ" width="420"></iframe><br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
Judith Butler é, sem dúvida, um dos nomes essenciais para o estudo do género desde a publicação do seu primeiro livro importante, «Gender Trouble», em 1990, que, sozinho, constitui praticamente a matriz da teoria<i> queer.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Ontem, e no contexto do ciclo de conferências e actividades também chamado «Gender Trouble», Judith Butler deu uma conferência no Teatro Maria de Matos (Lisboa), com um título adaptado do do seu segundo livro, «Bodies that matter».</div>
<div style="text-align: justify;">
A conferência, intitulada «Why bodies matter», teve cerca de uma hora, e mostrou uma nova Judith Butler, se tivermos em conta os seus livros, mas particularmente o primeiro e mais influente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Judith Butler é uma descendente directa do pós-estruturalismo francês. O seu primeiro livro é construído com base em leituras de Michel Foucault, de Jacques Derrida e de Jacques Lacan. É logo por aí que começam os problemas de Butler. A sua teoria, que conflui na ideia de uma 'performatividade de género', é alimentada essencialmente por pensadores cujo trabalho é deficiente, questionável e baseado em especulação linguística mais do que em factos ou no registo histórico. O pós-estruturalismo alimentou-se fortemente da linguística estrutural de Ferdinand de Saussure, esquecendo que esse modelo já havia sido abandonado pelos próprios linguistas, que haviam avançado para novas teorias, a partir do trabalho do americano Noam Chomsky. Foucault como pensador político, Derrida como teórico literário e Lacan como analista dos problemas da mente legaram-nos obras extensas mas cuja solidez está hoje, com razão, largamente questionada. O problema central, herdado por Butler, é o seu excesso de confiança na linguagem, e mais ainda, numa ideia de linguagem hoje tida como pura e simplesmente errada. A obra de Foucault consiste em ideias decalcadas de Durkheim e Max Weber (dívidas muito raramente assumidas) e em radicalismos questionáveis contra o poder político. Derrida, com a sua desconstrução, criou um método para a destruição do discurso por contradição, cuja única saída é a aniquilação. Lacan, abandonado por praticamente pela psicanálise, exagerou largamente o papel da linguagem na formação da psicologia, um erro que já Freud havia cometido, mas de forma menos alargada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Butler não escapa a estes problemas quando escreve «Gender trouble». Duas outras referências essenciais surgem também no livro, Freud e Lévi-Strauss, mas também eles lidos com pouca exactidão, de forma muitíssimo interpretativa e, não raras vezes, citados como se afirmassem exactamente o contrário daquilo que afirmavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
A ideia essencial que origina a 'performatividade do género' é que não só o género é socialmente construído, como o próprio sexo é socialmente construído. Esta negação completa de qualquer presença da biologia na formação da identidade de género e da identidade sexual foi talvez o que mais polémico o livro de Butler afirmou. Freud certamente não pensava assim: pelo contrário, a sua ideia era a de que o homem civilizado existe sobre o homem-animal. E basta ler os primeiros dois capítulos de «As estruturas elementares do parentesco» de Lévi-Strauss para perceber que, para o antropológo, natureza e cultura constituem um diálogo, não uma substituição. A ideia de que o género é uma construção cultural não era nova, nem é infrequente. O que Butler teve de novo foi negar o próprio precedente natural do sexo, negando, por assim dizer, que o próprio corpo tenha algum tipo de interferência na constituição da identidade sexual e de género. </div>
<div style="text-align: justify;">
A teoria teve grande impacto na academia, mas o seu contributo para a expansão do feminismo foi pouco significativa. Pelo contrário, Butler faz parte da geração que transformou o feminismo numa ideologia ostracizada por muitas mulheres, particularmente as mais jovens, um problema largamente analisado por Christina Hoff Sommers.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na sua conferência, Butler pergunta-se se o seu trabalho terá de alguma forma mudado. Efectivamente mudou. O que mais impressionou na conferência de Butler foi como, vinte e cinco anos depois, uma hora de conferência parece ser mais relevante e mais intensa do que o díptico «Gender Trouble» - «Bodies that matter». </div>
<div style="text-align: justify;">
A razão será simples. O discurso sobre o género pareceu, em vários momentos, ficar para segundo plano, enquanto Butler sentiu necessidade de se falar da situação das democracias ocidentais,da falta de reconhecimento político para muitos problemas, e de especificar esses problemas: não apenas ligados ao sexo e ao género, mas também ao trabalho, às condições de vida e aos direitos essenciais dos cidadãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez a actual conjuntura política e económica tenha alimentado o pensamento de Butler com uma espécie de banho de realidade. E isso justifica, sem dúvida, o discurso de alguma forma alterado que a autora apresentou ao longo de uma hora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como as respostas às perguntas no final deixaram claro, as posições de Butler sobre sexo e género não se alteraram muito significativamente, mas é de notar que, de alguma fora, o seu discurso parece ter-se moderado ou, se preferirmos, ter-se tornado mais realista. Aliás, mesmo durante a própria conferência, Butler fez questão de se demarcar de algumas ideias que lhe estão associadas. De facto, a conferência é um bom sinal para Judith Butler, mas não necessariamente um bom sinal para a teoria que ela ajudou a criar, a teoria<i> queer</i>. Isto foi particularmente claro quando Butler insistiu que a sua teoria da 'performatividade de género' não visava criar nenhuma hierarquia, nem classificar nenhum tipo de 'género' como reaccionário, nem tornar uns mais válidos ou correctos em relação aos outros. Isto foi particularmente importante. Talvez não Butler, mas certamente muitos dos seus leitores e dos académicos que lhe seguiram as pisadas, souberam usar a teoria<i> queer</i> como forma de incitar a uma misandria pouco assumida, e a apresentar os modelos mais tradicionais de masculino e feminino como formas de conservadorismo e mesmo de opressão. Que Butler tenha sentido necessidade de se demarcar destas ideias é significativo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o que mais impressionou foi como, finalmente, Butler se apresentou livre daquela espécie de miopia do género, que tornou, durante muito tempo, o seu discurso irrealista. Comparativamente a «Gender Trouble», o livro, esta conferência pareceu inteligente, oportuna, assertiva, focada e efectivamente útil para pensar a realidade actual.</div>
<div style="text-align: justify;">
Já menos interessada em negar a biologia, Butler afirmou o género como uma construção é certo, mas uma construção baseada em relações, enfatizando como essas relações podem ser usadas, e de que forma, nalguns países do mundo, são proibidas. Ao fazê-lo, Butler teceu um discurso lúcido e acertado sobre a política actual, e conseguiu afastar-se da paranóia foucaultiana (que apesar de tudo teve lugar no final, aquando das perguntas). E talvez fosse desse mesmo confronto com a realidade que a teoria de Butler carecia. No fundo, o que a autora fez, dando um verdadeiro passo em frente no seu próprio pensamento, foi apresentar o género não como algo que nos define (como pretendia Foucault), mas como algo que nos <i>caracteriza</i>, de todo um conjunto de outras caracterizações. </div>
<div style="text-align: justify;">
É de notar que a teoria de Butler continua a não saber alimentar-se sempre das melhores fontes. A sua análise das democracias continua um tanto marcada pelos excessos pós-estruturalistas, e Butler continua convencida de que há uma espécie de perversão do poder que justifica a falta de visibilidade das minorias. Conquanto este ponto de vista possa ser defensável, é igualmente verdade que sabemos, pelo menos desde Durkheim e de todos os antropólogos e sociólogos da escola funcionalista, que as próprias sociedades são organismos essencialmente conservadores, e que fazem, colectivamente, um esforço por se reproduzirem iguais a si mesmas no tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao introduzir, discretamente, alguns conceitos marxistas no seu discurso, no entanto, Butler demonstrou que a alteração à estrutura social é, de facto, possível, mas que marca um esforço tanto dos indivíduos como das próprias instituições, algo que pareceria impossível quando se lia «Gender trouble».</div>
<div style="text-align: justify;">
De facto, o género e a sexualidade não são as únicas categorias a partir das quais um indivíduo pode ser 'marginalizado'. Nesse sentido, a integração destas questões num conjunto mais alargado era um dos elementos que faltava a Butler, e também a forma que, na conferência, a autora encontrou para chegar ao cerne da questão: o problema da liberdade e da individualidade no seio das nossas sociedades de contrato.</div>
<div style="text-align: justify;">
É verdade que muitas das leituras do próprio corpo que Butler apresentou careceram de explicações mais profundas (um problema recorrente na sua escrita, como Martha Nussbaum já assinalou), mas, no geral, entendendo o corpo como matéria que só é válida socialmente quando em relação com os outros, Butler mostrou-se muitíssimo mais realista e informada do que nas ideias um tanto vagas que marcaram os seus primeiros livros.</div>
<div style="text-align: justify;">
É de assinalar que, além do género, Butler tem tido extensiva participação na discussão de assuntos políticos, e particularmente na política israelita. Sendo judia, mas não sionista, Butler tem tido uma intervenção racional, ponderada e organizada sobre as políticas de Israel. Esta conferência marca, no fundo, uma fusão mais perfeita entre a comentadora política e a estudiosa do género. O que faltava numa teoria como a de Butler era menos especulação sobre 'performatividades' que, no fundo, se esgotavam no seu próprio carácter pouco operante, e compreender o género no contexto dos grandes problemas da democracia e da afirmação individual.<br />
O problema de Judith Butler será sempre a crença de que, a partir da linguagem, é possível compreender tudo. A experiência, no entanto, não está limitada à linguagem, nem o próprio pensamento está limitado à linguagem como pretendia Saussure. A conferência de ontem, discretamente, mostrou uma Judith Butler que olha, finalmente, para lá da linguagem. Ouvi-la falar de matéria, de corpo e de relações políticas, entendendo-as como categorias sociológicas e como manifestações culturais (e não só como entidades discursivas) tornou o seu discurso numa versão melhorada da sua teoria. Porque, nisso ao menos, Butler esteve sempre certa: o espectro daquilo que consideramos 'válido' precisava de ser alargado. Mas não será todos os dias que temos a oportunidade de ver um pensador reavaliar a sua própria teoria e, de certa forma, recomeçar essa teoria. A conferência de ontem foi, em certo sentido, exactamente isso.<br />
É possível que a crítica alargada que se elaborado sobre o pós-estruturalismo nos últimos anos esteja finalmente a afirmar-se. Em Portugal, esse não é certamente o caso, mas vai acontecendo noutros países, e certamente nos Estados Unidos, de onde Judith Butler vem. Será possível que a própria autora tenha percebido as limitações do método que, inicialmente, a orientou? «Why bodies matter» dá algumas indicações claras de que esse é o caso, felizmente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-35025424610298605372015-04-18T23:13:00.002+01:002015-04-18T23:14:14.148+01:00Começo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-d8s_73SqkVU/VTLW8RbuHcI/AAAAAAAAIDA/mcvIpIyn-cY/s1600/nikos%2Bstamatopoulos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-d8s_73SqkVU/VTLW8RbuHcI/AAAAAAAAIDA/mcvIpIyn-cY/s1600/nikos%2Bstamatopoulos.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<br />
Vejo-te um pouco como se já não houvesse<br />
uma casa para nós. As grandes perguntas estão aí<br />
por todo o lado, onde quer que se respire, dentro<br />
dos próprios frutos. É o começo da noite<br />
e os cinzeiros já estão cheios de meias palavras:<br />
porque escolhemos tão pouco<br />
aquilo que nos pertence?<br />
<br />
Vejo-te de olhos fechados enquanto me confiavas<br />
a tua história - à mesa da cozinha, quase um espelho,<br />
quase uma razão. As minhas canções preferidas<br />
pareciam convergir para ti a certa altura, dir-se-ia<br />
que te vestias com elas. E no entanto<br />
como se apressaram as grandes florestas a invadir<br />
as gavetas, como misturaram as raízes<br />
no eco que fazia o teu desejo contra mim.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Rui Pires Cabral</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>A Super-Realidade</b> (1995)</div>
<div style="text-align: right;">
in «<b>Morada</b>»</div>
<div style="text-align: right;">
ed. Assírio e Alvim, 2015</div>
<div style="text-align: left;">
fotografia de <span style="font-size: large;">Nikos Stamatopoulos</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-72823557021170941942015-04-12T22:43:00.000+01:002015-04-12T22:46:00.196+01:00Desabafo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Ma0ITUEsH8Q/VSrmyRmTAUI/AAAAAAAAICs/POea4BbPpI8/s1600/95b05d471ea930fa36e5eb0aff0514bf.jpg" imageanchor="1" style="background-color: #444444; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Ma0ITUEsH8Q/VSrmyRmTAUI/AAAAAAAAICs/POea4BbPpI8/s1600/95b05d471ea930fa36e5eb0aff0514bf.jpg" height="400" width="288" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Quando o meu tumulto recrudesce</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
(tempestade de água num copo)</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
o meu interior tumulto,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
de que me escapa a profunda causa...</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Quando falo</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e as minhas próprias palavras,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
por inúteis,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
me espantam e me cansam...</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Quando a moral dos outros</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
me traça à frente</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
o ridículo sulco dos limites...</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Deponho as minhas armas boas ou fracas e rio.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Rio com amargor</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e como o vento torço o rumo.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Limites...</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Para o coração que tumultua, bofetada.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Para a livre imaginação, queda</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Cinza,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
cinza atirada àquele quê,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
àquele quê nada expansivo e imenso,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ardente e infinito</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
de um pobre espírito.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Como o vento torço o meu rumo gritando:</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Ó lar, ó lar das minhas esperanças!</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Ó acolhida dos sem pátria e sem destino!</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Risco baço dos meus limites, galguei-te.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Sim, galguei-te.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
E perco-me no meu corcel de vento,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
infeliz e irritada.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Mas para calar toda esta ansiedade</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e, ai!</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
abafar o meu desprazer,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
só alcançando as estrelas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ultrapassando-as</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e desaparecer...</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Meu coração inchado rebenta, rebenta!</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
E tu gasta-te, saudade,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
desejo, desespero, paixão do que sonhei</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e sempre tive de perder.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Irene Lisboa</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
in «Seara Nova», 1939</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
imagem de <span style="font-size: large;">Miguel Leal</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-31561830301111401212015-03-14T20:41:00.000+00:002015-03-14T20:42:06.701+00:00Ausência cinco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-SHKbwN5XB4A/VQScySPfYNI/AAAAAAAAICY/pgJi4ziwhcc/s1600/gra%C3%A7a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-SHKbwN5XB4A/VQScySPfYNI/AAAAAAAAICY/pgJi4ziwhcc/s1600/gra%C3%A7a.jpg" height="290" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Tua carne sai do ventre dos guindastes que procuras,<br />
<br />
trazes na mão as folhas que moem esta ternura<br />
morta<br />
e é lá que os dias se levantam<br />
na cor que escolheste para morreres<br />
junto ao meu corpo incinerado e calmo.<br />
<br />
Sinto que meu cansaço é macio<br />
como as noites de diamantes tumultuosos.<br />
<br />
Tu encontravas pequenas caixas intercalares,<br />
a mim nasciam-me insectos sedentos de luz,<br />
<br />
bania-me no espaço rudimentar deste peito lateral<br />
até que nas manhãs após teu coito<br />
<br />
teus véus se construíam em direcção aos elementos.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Jaime Rocha</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Beber a cor</b></div>
<div style="text-align: right;">
1983, ed. &etc</div>
<div style="text-align: left;">
pintura de <span style="font-size: large;">Graça Martins</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-59288257805694136622015-03-03T18:52:00.000+00:002015-03-03T19:01:05.605+00:00Cinco novas bandas (parte 4)<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">(Parte 1: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-bandas-novas-parte-1.html">aqui</a>) (Parte 2: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-2.html">aqui</a>) (Parte 3: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-3.html">aqui</a>)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Um
pensador desiludido e sem esperança como E.M. Cioran pôde
reconhecer com bastante acuidade que <i>[n]ous devons la
quasi-totalité de nos découvertes à nos violences, à
l'exacerbation de notre déséquilibre*.
</i>Ao reconhecer a violência como
móbil da actividade humana (e consequentemente, da actividade
criativa), Cioran atribui-lhe um valor edificante que, em muito, não
pode ser negado. Sem discórdia, não há evolução nem revolução.
O <i>rock</i> reconhece esta
violência. O que ele pressupõe é uma experiência profunda do
mundo, que é depois transformada em música. Por isso as grandes
canções <i>rock</i> se
fazem a partir da agressividade, da raiva, da violência, da
angústia, da luxúria: trata-se de reconhecer que vamos à
descoberta do mundo através de uma experiência aprofundada da nossa
violência.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><i> </i>As
páginas do ensaio <i>Penser contre soi</i>
podem constituir uma explicação bizarramente verosímil da
estrutura básica do <i>rock</i>
enquanto género. A expressão extrema pressupõe uma experiência
extrema do mundo, uma pesquisa por aquilo que de mais elementar e
incontrolável existe na natureza e na consciência humana. Ao ler
certas páginas mais angustiantemente realistas de Cioran, não é
difícil imaginá-lo a ouvir uma banda como as referidas acima.
Aliás, estando em causa essa experiência violenta e derradeira da
consciência, não seria estranho dizer que Cioran, bem como
Nietzsche, Sade, Kafka, Artaud, Lovecraft, Edvard Munch, Hans
Bellmer, Michelangelo ou Caravaggio, se vivessem nos dias de hoje e
fossem músicos, estariam provavelmente numa banda de <i>rock</i>.
Os seus inquéritos aos estados últimos da consciência deixam-nos
estranhamente próximos do trabalho dos melhores músicos <i>rock</i>.
Porque esse inquérito é o que o <i>rock</i>
tem de mais elementar, e é esse também o seu maior perigo.
Encontramos em Cioran: <i>La formule de l'enfer? C'est dans
cette forme de révolte et de haine qu'il faut la chercher, dans le
supplice de l'orgueil renversé, dans cette sensation d'être une
</i>térrible <i>quantité
négligeable, dans les affres du «je», de ce «je» par quoi
commence notre fin**.</i></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><i> </i>De
acordo com isto, o que fica claro é que não outra saída para a
experiência realista e profunda do mundo senão a própria
violência. Mas, nessa violência, esconde-se igualmente a nossa
aniquilação, a possibilidade de encontrar o inferno. O <i>rock</i>
reconhece sempre o risco da anulação do próprio «eu», que é o
perigo de ir longe demais no conhecimento do mundo e de si mesmo, e
de ser incapaz quer de regressar a um estado de inocência ignorante,
quer de sobreviver àquilo que encontrou.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas
nesse sentido, nenhum género tem uma valência tão filosófica e
antropológica quanto o monosprezado <i>rock</i>. Só ouvido «de fora»,
ou então pela estirpe exclusivíssima e mui cultivada dos nossos intelectuais da alta cultura (altíssima até!) o <i>rock</i> parecer um
género de 'gente a gritar com guitarras eléctricas estridentes
atrás'. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Perante
qualquer canção de uma das cinco bandas de que falei, corremos o risco
de ver ruir a barreira que nos separa da realidade e de perdermos a
ilusão de um mundo que é ainda capaz de se equilibrar. Há algo de
sagrado na ilusão que nos mantém sãos. Sãos, mesmo que iludidos:
este podia ser o lema da nossa hipermodernidade (como lhe chama Lipovetsky) .
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas,
utilizando um verso de <i>Coraline </i>dos
Ash is a Robot, <i>we are crashing waves on sacred ground. </i>E
essa coragem não será necessariamente extensível a todos. Por
outro lado, assume Cioran, <i>[s]euls nos séduisent les
espirits qui se sont détruits pour avoir voulu donner un sens à
leur vie***.
</i>Porque só com esses aprendemos
a procurar (mesmo que não encontremos) uma saída, ou a tentar
diminuir a distância entre essa sagrada ilusão e a temível
realidade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">______________________________</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: inherit;"> </span></i></div>
<div id="sdfootnote1">
<div class="sdfootnote-western">
<span style="font-family: inherit;">*Cioran,
E.M. (1956). <i>La tentation d'exister. </i>Ed.
Gallimard, Paris, 2011. p.9</span></div>
</div>
<div id="sdfootnote3">
<div class="sdfootnote-western">
<span style="font-family: inherit;">**Cioran,
E.M. (1956). <i>op.cit</i>. p.22</span></div>
</div>
<div id="sdfootnote5">
<div class="sdfootnote-western">
<span style="font-family: inherit;">***Cioran,
E.M. (1956). <i>op.cit.</i> p.24</span><br />
<span style="font-family: inherit;">______________________________</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/kc6dEx9cgR0" width="420"></iframe><br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/S92ejf60uiA" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/oETWaxcUJL4" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/eVCWHYA72Ls" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/m96KsRVh2Uw" width="420"></iframe>Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-88102015286441218812015-03-03T18:40:00.002+00:002015-03-03T18:52:57.345+00:00Cinco novas bandas (parte 3)<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">(Parte 1: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-bandas-novas-parte-1.html">aqui</a>) (Parte 2: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-2.html">aqui</a>)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Um
dos subgéneros do <i>rock</i>, que sofre influências directas do
<i>punk,</i> do <i>grunge</i> e de algum <i>metal</i>, tem sido
particularmente prolífero nos últimos anos. O que este subgénero
parece compreender melhor é uma energia frenética associada à
revolta e à tristeza. É uma espécie de avesso da
realidade, uma versão interiorizada das situações mais penosas do
dia-a-dia, o lado da vontade, em oposição ao lado do comportamento
correcto. <i>The greatest rock creations have come out of lust and
agression, </i>diz-nos Camille Paglia*. Esta variante específica do <i>rock</i>
parece estar de acordo. Daí que seja ruidosa e alta, que assuma uma certa guturalidade e uma
visceralidade muito contrárias àquilo que seria socialmente
tolerável e aceitável. Esta é a música pré-civilizada, a expressão sorridente e trocista do que subsiste da natureza do ser humano, o <i>pièce-de-resistence </i>das ideias de Hobbes, Nietzsche, Freud e da própria Paglia sobre natureza e cultura. Nessa regressão, o que nos é
devolvido é mais real e mais palpável do que todas as concepções
sociais que nos possam ser incutidas. Aqui não há espaço para a
restrição e a imposição civilizacional. As bandas que fazem este
tipo de música dão-nos a besta humana libertada finalmente. A
energia fortíssima que atingem é, por isso, uma energia adversária,
combativa e revolucionária, sem a qual nenhuma sociedade deveria
existir.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7wBfZXAgLCw/VPX9UMtkAaI/AAAAAAAAIBk/hZKKr_4PscY/s1600/black.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-7wBfZXAgLCw/VPX9UMtkAaI/AAAAAAAAIBk/hZKKr_4PscY/s1600/black.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> É
esse o caso da banda belga The Black Box Revelation (BBR), originária
da cidade flamenga de Dilbeek. Desde 2007, a dupla formada por Jan
Paternoster (voz e guitarra) e Dries Van Dijk (bateria) lançou dois
EP, 'Introducing The Black Box Revelation' (2007) e 'Shiver of Joy'
(2011) e três álbuns, 'Set your head on fire' (2007), 'Silver
threats' (2010) e 'My perception' (2011).</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Num
registo mais agressivo e descomplexado, com referências ao <i>rock</i>
psicadélico e ao <i>blues</i>, os BBR trazem qualquer coisa que por
vezes relembra vagamente a fase inicial dos Pearl Jam, mas absorve
também Jimi Hendrix, os White Stripes (também eles constituídos por
um vocalista/guitarrista e uma baterista), os Black Lab ou mesmo os
Pink Floyd ou ainda a rouquidão pesada de uma Janis Joplin. Este
tipo de mistura não é estranha àquilo que fazem, neste momento,
outras bandas, começando pelos Black Keys ou os We are the ocean.
Mas o que os BBR têm que parece não ser tão claro noutras bandas
(e particularmente nos sobrevalorizados Black Keys) é a capacidade
de recriar toda uma atmosfera em que a restrição e a rejeição
veemente dessa restrição soam de uma forma bastante intensa. Os BBR
têm pouco dos Nirvana, mas partilham com a banda de Kurt Cobain um
certo ambiente ao qual o ouvinte é remetido. Ouvindo as canções
ora enérgicas e explosivas (como <i>I think I like you, </i>
o magistral <i>High on a wire, Cold cold hands, Set your head
on fire, Run wild </i>ou <i>Madhouse)</i>
ora tensas e contemplativas (<i>2 young boys, Sleep while
moving</i> ou <i>Never alone
always together</i>) não é difícil
colocarmo-nos a nós mesmos numa pequena cidade-dormitório flamenga
à saída de Bruxelas, um lugar pequeno cuja potencial calma é
contrabalançada por um peso excessivo sobre a liberdade dos
indivíduos. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tisIOEq67p4/VPX-dJPnY9I/AAAAAAAAIBs/FdEjihzOcmc/s1600/black2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-tisIOEq67p4/VPX-dJPnY9I/AAAAAAAAIBs/FdEjihzOcmc/s1600/black2.jpg" height="400" width="400" /></span></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">A música dos BBR parece emergir da necessidade de
expressão, da necessidade de movimento. Os solos de guitarra
eléctrica que pontuam grande parte das canções são como derivas,
agitações interiores que funcionam como um terramoto na quietude de
onde surgem, um teste aos limites da consciência. A alternância, em todos os álbuns, entre canções de
<i>rock</i> puro e duro e
outras mais melódicas e pausadas mantém presente uma dicotomia que
cria bissectrizes ou mesmo oposições: eu vs. o mundo;
explosividade vs. contenção; acção vs. meditação.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Há,
por isso, uma certa espessura, uma certa tridimensionalidade na
música dos BBR, que parece ser uma forma de sinceridade mais do que
uma premeditação. Nas letras, essa ideia confirma-se. Muitas delas
são marcadas por uma vontade de evasão sem destino (<i>High
on a wire, Sleep while moving</i>)
justificada por um ressentimento quanto ao lugar onde se existe
(<i>Sealed with thorns, Shadowman, Our town has changed for
years</i>)<i> </i>ou
por um romantismo que, sendo desencantado, não é inteiramente
derrotista (<i>Love Kicks, I think I like you, Bitter</i>).
Jan Paternoster, como autor de letras, várias vezes fica a dever
pouco a poetas contemporâneos: pelo contrário, as suas letras são
imaginosas sem esquecerem a escrita de canções clássicas para o
género.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Há
ainda que assinalar que, de álbum para álbum, os BBR têem-se
mostrado capazes de amadurecer e de equilibrar de uma forma mais
subtil e densa as duas linhas de força que se encontravam mais
polarizadas em 'Set your head on fire'. Por outro lado, o LP mais
recente, 'My perception' aposta também numa vertente um pouco mais
experimental, liga ao rock progressivo, o que é bastante claro no
som estranho de <i>2 young boys </i>ou
na energia estranhamente sensual e sinistra de <i>Skin.</i></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zyxmVhBPxNQ/VPX_FwkvTZI/AAAAAAAAIB0/kGYbFy5qie0/s1600/ash1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-zyxmVhBPxNQ/VPX_FwkvTZI/AAAAAAAAIB0/kGYbFy5qie0/s1600/ash1.jpg" height="266" width="400" /></span></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><i> </i>A
banda portuguesa Ash is a Robot (AIAR) recebe algumas influências
que podemos também ligar ao <i>punk</i>
e ao <i>metal</i>. Reviver
estas tendências, como aprendemos com os Green Day, é
uma ideia que fica gasta rapidamente. No caso dos AIAR, no entanto, a
fusão entre o <i>punk</i>
(ou pós-<i>punk</i>) de
bandas como os Mars Volta, os Led Zeppelin, os Sonich Youth ou os Big
Black, e o <i>rock</i>
musculado dos Nine Inch Nails (sem a electrónica), dos Mastodon, de
Marilyn Manson ou dos Tool, é tão extrema que se torna
fantasmática. Há qualquer coisa muito reconhecível, muito
familiar, na música dos AIAR, ao mesmo tempo que se torna
extremamente difícil explicitamente saber de onde vem essa
familiaridade, porque o som desta banda soa verdadeiramente puro e,
paradoxalmente, novo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Originária
de Setúbal, a banda formada por Cláudio Aníbal (voz), Francisco
Caetano (voz e guitarra), Renato Sousa (voz e guitarra), Bernardo
Pereira (baixo) e Gonçalo Santos (bateria) editou nos últimos dois
anos vários <i>singles</i>
que por fim convergiram no álbum 'Ash is a robot' (2013).</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Aquilo
que ouvimos nos AIAR é menos atmosférico e mais intimista. O
recurso ao <i>metal</i>
traz consigo os resíduos de uma espécie de força natural demoníaca (que encontra na voz de Cláudio Aníbal uma expressão
bastante perfeita) que é contraposta não pela complexidade barroca
do <i>gothic</i> ou mesmo do
<i>black metal</i>, mas antes
por uma sonoridade mais suja que parece mais improvisada e mais
linear. Sendo uma banda em que encontramos uma certa maturidade
(relembre-se que quase todos os elementos da banda passaram por
outros projectos previamente), o formato que por vezes nos remete
para o <i>rock</i> de garagem
não deixa de soar como uma auto-interpretação bastante irónica.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Se
<i>Coraline </i>ou <i>Karma
never sleeps </i>se fazem valer de
um esquema aparentemente arbitrário entre a raiva e a meditação em
voz alta, <i>Philophobia </i>(nas
suas duas partes) ou <i>Ariadne </i>são
exemplos de canções que alternam entre uma explosividade sólida e
uma guturalidade torturada, como se Cthulhu tivesse conhecido a linguagem.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-vMwJAsSJSdU/VPYAgy_pZjI/AAAAAAAAICA/iSjsSQJxifg/s1600/ash2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-vMwJAsSJSdU/VPYAgy_pZjI/AAAAAAAAICA/iSjsSQJxifg/s1600/ash2.jpg" height="396" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Disse
acima que a música dos AIAR é menos atmosférica do que intimista,
mas ela pressupõe, como não poderia deixar de ser, um determinado
ambiente, que é, na música, mais sugerido do que declarado (apesar
de ser confirmado pelas letras, particularmente a de <i>Karma
never sleeps</i>). Numa expressão
tão descontrolada, é impossível não imaginarmos uma espécie de
raiva a partir da qual floresce a raiva que caracteriza a
música. Essa atmosfera é possivelmente muito própria das cidades
próximas de grandes centros urbanos ou mesmo de capitais. Em
Portugal, Lisboa nunca foi capaz de criar uma banda <i>rock</i>
verdadeiramente densa. O facto dos AIAR virem de Setúbal, cidade de
uma personalidade muito marcada, associada a todo um contexto
político, laboral e social de resistência muito <i>stand
your ground</i>, talvez explique um
pouco aquilo que ouvimos na música da banda. As próprias letras não
passam ao lado de uma consciência politizada (mais do que
declaradamente política), que é notória em <i>Something
something dark side</i> ou em <i>Karma
never sleeps</i>, e de uma
insubmissão que é a única saída lógica para a própria estrutura
das canções e do esquema instrumental, todo ele desmedido e
fugidio.
</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">(Parte 4: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-4.html">aqui</a>)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">_________________________________</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div id="sdfootnote1">
<div class="sdfootnote-western">
<span style="font-family: inherit;">* Vd: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=8-chbRF8z-c">https://www.youtube.com/watch?v=8-chbRF8z-c</a></span></div>
</div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-12225577215993954802015-03-02T00:19:00.000+00:002015-03-03T18:43:15.911+00:00Cinco novas bandas (Parte 2)<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">(Parte 1: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-bandas-novas-parte-1.html">aqui</a>)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">O
percurso dos Anathema tem sido de alguma forma discreto no contexto do
<i>rock</i> dos últimos anos, mas o seu estatuto de banda de
culto dever-se-à, entre outros aspectos, ao facto de terem
atravessado de forma exemplar uma espécie de progresso que outras
bandas não tiveram a capacidade de fazer. Dificilmente com
'Serenades', o primeiro EP da banda, lançado em 1993, se poderia
prever que os Anathema estariam, dez anos depois, a gravar um álbum
como 'A Natural Disaster'. O início da banda dos irmãos Cavanagh
está no <i>doom-metal</i>, ainda com Darren White como vocalista. Quando
este abandona o projecto, os Anathema desviam-se cada vez mais no
sentido de um<i> rock</i> progressivo que se vai tornando mais polido e
complexo, definido por mutações constantes que, conquanto sejam por
vezes arriscadas (e o mais recente 'Distant Satellites' é prova
disso), também têm afirmado a banda como um projecto
verdadeiramente amplo e variado. Os Anathema parecem ter-se deparado
com a adversidade de começar a trabalhar a partir de um extremo. A
transfiguração parece ter sido a saída mais inteligente para a
banda. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Os
Anathema podem não ser a banda mais comum de referir para músicos
que fazem percursos de alguma forma semelhantes (os Opeth seriam uma
referência mais usual), mas, perante precisamente alguns projectos
mais recentes, percebemos que os Anathema permitiram a uma série de
músicos uma aprendizagem sobre como resolver criativamente o
problema de se ficar preso num extremo do espectro musical e
emocional.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-YMad-_mc0c0/VPXxxqe5_pI/AAAAAAAAIAo/TtwlNR0WM0o/s1600/chant2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-YMad-_mc0c0/VPXxxqe5_pI/AAAAAAAAIAo/TtwlNR0WM0o/s1600/chant2.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> É
de certa forma o caso dos finlandeses The Chant. O colectivo formado
por Ilpo Paasela (voz), Jussi Hämäläinen (voz, guitarra), Mari
Jämbäck (piano e teclados), Kimmo Tukiainen (guitarra), Markus
Forsström (baixo), Roope Siven (bateria) e Pekka Loponen (voz,
guitarra) lançou em 2008 o primeiro EP, 'Ghostlines' e, desde então,
três álbuns: 'This is the world we know' (2010), 'A Healing place'
(2012) e 'New Haven' (2014).
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> É
verdade que no EP ouvimos pouco mais que uma banda a
experimentar(-se), mas nos dois anos que passaram até ao primeiro álbum, os The Chant parecem ter encontrado um terreno
sólido para se expressarem. A capa de 'This is the world we know'
talvez explique exactamente aquilo que esse álbum parece
representar: um rapaz pendurado numa vedação olha fixamente para um
ponto que está fora do campo de visão. Esse encontrar de alguma
coisa definida é o que marca a diferença entre 'Ghostlines' e 'This
is the world we know'. A música dos The Chant, e particularmente nos
seus melhores momentos <i>(Armoured man, November 1983, Will you
follow, Safe world, Reflected) </i>tinha
uma solidez definitiva, havia nela algo de muito negro e muito
pesado, contraposto por uma espécie de aproximação de uma redenção
(dizia-se na letra de <i>Will you follow: treasure is the
light bearer/ speaking without words to me,/ now is the moment for
courage</i>) . Essa solidez não
passava ao lado de algumas lições tiradas de bandas como os A
Perfect Circle, os Katatonia e da fase 'Alternative 4' –
'Judgement' dos Anathema.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> O
problema com 'This is the world we know' era no entanto o extremo a
que parecia ir, dentro daquilo que era o seu universo. O que era
angustiado e sem esperança no primeiro álbum teve então
necessidade de efectivamente dar esse passo em direcção à redenção
prometida. E é isso que marca o segundo álbum, 'A healing place'. O
título é, aliás, auto-explicativo. As canções eram, até certo
ponto, mais directas e mais intensas ao encarar uma espécie de mundo
doente (<i>Outlines, Riverbed, The black corner</i>),
mas que passava também por uma espécie de compreensão profunda
desse mesmo mundo. Adoecer e convalescer: eis o que acontecia do primeiro para o segundo álbum dos The Chant. A esperança vinha desse estado em que a doença ainda está presente mas prestes a desaparecer. As composições melódicas e meditativas, que
desenvolviam aquilo que no primeiro álbum era mais prototípico,
reforçavam precisamente essa ideia. 'A healing place' tinha mesmo
alguma coisa de terapêutico e de fascinante, mesmo quando soava mais
desesperante (o caso de <i>Outlines</i>
sendo o mais extremo de todos).</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-EMWSFSiuVjs/VPXx_bLKtxI/AAAAAAAAIAw/zbvMSd4larI/s1600/chant.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-EMWSFSiuVjs/VPXx_bLKtxI/AAAAAAAAIAw/zbvMSd4larI/s1600/chant.jpg" height="360" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Com
o terceiro álbum, os The Chant parecem ter chegado à possibilidade
de sintetizar as duas vertentes que experimentara primeiro em
separado. 'New haven', lançado há pouco mais de um mês, é uma
espécie de fusão entre o <i>rock</i> pesado e cabisbaixo de 'This is the
world we know' e o lado mais experimental e intimista de 'A healing
place'. Mas 'New haven' é realmente qualquer coisa nova para os The
Chant. É uma conquista talvez daquilo que nos álbuns anteriores era
mais embrionário. A concentração num esquema instrumental mais
complexo e pausado, com canções longas e imprevisíveis, leva-os
num sentido mais sinfónico sem recurso a orquestra que as letras de
Ilpo Paasela e Maari Jämback integram de uma forma quase orgânica.
Mas mais do que nunca, 'New haven' situa os The Chant no campo do
<i>atmospheric rock</i>, com
bastante segurança (uma vez que facilmente neste subgénero
encontramos propostas que resvalam para o lamechas). O imaginário
que sugerem em canções como <i>Drifter, Come to pass</i>,
<i>Cloud Symmetry</i> ou
<i>Earthen</i> são
dificilmente imediatos, pelo contrário, apresentam uma estranheza
que nos exige tempo e um certo investimento emotivo para
verdadeiramente sermos capazes de os compreender. É também um conjunto de canções (particularmente <i>Earthen, Playwright </i>e <i>Come to pass</i>) um tanto cinematográficas. Há um ambiente muito nórdico e glacial que se cria nos longos solos sem voz. Quando a voz intervém, parece em diálogo consigo mesma. Pergunta-se, responde-se, engana-se e desengana-se. Discretamente, os The Chant criaram uma espécie de pequena tragédia íntima, um progresso pessoal num mundo desviado daquilo que dele se esperava. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-rNbg8breVM8/VPXyuWSiGSI/AAAAAAAAIA4/V7hDiBFLics/s1600/steak.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-rNbg8breVM8/VPXyuWSiGSI/AAAAAAAAIA4/V7hDiBFLics/s1600/steak.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Também
influenciados pelo <i>metal</i>
e por uma tendência para o <i>atmospheric rock</i>
são os belgas Steak Number Eight (SN8), banda originária de
Wevelgem, formada por Brent Vanneste (voz, guitarra), Joris Casier
(bateria), Jesse Surmont (baixo) e Cis Deman (guitarra), que lançou
já os álbuns 'When the candle dies out...' (2008), 'All is chaos'
(2011) e o mais recente 'The hutch' (2013).</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Desde
o primeiro álbum, é notória a intenção de canalizar a
brutalidade e a atmosfera apocalíptica do <i>black metal </i>para
um registo que ficasse a meio caminho para o <i>rock</i>
industrial. As influências dos Mastodon, dos Cult of Luna, dos Dimmu
Borgir ou das primeiras experiências de Trent Reznor são assim
contrabalançadas por uma melancolia tensa que é herdada da fase de
transição dos Anathema ('The Silent Enigma' de 1995,
particularmente) ou ainda da influência mais estrutural dos Slayer
ou dos Iron Maiden.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> No
essencial, no entanto, aquilo que os SN8 fazem está distanciado do
<i>metal</i> tanto quanto do
<i>rock</i>. Esse
meio-caminho é o que lhes permite a flexibilidade que caracteriza a
sua música: conquanto uniforme, ela oscila frequentemente entre a
atmosfera mais pesada e psicadélica e a deriva quase improvisada
mais sentimental e comovente. O trabalho dos SN8, e particularmente o
seu álbum inicial, dá ênfase efectiva à forma, por assim dizer:
as composições são de tal forma exacerbadas que têm qualquer
coisa de wagneriano, de profundamente trágico, que poderá passar
despercebido devido à tendência para o descontrolo e para a
brutalidade. Em canções como <i>The holy truth, Falling out
of a dream </i>ou no imponente <i>The
sea is dying</i>, esta dimensão
trágica e violenta é bastante notória, e ela representa, de resto,
aquilo que de melhor existe na música dos SN8.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> No
entanto, a edição de 'All is chaos' parece ter sido um exercício
de radicalização por parte dos SN8. Aquilo que se encontrava
diluído e sintetizado em 'When the candle dies out...' surge aqui
nitidamente separado. As canções assumem praticamente todas um
cariz mais directo e contundente, baseado numa estrutura de
repetições e pausas que, apesar de representar uma regressão em
comparação ao álbum anterior, não deixa de proporcionar os seus
momentos intensos, como acontece com <i>The calling, Blackfall
</i>ou <i>Man vs. Man. </i>Ao
longo do álbum, no entanto, vão surgindo alguns momentos que,
dir-se-ia que intencionalmente, funcionam como interrupções,
canções como <i>Trapped, Stargazing </i>ou
<i>Track into the sky</i>,
que se distinguem claramente das outras por uma aproximação ao lado
mais directamente melódico e poético. O que parece acontecer entre
os dois álbuns é que, onde o primeiro era extremamente bem sucedido
ao diluir duas vertentes quase diametralmente opostas na mesma
canção, o segundo se esforça por separar essas vertentes,
assumindo-as com morfologias diferentes e com um desequilíbrio
propositado: os momentos mais contemplativos acabam sempre por, a
dado momento, resvalar para o lado mais violento e apocalíptico.
Ainda que 'All is chaos' esteja longe de soar como um projecto
falhado (contém, é preciso dizê-lo, algumas das melhores canções
que a banda já produziu), é também verdade que ele causa uma certa
estranheza ao recuar na síntese perfeita e estranha que 'When the
candle dies out...' representava.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-IlucUSnwNls/VPXzJ1IdsxI/AAAAAAAAIBA/Wxa1WMydUPs/s1600/steak2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-IlucUSnwNls/VPXzJ1IdsxI/AAAAAAAAIBA/Wxa1WMydUPs/s1600/steak2.jpg" height="366" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Até
certo ponto, talvez a própria banda tenha tido consciência disso.
'The Hutch' é o seu trabalho mais complexo e mais conseguido até à
data. Há neste terceiro trabalho dos SN8 um lado experimental muito
acentuado, que passa também pela inclusão de uma electrónica
discreta, e ainda por uma completa liberdade a um nível estrutural.
As canções parecem, logo desde a primeira, <i>Cryogenius, </i>não
ser propriamente canções, mas peças, com variantes, pormenores e
afluentes, que transformam cada faixa num pequeno conjunto de
elementos que, somados, resultam numa estranheza muitíssimo
conseguida. É um regresso à síntese entre o lado mais barroco e
emocional e a componente <i>metal </i>mais
do que assumida. A matriz parece, paradoxalmente, vir dos Mastodon e
dos Katatonia, ou particularmente dos álbuns mais recentes dos
primeiros e dos mais antigos dos segundos. Mas o resultado é denso e
pessoal. Mais do que nunca, os SN8 parecem ter ganho uma identidade,
um caminho definido. A expressão da raiva e do descontrolo conhece com esta banda uma densidade convincente, que soa muitíssimo madura. Quem esperar uma raivinha adolescente, não vai encontrá-la aqui. Quem grita nestas canções parece ter acumulado durante anos a vontade de o fazer.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3qh-MwYj8ks/VPX0Z4k33lI/AAAAAAAAIBI/12y8mz3syhY/s1600/last.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-3qh-MwYj8ks/VPX0Z4k33lI/AAAAAAAAIBI/12y8mz3syhY/s1600/last.jpg" height="352" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Uma
proposta também concentrada no potencial emotivo e melódico do <i>rock</i>
pesado surge-nos com os suíços Last Leaf Down (LLD). O colectivo
formado por Benjamin Schenk (voz e
guitarra), Danny Bruno Dorn (baixo), Sascha Jeger (guitarra) e Patrick Hof (bateria)
lançou, desde 2012 vários <i>singles</i>: 'Disengage' (2012), 'In dreams'
(2012), 'Truth is a liar' (2012), 'Fake lights in the sky' (2013) e
'The thought that I saw you' (2013). O álbum de estreia, 'Fake lights', lançado recentemente, reúne estas e outras canções.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> De
todas as bandas que este texto refere, os LLD são a que menos
trabalho tem apresentado. No entanto, há uma solidez no trabalho que mostram até agora que faz prever um pouco mais do que uma
mera promessa. Dizer que, na sua fusão entre<i> rock</i>, <i>metal</i> e a
''escola'' britânica do <i>shoegaze</i>, os LLD são influenciados pelos My
Bloody Valentine, por algum do trabalho dos Cocteau Twins e por,
principalmente, os Anathema e os Katatonia, será dizer parte da
verdade. Conquanto estas influências sejam assumidas e
reconhecíveis, há na forma como os LLD interpretam estas
influências qualquer coisa que é diferente. Das suas influências,
os LLD aprenderam o poder da beleza, a forma de criar atmosferas, a
articulação entre o agressivo e o comovente. Mas há neles qualquer
coisa de glacial e de etéreo, de quase fantasioso. Mas é uma
fantasia até certo ponto distópica. Em todas as canções lançadas
desde 2012, há uma angústia densa, uma incursão quase
fenomenológica por reinos desencantados. Talvez essa ambiência
tenha que ver com o clima de um país do norte da Europa, como a
Suíça. Na música dos LLD parece haver neve, tudo nela recria um
ambiente solitário, isolado, parado mas profundamente vivo, no
sentido em que há uma tristeza vibrante que é sugerida por essas
sensações de distância em relação ao mundo.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Esta
energia contemplativa e depressiva faz-se sentir com especial
intensidade no mais recente <i>The thought that I saw you, </i>uma
invulgar canção de amor, cuja letra procura, nos elementos mortos e
frios da natureza, uma espécie de transcendência do fiasco amoroso.
Esta canção retoma aquilo que acontecia já no inicial <i>Disengage,
</i>uma canção um pouco mais
áspera, mas que era já eficaz, particularmente pela capacidade de
estruturar uma série de momentos díspares (solos de guitarra
eléctrica, por exemplo) numa mesma canção que, de uma forma um
tanto barroca, parecia ser a assimilação de várias canções.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-oCnW_099EN8/VPX15UjYREI/AAAAAAAAIBU/7Q2gyKp7Fz4/s1600/laST2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-oCnW_099EN8/VPX15UjYREI/AAAAAAAAIBU/7Q2gyKp7Fz4/s1600/laST2.jpg" height="396" width="400" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Em
<i>Born dead</i> há
até uma certa influência da música medieval (não é difícil
recordar Hildegard Von Bingen, outra compositora vinda do frio), que
se coaduna de uma forma surpreendentemente perfeita com a atmosfera
da música dos LLD.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Outra
canção que importa referir é <i>In dreams, </i>eventualmente
aquela onde as referências da banda são mais audíveis, mas onde
surgem, igualmente, sintetizadas de uma forma mais conseguida. Aqui,
parece haver a presença fantasmática de uma sonoridade mais urbana,
mas mesmo essa não soa a mais do que uma reminiscência longínqua.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> E
é isso que faz dos LLD, mesmo antes da publicação do álbum de
estreia, um projecto interessante. A sua música parece operar no
campo da imagem (e os <i>videoclips</i> simples e quase abstractos
remetem-nos para isso mesmo), como se o som tivesse um qualquer
poder cinestésico. É nesse sentido que toda a sua música chega a
parecer <i>scy-fy, </i>no
sentido em que nos coloca na própria aniquilação do mundo
construído, e nos conduz a uma espécie de tempo pós-futuro, em que
sobra apenas o vazio deixado pela civilização. A memória do mundo
construído assombra as composições, mas é sobre o vazio que ficou
que elas se debruçam de forma mais concreta. Assim, ficamos perante
uma emotividade desfeita, comovida e saudosa mas parca em esperança.
A sua beleza resulta de um olhar sobre a morte, o abandono e o
fiasco, mitificados e embelezados porque são tudo aquilo que sobrou. A música dos LLD é profundamente imaginativa. O que nela soa familiar parece uma reminiscência do futuro, mais do que uma memória nostálgica. </span></div>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
(Parte 3: ler <a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-3.html">aqui</a>) </div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-1972773922504183962015-03-01T17:17:00.000+00:002015-03-03T18:53:39.460+00:00Cinco bandas novas (Parte 1)<div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Quem
olhar profundamente para dentro de si mesmo, trará de volta uma
canção que vai soar a qualquer coisa como <i>rock</i>.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Apesar
de votado a uma espécie de ignorância propositada por parte da ilustre elite dos auto-proclamados intelectuais, a um nível geral o <i>rock</i>
não é senão um dos herdeiros mais directos da música barroca. Na
sua estética repetitiva, exacerbada e do explosiva, a música
barroca tomava as emoções humanas e trabalhava sobre elas de uma
forma sufocante e carnal, erótica e violenta. Ao contrário da música romântica, exaltadora da beleza, a música barroca nem sempre é
bela, pode ser tortuosa e inusitada, chega nalguns casos a ser
aborrecida (por efeito de repetições e recomeços contínuos): mas
em tudo isto mantém uma extrema verosimilhança para com a
verdadeira natureza dos sentimentos e da vida. Como o rock, a música barroca é feita de vísceras e agonia.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> A
influência da música barroca no <i>metal</i> está apesar de tudo
acertada: passa ao lado de muitos dos que ouvem, por efeito da forma
mais do que do conteúdo, mas está lá. Em muitos aspectos, se
resumirmos as características essenciais bandas de <i>rock</i>,
encontraremos muito da música barroca:
uma tensão pressentida entre o indivíduo e o mundo (que era
subreptícia na música barroca e é clara no <i>rock</i>), uma
sinceridade desarmante perante os sentimentos (que passava pela
música no século XVIII e que se estende muitas vezes à letra no
<i>rock</i>) e a busca declarada por aquilo que é dissonante,
estranho, perturbante. A sensibilidade barroca, como a do rock, é uma procura do extremo e do excesso, é uma expiação. A ideia de harmonia e regularidade que
caracterizava não só a música mas toda a Arte do primeiro
neoclássico foi abandonada pela emotividade efusiva dos compositores
barrocos. A estética do deslumbramento e da sedução que a
Contra-Reforma transmitiu às artes visuais e particularmente à
Arquitectura tiveram também reflexo na música. Tendo em conta os
valores antropocêntricos e racionais do Renascimento, a atitude barroca é paradoxal: conquanto articulada com o poder religioso,
representa uma ruptura cronológica, uma reacção às
características estruturantes do Renascimento.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Essa
insubmissão, essa busca do diferente e da individualidade, seria
retomada em força pelo Romântico em moldes diferentes, mais
preocupados com o que era belo e comovente (e deixando de lado a
agressividade e a aspereza que se faziam sentir nalgumas composições
barrocas). O <i>rock</i> sintentiza estas duas tendências de uma
mesma atitude. É romântico pela rebeldia, mas frenético como o Barroco.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Só
uma profunda incompreensão (ou, para dizer de uma forma mais clara:
uma atitude reacionária e um nadinha ignorante) mantém os ouvintes ''sérios'' e
''cultos'' longe do <i>rock</i> e das suas propostas.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Há,
para sermos breves, dois problemas essenciais quando falamos de como o
<i>rock</i> é apreciado. Um prende-se com a falta de um trabalho
crítico sério*:
conquanto isto garanta uma posição de certa forma marginal aos
músicos, também resulta numa profunda ignorância quanto ao género
ou à cultura. O outro é o da apreciação dos ouvintes, onde
convergem uma série de ideologias quanto à sociedade, aos sistemas
políticos e económicos e mesmo em relação à própria música e
ao cenário desconexo que parece ser o actual. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"> Ambos
os factores não deixam de parecer compreensíveis. A sinceridade e a
crueza que caracterizam o <i>rock</i> podem ser, até certo ponto,
incompatíveis com um estudo como o que
encontramos nas Ciências Humanas (e que contaminam de certa forma o
trabalho dos críticos culturais) pois não deixa de ser uma cultura
que só pode ser conhecida <i>de dentro</i> e que não pode ser
sujeita a determinadas metodologias, sob risco de se perder a ligação
com a realidade. Por outro lado, o <i>rock</i> traça a nossa ligação
com aquilo que de menos ''civilizado'' temos em nós. O <i>rock</i>,
com as suas guitarras eléctricas, com as suas vozes gritadas e a sua
sonoridade agressiva (mesmo que melancólica), com a sua
expressão descarnada e a sua paixão pelo ruidoso apresenta
algo que é diametralmente oposto ao que entendemos como <i>pop</i>.
Onde o <i>pop</i> é um <i>glamour</i> e um imaginário sedutor e
leve (mesmo nos seus momentos tristes), o <i>rock</i> apresenta-se
como uma espécie de <i>glamour</i> decadente, de energia invertida.
Onde o <i>pop </i>valoriza a celebração, o <i>rock</i> apresenta a
depressão e a violência. Onde o<i> pop</i> marca a luta do
indivíduo pela sua afirmação, o<i> rock</i> lamenta a
impossibilidade dessa afirmação. Onde o <i>pop </i>é cântico de
vitória, o <i>rock</i> é uma elegia da derrota**.
Ora, se sabemos que o <i>pop</i> é, por definição, aquele que move
milhões de ouvintes, será porque, à partida, esse modelo soa mais
aceitável à maioria. Posto isto, não é de todo incompreensível
que, quando uma banda vende mais, se torna ''comercial'', os ouvintes
originais se sintam defraudados: os músicos que admiravam parecem
defender posteriormente valores incompatíveis com os iniciais.
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> É
frequente que os ouvintes de <i>rock</i> se prendam aos grandes
clássicos. Esta é uma postura que devemos, no entanto, evitar. O
olhar profundo para o interior das coisas não deixa de pressupor uma
relação com tempo. Muitas das angústias pessoais que sentimos
nascem de uma cisão com aquilo que nos rodeia e que vai mudando de
acordo com o tempo em que estamos. Pode ser verdade que nunca mais se
fará um álbum como 'Ten' dos Pearl Jam. Mas também já não
estamos em 1991. E ainda que muitas das pesquisas estruturais
permaneçam as mesmas, é preciso saber continuar.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
Aqui ficam alguns (breves) comentários sobre algumas bandas recentes, as seguintes:</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
Parte 2 (<a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-2.html">aqui</a>)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b>The Chant</b> (Finlândia)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b>Steak Number Eight</b> (Bélgica)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b>Last Leaf Down</b> (Suíça)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
Parte 3 (<a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-3.html">aqui</a>)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b>The Black Box Revelation</b> (Bélgica)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><b>Ash is a Robot</b> (Portugal)</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Parte 4 (<a href="http://camelecocacola.blogspot.pt/2015/03/cinco-novas-bandas-parte-4.html">aqui</a>)</span></div>
<div id="sdfootnote1">
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="sdfootnote2">
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">___________________________________</span></div>
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">*<i>Refiro-me a trabalho crítico
académico, ou mesmo a uma crítica mais ampla levada a cabo em
trâmites diferentes dos das revistas especializadas. Basta pensar
que nenhum crítico cultural de peso se debruçou com seriedade e
profundidade sobre o </i>rock<i>. O exemplo de Susan Sontag é
ilustrativo disto mesmo: a crítica que tornou possível falar de
cultura popular a par com cultura erudita podia ir a um concerto dos
Pearl Jam, mas não sentiria necessidade de escrever sobre eles (vd. <a href="https://www.youtube.com/watch?v=7GRx3KgKauY">https://www.youtube.com/watch?v=7GRx3KgKauY</a>). Camille Paglia incluiu no seu ''Sex, art
and american culture'' (1991) um artigo sobre o </i>rock<i> como
arte, sério e interessante, mas que peca por ser breve.</i></span></div>
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;"><br /></span></i></div>
<div class="sdfootnote-western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i>** Assinale-se, para ambos os casos, que
existem excepções. O </i>pop<i> de Lana Del Rey é dificilmente uma
celebração e o </i>rock<i> de algumas bandas mais adolescentes
(</i>rock<i> ainda assim) como os Guano Apes ou os Korn
não passa necessariamente por um aprofundamento do que é triste ou
depressivo.</i></span></div>
</div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-87040468504064914902015-02-27T17:10:00.000+00:002015-03-03T17:10:09.251+00:00Anathema: Distant satellites<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/QQNcCFh8R28" width="420"></iframe><br />
<br />
Do álbum 'Distant Satellites' (2014)<br />
Letra de Daniel Cavanagh<br />
<br />
<br />
(...)<br />
<i>And it makes me wanna cry</i><br />
<i>Caught you as I floated by</i><br />
<i>And it makes me wanna cry</i><br />
<i>We're just distant satellites</i><br />
(...)Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-12870745830444164492015-02-16T16:20:00.000+00:002015-02-20T16:22:19.262+00:00sobre Luísa Dacosta, no seu 88º aniversário<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Há seis
anos, eu estava a mudar-me para Lisboa. Vivi o primeiro ano num
quarto pequeno ao Bairro Alto, que não tinha grandes vantagens, mas
deixava-me próximo pelo menos da Baixa, e das livrarias, que foram
sempre um dos meus paraísos. Aos sábados, o que acontece ainda
hoje, fazia-se na Rua Anchieta uma feira, com bancas de livros, desde
os mais raros (e caros) até outros a preços de ocasião. Foi nesse
primeiro ano em Lisboa e nessa feira na Rua Anchieta, que encontrei o
primeiro Diário de Luísa Dacosta, a um preço bastante reduzido.
Foram essas as duas razões que me levaram a comprá-lo: era barato e
era um Diário, um género que aprecio bastante mas que raro é
escrito (ou publicado) em Portugal. Conhecia vagamente o nome de
Luísa Dacosta, é possível que de alguma antologia, mas não posso
estar certo.
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Devo ter
demorado duas semanas a ler o livro, apesar de ser bastante extenso.
Hoje, penso que nada de estranho há nisso. «Na água do tempo»,
assim se chama esse primeiro de dois Diários, apaixonou-me
imediatamente por Luísa Dacosta. Imediatamente e sem retorno. Nos
anos seguintes, de alfarrabista em alfarrabista, fui procurando os
seus livros, que lia e relia, com a voracidade que só podemos
dedicar aos livros em que a palavra vai além de si mesma. Mesmo
nesse Diário, impressiona como o fragmento tão pequeno de texto
consegue vibrar de forma tão intensa e perpetuar-se, como se
lêssemos os pequenos textos de Luísa e eles fossem continuar,
sozinhos, quando fechamos o livro e prosseguimos o nosso quotidiano
prosaico, o mesmo quotidiano prosaico que, tantas vezes, é mesmo o
tema dos textos de Luísa. </div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-L9xSvhX0bgM/VOdeekdsa3I/AAAAAAAAH_M/OPJANowGNx4/s1600/luisa%2Bvovo%2Bana%2Betc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-L9xSvhX0bgM/VOdeekdsa3I/AAAAAAAAH_M/OPJANowGNx4/s1600/luisa%2Bvovo%2Bana%2Betc.jpg" height="400" width="302" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
O mesmo se passa com os restantes livros,
quase sempre de géneros ditos menores: contos, crónicas, romances
fragmentários, novelas curtas. O mundo de Luísa Dacosta não é
realista, é <i>real, </i>os seus
dramas, estruturalmente guiados pelas grandes tragédias, só são
possíveis porque é no real que acontecem, porque cada frase é
talhada a partir da matéria tosca do dia-a-dia, do confronto
violentíssimo entre uma vida interior desejosa de libertação e de
claridade e um lugar onde só florescem a solidão, o isolamento, a
tristeza, as saudades de uma infância perdida. É assim com os seus
livros sobre as grandes cidades, «Vovó Ana, Bisavó Filomena e eu»
(1969) sobre Lisboa, e «Corpo Recusado» (1985) sobre o Porto.
Noutro campo estão o inicial «Província» (1955) em que a cidade
de Vila Real é palco de uma vida anónima e simples em que o drama
encontra saída numa extrema capacidade de contentamento; ou então
as crónicas de «A-Ver-o-Mar» (1980) e «Morrer a Ocidente»
(1991), em que a vila piscatória de A-Ver-o-Mar, cenário tão
análogo à interior Vila Real, se afirma como uma espécie de
retorno ao Éden, uma libertação derradeira, um lugar de felicidade
idílica que nem por isso está livre da brutalidade e da miséria.
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Luísa Dacosta, dir-se-á, é uma ficcionsta. O que não é um
demérito, porque muitos dos grandes escritores, por todo o mundo,
são ficcionistas. No entanto, desde esse «Na água do tempo» (que
inclui, também, algumas pequenas ficções), nunca consegui ver
Luísa Dacosta como uma ficcionista. Nalguns momentos, pareceu-me
uma arguta etnóloga, observadora e crua, olhando com dureza mas
nunca com arrogância, para os pescadores de A-Ver-o-Mar e para as
mulheres desses pescadores, ou para as mulheres tão sós de Lisboa
no livro de 1969. Noutros momentos, Luísa pareceu-me uma eterna
diarista, como não deixou de o ser a grande Irene Lisboa. Noutros
momentos ainda, a densidade da experiência humana de que os seus
escritos dão conta, fazem Luísa parecer uma espécie de mística
laica: nela, a experiência da própria humanidade é uma forma de
transcendência, de união com um mundo que pode não ser o melhor,
mas é o que existe, pelo que só amando-o é possível sobreviver. A
sua escrita é intensa e fulgurante por causa dessa transcendência,
e é por isso que em todos os momentos, Luísa Dacosta me pareceu
sempre uma poeta. A pequena edição de «A maresia e o sargaço dos
dias», que, em 2002, reuniu alguns fragmentos poéticos em livro,
não foi mais do que uma confirmação. A poesia era a força que
soprava em todos os escritos de Luísa. A sua tendência para o
fragmento, para o apontamento, para a imagem bruta e impressiva, não
eram senão a intromissão da poesia naquilo que, afinal, somos
precipitados ao classificar como prosa.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
É
raro o autor em que encontramos um mundo tão terrível como o de
Luísa Dacosta. Morte, solidão, violência, perda, ausências,
sofrimentos atrozes: disto nos dão conta os seus escritos. Ler Luísa
Dacosta é conhecer de forma desarmante um mundo em que só é
possível sofrer. A escrita parece ser, muitas vezes, uma
possibilidade aberta por esse sofrimento: a possibilidade de sonhar.
Luísa é uma autora da palavra, da consciência da palavra e do seu
poder. De certa forma, continua a pesquisa aberta por Irene Lisboa,
Agustina Bessa-Luís, Torga ou José Gomes Ferreira e continuada por
Maria Velho da Costa, Regina Guimarães ou Hélia Correia: a fusão
de uma linguagem popular com uma linguagem erudita e poética. Luísa
é um dos casos em que essa pesquisa se torna mais relevante e mais
<i>natural. </i>O espaço
aberto pela separação entre estas duas linguagens é perceptível
mas insignificante: sempre o texto parece natural, fluido, <i>perfeito.
</i>Este apuramento da linguagem
escrita é, em Luísa Dacosta, como a planificação de uma viagem, a
escolha do itinerário mais agradável: só pelo sonho podemos
salvar-nos do sofrimento, e só pela escrita poderemos sonhar. Não
admira, então, que a escrita seja cuidadosamente trabalhada,
aperfeiçoada. Aperfeiçoada ao ponto em que não é minimizada por
marcas de época. Estas, como Adolf Loos tão bem viu, são quase
sempre fruto do artifício. Em Luísa Dacosta, nada é artifício,
tudo é incrivelmente real e necessário. O tempo não pesará muito
sobre ela, o que nos diz será reconhecível por muitos e longos
anos. É reconhecível agora, mesmo que nos pareça que tudo mudou
tanto nos últimos cinquenta anos.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-zELN_IV_neQ/VOdemQOSVQI/AAAAAAAAH_U/WD8zAHlFgyk/s1600/luisa%2Bsarsfield.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-zELN_IV_neQ/VOdemQOSVQI/AAAAAAAAH_U/WD8zAHlFgyk/s1600/luisa%2Bsarsfield.jpg" height="400" width="331" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Uma
das fotografias mais conhecidas de Luísa foi tirada pela fotógrafa
Graça Sarsfield para a antologia «Vozes e olhares no feminino»,
publicada pelo Porto 2001: Capital Europeia da Cultura. Luísa sorri
abertamente. Tem um riso sincero de menina. Em todas as fotografias
que conheço dela tem esse riso de menina. Incluindo naquela que se
encontra na contracapa de «Na água do tempo». A pergunta que me
fiz, nessa altura, não foi <i>como pode alguém que tem este
sorriso escrever estes textos?, </i>mas
sim, <i>como pode alguém que escreve estes textos ter este
sorriso?</i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i> </i>Num
regresso ao Porto, em 2010, conheci Luísa Dacosta. O mesmo riso de
menina, aberto e bem-disposto. Falou-me da Maria de <i>Maria
Vai, Maria Vem, Romance de mulher-a-dias, </i>um
conto de 1969. E falou-me de um terceiro Diário que pretendia
publicar, o que não chegou a acontecer. Perguntei-lhe qual seria o
título, e arrependi-me: poderia ser uma indiscrição.
Mas não. Respondeu-me imediatamente que seria «Os dias sem amanhã».
E acrescentou: <i>Eu sei que é um título pouco optimista,
mas eu acho que não se pode ser optimista neste mundo em que
vivemos.</i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i> </i>Tinha
toda a razão. E tinha toda uma obra que atestava essa crença que
partilhávamos. Mas Luísa sorria. Hoje, eu penso que esse sorriso
vinha da escrita: de uma escrita de tal forma densa que permitiu a
Luísa sonhar, sonhar sempre, mesmo quando sabia que os dias eram sem
amanhã.
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Emil Cioran, um dos meus filósofos predilectos, tinha a ideia de
que só pensamos contra nós mesmos, de que tudo aquilo que fazemos
acaba por reverter contra nós, por pesar ainda mais sobre a nossa já
imensa miséria. Com Luísa Dacosta, aprende-se a abrir fendas neste
ciclo destrutivo que Cioran aponta, e a preencher essas quebras com a
matéria luminosa duma palavra que permita ultrapassar a realidade em
direcção ao sonho: um sonho que, de resto, não pede o impossível.
O sonho de Luísa Dacosta é sempre feito da versão melhor do
possível.
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Luísa Dacosta deixou-nos na noite de 15 de Fevereiro de 2015, um
dia antes do seu 88º aniversário. Morre assim um dos grandes
escritores ignorados da literatura portuguesa. Quando um escritor
morre, o seu leitor pode sempre ser mais optimista do que aqueles que
o conheceram. Conheci Luísa Dacosta, não fomos exactamente amigos,
tínhamos uma relação essencialmente epistolar. Hoje, no entanto,
escolho ser um leitor, para poder dizer que Luísa Dacosta não nos
deixou, que os seus livros continuam na estante, que continuo a
relê-los, que continuam a fazer-me interromper a sina terrível
descrita por Cioran. E principalmente, que em cada texto, no meio do
espectáculo trágico da vida, haverá sempre um frase que tornará
possível que se sorria, sem reservas, face a tudo.</div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-38083261929135729042015-02-15T00:48:00.000+00:002015-02-20T16:13:21.537+00:00Luísa Dacosta, 1927-2015<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-DxxsX4sNjE8/VOKO4MPYnqI/AAAAAAAAH-8/McytblWCo10/s1600/luisa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-DxxsX4sNjE8/VOKO4MPYnqI/AAAAAAAAH-8/McytblWCo10/s1600/luisa.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
<br />
<span style="font-size: large;">«Que longo dia para a minha tristeza! Longe é onde há vozes, chamamentos, passos, acenos de adeus. Aqui o silêncio é um túmulo aberto que me força a olhar a inutilidade da luz.»</span><br />
<br />
(Luísa Dacosta, Na água do tempo, 1991)Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-57540975650798715392015-02-04T21:30:00.002+00:002015-02-04T21:30:27.729+00:00Tene me (fragmento)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-JQcC_CnzQpA/VNKPR5h7GiI/AAAAAAAAH-s/Yc2SA-yKBI0/s1600/polly%2Bborland.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-JQcC_CnzQpA/VNKPR5h7GiI/AAAAAAAAH-s/Yc2SA-yKBI0/s1600/polly%2Bborland.jpg" height="400" width="323" /></a></div>
<br />
Aconteceu-me ver matéria aflita,<br />
Águas de um rio levando os afogados<br />
Compadecidamente.<br />
Com as mãos nos seus fundos, oscilando,<br />
Passando os corpos umas para as outras,<br />
Desfolhando-os aos poucos,<br />
De maneira<br />
Que aquilo que atinge finalmente o mar<br />
Nada recorda já. Águas que<br />
Despem a dor aos mortos,<br />
Que passeiam<br />
A sua lividez como uma flor.<br />
Vi, com meus olhos, os desfiladeiros<br />
onde despenham os executados,<br />
abrirem gentilmente a sua cova<br />
de areia e de erva,<br />
para que nele repousem<br />
a estoirada cabeça. O chão ondula,<br />
e a sua piedade<br />
tão desumana<br />
acolhe-os como um berço.<br />
Vi, que sei eu? a lâmina afastar-se<br />
do pequeno cabrito.<br />
Crias houve<br />
que mamaram das pedras, separadas<br />
que se acharam das mães por caçadores.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Hélia Correia</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Apodera-te de mim</b></div>
<div style="text-align: right;">
2002, ed. Black Sun</div>
<div style="text-align: left;">
fotografia de <span style="font-size: large;">Polly Borland</span></div>
<br />Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-72547909864150850262015-01-30T01:04:00.002+00:002015-01-30T01:04:13.115+00:00adeus à linguagem<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/dk2x3ZEsnh0" width="560"></iframe></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-49211982405600778072015-01-23T04:41:00.000+00:002015-01-23T04:41:00.392+00:00Encontro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-rZpEs5q7tYs/VKDbU84k8JI/AAAAAAAAH9Q/g7_M5cYfjOs/s1600/dumas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-rZpEs5q7tYs/VKDbU84k8JI/AAAAAAAAH9Q/g7_M5cYfjOs/s1600/dumas.jpg" height="320" width="256" /></a></div>
<br />
Não sou uma metáfora<br />
de silêncio<br />
mas sim a voz do nosso encontro:<br />
o falo<br />
impiedoso<br />
cujo timbre,<br />
como o de todos os mansos,<br />
quase todos os ternos,<br />
me excita<br />
até ao crime.<br />
Talvez esteja aí a tua submissão e o meu<br />
despotismo,<br />
escrita minha!<br />
Não nos censuro.<br />
Pelo contrário, acho que nos completamos.<br />
Belo encontro!<br />
Belo encontro! _ O magnetismo,<br />
a pele, o meu gingar<br />
de marinheiro e caravela masculina<br />
e a tua vulva cega<br />
e discursiva!<br />
Onde aprendi as calças metálicas,<br />
justas nas coxas,<br />
os seios cortantes?<br />
Pois. Num verso. Numa métrica sem rima.<br />
Porquê, então, o espanto?<br />
Todos os poetas são radicais e orgânicos,<br />
sobretudo se interessados<br />
no sexo.<br />
Por isso não te quero obediente,<br />
meiga<br />
e desvitalizada,<br />
tagarela<br />
e insípida,<br />
folheando uma revista inócua<br />
e não te passando sequer pela cabeça o não seres<br />
capaz de tomar uma resolução importante,<br />
tal como a de, por exemplo, mudar uma torneira<br />
ou viajar sozinha em busca<br />
de um harém<br />
suave.<br />
Porque deveria, então, sentir-me<br />
desapontada contigo?<br />
Somos tão parecidos! _ dizes.<br />
Claro: o mesmo arrojo, o mesmo minucioso<br />
cuidado no penetrar<br />
e sem traição<br />
e sem perfídia,<br />
a portuguesa<br />
língua.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Eduarda Chiote</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Não me morras</b></div>
<div style="text-align: right;">
2004, ed. &etc</div>
<div style="text-align: left;">
imagem: <span style="font-size: large;">Marlene Dumas</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-89783504600978107812015-01-20T04:49:00.000+00:002015-01-20T04:49:00.086+00:00Armas brancas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-X9BXbq4adOA/VKDdZ7UZaYI/AAAAAAAAH9c/Wpol3zbpc7E/s1600/ensor.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-X9BXbq4adOA/VKDdZ7UZaYI/AAAAAAAAH9c/Wpol3zbpc7E/s1600/ensor.JPG" height="262" width="320" /></a></div>
<br />
11<br />
Entre cantares (solitários, do povo)<br />
e discursos exacerbados de políticos<br />
a terra trabalha o seu fermento<br />
lêveda ainda das bocas<br />
colectivas.<br />
Cada semana absorve-te e resolve-se<br />
nas marés vivas dum corpo facetado.<br />
A economia é um pilar estilístico.<br />
Os homens de teatro imitam os tribunos<br />
e as noções de equipamento<br />
estendem-se à arte dos trágicos.<br />
O sexo, dizes, não se determina.<br />
Antes de senso<br />
Visconti declarou<br />
a terra toda que trabalha<br />
treme.<br />
Pasolini foi assassinado pelos seus próprios<br />
mitos.<br />
Não era tempo ainda da mão solidária<br />
figurar entre os ciclones da Roda que desanda<br />
inexoravelmente<br />
sobre o campo dos mártires sem causa.<br />
Virgens de uma razão alucinada<br />
os seus heróis dançavam por entre uma flora<br />
incandescente a meio termo do néon<br />
a um passo da vida pitoresca.<br />
As telas de cinema só se compadecem<br />
com a maquinaria hirsuta e caricatural<br />
dos enormes charutos do academismo<br />
e das cosmopolitas capitais do Falo.<br />
Esse jogo, jogava camuflado.<br />
Nos seus trabalhos diários, a terra<br />
continua a tremer por cima dos seus órfãos.<br />
Proletários do sexo e de todo o mundo<br />
uni-vos.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Armando Silva Carvalho</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Armas brancas</b></div>
<div style="text-align: right;">
1977, ed. Limiar</div>
<div style="text-align: left;">
imagem: <span style="font-size: large;">James Ensor</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-36033470605447743702015-01-17T23:23:00.000+00:002015-01-17T23:32:24.443+00:00Sobre o vídeo de "Elastic heart"<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/KWZGAExj-es" width="560"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sia Furler, cujo percurso começa no final dos anos 90, e esteve ligada Zero7, só conheceu sucesso a sério depois de participar um tanto inesperadamente nalgumas canções de David Guetta. O álbum mais recente, "1000 forms of fear", longe de ser a sua melhor produção, é sem dúvida o mais badalado, com o primeiro<i> single, Chandelier </i>a tocar irritantemente em tudo o que é bar, café, loja, discoteca, etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Elastic Heart,</i> o<i> single</i> mais recente, não é muito melhor, mas apresenta algo decurioso: o <i>videoclip</i>, à volta do qual se criou uma enorme polémica, com direito a acusações de incitamento à pedofilia, o que levou Sia a justificar-se e desculpar-se, o que me parece despropositado, pelo menos na segunda parte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não há nada de pedófilo no vídeo de <i>Elastic Heart</i>, realizado pela própria Sia e por Daniel Askill. Pelo contrário. Um acto de pedofilia pressupõe um mínimo de duas pessoas. E, na verdade, este vídeo tem factualmente dois corpos, mas apenas uma pessoa. Trata-se de uma das melhores peças recentes no campo do <i>videoclip</i> e a sua observação deve orientar-se, penso, pelo valor artístico e videográfico, e não pela paranóia excessiva dos nossos tempos tão pós-modernos, em que limpamos com lixívia pura qualquer indício de sexualidade, enquanto nos indignamos porque, durante séculos, a religião reprimiu o sexo. As contradições!</div>
<div style="text-align: justify;">
O vídeo de <i>Elastic Heart</i> só é erótico se o olharmos de forma muito desantenta. Pelo contrário, o impulso que anima este vídeo prende-se mais com a violência do que com o erotismo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Maddie Ziegler e Shia LaBeouf interpretam, no fundo, a mesma personagem, vista apenas de pontos-de-vista diferentes, que não são apenas dois mas, quanto a mim, quatro.</div>
<div style="text-align: justify;">
A interpretação mais imediata do vídeo (excluindo a da pedofilia, que não tem sentido algum) é a de que LaBeouf nos apresenta o indivíduo adulto e civilizado, enquanto Ziegler é a criança, ainda livre, em estado quase selvagem. O espaço da gaiola, que se torna uma arena para o confronto entre estes dois lados de um mesmo ser humano, representaria, desse ponto de vista, a consciência do indivíduo ou, indo mais longe, o <i>super-ego </i>freudiano, a voz da punição que força o <i>ego </i>a obedecer a convenções, socializações e comportamentos normativos e que, principalmente, pune a fuga a estes. Vários momentos do vídeo sustentam esta ideia, inclusivamente a capacidade que Maddie Ziegler tem, mas Shia LaBeouf não, de passar entre as grades da gaiola e sair: só uma criança consegue atravessar as barreiras da estruturação imposta a um adulto, porque, nela, o <i>super-ego </i>não está formado, mas em formação. Assim, não é de admirar o contraste nas coreografias de Ryan Heffington. Enquanto a de Ziegler é animalesca e atacante, a dele é uma defesa contida e impotente apesar de pujante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o confronto pode ser outro. Representar <i>apenas </i>a luta entre a idade adulta e a infância de uma mesma pessoa seria até mais evidente se se procurasse uma semelhança entre os dois intérpretes, mas é exactamente isso que não acontece. O que abre espaço para uma tensão paralela: a do masculino e do feminino. A violência do confronto entre a infância e a idade adulta não é menor do que a violência que ocorre quando nos apercebemos de que a nossa energia sexual e mesmo a nossa os limites do nosso sexo/ género não são necessariamente unilaterais. O que este vídeo nos pode oferecer é um retrato da dificuldade de um homem em assumir o seu lado feminino. Isto torna-se mais pungente quando percebemos que, principalmente na figura de Shia LaBeouf, não há nenhum apontamento de androginia. O seu corpo definido, os pelos corporais, a barba, são emblemas de uma masculinidade que não é ameaçada pela existência de um lado feminino. Portanto, este não devia constituir um problema: mas constitui. Ao ponto de despertar nele a necessidade de reafirmação. Para isto, podemos atentar na sequência em que LaBeouf trepa pelas grades da gaiola e, pendurado no centro, ergue o seu próprio corpo como se fizesse musculação. A câmara muda de ponto de vista e mostra-nos que, abaixo dele, Ziegler dança como se fizesse <i>ballet</i>. Usando dois actos tradicionalmente conotados com o masculino e o feminino, o que <i>Elastic Heart</i> nos propõe é que qualquer insistência sobre um não anulará o outro: intensificá-lo-á. O espaço da gaiola recupera assim a ideia de um <i>super-ego</i> que não esquece as convenções: neste caso, as convenções que pesam sobre ser-se homem na sociedade, por exemplo. No entanto, o final do vídeo apresenta um certo sinal de esperança, quando ele a toma aos ombros e começa a caminhar com ela, mesmo que incapaz de sair dos limites da jaula: dos seus próprios limites, afinal.</div>
<div style="text-align: justify;">
Seja na oposição criança/adulto, seja na oposição masculino/feminino, o vídeo de <i>Elastic Heart</i> é uma peça de extrema sensibilidade e de uma beleza simples. Quando se desculpou pelo <i>videoclip</i>, Sia explicou que Shia LaBeouf e Maddie Ziegler lhe haviam parecido os dois actores apropriados para fazer este vídeo. Está correcta. De Ziegler, só conheço os vídeos de Sia, mas Shia LaBeouf, um actor estranhamente monosprezado, tem um particular à-vontade para lidar com a problematização do sexo: isso viu-se no vídeo de<i> Fjögur Píanó </i>dos Sigur Rós, mas mais ainda no prodigioso "Nymphomaniac" de Lars Von Trier. Porque LaBeouf já foi capaz de incorporar a androginia no primeiro e o pior drama sexual masculino (a incapacidade de satisfazer aquela/e que desejamos) no segundo, o actor parece ter uma compreensão fluida e plural da sexualidade, e só alguém assim poderia ter feito este vídeo. No resultado final, a tensão entre os dois corpos (e não duas personagens) é credível e intensa e, o que será mais interessante, consegue multiplicar os seus próprios significados e tornar <i>Elastic Heart </i>uma proposta complexa mas imediatamente cativante, como convém a um <i>videoclip</i>.</div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-19038826283619664302015-01-15T00:36:00.000+00:002015-01-15T00:36:19.174+00:00A Perfect Circle: The hollow<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/KmbK084RzLc" width="420"></iframe><br />
<br />
Letra de <b>Maynard James Keenan</b> e <b>Billy Howerdel</b><br />
Do álbum "<b>Mer de noms</b>" (2000)<br />
<br />
(...)<br />
<i>'Cause it's time to bring the fire down</i><br />
<i>Bridle all this indiscretion</i><br />
<i>Long enough to edify</i><br />
<i>And permanently fill this hollow</i><br />
(...)Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-6281228989837041812015-01-14T05:08:00.000+00:002015-01-14T05:08:00.305+00:00Suor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-QtPD_4wb63o/VKDhzCPZS8I/AAAAAAAAH90/BDlxmj8cfm0/s1600/yona.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-QtPD_4wb63o/VKDhzCPZS8I/AAAAAAAAH90/BDlxmj8cfm0/s1600/yona.jpg" height="300" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora choveu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei onde estou. Conheço este ligar como se de mim falasse, mas não encontro a saída para dentro de mim. Queria muito dar um berro, o um beijo, mas não há ninguém. As lajes deste chão escorregam, as paredes também escorregam, não sei não, acho que este frio me vai derreter.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Corri tanto para chegar aqui. A luz está verde, e vermelha, que nunca vi em inglaterra, nem em frança, nem na holanda onde a torre de utrecht me dizia tudo o que eu não fui... Corri tanto para chegar aqui, eu que já aqui estava, eu que sempre aqui estive, eu que folheio livros de arte à procura de mim quando afinal o espelho basta, estou lá eu, estão lá todos, e é lá que todos são tão diferentes que os posso finalmente roubar, e esconder nos meus livros brancos, mas minhas casinhas brancas, nos dedos brancos dos que morrem nas estrelas amareladas das paredes, e nos pássaros de giz que eu não queria apagar e por isso não apaguei, porque eram o pouco que indica tudo, um pássaro voa mais de fiz, aqui não.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cheguei a um transporte rápido. Lisboa ensurdeceu-me de soslaio e agora, com o ruído do martelo e do berbequim, já estou viva outra vez. Estes pregos são meus. Foram eles que os pagaram mas são meus. Eu sou fértil. Eu sou fértil. Já pari milhões de crianças às escuras, e os projectores foram parteiros, e o fórceps é que me fode sempre, eu nunca digo palavrões. Estou a suar. Vão saber. Pari, pari, pari e estou a suar. Aqui não gosto de tomar duche. É só um canto seco onde não quero socos. Tirei tudo o que pude, porque preciso de espaço. Não sou dona de mais nada, mas o espaço é sempre meu. Aqui, posso convidar anónimos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Anónimos? Anónimos? Ah, fazer filhos com anónimos. Aqui, sobre as paredes, no chão: cada vez que aparecêssemos no espelho, seríamos filhos outra vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu corri. O outro buzinava, aqui só se ouve o ar condicionado e uma lágrima a secar. Foi aquele anónimo que vinha triste. Eu não sei, não estava cá, contaram-me. Porquê? Querem saber porquê. Ah, mas é bom. É bom o tronco que fala dos troncos e a porta que conduz às portas e eu às vezes estou apaixonada por mim e às vezes fujo e digo que não tenho tempo e às vezes eu minto porque estou comigo e há melhor pessoa?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pessoa. Neste espaço vazio uma pessoa cheia. Eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Manuel Cintra</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Alçapão</b></div>
<div style="text-align: right;">
2009, ed. &etc</div>
<div style="text-align: left;">
imagem: <span style="font-size: large;">Yona Friedman</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-74904360788549248192015-01-11T04:56:00.000+00:002015-01-11T04:56:00.056+00:00como que se constrói a solidão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-OtD3xc0-GnY/VKDe8dzK_DI/AAAAAAAAH9o/QkMwDRvlSeY/s1600/archizoom.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-OtD3xc0-GnY/VKDe8dzK_DI/AAAAAAAAH9o/QkMwDRvlSeY/s1600/archizoom.jpg" height="155" width="400" /></a></div>
<br />
como que se constrói a solidão<br />
altissonante e invisível<br />
nos descaminhos da inconsciência<br />
se tranquilo te afogas no sono<br />
não sendo ainda palpável a madrugada<br />
indo a cidade a meio da noite<br />
vazar seus contornos de lixo<br />
seus estertores de vasa e lodo<br />
a cada esquina em cada descampado<br />
_ é cedo um círculo insolúvel de luz<br />
persiste horas adentro<br />
nesta mesma folha de insónia<br />
que tão pérfida se faz silêncio<br />
<br />
ah hão-de os meus braços tolher<br />
a vibração dum grito amanhã todos os dias.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Wanda Ramos</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Poe-mas-com-sentidos</b></div>
<div style="text-align: right;">
1986, ed. Ulmeiro</div>
<div style="text-align: left;">
imagem: <span style="font-size: large;">Archizoom</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<br />Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-74564806084824664362015-01-10T02:24:00.000+00:002015-01-11T02:24:27.572+00:00Katatonia: Hypnone<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/zdiCO1m8X_w" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Do álbum "<b>Dead end kings</b>" (2012)</div>
<div style="text-align: left;">
Letra de <b>Jonas Renkse</b></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
(...)</div>
<div style="text-align: left;">
<i>No need to take the test</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>Before the dark must shine</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>Reflect my eyes</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>And strip this creation of mine</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>Tomorrow is so long</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>The dead end king is here</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>Black wings upon his back</i></div>
<div style="text-align: left;">
(...)</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-14323418893860775042015-01-07T22:16:00.000+00:002015-01-12T01:18:39.764+00:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-pyvr9r-ivLY/VLMg4hV99iI/AAAAAAAAH-Y/jaY-RJAnz6E/s1600/paris-je-suis-char_3160192k.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-pyvr9r-ivLY/VLMg4hV99iI/AAAAAAAAH-Y/jaY-RJAnz6E/s1600/paris-je-suis-char_3160192k.jpg" height="248" width="400" /></a></div>
<br />Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-27741638.post-26165348409261594892015-01-07T04:13:00.000+00:002015-01-07T04:13:00.082+00:00salmo I (no dia 25 de abril)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Gkp6LMplujk/VKDUozDXjFI/AAAAAAAAH84/8ANHrIpf-Ig/s1600/emil%2Bnolde.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Gkp6LMplujk/VKDUozDXjFI/AAAAAAAAH84/8ANHrIpf-Ig/s1600/emil%2Bnolde.jpg" height="237" width="320" /></a></div>
<br />
a solidão é a única coisa que continuamos a partilhar<br />
a solidão...<br />
tudo mais é procura inútil<br />
nós não procuramos nada<br />
nós somos o panfleto vivo<br />
contra a descoberta<br />
<br />
reivindico perante o deus uma culpa que é só minha...<br />
<br />
não _ berrou Luciano, o jogral.<br />
depois disto vociferou uma série de monossílabos irrecuperáveis<br />
mas quem acredita na tua bochecha linda<br />
que está no transístor, na capa, na cassete<br />
e na enseada verde onde o sol lambe as águas<br />
<br />
Luciano, meu arroto cor-de-rosa,<br />
podes parar os teus guinchos de esquilo.<br />
podes parar.<br />
reivindico perante o deus uma culpa que é só minha<br />
a culpa que não cegou os meus múltiplos olhos azuis<br />
apesar dos eclipses<br />
<br />
onde está a tua consciência cósmica?<br />
não ouves pulsar o coração da terra?<br />
e o arfar da erva?<br />
e o vento que mais uma vez te esculpe?<br />
<br />
o teu espaço é limitado pela barriga de uma mãe ciosa<br />
que não ousa parir-te<br />
<br />
(II)<br />
bonjour, Monsieur Chloroforme<br />
elle a dit d'un air agacé<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: large;">Regina Guimarães</span></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Ritos de eterna posse</b></div>
<div style="text-align: right;">
1974, ed. autor</div>
<div style="text-align: left;">
imagem: <span style="font-size: large;">Emil Nolde</span></div>
Supermassive Black-Holehttp://www.blogger.com/profile/13052714430247777436noreply@blogger.com0