domingo, 15 de agosto de 2010

Delta Goodrem: Delta

CRESCE(U) E APARECE(U)

É já de 2007 o álbum "Delta" de miss Delta Goodrem, e foram vários os motivos que me levaram a nem procurar o download do álbum (Indisponível em Portugal.) e esse o motivo por que nunca disse nada sobre ele. Os dois motivos essenciais do meu desinteresse foram, em primeiro lugar, a desilusão do anterior, e em segundo lugar, um vídeo que vi no YouTube e que não prometia nada de bom para o álbum mais recente.
Relembremos que Delta Goodrem, cantora e pianista, iniciou a carreira musical em 2003 com "Innocent Eyes", que era um álbum de uma menina de 18 anos que demonstrava uma tremeda inclinação para a beleza, a sensibilidade, construindo uma pop que não era dançável, preferindo o lado intimista e orquestral, que acentava melhor com as suas tendências algo líricas. "Innocent Eyes" tinha o problema que muito se aponta a artistas tão novos, que é por vezes cair numa excessiva fragilidade, que mais não faz que expressar uma outra forma de angústia adolescente, que não deixa de o ser.
Tinha ainda 18 anos quando lhe foi diagnosticado um cancro, que a afastou dos palcos por algum tempo. A experiência da doença naturalmente verteu-se para a música, e em 2005 chegava "Mistaken Identity". Se por um lado se notavam atmosferas mais negras nas composições, o resultado estava longe de ser o melhor. O segundo álbum tinha mais de adolescente frágil do que propriamente o primeiro. Não era, de facto, um álbum a ser recordado.





O que "Delta", em 2007 veio mostrar era uma nova Delta Goodrem. A começar pela imagem, demasiado "stronger woman", citando Jewel.
É, por isso, um descanso, começar a ouvir o álbum. Sobre "Delta" disse-se que seria um álbum de música pop/dance, e "Bring Me Home" era prenúnico desse desastre. No entanto, a canção acabou por não integrar o alinhamento final, sendo arrumanda no cd-single de "In This Life"."
Na verdade, "Delta" não é um álbum de dança, é, aliás, um muito bom álbum pop, melhor do que "Innocent Eyes". Talvez "melhor" não seja a palavra indicada: mais maduro.
Ela bem diz em "Woman" o seguinte:

I´m not a girl who don´t know
What she wants
I´m a woman (...)
Cause being your woman
Is not enough

E é bem verdade.
"Believe Again" faz a abertura. O início faz-se com um belíssimo arranjo de cordas, e, quando a canção ganha ritmo, com bateria e baixo, quase se acredita que estamos perante a canção dançável. Não é o caso. É uma balada que, não sendo triste, não deixa de ser forte.
"In This Life", que foi single de avanço, prossegue dentro do mesmo estilo, e mostra-nos uma Delta Goodrem que já nada tem da menina que cantava "Born To Try". Ela é mesmo essa cantora mais forte, com uma personalidade mais vincada.
Mesmo quando parece recuperar alguma fórmula do passado, como em "You Will Only Break My Heart", que nos faz lembrar "Throw It Away", Delta mostra-se capaz de uma reinvenção total, anulando os seus próprios fantasmas.
E se referimos fantasmas, tenho que evidenciar o meu desagrado por baladas como "The Guardian": não se trata de um fantasma do passado de Delta, mas de uma desagradável incursão pela power ballad celebrizada por Celine Dion. De facto, a menina tem voz para acompanhar, mas o resultado é demasiado lamechas para resultar. Em "Woman", que poderia cair na mesma precabilidade, isso não acontece, estranhamente: Delta foge dos excessos e até se faz acompanhar por um pequeno coro no final que, por mais que se utilize, never gets old.



Felizmente, nem tudo é assim, e canções como "Bare Hands", "One Day" (Uma espécie de mistura de pop/rock com algo de folk.) e "Good Laughs" trazem-nos a absolutamente nova Delta. O caso da primeira canção mostra como ela sempre deixou transparecer essa tendência para a pop-pastilha-elástica, com aquela linhazinha de sintetizador muito característica, mas a verdade é que ela dá-lhe a volta com o gotejar do piano, e fá-la resultar.
Consegue muito bem oscilar entre canções mais alegres, como "In This Life" ou "Brave Face" com outras mais tristes, como "I Can´t Break It To My Heart", e, mais importante do que demonstrar-se capaz de ambas as matrizes, consegue equilibrá-las. E essa é uma das características mais interessantes em "Delta": é um álbum muito equilibrado, mesmo sendo heterógeneo. Corre mais riscos do que os primeiros dois, pensa mais "ao lado", mas é bem sucedido, e é isso que interessa.
"Angels In The Room", outra das grandes canções de "Delta" e de Delta, fecha o álbum fundindo o piano e a orquestra com uma estranha electróncia que não soa intrusa, mas muito apropriada.
Vocalmente, Delta decidiu, e não mal, fugir do estilo delicodoce que por vezes nos fazia torcer o nariz em "Innocent Eyes" e "Mistaken Identity". Mesmo quando se mostra delicada, consegue estranhamente ser forte na sua vulnerabilidade. "I Can´t Break It To My Heart" é exemplo disso mesmo.
As letras, não sendo de Shakespeare, não deixam de ser interessantes, com ideias mais polidas e líricas do que acontecia no passado. "Bare Hands" parece-me ser a melhor. "Woman", que resulta como uma espécie de grito feminista/independentista, funciona também como uma espécie de cartão de visita da ideia de crescimento que "Delta" traz.
Isolando algumas canções que me parecem as melhores, escolheria "Bare Hands", "One Day", "Angels In The Room" e "Believe Again".
A verdade é que não consigo ouvir Delta Goodrem como ouço outros músicos, nem a consigo ouvir como ouvia ao tempo de "Innocent Eyes", mas isso é pessoal. Tentanto ser imparcial, parece-me que "Delta" é um álbum de decisões acertadas, que resulta muito bem. E é, ainda entre nós, um álbum pop de rara qualidade.


"In This Life", ao vivo

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