Há uns tempos, havia uma publicidade de uma marca de desporto cujo nome me escapa, mas que tinha este interessante slogan: "Onde começas não é necessariamente onde acabas".
Esta frase ocorreu-me ao ouvir "Sweet and Wild", o mais recente álbum de Jewel, lançado ainda este ano. Recordemos que Jewel, cantora, guitarrista e compositora, se estreou em 1994 com um álbum definitivamente original, "Pieces Of You". Era um álbum gravado só com voz e guitarra acústica, salvo algumas excepções como "Who Will Save Your Soul", "Foolish Games" ou "You Were Meant For Me", as canções que acabaram por ficar na memória de quem ouviu o álbum. Em 1998, "Spirit", produzido por Patrick Leonard, acrescentava outro tipo de instrumentos e outra sonoridade, mais complexa, e neste álbum encontramos "Hands", "Down So Long", "Jupiter (Swallow The Moon)" e "Life Uncommon", canções que imediatamente se acrescentaram à colecção de essenciais de Jewel. Em 2001 chegaria aquele que me parece o pico mais alto da discografia de Jewel, "This Way" decidia-se por uma sonoridade mais rock, e explorava a voz da cantora (Bastante potente, por sinal.) em registos completamente diferentes. "Standing Still", "Serve The Ego", "Till We Run Out Of Road" ou "Jesus Loves You" falam por si.
As coisas começaram a mudar de figura quando em 2003 Jewel, produzida por Lester Mendez (Que já produzira Shakira, J.Lo, etc.), lança "0304", que seguira o sucesso de "Serve The Ego", onde a orientação rock encontrava um lado dançável. Mas "0304" ia muito mais longe, era todo um álbum para dançar, virado para uma pop muito semelhante à de Christina Aguilera.
Em 2006, Jewel retornou felizmente à sua sonoridade soft-rock, e se o álbum não vinha acrescentar nada em especial aos primeiros três álbuns (No meu entender os melhores.), pelo menos sempre mostrava que Jewel voltara ao seu perfeito juízo.
"Perfeclty Clear", de 2008, vem já iniciar um novo percurso na música de Jewel, que abandonava um pouco o rock e enveredava pelo estilo country. Mas havia neste álbum algo que parecia ainda muito e perigosamente semelhante ao anterior, era excessivamente delicodoce, e, de certa forma, demasiado previsível. Salvava-se "I Do", afinal.
"Perfeclty Clear", de 2008, vem já iniciar um novo percurso na música de Jewel, que abandonava um pouco o rock e enveredava pelo estilo country. Mas havia neste álbum algo que parecia ainda muito e perigosamente semelhante ao anterior, era excessivamente delicodoce, e, de certa forma, demasiado previsível. Salvava-se "I Do", afinal.
Apesar do título do novo álbum apontar para essa atmosfera demasiado doce, a verdade é que não é bem isso que se passa. Não posso dizer que este lado, o lado country, de Jewel seja aquele que mais me agrada, mas uma coisa é facto: este álbum não é uma mera repetição do passado. É aqui que Jewel se revela uma "stronger woman" (Ainda que fosse no álbum anterior que estivesse esta canção.), produzindo a totalidade das canções, assumindo assim o controlo total sobre todo o material.
"Sweet and Wild" abre com "No Good In Goodbye", que mostra logo um outro tipo de ritmo e um outro tipo de som, muito marcado pelo banjo e pelo violino, duas claras marcas country. "I Love You Forever" perde um pouco dessa energia, mas logo "Fading" e "What You Are" recuperam-na. A primeira surge na tradição das melhores baladas jewelianas, desde "Foolish Games" a "Deep Water" e "I Won´t Walk Away", assim como "What You Are" que, na pior das hipóteses, peca um pouco por uma talvez excessiva fragilidade, que, de qualquer forma, tem vindo a ser uma faceta constante da música de Jewel.
"Bad as It Gets" volta um pouco ao som mais expedito de "No Good in Goodbye", e, ainda que seja a única canção que não é composta por Jewel, acaba por se coadunar muito bem no conjunto das restantes. "Summer Home In Your Arms", que não é uma canção particularmente boa, tem ainda o condão de recordar um pouco todas as fragilidades musicais do álbum anterior.
"Stay Here Forever", que se segue, parece-me ser a melhor canção. Apesar da vulgaridade da mensagem romântica, a composição segue um esquema interessante, e é a canção que mais personaliza o estilo country, ao passo que, noutras canções, como a anterior, pode parecer que Jewel se limita a fazer aquilo que já foi feito.
"No More Heartaches" repete também essa particularidade da personalização do estilo, porque, apesar do som realmente novo, "No More Heartaches" segue aquela linha que já vinha um pouco de "This Way", dos lamentos que não parecem lamentos por conteram algo de extremamente luminoso: lembre-se "Till We Run Out Of Road" ou "This Way".
"One True Thing" é outra das boas canções de "Sweet and Wild", e também a que melhor explora a capacidade vocal de Jewel. Serve bem para aqueles ouvintes que a conhecem e sabem que há sempre uma música onde somos obrigados a admitir que o aparelho vocal de Jewel é realmente impressionantes. Neste álbum é "One True Thing". Quase o mesmo acontece com "Ten", que, apesar de tudo, é uma canção muito bem conseguida a nível de ritmo, e também uma canção bastante moderna: de alguma forma, parece estar muito de acordo com algumas das melhores canções pop surgidas nos últimos tempos, o que é estranho porque, por norma, a música que está na moda passa sempre ao lado de Jewel, o que, até agora, só a tem favorecido. Destaque-se nesta canção ainda o solo de banjo.
"Satisfied" fecha o álbum, e fecha muito bem: é a única canção com arranjos de cordas, onde se ouve ainda um piano (Invulgar na música de Jewel.), e, apesar do fantasmagórico tom delicodoce, a verdade é que nesta canção ele não cai completamente mal. E se estamos a falar do que está mal, nem se fala da capa, que não só a pior capa de Jewel como uma das piores que já vi em toda a vida.
Um aspecto muito negativo que realmente me surpreendeu foi a extrema predicabilidade das letras deste álbum: algumas conseguem ser piores do que as de "Perfectly Clear". Aliás, neste álbum, ser-me-ia muitíssimo difícil destacar a letra de determinada canção como "a menos má". Bem sei que para muitas pessoas a letra de uma canção não tem interesse, mas a verdade é que esse nunca pareceu ser o caso de Jewel que, recordemos, lançou em 1998 o livro de poemas "A Night Without Armour". Quem diria que doze anos depois, ela estaria a escrever versos como estes?
São, acima de tudo, boas canções de country-rock, próximas mais de uma Sheryl Crow do que das Dixie Chics, entenda-se; algumas melhores que outras, mas, no geral, todas elas, com nítida impressão digital de Jewel. E quem como eu a ouve desde o início, sabe que os álbuns dela sempre foram feitos de canções boas e de outras completamente dispensáveis, tradição que "Sweet and Wild" mantém: retenham-se "Fading", "What You Are", "Stay Here Forever" e "No More Heataches" ou "Satisfied".
Se "Sweet and Wild" pode ou não competir com os grandes álbuns de Jewel não sei. Este é um álbum diferente, distante da Jewel que conhecemos nesses primeiros três albuns. Haverá quem prefira a primeira, e quem prefira a segunda. É sempre discutível qual é a melhor, mas a boa notícia é que, afinal, Jewel é só uma, mas vale por duas.
"Stay Here Forever", da banda sonora da "Valentine´s Day".
2 comentários:
Linda, a Jewel!
No vídeo... Da capa do disco nem vamos falar.
Fico contente por ver que ainda há quem a ouça.
Abraço
Enviar um comentário