Paula Morão, que considero uma ensaista de grande inteligência e especial sensibilidade escreveu, a propósito de "Morrer A Ocidente" um texto, do qual transcrevo um excerto, acerca da escrita de Luísa Dacosta, com o qual concordo inteiramente:
A hiperconsciência que aqui se lê, desmontando ela mesma o mito de que se alimenta, conduz a um final elegíaco, sob o signo da despedida (como, aliás, acontecia no livro ["A-Ver-O-Mar] de 1980). Depois da confirmação do nome A-Ver-O-Mar, que "dura há séculos e continuará depois de mim. Sem mim" (p.125), encontra-se a despedida, retomando primeiro à descrição simbólica da casa-corpo, "ovo e berço" agora, "concha vazia" como há-de ficar um dia, e estendendo-se depois à luz sobre o mar, operando a fusão entre o "eu" e a paisagem marítima ("sou a gaivota [...] sou a pedra, p.218). O fim do livro coincide com o descrever da encomendação das almas tal como se pratica na região de A-Ver-O-Mar, ritual de lembrança e do entrelaçar da vida e da morte: "Ali as práticas dos vivos sobrepunham-se à encomendação das almas. Ali a vida triunfava da morte" (p.221). Assim se unem duas metades, mundo e escrita dele, através da palavra mágica [...]
Lendo este livro apuradíssimo, secreto e intenso, penso em António Nobre, em Raul Brandão, em Irene Lisboa: como (me) acontece com as deles, a escrita de Luísa Dacosta fica ecoando, no espaço mais íntimo dos dias.
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