terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dido: Safe Trip Home

QUIET TIMES

Dido é daquelas cantoras cuja voz parece, por si só, ser uma boa razão para que se ouça a música. Estreada em 1999 com "No Angel", foi com toda a facilidade de Dido afirmou o seu projecto como um dos mais interessantes no panorama da música da década que agora termina. A boa aceitação por parte da crítica chegou com o álbum, o reconhecimento do público chegou mais com a escolha de "Here With Me" no genérico de Roswell High, e, no caso de Portugal, a inclusão de "My Lover´s Gone" na banda sonora de uma novela brasileira. O resto chegou daí para a frente, e é justo que canções como "Hunter", "Thank You", "Slide" ou "Isobel" (Que fazia parte da b.s.o. de "Sete Palmos de Terra".) ainda nos estejam na memória.
"Life For Rent", de 2003, vinha re-afirmar a qualidade da música de Dido, desde "White Flag" a "Sand In My Shoes" ou "Life For Rent" ou "Don´t Leave Home".
Dido era a autora de uma música dreamy, suave quer na melancolia quer na alegria, uma música sóbria, elegante. E, mesmo quando as canções soavam um pouco vagas, o que acontecia por vezes, a voz melodiosa e quente compensava.
Terá sido isso que fez com que Dido seja daquelas cantoras que, se não se gosta dela, pelo menos se diz "não gosto de tudo, mas gosto de muita coisa".
A "Life For Rent" seguiu-se um silêncio de cinco anos, em que Dido editou apenas um álbum ao vivo, em 2005.




"Safe Trip Home" chega aos escaparates em 2008. A lista de colaboradores incluiu agora o famoso Brian Eno, e Matt Chamberlain, cuja lista de colaborações incluiu os Pearl Jam, Fiona Apple, Natalie Merchant e Tori Amos, que acompanha desde "From The Choirgirl Hotel", entre muitos outros.
É caso para dizer que o título do álbum está muito bem escolhido. O grande problema de "Safe Trip Home" é justamente que joga demasiadamente pelo seguro. De certa maneira, este álbum teria feito mais sentido um ano após "Life For Rent" ou um ano antes, mas a verdade é que não parece reflectir cinco anos de composição e produção e, principalmente, de evolução.
Porque "Safe Trip Home" não é um mau disco, bem pelo contrário. Cá está de novo a fenomenal voz de Dido, cá está o estilo que lhe conhecemos, cá estão as grandes canções, como "Grafton Street", "Us 2 Little Gods", "The Day Before The Day", um dos momentos de mais quietude do álbum e talvez o momento mais insólito, ou "Quiet Times" ou "Let´s Do The Things We Normally Do". "Northern Skies" parece ser a única canção em que somos surpreendidos, com um ritmo electrónico discreto, e uma composição que quase nos faz pensar em jazz. O senão é que estas canções poderiam perfeitamente fazer parte dos álbuns anteriores, não se nota uma muito grande diferença senão em pequenos detalhes.
Para começar, a música de Dido parece agora atravessar uma fase em que encorpora um certo gosto pela improvisação, como se nota principalmente em "It Comes and It Goes", por outro lado, os arranjos são mais subtis, mais invulgares, como se vê em "Don´t Believe In Love", que mesmo assim me parece um dos momentos mais frouxos de "Safe Trip Home". Poderá parecer sem sentido que diga isto, mas é como se Dido tivesse "acalmado". Parece sem sentido dada a serenidade que sempre caracterizou a sua música, mas parece-me que ao terceiro disco, Dido se torna menos imediata, preferindo um caminho menos evidente, o que resulta bem.
E aí é que bate o ponto: é que, fora essa mudança subtil, pouco se pode dizer de "Safe Trip Home" que não se possa dizer também de "No Angel" ou "Life For Rent".
Porque mesmo as referências, que neste caso sempre soam longínquas, mas que poderíamos atribuir-lhe parecem ser ainda as mesmas, Sarah McLachlan, Suzanne Vega, talvez até alguma Sade Adu.
O álbum de 2008 rebusca as composições suaves e luminosas de sempre, aceita o ritmo que surgira quase como uma novidade no de 2003, em termos de letras mantém a simplicidade que não é predicabilidade que sempre foi o estilo de Dido.



Salientam-se algumas canções, as que acima enumerei, mas a verdade é que este álbum, no bom e no mau, não representa nenhum especial avanço.

Há que entender que "Safe Trip Home" é uma colecção de boas canções, apenas não o é de novas canções. É uma prova de que Dido não consegue fazer nada de mau, porque neste disco não há nada que piore, que represente uma queda. O que fica por saber é se é capaz de fazer mais do que já fez.



o vídeo de "It Comes and It Goes"

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