segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Michelle Branch: Broken Bracelet

BARBITÚRICO

Penso que há um prazer um tanto sádico em ouvir um álbum renegado pelo seu autor. Até há bem pouco tempo, eu desconhecia completamente a existência de "Broken Bracelet", o EP que em 2000 estreou Michelle Branch. Para todos os efeitos, a cantora/guitarrista/compositora considera "The Spirit Room" de 2001 o seu álbum de estreia.
Só há uns dias, ao escrever o comentário sobre "Everything Comes and Goes" me lembrei de procurar o download do EP de 2000.



É de realçar que Michelle não só desconsiderou esse EP como retirou do mercado todos os exemplares que dele restavam, armazenando-os num estúdio em Nashville. Em Maio deste ano, as cheias nessa cidade inundaram o armazém e todos os exemplares foram definitivamente destruídos.
Interessa começar por realçar que a decisão de retirar "Broken Bracelet" do mercado foi a mais acertada.
O título do álbum vem de uma curiosa história: Steve Poltz, músico, ofereceu a Michelle uma pulseira feita pela própria Jewel, uma clara referência para M. Branch, dizendo-lhe que quando a pulseira rebentasse, Michelle seria uma cantora.
O EP, produzido pela própria, foi gravado em 1998, com canções compostas entre os 14 e os 15 anos.
Olhando para o alinhamento, vemos que quatro destas nove canções foram gravadas de novo para "The Spirit Room". É importante comparar as duas versões, porque ficamos a perceber uma coisa: pode parecer que aos 14/15 anos não é possível escrever boas canções, e de facto, em "Broken Bracelet" é difícil encontrar uma canção que realmente nos satisfaça. Mas ouvindo as versões de 2001 de "If Only She Knew", "I´d Reather Be In Love", "Sweet Misery" e "Goodbye to You", percebemos que de facto é possível em idade tão tenra escrever boas canções, a questão é o amadurecimento que a gravação deve conter. E é isso que falta a "Broken Bracelet": maturidade. As boas composições já estão lá, mas ficam completamente penalizadas pela imaturidade com que são gravadas. Aliás, comparando essas quatro canções com as suas versões posteriores, parece que nestas Michelle canta depois de ter ingerido uma grande quantidade de barbitúricos. Falta a este EP alguma garra, alguma energia.


A maioria das canções são cantadas com uma excessiva delicadeza, que não deixa de parecer um sinal de amadorismo.
Salva-se um pouco "Sweet Misery" que não soa totalmente mal nesta versão só com voz e guitarra acústica.
De resto, "If Only She Knew" parece um mero lamento adolescente, "I´d Reather Be In Love" deita por terra uma excelente melodia e uma excelente letra em detrimento de uma forma de cantar demsiado afectada. "Washing Machine" é aquele tipo de canção em que não consiguimos distinguir o que é que nos soa mal, mas o facto é que alguma coisa soa mal; "I´ll Always Be Right There" chega a ser penosa, porque não só é uma canção muito aquém do estilo de Michelle Branch como ainda faz um tremendo esforço por evidenciar o que já todos percebemos: que não é a voz que falha a esta cantora.
A "Goodbye to You" parece mesmo faltar alguma coisa, a linha de bateria, sintética, enfatiza a falta de um ritmo mais definido e "Second Chances" é a balada típica de qualquer menina a querer muito ser cantora.
Do conjunto, "Stewart´s Coat" e "Sweet Misery" são as que não parecendo propriamente boas pelo menos parecem menos más. A segunda foi reaproveitada para o álbum de 2001.
"Broken Bracelet" é mesmo o álbum de uma rapariga que tem o potencial mas não tem a maturidade. Não se pode dizer que seja uma leiga. Nota-se um bom conhecimento da música de Sheryl Crow ou de Jewel ou de Alanis Morissette, um conhecimento que passa por compreender certas técnicas vocais e formas de composição. Mas no geral "Broken Bracelet" não soa a mais do que um eco a que falta consistência.
Por essas e outras coisas é que realmente Michelle acabou por excluir este EP da sua discografia. E a verdade é que, ouvindo "Broken Bracelet" esquecendo os dois álbuns que se lhe seguiram, ninguém diria que esta rapariga ainda ia escrever canções como "Drop In The Ocean" ou "Find Your Way Back"...



Sweet Misery, na versão de 2000

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