Cair da tarde, quanta dor encerra!
A sombra desce, não se sabe de onde,
Como alcateia tímida que ronde,
Cobrindo os montes, envolvendo a serra.
Corre, ondulando, pelos vales... E erra,
Nódoa no mar, ou nuvem que na fronde
Das gigantescas árvores se esconde
E gota a gota escorre para a terra.
Cair da tarde... Em que lugar eu fosse?
Em que terra estivesse? A mesma doce
E amarga chama verde que em mim arde!
Perto de ti... Perdido na distância...
O mesmo encanto unido à mesma ânsia...
Vida... Amor... Ilusão... Cair da tarde!
João Cabral do Nascimento
Litoral
1932, ed. autor
Cancioneiro
1963, ed. Portugália
2a ed. Inova, 1976
pintura de Mark Rothko
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