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domingo, 13 de novembro de 2011

Um regresso ao passado de José Saramago


Recentemente, foi editado o romance 'Claraboia' de José Saramago. Pouco mais de um ano passado sobre a sua morte, a Fundação José Saramago, presidida pela viúva, Pilar del Rio, tem sido particularmente activa e cuidadosa tanto no trabalho de reedição de muitos títulos que já estavam indisponíveis ou quase, bem como na edição de alguns textos de ou sobre Saramago que muito interessa que tenhamos ao nosso dispor, para conhecer melhor a obra do escritor.
Como lemos numa pequena nota inicial, 'Clarabóia' é um romance cuja redacção terminou a 5 de janeiro de 1953, contava Saramago 31 anos de idade e um romance publicado, a 'Terra do Pecado' (1947) que durante tantos anos permaneceu na obscuridade. A questão da publicação póstuma de obras deixadas inéditas pelos seus autores é sempre controversa, de certo ponto de vista. Um exemplo do perigo desse trabalho é a edição póstuma dos dois volumes de 'Post-Scriptum II' que Mécia de Sena preparou, depois da morte de Jorge de Sena: trata-se dos poemas juvenis do autor, escritos desde (Salvo o erro.) os 14 anos de idade e diga-se de passagem que muitos deles, mais do que serem irrelevantes para um estudo da poesia de Jorge de Sena, nalguns casos até se tornam indignos.
Não é, pelo menos até agora e, esperemos, não será de todo o caso de Pilar del Rio que tem sabido manter toda a dignidade na edição da obra de José Saramago. Isto é particularmente importante quando o caso é como o de 'Claraboia', em que, ao que se sabe, o escritor terá dito que, mesmo não querendo em vida ver o romance editado, a decisão de existir uma edição póstuma caberia à sua executora literária. Ainda não terminei o livro mas, independentemente de tudo, penso que Pilar tomou a decisão acertada. De facto, ainda que este romance nos surja como embrionário, quando confrontado com os romances posteriores, nunca ele deixa de nos parecer um livro bastante rico em ideias, escrito com uma clareza exemplar e cheio de subtilezas de linguagem e, além disso, ele é já demonstrativo das questões filosóficas, éticas e existenciais que seriam sempre uma parte crucial em José Saramago.




A verdade é que a leitura deste livro me fez revisitar um livro que há já alguns anos não relia, talvez dada a condição um tanto estranha que esse livro ocupa na bibliografia do vencedor do Nobel. Refiro-me ao iniciático 'Os Poemas Possíveis', cuja primeira edição, de 1966, da editora Portugália, não tenho (E dada a inflação dos preços nos alfarrabistas, duvido que vá ter nalgum futuro mais próximo...), mas tenho a segunda, já da Caminho, editada em 1982. Acontece que esta segunda edição, como Saramago explica no seu prefácio, procurou tornar Os Poemas Possíveis possíveis outra vez. Ao menos. (p.14), o que se traduz, não na exclusão de poemas da primeira edição, nem na inclusão de inéditos, mas em várias reescritas e correcções dos poemas originais. Mas, pelo menos no que toca aos textos da edição de 1982, fiquei de certa forma surpreendido. Surpreendido por encontrar neste livro alguns poemas cuja intensidade e o rigor me tinham escapado quando li o livro pela primeira vez, em que me pareceu, de alguma forma, um tanto tradicional e até conservador, para um livro surgido já depois do Poesia 61, da Poesia Experimental e de uma série de outros autores que se tinham estreado na década de 60, como Yvette K. Centeno ou Armando Silva Carvalho, entre outros.
Mas de facto, esta tarde, vagueando pelos poemas de Saramago, alguns fui encontrando em que já estão presentes algumas das ideias centrais da obra que surgiria depois, como uma certa mensagem política, a redescoberta do eu na escrita, que muitas vezes de aproxima de outros personagens, e, claro, o grande tema da arbitrariedade dos desígnios da vida e a necessidade de tomarmos conta do nosso destino. É uma maneira muito simplista de colocar um assunto que é de longe mais complexo, mas a verdade é que, aparte alguns tradicionalismos formais, algumas imagens que encontramos nestes poemas não deixam de ser bastante fortes, e a forma como estão escritas, que sabe dar à escrita uma dimensão plástica propriamente dita, e não apenas descritiva, tornam valiosos alguns destes textos.
Não sabemos a que ano ou -mais provavelmente- anos, estes poemas pertencem. No entanto, não será difícil imaginar que eles tenham sido escritos ao mesmo tempo que o recém-publicado 'Claraboia', ou então pouco tempo depois, e é curioso ver como, afinal, nestes 'Poemas Possíveis' parece existir a ideia da escrita -presente não só nas artes poéticas- que, de certa forma, nos parece dar um perfil deste José Saramago que tão mal conhecemos, o destes anos entre 1947, ano de 'Terra do Pecado' e 1970, ano em que, a partir do segundo volume de poesia, 'Provavelmente Alegria', Saramago começa a publicar com grande regularidade. Por exemplo, em Meias Solas:

Bem sei que as meias-solas que deitei
Nas botas aprazadas não resistem
À calçada do tempo que discorro.

Talvez parado as botas me durassem,
Mas quieto quem pode, mesmo vendo
Que é desta caminhada que me morro.

que pode, de certa forma, representar a luta pela escrita que, sabemos, era particularmente dura nesta época, em que Saramago não era aceite pelas editoras -aliás, acontece que 'Claraboia' foi entregue a uma editora em 1953, que só nos anos oitenta aceitaria editá-la, o que o escritor recusou.
E já em 'Claraboia' encontramos o escritor que escreve da observação de um imaginário minucioso e detalhado, que nada fica a dever ao real. A história de um prédio e dos seus inquilinos, com as suas intrigas, as suas amizades e inimizades, os seus segredos e os seus rumores, pode funcionar, como acontece frequentemente com os livros de Saramago, como uma parábola, uma representação do mundo, viva e palpável. Ou, nas palavras do próprio, em «As palavras são novas...»

Somos iguais aos deuses, inventando
Na solidão do mundo estes sinais
Como pontes que arcam as distâncias.

este podia ser um resumo dos livros de José Saramago, incluindo 'Claraboia': são sinais daquilo que nos une a todos, enquanto Homens, inventados na grande solidão que essas uniões não evitam.



sábado, 24 de setembro de 2011

A Jornada dos Cabisbaixos


Eu não acredito em eternidades. Acredito no entanto que há tempos que tanto duram, que nos parece realmente que se prolongam para sempre, ainda que essa percepção possa ser errónea. 
A imagem de um bebé numa piscina, com os braços abertos para uma nota, como se lhe fosse dar um afectuoso abraço é uma imagem que tem tudo para nos dar essa impressão de durar para sempre. A 24 de Setembro de 1991, exactamente há vinte anos atrás, era lançado um álbum com essa imagem na capa. 'Nervermind' era o segundo LP dos Nirvana, que vinte anos depois continua a ocupar um estatuto mais que especial, verdadeiramente único na história do rock. Talvez ainda hoje não consigamos entender porquê. 
'Nevermind' está longe de ser o melhor álbum dos Nirvana, no entanto, ele é o mais emblemático. Smells Like Teen Spirit é a canção que abre o álbum, foi o single e é justo dizer que, ao lado de Zombie dos The Cranberries, é um dos hinos de toda uma geração. Não será de todo inadequado dizer que a geração que por estas duas canções fica marcada é a minha, pois, apesar de eu ser pouco mais que uma criancinha quando esta canção aparece, a verdade é que elas vão, ao longo da década de noventa conquistar o seu estatuto, precisamente junto daqueles que têm hoje a minha idade ou próxima.
O que diz então 'Nevermind' que outros álbuns não disseram? Olhar o rosto de Kurt Cobain, ler-lhe as entrevistas ou ler as letras que escrevia pode muito bem responder a esta pergunta. Kurt Cobain era o homem de rosto belo, mas cujos olhos denunciavam o cumprir de uma penitência que era imposta de dentro, e não pelo exterior. Na capa do álbum, o bebé alegremente aceita a nota que lhe deitam como um isco, e que representa todo um sistema -capitalista e outro- que a sociedade espera que todos aceitemos assim, de braços abertos, e sorrindo inscientes. E esta é a história de 'Nevermind': a história de uma geração que está presa no momento da fotografia: o momento antes de aceitar o isco, o momento em que nos perguntamos se realmente devemos aceitá-lo, ou se devemos agarrá-lo para o destruir, ou se devemos terminantemente recusá-lo. O resultado, cantado e tocado, teria que ser desconcertante, e assim é. Onde Smells Like Teen Spirit é um relato de uma certa leviandade, de um não querer saber, as outras canções são construídas com base na banalidade do quotidiano, de onde o autor, Cobain, sabe extrair a violência de um pensamento invasor, de uma imagem perturbante, de um sentimento de repulsa e de nojo que causa a vontade da auto-destruição. Como na melhor poesia, aqui encontramos o avesso do visível: é um mundo interior que se volve nocivo quando confrontado com um mundo exterior em que não temos lugar. In Bloom, Come as You Are, Lithium ou Territorial Pissings são exemplos dessa dualidade, entre a vontade de aproximação e a mágoa de se ser consciente da impossibilidade.
Musicalmente, tudo em 'Nevermind' é sujo, explosivo e, de certo ponto de vista, quase excessivo. Onde as guitarras e a bateria parecem criar tensões doentias e violentas, a voz surge entre o berro e o sussurro, as palavras mal pronunciadas. Tudo nos dá a sensação de estarmos dentro da mente de alguém, onde o que interessa não é exactamente a realidade, mas o efeito que ela tem em nós, esse que, como já foi dito, é nocivo.

'Nevermind' não tem a qualidade que tem, por exemplo, 'In Utero' (1993), mas tem outras características, suficientes para fazer dele uma insígnia, de falar daquilo que passou ao lado da maioria dos músicos. E, acima de tudo, 'Nevermind' é um relato na primeira pessoa do plural, e não uma observação por terceiros. Isso o faz tão altissonante.
A fechar o álbum está uma das canções mais famosas dos Nirvana, Something In The Way, que é quase uma crónica de uma morte anunciada. Difícil será encontrar uma outra peça artística onde estejam tão nítidos os contornos da dor, da culpa, do luto e do arrependimento. Esta canção tão simples vem confirmar 'Nevermind' como o diário de uma jornada, a jornada dos cabisbaixos, que não assistiam a 'Beverley Hills', não sonhavam com Hollywood e, se calhar, não sonhavam com nada mesmo. E como existirão sempre os cabisbaixos, aqueles que tiveram o azar de nascer com os olhos abertos, eu creio que não é só a capa de 'Nevermind' que permanecerá nesse tempo longo que por ilusão de óptica parece eternidade: as canções do álbum também ficarão, como uma prova de que sempre haverá alguém que se recusa a morder o isco, mesmo que o preço seja o da própria vida, como aconteceu com Kurt Cobain que hoje saúdo, mais do que nos outros dias.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crises, Casamentos e outras coisas começadas por C

Costumo jantar num sitiozinho pequinino perto de casa, onde aproveito para ver os noticiários, já que, em casa, não vejo televisão.
Aqui há uns dias, encontrei algo de interessante: com as medidas impostas pela troika do FMI & Cia, estavam a fazer um especial sobre o ponto de vista dos portugueses residentes em Londres acerca do casamento real. Eu tenho pouco talento para este tipo de matérias e, até ter visto uma notícia no jornal, na véspera do casamento, pensava que o princípe que ia casar era o Harry. Evidentemente, nem segui o casamento pela TV, nem andei à procura de nada sobre o assunto, por várias razões, das quais a mais decisiva é o facto de não me importar.


Entretanto, como começava este texto, há uns dias, estou a tentar seguir o noticiário, quando, após algumas notícias sobre as peripécias do Governo e dos seus comparsas, começam a falar de novo sobre o casamento de Kate Middleton com o príncipe William.


Àparte o facto de eu achar interessante que haja quem se preocupe com isto ao mesmo tempo que se diz que as medidas do FMI serão piores do que o PEC4; pensei que era um verdadeiro achado quando um comentador qualquer dizia que, no fundo, o casamento de Kate e William era uma mensagem de esperança para toda a gente, porque afinal, o príncipe casou com uma plebeia. Esse foi o momento em que tive que me rir. Se é o caso, deviam condecorar Kate Middleton com uma medalha de mérito por fazer serviço público, uma medalha dourada que tivesse a seguinte inscrição: KEEPING THE DREAM ALIVE. Seria cómico, no mínimo.


Não sei ao certo, mas penso que li algures que, actualmente, há no mundo inteiro 31 monarquias. Como não tenho paciência para uma investigação mais detalhada, vamos partir do princípio que cada uma delas conta com dois príncipes solteiros: isso resulta em 62 potenciais casamentos com meninas plebeias. E, assim sendo, a mensagem de esperança de Kate aplica-se hipoteticamente a 62 pessoas espalhadas por 31 países do mundo. Meritório, não haja dúvidas. Se tudo correr bem, as tais meninas plebeias percebem isso, e o que acontece? Temo-las espalhadas pelo mundo a cantar "I´m beggin of you, please don´t take my man!".


Também não entendo a originalidade da ideia do príncipe casar com uma menina do povo, depois do caso de Letizia Ortiz. Um casamento com uma sem-abrigo seria mais criativo.


Acho ainda curioso o facto de Portugal ser uma República, portanto, não tendo monarquia, para onde vai essa "mensagem de esperança"? Mais ainda, mesmo que esse fosse o caso, em que é que sonhar ajuda quando estamos a lidar com a questão da crise, que, aparentemente, bem que pode passar para segundo plano ao lado do casamento real britânico?


Uma vez mais, temos a televisão a desprezar aquilo que realmente importa: consciencializar as pessoas acerca daquilo que se está a passar.


Tudo bem... temos uma crise a decorrer e preparamo-nos para viver mais espartilhados do que o habitual, mas felizmente há, não luar, mas casamento real. No Reino Unido.



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quando Capitalismo e Livros se Juntam

A meia-dúzia de pessoas que vai lendo este blog, imagino eu, deve interessar-se por livros. Se assim é, e principalmente se tiverem uma idade que ronde a minha, já devem ter experienciado qualquer coisa como o que se passou comigo esta noite: de passagem por uma livraria de Viana do Castelo, fui perguntar se tinham um livro que quero ler- "Infância e Palavra" de Luísa Dacosta- e, quando me disseram que não tinham, pedi que verificassem se existia nos armazéns da livraria, que faz parte de uma grande cadeia (Ok, ok, era a Bertrand.), ao que me responderam que não, não senhor.


Já mais tarde, lembrei-me que se trata de um dos volumes da colecção Pequeno Formato, que a Asa publicava antes de ser vendida à Leya. Não terá sido há muito tempo que li vagamente um artigo, penso que de António Guerreiro, em que se referia o destino dos livros que existiam antes da venda (Que não é da alma ao diabo, mas quase.). Bom, aparentemente, grande parte dos livros desta colecção foram guilhotinados pela gigante multi-editora.

Concluí sem estranheza que provavelmente os que não foram guilhotinados foram os que já se encontravam esgotados- caso das maravilhosas "Canções do Rio Profundo", de Yvette K. Centeno.

Se esta medida tem por si só o evidente peso de nojo e de anti-cultura que não preciso de especificar, ele torna-se mais grave ainda quando pensamos que, a todo o momento, a obra de um autor está a ser descoberta por novos leitores. É o meu caso, que só há alguns meses me cruzei com a obra de Luísa Dacosta, que me seduziu especialmente, e que gostaria de poder reunir na minha estante.

Face a isto, e à ideia em vias de extinção de que fazer um livro é ainda produzir cultura, não compreendo realmente como alguém no seu perfeito juízo manda guilhotinar milhares de livros de autores como António Ramos Rosa, Sophia de Mello Breyner, Maria Velho da Costa, Eduarda Chiote, António Rebordão Navarro, Jorge de Sena, Mário Cláudio, José Viale Moutinho, Manuel António Pina, Albano Martins, João Miguel Fernandes Jorge, Vasco Graça Moura, Inês Lourenço entre muitos outros. E isto sem falar das colaborações na parte gráfica, que contam com hors-texte de artistas como Júlio Resende, Jacinta Andrade, Jorge Pinheiro, José Cutileiro, Armando Alves, Lídia Vieira, Arpad Szenes, Mário Botas, José Rodrigues, Mário Cesariny de Vasconcelos, António Cruz, entre muitíssimos outros, sem contar com a sempre preciosa mestria gráfica de Armando Alves, a quem devemos o formato e a apresentação dos livrinhos.
O que a Leya não parece perceber é que desperdiça completamente o trabalho de José da Cruz Santos que, méritos e deméritos àparte, dirigiu primorosamente a colecção, como também os textos e desenhos de todos esses colaboradores, que por mais que não esgotem necessariamente edições, não deixam de ser nomes que estão na História da Literatura portuguesa. É uma das mais insultuosas maneiras de faltar ao respeito a todos: os leitores, ao director da colecção, ao director gráfico, aos autores e aos artistas.
Se estas obras foram sobrando nos armazéns da editora, não quer dizer que por aí ficassem para sempre, porque, como acima afirmei, as obras dos autores estão sendo contínuamente descobertas; não acredito que eu tenha sido o único leitor português que nos passados meses se cruzou com um dos autores que existem nesta colecção.
E se era muito caro para a editora reservar espaço para os livros, por que guilhotiná-los é a única solução? Podiam muito bem ser distribuidos pelas livrarias a um preço baixo (Lembro que cada um custa cerca de 12 euros, o que pode ser muito para um livro de "pequeno formato".), ou até fazer uma feira e vendê-los nem que fosse a 50 cêntimos, porque sempre dava mais lucro do que pura e simplesmente destruí-los.
É por estas e por outras que não consigo acreditar que o uma postura capitalista possa rimar com fazer livros, porque inevitavelmente alguma coisa se perde no caminho. Relembre-se que em Portugal, fazer livros, ou livros com a qualidade dos desta colecção, não é realmente um negócio de grandes lucros, e quando uma mega-editora compra uma pequena editora, deveria estar ciente disso.
O que se passou sempre em Portugal com o mercado do livro nunca deu boas notícias. O pior é quando no meio das más surgem estas que são muito muito más, como é o caso.
Restam aquelas pequenas livrarias onde as editoras nem se lembram de levantar o stock, pode ser que lá encontre o livrinho que procuro...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

as nódoas

Nos últimos tempos, tenho voltado ocasionalmente à televisão. Gosto principalmente de séries, algumas (Por exemplo, já mal me lembrava de “Once and Again” a repetir na FoxLife, e até achei piada a “Valentine”.)
Mas uma vez ou outra, lá tropeço em coisas menos desagradáveis.
Este desabafo fala de duas delas.

A primeira é na televisão nacional: uma vez mais, a TVI revela o seu gostinho mórbido pela desgraça, e, às sextas feiras, Manuela Moura Guedes presenteia-nos com a desgradável presença de Vasco Pulido Valente no telejornal das oito.
Sou sincero, tenho algumas dificuldades em ouvir gajos que nunca fizeram a pontíssima de um corno mas que, por alguma razão têm sempre palco para vir criticar o que os outros fazem. A questão é que VPV teve a sua oportunidade de passar à prática as ideias da sua mui iluminada mente quando esteve na Assembleia, eleito pelo PSD, mas a verdade é que a sua passagem fez lembrar o Ribeiro, do Programa do Aleixo, que é um homem invisível. Só que o Ribeiro ainda tem alguma piada. O VPV soa apenas amargo. Há uma fronteira entre o niilismo e a estupidez, mas aparentemente, isto escapou tanto ao sujeiro como a quem lhe serve de microfone. Eu percebo que a TV precise das suas vozinhas fascistas… mas o que é demais, sempre ouvi dizer, é erro.
Por sorte, a Manuela Moura Guedes nunca se limitou a ser a jornalista que faz perguntas. Ela sempre teve um prazer sádico de discutir com os entrevistados (Como Miguel Sousa Tavares certamente corrobora.), e às vezes até se demonstra mais razoável que eles.
Houve um tempo em que, na última página do Público, lá passava os olhos pela crónica de VPV, mas depois, comecei a perceber que a escrita, ou melhor, o conteúdo, rimavam com o ar do cronista, e achei melhor parar, correndo o risco de ter uma crise de vómitos semanal.
Agora, só para ter a certeza de que a voz do apocalipse chega mesmo às massas, passaram-no para a televisão. Depois queixam-se que o país está como está. E pior, acham estranho que a nossa política regrida no sentido da ditadura… Pudera.
É por estas e por outras que, garantidamente, não assistirei ao jornal das oito na TVI.

A outra questão vai direitinha para as séries. Se disse que gosto de “Once and Again” (Que já é velhinho, tenho ideia que os meus pais viam…), também me deparo com algumas surpresas menos boas na FoxLife.
É o caso de uma série chamada “The Huntress”, em português, “As Caça-Recompensas”, que passa algures às duas ou três da manhã na FoxLife. É mais uma série pós-CSI, onde a investigação é o foco. Neste caso não é bem criminal, mas é quase.
Mas estão a ver aquelas séries que estão tão mal filmadas que, por mais que tenham alguns pontos positivos, ninguém repara? É isso tudo.
“The Huntress” é a história de duas caça-recompensas, mãe e filha, que prosseguem o trabalho do falecido patriarca, e caçam pessoal que tem dívidas. Até aqui tudo bem. O problema reside na predicabilidade e no toque amador que começa no argumento e termina na realização. Obviamente, a interpretação de Anette O´Toole fica perdida no meio disto tudo e, por sinal, também não é propriamente o melhor que esta actriz terá para oferecer.

Com estas e outras, qualquer dia divorcio-me de novo da televisão.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"poema do funcionário cansado"

era o nome de um poema de António Ramos Rosa, do seu primeiro folheto, "O Grito Claro", folheto esse que conta já 51 aninhos.
Não sou um funcionário cansado, sou um universitário cansado.
Estou supostamente de férias e não tenho vontade de voltar. Acho que a partir do momento em que tirar um 14 faz com que sejamos alunos bestiais algo está errado.
Além disso acabo de fazer uma frequência de Arquitectura Contemporânea em que gastei o meu tempo a fazer uma caligrafia legível para variar... uma seca.
Then again... para quê queixar-me?

(daqui a uns dias devo eliminar esta corja)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

enterrar a pátria

Hoje, como de resto faço todos os dias, voltei da faculdade e fui para o café tentar não adormecer, e comecei a discorrer interiormente sobre o que estava a ver na televisão. Era uma reportagem sobre um jogo qualquer, em que o focado principal era Cristiano Ronaldo, essa peça.
Felizmente, já acabou, pelo menos parcialmente, a febre de Cristiano Ronaldo, que consumiu a televisão durante semanas, após ele ter ganho um prémio qualquer. Por sorte, há quase três anos que, salvo raras excepções, desisti da televisão. Mas, não o nego, gosto muito de estar em cafés, cafés esses que por norma têm uma televisão pela qual ocasionalmente passo os olhos. E, nos útlimos tempos, raios me partam se sempre que isto acontecia não se estavam a passar programas sobre Cristiano Ronaldo ou a anunciar os mesmos.
Palavra que não percebo nada disto.
Tivémos uma cantora como mais ninguém teve, e que teve que morrer para que a caixinha que terá mudado o mundo, lhe dedicar um grande documentário. Refiro-me a Amália que, parece-me, terá deixado descendência, directa ou indirecta. Exemplo de Mísia. Há alguns anos, recebeu a título de Cavaleiro das Artes e das Letras em Paris, e ninguém fez metade deste escândalo a propósito disso. Pergunto-me eu por que razão temos que ser plasmados com a suposta grandiosidade dum arruaceiro que dá uns chutos numa bola, e quase não somos avisados de um prémio de muito mérito de uma pessoa que há anos quebra barreiras e consegue sempre ser indiferente aos puristas que a acusam de não estar a cantar fado.
Também não percebo o porquê de espaços como o DeLuxe ou o FamaShow, mas a propósito destes, que em tempos já tive a infelicidade de ver, nem que por segundos, relembro a frase fantástica da tia de todos os portugueses, Lili Caneças, que, com uma inteligência inesperada nos diz que
_Estar vivo é o contrário de estar morto.
Ora, realmente, a própria provavelmente não faz a mínima ideia da razão que tem. Portugal é uma pátria de mortos. Alguns deles já mortos mesmo, outros ainda não.
Refiro-me aos nossos artistas, e àqueles que, como eu, aspiram a sê-lo um dia. Senão vejamos o que é feito de nomes como Luiza Neto Jorge, Luiz Pacheco, Wanda Ramos ou outros. São pessoas que uma determinada elite conhece e para o comum dos mortais é perfeitamente desconhecido. Os nossos editores, supostamente os grandes defensores dos livros, não fazem um esforço por que tal não aconteça- Onde estão as reedições? Há uma obra completa de Luiza Neto Jorge, mas, a meu ver, um tanto mal alicerçada.
Onde estão os documentários sobre pessoas como Yvette Centeno, Isabel de Sá, Regina Guimarães…? Estão à espera que morram para lhes dar o mérito que merecem?
A papelaria onde costumava comprar a Magazine Artes deixou de a pedir porque só vendia um exemplar por mês (O meu.). Os livros da &etc estão à venda em lugares muitíssimo específicos. As prateleiras de poesia nas livrarias passaram de certeza pelo “Doutor Preciso de Ajuda”, porque emagrecem a olhos vistos. O mau gosto é uma constante em todas as publicações mais megalómanas. As edições de autor nem sequer estão disponíveis para que lhes possamos passar um olhar mais crítica. Os jornais e revistas contentam-se com destaques a pessoas já conhecidas, o que até já é bom, mas por norma dão pouca atenção aos nomes emergentes ou mais escondidos. Nem sequer fomos (Público.) avisados de que o PEN Clube vai a eleições, e que Ana Hatherly e Casimiro de Brito poderão deixar a presidência deste.
Livros aparte, porque é que os bons filmes passam, no caso do Porto, por norma apenas no Cidade do Porto? E as retrospectivas? Nunca ocorreu aos senhores da programação fazer antologias, como se vão fazendo no Teatro do Campo Alegre e no Fantasporto? O Filipe LaFeria faz o que quer no Rivoli, e ainda se recusa a retirar os enfeites de Musica no Coração durante o Fantas. O Pedro Mexia ameaça tomar posse da Cinemateca. As exposições em Serralves são cada vez mais elitistas na escolha dos artistas e daí, excessivamente mainstream. Em que país estamos nós?
Tenho que ir no metro e no comboio a ouvir um bando de broncos a falar aos berros, a dizer palavrões e a ser ordinários, porque ninguém está interessado em educá-los. Na escola lá se vão repetindo os mesmos valores balofos de há não sei quantos anos, que à maioria entra a cem e sai a duzentos, Sócrates vai dando uma muito rara palmada nas costas ao Ministro da Cultura que, diga-se de passagem, tem feito bem menos que eu pela cultura (E eu não faço muito pela dos outros, estou sinceramente mais preocupado com a minha.). Os professores são achincalhados com reformas e mais reformas inúteis, e não se reforma aquilo que é ensinado ou a forma como deve ser ensinado. Os autores são assassinados nas aulas de Português porque nos livros está escrito que eles devem morrer.
Nisto tudo, palavra que não percebo por que raio me deveria interessar pelo Cristiano Ronaldo…

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

hoje

na minha aula de Geometria disctuiu-se esta voz.

sinto-me no direito de achar que tenho mais razão que a minha professora, porque acho que esta voz é brutal.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

cadavre exquis

por João Borges, Sérgio Marafona e Cátia de Almeida

Eu começo: Assim começa:
Era uma vez da praxe, coiso e...
Gostei de ver, estavam todos de kit.
Havia um peixe que fumava haxixe, mas nunca
conseguiu atingir o orgasmo por isso...
Tal como o Paulo S. organizei o meu arquivo!
Um dos livros falava de uma mulher que só comia paus de champagne.
É obvio que paus de champagne é uma metáfora metaforicamente metafórica.
Sim, ou não? Paus de champagne fariam muita gente feliz.
Ou outro tipo de paus.
De repente o Capuchinho Vermelho percebe que há pedras à beira dos paus. O que é estranho visto falarmos de escudos e não de euros.
Euros não é uma cá com capuchinhos... Faz-me lembrar a Cinderella, puta e drogada, a sonhar com o baile dos gigolôs.
Ou da Linda Reis outra vez no Herman Sic. É frustrante pensar...
Por falar em "Linda" e em "Herman" e como toda a gente sabe da cor do cabelo do Herman. E por falar em cabelo...
Por falar em cabelo, lembro do cabelo do nosso "Casper" que aqui há uns anos não tinha nem um fio mas que agora anda para aí todo casparizado do cabelo.
As pessoas e os fantasmas crescem e ganham novas características. Neste caso, trata-se do príncipe que ascendendo a rei, tem um manto (de caspa) sobre os ombros. Mas podiam ser pelos púbicos em vez de cabelo.
A omnisciência dos fantasmas faz com que a sua magnificiência transceda os frutos silvestres. Gostas de amoras? Vou dizer ao teu pai que já namoras.

(feito durante a meia hora em que se discutiu a data de entrega do trabalho de História da Arquitectura que tínhamos acabado de entregar.)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

2008: para o bem e para o mal

o bem

José Saramago, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Herberto Helder, José Luís Peixoto e Rui Lage, Eduarda Chiote, António Ramos Rosa e Maria Velho da Costa trouxeram-nos novidades livrescas: "A Viagem do Elefante", "O Arquipélago da Insónia", "Praça de Londres", "A Faca Não Corta o Fogo", "Gaveta de Papéis", "Corvo", "Não é Preciso Gritar", "Horizonte a Ocidente" e "Myra".

o concerto de Bjork no festival do Sudoeste

os Portishead trazem a lume o seu mais recente álbum, "Third", 11 anos depois do anterior


as sessões de poesia da Fundação Eugénio de Andrade

a actuação dos Muse no Rock In Rio

a estreia de "O Programa do Aleixo" na Sic Radical

a eleição de Barack Obama

o movimento Não Apaguem a Memória, a promover uma série de sessões sobre a história da ditadura e do 25 de Abril

Fernando Meirelles adapta "Ensaio Sobre a Cegueira" de Saramago ao grande ecrã, com Julianne Moore no papel principal

a exposição "The Love Box" de Isabel de Sá

prosseguem as "Quintas de Leituras" no Teatro do Campo Alegre

deixou de se falar do caso Madaleine McCann

os concerto de Massive Attack Editors e de Lou Rhodes a passarem pelo Porto

a exposição de Peter Zumthor no LX Factory de Lisboa

a quarta época de "Donas de Casa Desesperadas" vem finalmente a lume

o 100º aniversário de Manoel de Oliveira

Peter Greenaway traz-nos "A Ronda da Noite" sobre Rembrandt

Mariza, Nico Muhly, A Naifa, Muse, Goldfrapp e Annie Lennox lançam novos álbuns "Terra", "Mothertongue", "Uma Inocente Inclinação Para o Mal", "HAARP", "Seventh Tree" e "Songs Of Mass Destruction"

e eu saí do Ensino Secundário e passei para o Superior...



o mal

a vergonha da edição de "A Faca Não Corta o Fogo" de Herberto Helder pela Assírio e Alvim

a mudança de Ministro da Cultura não trouxe quaisquer consequências relevantes

o anúncio de José Saramago de que "A Viagem do Elefante" será o seu último livro

"True Blood", a nova série de Allan Ball, que fez furor com "Sete Palmos de Terra" não estreia na televisão nacional

termos ouvido Sarah Pallin

termos ouvido John McCain

termos ouvido e sido governados por José Sócrates

o nosso governo, cada vez mais ditatorial

o novo estatuto do aluno

o novo estatuto da carreira docente

Britney Spears ainda (Finge que) canta

foi necessário Manoel de Oliveira fazer 100 anos para que lhe dessem este destaque

o novo álbum de Madonna, "Hard Candy" uma absoluta desilusão

a actuação decadente de Amy Winehouse no Rock In Rio

o exame de Desenho a ser muito mais complicado que nos anos anteriores, quando com o resto dos exames aconteceu o oposto

a vergonha do Rivoli quando no Fantasporto, La Feria se recusou a retirar as terríveis decorações de "Música no Coração" do espaço

uma coisa chamada FamaShow

outra coisa chamada Rebelde Way
outra coisa chamada Morangos com Açúcar
uma coisa chamada Just Girls
uma coisa chamada Angélico que dos DZRT passa a cantar a solo

os novos álbuns de Sia, Kate Walsh e Vanessa Carlton a não serem publicados nos escaparates do nosso jardim à beira mar plantado

entra em prática a nova lei da proibição do tabaco. Raros cafés se tornam "salas de chuto"





Agora façamos contas

domingo, 9 de novembro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 5: christina aguilera "dirrty"

Não há voz que a salve. Sim, já percebemos que está por ali muita gente muito nua, mas a Christina já tinha idade para perceber que já ninguém aprecia esta performance da miniatura no meio dos matulões.

A esquecer.

videos que me fazem rir 4: Britney "Baby One More Time"

Quem não se lembra de momentos tão quotidianos como este? A beleza deste vídeo é essa mesmo: todos nós saímos das salas de aula a começamos a dançar no meio do corredor...

O ar desolado da então (Supostamente.) virgem Britney antes da cena no campo de basket também merece referência.

PS: Este é dedicado à minha amiga Filipa Teixeira a.k.a. Lipa

videos que me fazem rir 3: Kelis "Bossy"


Eu acho que este nem precisa de comentários... o mau gosto conhece aqui a plenitude.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 2: Madonna "Like a Virgin"

Como é que aquela gôndola não virou com Madonna a dançar e espernear daquela maneira??

E que passagem é aquela de um leão para um homem mascarado de leão? Enfim, os anos 80 têm destas. entre outras coisas. Podem-me dizer o que quiserem, mas este vídeo não é um ponto alto na carreira da rainha da pop...

ps: como não podia deixar de ser, este é para a Catarina Moura

terça-feira, 21 de outubro de 2008

videos que me fazem rir 1: J.Lo "Que Hiciste?"

Depois de um desgosto de amor, Jennifer vai explodir um carro para o deserto. Por mais que seja extremista e dramático, é compreensível. No entanto, não percebo porquê parar numa estação de serviço para pintar o cabelo de preto... É um luto? Uma alma gótica revelar-se na menina bonita da pop?

E já que ia para o deserto explodir um carro, e que depois teria que voltar a pé, não teria sido uma boa ideia ter comprado uma garrafa de água na estação de serviço?

ps: Claro que este é para a Sofia

terça-feira, 26 de agosto de 2008

crónica com alguns meses



A manhã serve para arrumar a noite anterior. Dar-lhe um pontapé para um canto do quarto, deixá-la esquecida até mais ver. Há que correr entre o tomar banho, o vestir, o tomar o pequeno-almoço de pé, a olhar para fora da janela a ver sabe-se lá o quê, são coisas de que ninguém se lembra.
Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta á chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida.
Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.
Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior.
A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio.
Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.
Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas.
Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer.
Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou á vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.



Porto, 12 de Maio de 2008




imagem: Alfred Stieglitz, 1915

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Passagem pelo Sudoeste 2 (apontamento)

Brilhante instalação/happening/performance em pleno Festival do Sudoeste. Uma plataforma de banhos transparentes. À entrada, um rapaz recebe o mulheru ou o homeru com um olhar sorumbático. Estes entram, pisando um tapete rolante. Primeiro molham-se, depois uma menina ou duas meninas seringam-nos com gel de banho, molham-se de novo, secam, e saem com um cartão enorme que diz ENROLA-TE COMIGO.
Enquanto isto, três sapos gigantes passeiam e falam com as pessoas.
Influências claras de Robert Mapplethorpe pelo erotismo de todos os envolvidos; de David Lynch e Louise Bourgeois na naturalidade com que sapos e pessoas conversam. Brilhante.

sábado, 2 de agosto de 2008

cut writing

I´m so sad, like a good book I can´t pull this day back. Look how it ends, see the way it kills. Thought I´ve tried, fallen I have, sunk so low, I messed up. I cannot dessapear, I´ve tried again and again and again and again. I´ve been down so god damn long that it looks like up to me . I was alone, falling free trying my best not to forget lips are turning blue, a kiss I can´t rennew, I only think of you. You give yours I give you mine and we´ll fast forward to a few years later, and no one knows except the both of us.
All the king´s horses and all the king´s men, they couldn´t put our two heart together again, so I got me some horses to ride somewhere too close, not far away. And clever got me this far, then tricky got me in. Then your look chenged into leftovers of a war in our name, I refuse. Here, there´s a time when independence fells a lot like lonelyness. Bleeding is breathing, I saw you crawling to the door. And you should know that love will never die, but see how it kills you in the blink of an eye. You came on your own and that´s how you´ll leave.

A partir de músicas de Tori Amos, The Gift, Sarah McLachlan, Jewel, The Doors, Placebo, Muse, Alanis Morisette, Aretha Franklin, Caroline Lufkin, A Perfect Circle, Blind Zero, Lou Rhodes, Natalie Imbruglia, The Cardigans, The Editors.

domingo, 29 de junho de 2008

mimetismos

este é um post de homenagem a todas as pessoas que já me disseram com quem eu sou parecido. Algumas respostas pareceram-me tão disparatadas, ou cómicas, ou despropositadas, ou até acertadas, que achei que mereceriam aqui ser referidas.
Então eu tenho cara de

Jesus (a minha antítese, obviamente)
Jim Morrisson (para mim é um elogio)
Comunista (quê? porquê?)
Poeta (ok, fixe)
Anjo Barroco (não sou loiro, nao tenho olhos azuis, nem asas, nem sou redondo)
Trovador (canto muito mal, nao percebo)