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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

The Borgias de Neil Jordan

A HISTÓRIA MAIS ANTIGA DO MUNDO



No segundo volume do díptico 'Lisboaleipzig', intitulado 'O Ensaio de Música', diz Maria Gabriela Llansol

''poder'' era a palavra mais próxima de uma palavra muito feia

e sobre estas duas palavras, ''poder'' e a que está próxima dela, poderíamos dizer que versa a mais recente criação de Neil Jordan. 'The Borgias' é uma reconstituição, cingida ao formato televisivo, da família Borgia, no século XV em Roma. 
Com a morte do Papa Inocêncio VIII em 1492, instala-se no Vaticano uma crise de sucessão, uma vez que não parece ser claro, dos três cardeais mais poderosos, qual ocuparia o cargo de Papa. Rodrigo Llançol de Borgia (Jeremy Irons), com ajuda do filho, Cesare (François Arnaud), um clérigo contrariado, irá comprar os votos da maioria dos cardeais do conclave, e assim se torna o Papa Alexandre VI.


Mas a série centra-se, além das peripécias corruptas e calculistas de Alexandre VI, na sua difícil vida familiar. Com a amante Vannozza dei Cattanei (Johanne Whalley), tem quatro filhos: Cesare, clérigo, rapidamente feito cardeal, quando Alexandre VI decide aumentar o conclave para garantir a sobrevivência do seu pontificado, que veste o hábito por imposição do pai, Juan (David Oakes), um militar sem grande aptidão, que acabará por se tornar Duque de Gândia, Lucrezia (Holliday Grainger), uma inocente rapariga cujo primeiro e desastroso casamento iniciará num longo percurso de manipulação diga da verdadeira e perigosa sedutora, e ainda Joffre (Aiden Alexander), um rapaz de catorze anos, que, em breve, estará casado com uma filha do rei de Nápoles, que aproveita para dormir com os dois irmãos mais velhos do marido. A este conjunto acrescente-se ainda Giulia Farnese (Lotte Verbeek), a nova amante do Papa.
É entre a complexidade do agregado familiar, gerido mais pelos interesses do poderio do que pelos afectos, e o percurso pessoal de cada um dos Borgias que esta série cria o seu enredo, denso e certeiro no que toca a dar-nos uma dimensão do estado da Igreja Católica durante o Renascimento. Mais ainda, esta série demonstra-nos que, realmente, o Poder como forma de controlo e manipulação é a história mais antiga do mundo, de que os Borgias foram exemplo crasso, e assim verificamos que Gabriela Llansol estava correcta, e que o Poder concentrado nas mãos de um é a melhor forma de foder todos os outros (Sabemos perfeitamente que esta era a palavra a que ela queria chegar...).
É evidente que a série, para existir enquanto isso mesmo, série de televisão, se vê forçada a, muitas vezes, distorcer um pouco os factos históricos, não só em vários lapsos temporais, como na própria concepção de personagens. Por exemplo, Cesare Borgia foi responsável pela morte de muitas pessoas e, depois de renunciar ao seu lugar de cardeal, tornou-se um déspota de tal forma exacerbado, que mereceu referência no 'Príncipe' de Maquiavel, ao passo que aqui o encontramos como um personagem algo torturado e que ganha em intensidade o que perde em alegria, intensidade essa que François Arnaud parece hesitante em conseguir no episódio-piloto, mas que encarna assinalavelmente nos restantes. O mesmo se diga em relação à escolha de Holliday Grainger para o papel de Lucrezia Borgia: Neil Jordan surpreende-nos com uma Lucrezia Borgia que não é a femme-fatale canónica e, bem pelo contrário, torna-se manipuladora e sedutora por parecer tão cândida e quase acriançada. Mais ainda, Jordan segue o rumor, nunca comprovado historicamente, de que existiria uma relação incestuosa entre Cesare e Lucrezia.


Ora e se evidentemente não poderíamos exigir rigor histórico num formato destes, poderíamos, isso sim, exigir uma recriação verosímil da época da família Borgia e, nesse aspecto, Jordan excede todas as expectativas. Tudo em 'The Borgias' parece ter sido pensado ao pormenor, desde as roupas aos cenários, com diálogos eficazes e bastante significativos.
Terminada a primeira época, que só recentemente começou a ser exibida em Portugal, a segunda começará em breve nos Estados Unidos, e pode ser seguida pela internet. Se a qualidade continuar, é caso para dizer, corruptos eles ou não, longa vida aos Borgias.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

American Horror Story



Já vi os dois primeiros episódios, e gostei. Fiquei bastante surpreendido, por duas razões: a primeira é que os criadores desta série são Brad Falchuk e Ryan Murphy, os criadores das séries Nip/Tuck e Glee, duas séries que têm sobre mim o efeito de me deixar no mais completo coma mental (Costumo ver Glee quando estou terrivelmente cansado ou com problemas.); a segunda é que uma série sobre uma casa assombrada parece a ideia mais cliché que se podia encontrar para uma série de horror.
No entanto, confesso que American Horror Story me surpreendeu ao máximo. Trata-se da história de um psiquiatra, Ben Harmon (Dylan McDermott) que se muda com a família para uma casa antiga em Los Angeles, depois de, em Boston, ter tido um caso com uma aluna, aquando de uma fase difícil entre ele e a mulher, Vivien (Connie Britton), quando esta tem um aborto espontâneo. A casa, apesar de espantosa, é bastante barata, uma vez que o anterior habitante havia assinado ali mesmo o seu namorado, suicidando-se depois.
Evidentemente, fica no ar a suspeita de que a casa estará, muito provavelmente, assombrada.
Além dos fragmentos do passado que nos são mostrados no início dos episódios, há ainda a premonitória presença obsessiva de Addy (Jamie Brewer), uma rapariga mongolóide, da sua mãe um tanto invulgar, Constance (Jessica Lange) e a governanta Moira, que aparece como uma mulher velha (Frances Conroy) a todos, com excepção de Ben, que a vê como uma jovem atraente (Alexandra Breckenridge).
Para aumentar o ambiente um tanto surreal que se respira naquela casa, a filha adolescente de Ben e Vivien, Violet (Tarissa Farmiga) começa a namorar com um dos pacientes do pai, Tate (Evan Peters), que sofre de uma grave perturbação que inclui o instinto de matar aqueles que ama.
A série está cheia de referências ao universo sado-masoquista, e, por outro lado, parece interessada em reinventar alguns dos clichés do cinema do terror, tornando-os, nessa reinvenção, um não-cliché, por assim dizer. Tratando-se de uma série de televisão, cuja primeira season (Não está decidido se haverá segunda.) conta com treze episódios, é de notar que é criado um certo impasse relativamente a algumas questões, no entanto, esse impasse não se traduz numa ausência de novos dados sobre a casa, nem num retardar da acção: bem pelo contrário, os dois episódios marcam já alguns avanços na narrativa.
De louvar é também a escolha dos actores, que recusa completamente os estereótipos em que o horror parece ter caído, e que se prendem essencialmente com o compensar do elemento gore com a beleza física dos actores. Não há aqui gente feia, no entanto, todos os actores parecem gente normal, e a isso a caracterização bastante casual ajuda muito.
Por último, destaco ainda o genérico, que consegue ser a um tempo discreto e contundente, com imagens que, não sendo, pelo menos até agora, relacionadas com o universo da série, para o seu género nos remetem.
A continuar a ver, sem dúvida.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Luther



Terminou recentemente a segunda temporada da série britânica "Luther". A primeira contava com seis episódios e a segunda com quarto. É um pouco triste que uma série com as qualidades desta tenha tão poucos episódios enquanto outras, menos interessantes mas mais vendáveis, se arrastam por intermináveis temporadas com inúmeros episódios que já não convencem ninguém. Claro que me estou a referir a "CSI".
"Luther" é uma série de investigação criminal, mas que nos obriga a esquecer tudo o que pensamos que sabemos sobre séries de investigação criminal. Dizer que isto se deve ao facto de esta ser uma série europeia pode parecer árido à primeira vista, mas a verdade é que explica muita coisa.
Segui avidamente a primeira época que nos conta a história de um polícia, John Luther (Idris Elba) que, por mais competente que seja, não nos surge nunca como um herói, nem perto disso. Luther tem um carácter agressivo e quase totalitário, é o homem que não olha a meios para atingir os fins. Só não é detestável porque os seus fins são, em princípio, nobres. A descoberta da sua personalidade e da sua vida conturbada é assunto dos episódios, bem como dos crimes, invulgares, agoniantes e violentos, que investiga na cidade de Londres.


No entanto, o que aqui há de mais fascinante é a relação insólita que John Luther desenvolve com a primeira criminosa que investiga mas que não consegue apanhar: Alice Morgan (Ruth Wilson) é uma sociopata charmosa, genial e absolutamente maligna a quem acontece o pequeno acidente de se fascinar pelo homem que tenta provar que ela havia assassinado os pais a sangue frio. É pouco claro se Alice se apaixona por Luther (Porque se coloca a questão se uma sociopata poderá verdadeiramente ter sentimentos.), mas o que é certo é que se comporta dessa forma, talvez por finalmente conhecer alguém de quem se sente igual, e não superior.
A relação entre os dois vai avançando ao longo dos episódios e instiga em nós talvez bem mais curiosidade do que propriamente os crimes investigados.
É por isso que esta segunda época corre mal. Tudo o resto que a série tinha de interessante, tanto a nível de argumento como de realização, mantém-se. Mas Alice Morgan desaparece no segundo episódio. Luther tem uma nova "protegida", Jenny Jones (Aimee Ffion-Edwards) que pode ser adorável, mas não é fascinante como Alice Morgan.
Destaque-se ainda uma banda sonora excelente, em que se ouvem canções de Emiliana Torrini, Marilyn Manson, Sia Furler e Muse, entre outros.
Ainda não está decidido se "Luther" terá terceira temporada. Mas a meu ver, nem vale a pena tentar, se Alice Morgan não estiver incluida.


(A série integral pode ser descarregada a partir daqui: http://www.baixartv.com/download/luther/)



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Boas notícias






contrariamente ao que a Fox tinha anunciado há uns tempos atrás, "Fringe" terá quarta temporada. Fico felicíssimo, já que penso tratar-se de uma das melhores séries de ficção científica de sempre. Além disso, o último episódio da terceira temporada, passado ontem, é particularmente empolgante.






Crises, Casamentos e outras coisas começadas por C

Costumo jantar num sitiozinho pequinino perto de casa, onde aproveito para ver os noticiários, já que, em casa, não vejo televisão.
Aqui há uns dias, encontrei algo de interessante: com as medidas impostas pela troika do FMI & Cia, estavam a fazer um especial sobre o ponto de vista dos portugueses residentes em Londres acerca do casamento real. Eu tenho pouco talento para este tipo de matérias e, até ter visto uma notícia no jornal, na véspera do casamento, pensava que o princípe que ia casar era o Harry. Evidentemente, nem segui o casamento pela TV, nem andei à procura de nada sobre o assunto, por várias razões, das quais a mais decisiva é o facto de não me importar.


Entretanto, como começava este texto, há uns dias, estou a tentar seguir o noticiário, quando, após algumas notícias sobre as peripécias do Governo e dos seus comparsas, começam a falar de novo sobre o casamento de Kate Middleton com o príncipe William.


Àparte o facto de eu achar interessante que haja quem se preocupe com isto ao mesmo tempo que se diz que as medidas do FMI serão piores do que o PEC4; pensei que era um verdadeiro achado quando um comentador qualquer dizia que, no fundo, o casamento de Kate e William era uma mensagem de esperança para toda a gente, porque afinal, o príncipe casou com uma plebeia. Esse foi o momento em que tive que me rir. Se é o caso, deviam condecorar Kate Middleton com uma medalha de mérito por fazer serviço público, uma medalha dourada que tivesse a seguinte inscrição: KEEPING THE DREAM ALIVE. Seria cómico, no mínimo.


Não sei ao certo, mas penso que li algures que, actualmente, há no mundo inteiro 31 monarquias. Como não tenho paciência para uma investigação mais detalhada, vamos partir do princípio que cada uma delas conta com dois príncipes solteiros: isso resulta em 62 potenciais casamentos com meninas plebeias. E, assim sendo, a mensagem de esperança de Kate aplica-se hipoteticamente a 62 pessoas espalhadas por 31 países do mundo. Meritório, não haja dúvidas. Se tudo correr bem, as tais meninas plebeias percebem isso, e o que acontece? Temo-las espalhadas pelo mundo a cantar "I´m beggin of you, please don´t take my man!".


Também não entendo a originalidade da ideia do príncipe casar com uma menina do povo, depois do caso de Letizia Ortiz. Um casamento com uma sem-abrigo seria mais criativo.


Acho ainda curioso o facto de Portugal ser uma República, portanto, não tendo monarquia, para onde vai essa "mensagem de esperança"? Mais ainda, mesmo que esse fosse o caso, em que é que sonhar ajuda quando estamos a lidar com a questão da crise, que, aparentemente, bem que pode passar para segundo plano ao lado do casamento real britânico?


Uma vez mais, temos a televisão a desprezar aquilo que realmente importa: consciencializar as pessoas acerca daquilo que se está a passar.


Tudo bem... temos uma crise a decorrer e preparamo-nos para viver mais espartilhados do que o habitual, mas felizmente há, não luar, mas casamento real. No Reino Unido.



domingo, 8 de maio de 2011

Fear Itself: Spooked de Brad Anderson (1x02)

FANTASMAS E GRAFITTIS



Já por várias vezes aqui falei de Brad Anderson, cujo trabalho considero de excepção, como atestam filmes como "Session 9" (2002) ou "Sounds Like" (2005), a média-metragem com que participou em "Masters of Horror", além do seu envolvimento numa série que também me parece absolutamente genial: "Fringe".




Ele é um dos realizadores que transita de "Masters of Horror" para "Fear Itself". E ainda bem. O seu filme é o segundo episódio, que tem como título "Spooked".

E este filme também contribui para que se perceba que, efectivamente, Anderson tem um estilo, quer-se dizer, um padrão que pode unir todos os seus filmes (Ou pelo menos os seus filmes ligados a este género.). Por norma, ele lida com situações traumáticas e com perturbações psíquicas, desfocando bastante o limite entre estas últimas e o sobrenatural. Em "Spooked", isso volta a acontecer, ainda que, ao contrário do que acontece em "Session 9" e em "Sounds Like", desta feita, o realizador não assine o argumento, entregue neste caso a Matt Venne.

Conta-nos a história de Harry Seigel (Eric Roberts), um polícia cujos métodos assaz cruéis levam à reforma antecipada e que, quinze anos mais tarde, ganha a vida como investigador privado, ocupação em que continua a usar alguns métodos um tanto ao quanto discutiveis do ponto de vista ético.

É neste contexto que é contactado por Meredith (Cynthia Watros), uma mulher que suspeita que o marido tem uma ou várias amantes. Harry instala-se numa casa abandonada em frente da casa de Cynthia a fim de gravar algumas imagens que ajudem Meredith no suposto divórcio.

A casa onde Harry se instala está num verdadeiro estado de decadência, cheia de grafittis e de estranhos símbolos místicos. Depois de descobrir que há alguns adolescentes a passarem lá a noite por causa de uma aposta, Harry descobre que aquela casa, suposto, terá assassinado quatro crianças há vários anos atrás, o que é corroborado por um dos grafittis que apresenta quatro figuras com facas. Como começa a ter alucinações e flashbacks do seu passado, nomeadamente no que toca ao facto de, acidentalmente, ter alvejado o irmão, quando eram ainda crianças, Harry decide desistir do caso. Meredith consegue convencê-lo a não desistir, e é assim que Harry regressa à casa que parece mesmo estar a afectar o seu discernimento relativamente ao real. Daí até que Harry descubra não só os verdadeiros efeitos da casa, mas também a verdadeira razão que o colocou ali, desenvolve-se toda a trama do filme, particularmente tensa e com uma dimensão psicológica distorcida, que vem confirmar um pouco os princípios a que Brad Anderson nos habituou, como acima já tinha dito.





Não é difícil encontrar aqui algumas semelhanças com "Session 9". Primeiro, pela própria concepção espacial, que, apesar da escala bastante menor, tem algumas semelhanças com o hospício de Denver, onde se passava o filme de 2002; e também pela própria relação entre o indivíduo e um espaço inóspito que despontará dentro dele uma série de processos desviantes que acabarão por constituir o cerne de todo o filme.

Mais ainda, a situação dos fantasmas do passado volta a ter importância, e aí, é mais fácil lembrarmo-nos de "Sounds Like", ainda que aqui tudo surja de uma maneira diferente.

O que Anderson tem de realmente bom é que, partindo de um argumento já de si interessante, tem suficiente inteligência visual para transformá-lo num filme ainda melhor. E ainda que neste filme se façam sentir negativamente os efeitos da limitação de tempo (45 minutos.), Anderson consegue contornar tudo e encontrar uma série de imagens fortes e invulgares que, definitivamente, falam por todo o filme.

O que é facto é que "Spooked" beneficiaria de mais tempo, ou seja, seria provavelmente mais equilibrado e mais pungente se fosse uma longa-metragem. Acontece com alguns dos filmes, já desde "Masters of Horror".

No entanto, não seria justo dizer que "Spooked" é alguma coisa, senão um bom fime.


sábado, 7 de maio de 2011

Fear Itself: The Sacrifice de Breck Eisner (1X01)

O VAMPIRO ATLETA



A génese de "Fear Itself" é basciamente a mesma de "Masters of Horror". Depois de terminada a segunda época da série dos mestres, Mick Garris surge-nos com esta nova versão, de que é, de novo, o criador. A diferença mais substancial será que, em "Fear Itself" encontramos muitos mais nomes desconhecidos, ao passo que "Masters of Horror" conseguiu reunir nomes mais sonantes como John Carpenter, Dario Argento e Tobe Hooper a nomes mais recentes como Brad Anderson.






A iniciar a série nova, temos este "The Sacrifice", de que Garris assina o argumento (Baseado num conto de Del Howinson.); realizado por Breck Eisner. Eisner é precisamente um realizador emergente, que, entretanto, já realizou dois filmes, sendo que apenas um deles se insere no género do horror, e foi realizado já depois da sua participação em "Fear Itself". Por aqui se vê já alguma diferença em relação a "Masters of Horror".

Onde não se vê a diferença é na qualidade dos argumentos de Garris: o deste filme é tão mau como "Valerie on the Stairs" ou "Chocolate", só não consegue ser pior do que o de "The V Word", ainda que seja deste que, tematicamente, "The Sacrifice" mais se aproxima.

Ainda que se demore bastante a entender isso, "The Sacrifice" é um filme de vampiros. Conta s história de quatro traficantes de armas que, para tentar ajudar um que está ferido, perdidos no meio da neve, se refugiam num forte isolado, onde conhecem três raparigas que nunca haviam saído dali. Logo se percebe que, por alguma razão, estas raparigas estão a tentar encurralar os quatro visitantes, de maneira a dá-los de comer a uma criatura que ali vive também.

Na premissa, não há nada de novo, mas também não há nada de errado.

O problema, no argumento, é a questão dos diálogos, que muitas vezes peca pela predicabilidade e pela tendência para o desperdício de palavras. O que acontece é que Mick Garris é pouco capaz de nos surpreender, usando as artimanhas mais frequentes que uma sinopse destas poderia proprocionar, nomeadamente no que toca ao facto de as raparigas usarem a sugestão sexual como forma de fazerem os rapazes cair nas suas armadilhas.

Visualmente, o filme não está mal pensado, sendo que, aqui e ali consegue alguns planos bastante interessantes, ainda que se fique com a sensação de que o espaço do forte das três irmãs tinha potencial para proporcionar planos bastante mais desenvolvidos e poéticos.





O que realmente vem arruinar "The Sacrifice" é a figura do vampiro que, ainda que tenha uma história interessante, nos surge como uma espécie de atleta ensanguentado. Daqui até aos lugares comuns das dentadas e das presas e dos contágios é apenas um pequeno passo que nem Garris nem Eisner parecem ter pudor em dar.

Como resultado, temos aqui algumas cenas supostamente empolgantes de perseguições, ataques e armadilhas.

A única coisa que realmente corre bem é a sequência final: não a nível de argumento onde, apesar de lógico, o final não tem nada de surpreendente, mas através do uso da metáfora que é o portão da fortaleza, que nos indica exactamente aquilo que aconteceria depois do fim do filme.

A verdade é que "Fear Itself" bem que poderia ter um início mais agradável do que este, que mais não é do que uma prova da falta de jeito de Mick Garris, a que se acrescenta uma certa inépcia por parte de Breck Eisner. Esperemos que haja melhores dias para esta série.


Masters of Horror: Dream Cruise de Norio Tsuruta (2x13)

DRAMA COM ASSOMBRAÇÃO





A fechar "Maters of Horror" encontramos este "Dream Cruise", realizado por Norio Tsuruta, cujo trabalho cinematográfico mais conhecido será, eventualmente, "Ringu 0: The Birthday", a prequela para o famoso "Ringu" de Hideo Nakkata, que viria a dar origem ao remake de Gore Verbinski, "The Ring".

A média que Tsuruta apresenta para o encerramento desta série conta com uma sinopse interessante, que faz uso de algumas das técnicas mais eficazes para tornar um filme de terror forte; a saber: a criação de um drama pessoal que será decisivo para o desenrolar da história, a colocação dos personagens numa situação de isolamento e a consequente impossibilidade de fuga.

Jack Miller (Daniel Gillies) é um advogado americano radicado no Japão, que carrega consigo o trauma de infância de não ter sido capaz de salvar o irmão de morrer afogado. Por causa do seu trabalho, acaba por reunir-se nas docas com um cliente, Eiji (Ryo Ishibashi). Isso é um pouco constangedor, dado que Jack se encontra amantizado com a mulher de Eiji, Yuri (Yoshino Kimura). Os três acabam por ir para o barco, a fim de discutirem assuntos legais, por mais que Jack não pareça satisfeito com a ideia.

À medida que se torna claro que Eiji tem conhecimento do envolvimento da mulher com o advogado, vem ao de cima o mistério do desaparecimento súbito da primeira mulher de Eiji, que redunda numa espécie de assombração sobre aquele mar e aquele barco.

A sinopse em si tende muitíssimo mais para o drama, familiar e passional, do que propriamente para o filme de terror. Não é, aliás, muito claro, qual a parte deste argumento que continuaria a ser terror sem as imagens. Nada contra, até porque se o cinema é cinema é porque não é livro nem coisa assim.





"Dream Cruise" está longe de ser um mau filme, mas também não está perto de ser muito bom. O que acontece é que o dramatismo da premissa se torna tão forte que, quando as imagens nos colocam perante o medo, o grotesco e o paranormal, sentimos que estamos a assistir a um drama que conta com assombrações; e há momentos em que, se não nos esforçarmos, não distinguimos a assombração do enfrentar dos fantasmas pessoais; e isto tem particular ênfase na personagem de Jack.

Também creio que este filme sobrevive por ter sido realizado por um realizador não americano. Goste-se ou não, a verdade é que os japoneses têm concepções de cinema de terror redondamente diferentes das americanas, nomeadamente no que toca ao aspecto visual do filme, aos detalhes gráficos e à violência bruta mas subtil. É assim que "Dream Cruise" consegue os seus momentos de esgar e de calafrio, ainda que não seja um filme particularmente gore.

O que mais chateia neste "Dream Cruise", mesmo assim, é o seu desenlace, onde parecem faltar algumas explicações; e o final em si é bastante desinteressante.

Não posso dizer que ache que este filme seja algo de assinalável, mas, ao mesmo tempo, safa-se bastante melhor do que muitos dos filmes que integraram a segunda época de "Masters of Horror".



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Masters of Horror: The Washingtonians de Peter Medak (2x12)

SLEEP DURING IT




"Zorro, The Gay Blade" (1981) e "Romeo Is Bleeding" (1993) são filmes que, goste-se ou não, deixam mais ou menos uma impressão sobre Peter Medak: essa impressão é a de que ele aprecia um certo humor negro e crítico sobre a sociedade e os seus mitos; que bem pode ser um estilo interessante em cinema.




A média-metragem com que se apresenta na segunda época de "Masters of Horror" não foge a esta regra. O argumento de "The Washingtonians", baseado num conto de Bentley Little, e assinado por Richard Chizmar e Johnathon Schaech, sendo que este último é também o protagonista, tem alguma coisa de ousado e de chamativo: Mike Franks (Schaech) muda-se com a mulher, Pam (Venus Terzo) e a filha, Amy (Julia Tortolano) para a casa da sua falecida avó. É lá que encontra um antigo retrato de George Washington, atrás do qual está escondida uma carta, assinada G.W., que sugere que o pai da América seria um canibal e um infanticida. A carta chega ao conhecimento de alguns habitantes locais, e logo Mike começa a receber visitas de homens mascarados de revolucionários que exigem que ele lhes dê a carta. Através da ajuda de um amigo, o professor Harkinson (Saul Rubinek), um historiador, Mike toma conhecimento de um clube de canibais, os Washingtonians, que vive naquela localidade e protege o segredo da verdadeira vida de George Washington, sendo, para eles, essencial que a carta não seja divulgada.

Pode haver aqui um sentido crítico bastante apurado; principalmente no que toca aos bastidores da História e da mitologia política americana e isso poderia ter resultado num filme interessante; e também num filme de terror interessante, ou pelo menos um bocadinho gore, já que o assunto do canibalismo, não sendo novo, também não tem sido dos mais explorados.

No entanto, "The Washingtonians" é tudo menos isso. Ainda que o argumento apresente algumas fragilidades, nomeadamente no que toca a clichés ligados às conspirações (Como a repetição da expressão "Sleep on it".); tinha potencial de resultar num filme bom, mas Medak parece, literalmente, dar cabo dele.

A começar pelo momento em que Mike descobre a carta, que parece seriamente mal resolvido em termos de aspecto; passando pelos gritos constantes de Amy que mais não são do que irritantes e forçados; a acabar na abordagem visual do tema do canibalismo. As cenas em que vemos os Washingtonians comer carne humana são realmente repugnantes, não no sentido em que geram um calafrio, mas no sentido em que se limitam a ser pura e simplesmente asquerosas, além de um tanto ao quanto incredíveis.

A própria concepção dos integrantes daquele clube não passa de uma teatralidade mal disfarçada, com uma maquilhagem bastante taxativa e nada realista, principalmente nos dentes, que mais parecem de um fumador compulsivo de haxixe do que de um canibal. Particularmente a cena em que pela primeira vez os Washingtonians batem à porta da família de Mike revela uma falta de jeito incrível: mais parece uma cena estranha para assustar crianças. Lembro-me que havia um episódio de CSI: Las Vegas que mostrava aqueles clubes que fazem re-encenações de guerras; esse episódio de CSI estava bastante mais conseguido do que este filme está.



A ideia de forjar algumas pinturas onde a verdade sobre George Washington fica expressa é boa, e provavelmente será das coisas que melhor corre neste filme, ainda que se trate de uma sequência de cerca de três minutos.


A própria resolução do problema, e aqui se revela outra fragilidade no argumento, peca por ser tão ambígua que se torna incompreensível. A sequência final parece realmente vir reforçar a ironia que o argumento pretende, mas a reação de Amy à troca de George Washington por George W. Bush nas notas de 1 dólar, francamente não fica bem.

É curioso ver que, na segunda época de "Masters of Horror", há uma série de filmes que parecem ter sido feitos para assustar criancinhas de 6 ou 7 anos. Eu não percebo bem como pode um realizador defender um filme destes, quanto mais mostrá-lo.

Por mais que ao longo do filme repitam "Sleep on it", para ser sincero, eu fiz um enorme esforço por não adormecer durante ele. E é tudo.


domingo, 13 de março de 2011

Masters of Horror: The Black Cat de Stuart Gordon (2x11)

AQUI NÃO HÁ GATO

Na primeira época de "Masters of Horror", Stuart Gordon realizou um dos piores filmes que já vi. Falo de "Dreams In The Witch House", uma mistura muito duvidosa de Edgar Allan Poe com "The Amytiville Horror" que pura e simplesmente não conseguia evitar assemelhar-se a uma história para crianças e nem particularmente bem feita.


Na segunda época, Gordon traz-nos este "The Black Cat", onde a influência de Poe é assumida, visto que Poe é o personagem central do filme, que, não tendo nada de biopic, não deixa de se centrar na vida pessoal do escritor, em vez de num dos seus contos. Terreno pantanoso, portanto, principalmente se tivermos em conta que o mais provável é uma personalidade complexa e, em muitos aspectos, inexplicável como parece ter sido a de Poe, não caber numa média-metragem.
Infelizmente, essa suspeita com que podemos ficar ainda antes de vermos o filme, confirma-se nele.
Encontramos aqui Poe (Jeffrey Combs) em pleno bloqueio criativo, mas com necessidade de produzir, uma vez que se encontra praticamente falido, situação particularmente desesperante dado que a esposa Virginia (Elise Levesque) se encontra gravemente doente. Na mesma casa, vive ainda um gato preto que se demonstra bastante hostil para Edgar.
Este gato será, por um lado, razão de grande desequilíbrio para o escritor, ao mesmo tempo que acabará por lhe dar inspiração para aquele que viria a ser um dos seus contos mais conhecidos.
A tarefa que Stuart Gordon se auto-propõe é difícil, e a verdade é que o senhor não se mostra muito competente em resolvê-la da melhor maneira.
Em "The Black Cat", o que mais encontramos são cenas que surpreendem pela puerilidade, inaceitável num realizador com a experiência de Gordon. Serve de exemplo a cena em que Poe, tentando matar o gato preto, acaba por acidentalmente assassinar a mulher. Raramente em cinema vi uma cena tão mal aproveitada, tão desastrosamente filmada. Isto torna-se particularmente bizarro quando sabemos que Stuart Gordon já tem vindo a inspirar-se em Poe vezes e vezes sem conta ao longo do seu percurso, quer no cinema quer no teatro.
O mais difícil neste filme seria construir a personagem de Edgar Allan Poe. O Poe que aqui encontramos é excêntrico, de facto, mas parece sê-lo acima de tudo por incompetência, mostrando-se pouco mais que um bêbado ridículo e cheio de delírios estúpidos e ficamos com a sensação de que qualquer semelhança entre este Poe e o génio que o verdadeiro Poe foi, é pura coincidência. E qualquer caracterização da época não fica atrás da superficialidade com que o personagem central é tratado.


Uma vez mais, tenho que reconhecer que há realizadores que não distinguem o cinema de terror das histórias assustadoras que se contam às criancinhas para adormecer. Porque tudo aqui tem um lado muito infantil, mas que não soa a frescor, antes a falta de jeito.
Jeffrey Combs é parecido fisicamente com Poe, é um facto, mas a sua interpretação não vai muito além do óbvio e só contribui para desacreditar o filme.
Como se nada disto fosse suficiente, um final à conto de fadas e também muito mal resolvido coroa um filme que nada de interessante parece ter para dar.
Entre este "The Black Cat" e "Dreams in the Witch House", não me parece possível eleger um como o pior.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: We All Scream for Ice Cream (2x10)

PALHAÇADA

Há coisas muito básicas, que qualquer realizador devia aprender e nunca, mas nunca mesmo, esquecer. Fazer um filme de terror que está muito para lá de qualquer limite de credibilidade é uma delas.


"We All Scream for Ice Cream" é um filme que dói tanto a ver, dói no pior sentido da palavra, que quase nem consigo falar dele. Não é que eu esperasse melhor de Tom Holland que tem andado, desde 1985, entre as comédias e as pretensões de terror. Mas a verdade é que de ninguém eu esperaria um filme cuja palavra que melhor encontro para descrever é "rasca".
A história é a seguinte: nos anos 50, um grupo de crianças acorre todos os dias ao autocarro de Buster, um palhaço atrasado mental que vende gelados. Nos dias de hoje, esses rapazes são já crescidos e pais de família e, na localidade onde vivem, inicia-se um estranho fenómeno que passa por as crianças desaparecerem de casa a meio da noite. Ao mesmo tempo, uma série de homens que haviam pertencido ao tal grupo começam a desaparecer.
O que se passa é que, na verdade, esse grupo havia pregado uma partida a Buster que, em princípio, lhe havia custado a vida. Agora, o palhaço voltou dos mortos, e alicia os filhos dos que lhe fizeram mal a virem comer gelados, gelados esses que fazem com que os pais se derretam em gelado.
A história, em si, é pobre. Os actores não ajudam. Os efeitos especiais são ridículos. O desenvolvimento da história e respectivo clímax dão vontade de rir de pena. A resolução dos problemas está do amadorismo para baixo. No fundo, um sentimento de profunda piedade é o que de melhor consegui sentir por este filme.
Se quisesse encontrar referências para este filme, a que me parece mais indicada é a série de televisão "Goosebumps" que passava nos anos 90 na televisão, e que eu via, quando era puto, porque eram baseados na série de livros do mesmo título, de R.L. Stine. E, para ser sincero, alguns desses episódios que uma altura revi no YouTube têm de longe muito mais qualidade que este "We All Scream for Ice Cream".


De facto, o filme parte de um conceito que é já de si fraco, e isso condiciona tudo. É até difícil não acreditar que, no fundo, o maior desejo de Tom Holland com este filme foi gozar com a cara do espectador. E, mesmo se o objectivo era esse, havia maneiras de o fazer com mais classe.
É penoso ver um filme assim. Eu, que já atravessei filmes escritos e/ou realizados por Mick Garris, que já atravessei "Dreams in the Witch House" de Stuart Gordon, estive muito muito muito perto de pura e simplesmente suspender "We All Scream for Ice Cream".
Acho que é muito difícil encontrar um filme pior do que este; uma tão grande e tão mal feita palhaçada. O que faz este filme em "Masters of Horror" é algo que nunca, por mais que viva, conseguirei entender.


Masters of Horror: Right to Die de Rob Schmidt (2x09)

SESSENTA BOCEJOS POR MINUTO






Na verdade, o cinema de terror tem-se tornado, na última década, uma espécie de entertenimento que se esgota a si mesmo, mais do que um tipo de cinema. O que acontece com o cinema de terror não é diferente do que acontece com a comédia. Na comédia, temos alguns realizadores que levam o género a sério, como é o caso de Woody Allen, e depois temos a maioria dos outros realizadores, que realiza comédias especificamente românticas, que servem para encher salas de cinema com pessoas que não estão minimamente sensibilizadas para a arte e se limitam a ver o filme, que não os faz pensar e nem os faz sentir. Tenho pena que tal tenha acontecido com um género que já nos deu grandes filmes, como é o caso do cinema de terror.



Este "Right to Die", de Rob Schmidt é, afinal, um belíssimo exemplo não só do vazio em que o cinema de terror tem caído, como é também um belíssimo exemplo do que acontece quando os realizadores não são criativos, que é a adopção de uma receita que se repete vezes e vezes sem conta.

Como é que um filme destes chega a "Masters of Horror", não sei. É verdade que nesta série já vimos filmes que vão do ridículo ao inaceitável, mas, nesses, pelo menos nota-se que o realizador tentou. Em "Right to Die" nem isso.

Rob Schmidt é o realizador de "Wrong Turn" (2003) que, colocando uma sensual Eliza Dushku a ser atacada por um bando de canibais, fez as delícias de milhões de adolescentes superficiais que gostam de terror, mas não percebem patavina de cinema.

"Right to Die" é a história de Cliff Addison (Martin Donovan), um dentista que, enquanto conversa com a mulher (Julia Anderson) durante uma viagem de carro, tem um acidente. Ele sai ileso, mas as mulher começa a arder, sendo levada para um hospital onde se conclui que a mulher passará o resto da vida em coma e que a totalidade do seu corpo foi consumida pelas chamas.

Indeciso sobre se desliga as máquinas, Cliff começa a ser visitado pelo fantasma da mulher, que o vai torturando e aumentando as suas dúvidas sobre se deve terminar a vida dela, quanto mais não seja porque, nos momentos entre o falecimento dela e a reanimação bem-sucedida que os médicos operam, ela se transforma num fantasma que chega até a matar o advogado e a amante de Cliff.

Se começássemos a fazer uma lista de todos os filmes que influenciam este, ela nunca terminaria. Passaríamos por "Ringu" (1998) de ideo Nakkata, por "13 Ghosts" (1960) de Rob Castle, entre muitíssimos outros. "Right to Die" limita-se a ser uma assemblage de tudo, com o condão particular de, por mais que a história desenvolva, parecer sempre nunca ter assunto.

De facto, estes são 52 minutos muito aborrecidos, cheios de abras-kadabras que já vimos em todos os realizadores sem qualidades que querem fazer filmes de terror. A história parece mudar de tonalidade sem motivo aparente, os factos desenrolam-se com uma certa inércia, a qualidade dos actores deixa muito a desejar e, como não há aqui nada que desperte o mínimo interesse no filme, temos então os dois recursos mais frequentes para resolver esta situação: cenas de sexo e de nudez, e cenas pretensamente gore. Estes são os dois refúgios de qualquer realizador sem talento especial que quer prender um mínimo da atenção do espectador.



Possivelmente, este texto é um tanto desagradável. Sou espectador de cinema de terror desde os 11 anos, e, ao longo da minha vida, tem sido dos géneros que mais tenho procurado, e tem sido também aquele que mais me parece ter caído numa vulgaridade causada pela pouca selecção e pela ideia de que é fácil suscitar medo no espectador. Discordo de tudo. Penso que muitos dos filmes mais originais já feitos foram filmes de terror, e penso que todo esse legado está a ser cada vez mais destruído, e não só por realizadores jovens.

Filmes como este "Right to Die" são o principal motivo por que muita gente já nem leva o cinema de terror a sério. E incluí-lo numa série de mestres não é errado. É pura e simplesmente criminoso.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: Valerie on the Stairs de Mick Garris (2x08)

HISTÓRIA DA CAROCHINHA


Uma vez mais, e tentando manter uma mente aberta enquanto espectador, me dediquei a ver um filme de Mick Garris, a sua participação na segunda época de "Masters of Horror".


Depois de ver "Valerie on The Stairs", venho aqui reafirmar aquilo que afirmei a propósito de "The V Word", que Garris também escreveu. De facto, "Haeckel's Tale" foi a única boa aposta do cineasta. Se "Chocolate" era um falhanço e "The V Word" outro maior, "Valerie on the Stairs" consegue ser um falhanço maior do que os outros dois juntos.
A história é a seguinte: Rob Hanisey (Tyron Leitso) é um jovem escritor, autor de cinco livros rejeitados por todos os editores, que se muda para a Highberger House, uma espécie de retiro que acolhe apenas autores nunca editados, e até serem editados. Entre estes escritores, encontramos apenas o esteriótipo do escritor rejeitado pela sociedade, mal encarado, desligado de tudo, e muito perto de uma vida doentia.
Hanisey começa a ter alucinações com uma jovem mulher, que lhe aprece nua, e acaba sempre por ser raptada por uma figura de trevas e desaparecer para dentro das paredes.
Ao investigar esta história, Hanisey descobre não só que a mulher, Valerie (Clare Grant), e o monstro que a possui, são na verdade figuras presentes em romances de três dos escritores que ali viveram, e que todos acabam por morrer, um antes de Hanisey se mudar, e os outros dois ao longo do filme.
Cedo tudo se envolve num ambiente de loucura e de sobrenatural, que resulta numa impressionante e impressionantemente mal feita misturada entre "A Bela e o Monstro" e algum arquétipos do cinema de terror.
Deles, teria eu que salientar "In The Mouth Of Madness" (1995) de John Carpenter, em que acontece algo muito semelhante: um escritor de romances de horror descobre que o que narra nos seus livros está, na realidade, a acontecer numa localidade distante da dele. Ainda que neste filme de Garris não seja claro se os escritores seguem personagens pré-existentes ou se as criaram mesmo, acho que a referência ao filme de Carpenter é tão evidente que se diria que há aqui uma espécie de osmose.
E, ainda dentro das osmoses, encontro aqui uma que me parece ultrajante. É que este filme é em tudo semelhante a "Dreams In The Witch House", que Stuart Gordon realizou para a primeira época desta mesma série. Digo "ultrajante" porque até entendo que um realizador vá buscar influências a um realizador como Carpenter, que não é um realizador, é um mestre, com muitos momentos de genialidade. Mas quase plagiar um filme tão mau como "Dreams In The Witch House" não é, pura e simplesmente, boa ideia, porque, se o original era mau, a cópia quase obrigatoriamente é pior.
Os efeitos especiais e visuais são de um amadorismo surpreendente, não chegando a parecer verídicos nem com muito boa-vontade; o desenrolar da história está cheio de solavancos e de paragens em puros clichés comerciais como cenas de sexo fantasiadas e um beijo lésbico absolutamente inconsequente.


O final do filme prima também pela estupidez, ao ponto de me fazer pensar para mim mesmo que não me recordo quando foi a última vez que vi um realizador profissionar ser tão ingénuo, ingénuo no mau sentido. Eu percebo que a ideia do escritor se desfazer em páginas do seu próprio livro tem todo o sentido, e até levanta algumas questões muito interessantes. O problema é que a forma como está filmado é um cruzamento inesperado e que não resulta de um Mimo com o vídeo de "All Is Full Of Love" de Björk.
Salva um pouco o filme a interpretação de Tyron Leitso, que, estranhamente, é o único dos actores principais a ter uma representação credível. Porque a maioria dos outros pareces ofuscados por uma luz que, sinceramente, num argumento destes, não tem muita razão de ser.
Mick Garris é o criador de "Masters of Horror", e por isso o aplaudo. Mas no que toca a realizar filmes, estamos mal. Porque entre o conto infantil para ameaçar as crianças com o mundo e o cinema de terror vai um passo que não raras vezes é muito, muito grande. E eu acho que Garris ainda não percebeu isso.


Masters of Horror: The Screwfly Solution de Joe Dante (2x07)

EVA SOLITÁRIA

Joe Dante está convicto de que o ser humano é mau. Eu concordo com ele.
No que toca, depois, aos filmes, há que aplicar essa ideia. Na primeira época de "Masters of Horror", ele apresentava-nos "Homecoming", aquele filme sobre zombies bons.


Na segunda época, apresenta-nos "The Screwfly Solution", adaptado de um conto de Alice Sheldon, e, como ouvimos no filme, uma vez mais vemos que, realmente "a humanidade é uma praga".
No que este filme tem de nefasto e mortífero, ele é um filme de terror. No resto, na maioria, é um filme de ficção científica. Já desisti um pouco de dar ênfase a esta questão, uma vez que a maioria dos filmes desta série não são propriamente de terror...
O filme inicia com um segmento documental acerca da screwfly, uma espécie de insecto particularmente mortífera, que elimina com grande rapidez e eficácia tanto gado como pessoas.
Depois, avança para a história de uma proliferação em massa de homicídios contra mulheres. Numa pequena comunidade no Texas, chega-se ao ponto de 1100 mulheres terem sido assassinadas. Bela (Linda Darlow), uma cientista e feminista, corre ao local para entrevistar os assassinos e recolher amostras de água e ar, convicta de que os homicídios terão uma origem biológica, ou seja, uma epidemia de loucura.
Também envolvidos nesta questão estão Alan (Jason Priestley) e Barney (Elliott Gould), dois cientistas que recentemente haviam desenvolvido uma enzima capaz de impedir a reprodução de um outro insecto mortífero.
Ainda que as localizações das áreas afectadas possam sugerir uma movimentação em enxame, tanto Alan como Barney ficam convictos de que o vírus que causava a loucura tinha origem laboratorial. Mais ainda, chegam à conclusão de que, tal como acontece com os insectos, este vírus actua sobre a sexualidade masculina, levando-a ao ponto da violência que se insurge contra o objecto de desejo.
E assim, rapidamente, a população feminina no mundo vai sendo assassinada, ao ponto de, a certa altura, sobrar apenas uma mulher, Anna (Kerry Norton), a esposa de Alan.


Este é um filme que poderia ser muito bom, apesar de nos apresentar algumas falhas. Por exemplo, não é muito clara a relação da sequência inicial sobre a screwfly com o enredo principal da história, e torna-se menos clara ainda, dada a convicção dos dois cientistas de que se trata de um vírus produzido em laboratório.
Mas, àparte estas questões, o filme vai correndo bem, até que se aproxima do fim, em particular, nos últimos dez minutos.
Confesso que, logo no princípio do filme, senti uma grande influência de "Twin Peaks" de David Lynch, em vários aspectos: uma série de corpos de mulheres deitados e enrolados em plástico, por exemplo, ou a imagem que aparece frequentemente da poeira na televisão, como acontece no genérico do filme, "Firewalk With Me". Mas, no final, se isto não é uma recriação de "Twin Peaks" então não sei o que seja. Uma série de aparições angelicais, que não primam pela qualidade dos efeitos especiais, que, de certa forma, vêm salvar a alma condenada da nossa Eva solitária, são o remate final à-la-David-Lynch.
Kerry Norton tem aqui uma prestação brutal, muito à vontade no papel de protagonista e muito capaz de se movimentar de uns ambientes para os outros, o que é particularmente importante quando estamos num filme em que a angústia e o peso da fatalidade são graduais.
Continuo sem entender muito bem o que faz Joe Dante entre os Mestres do Horror, confesso. Entendo-lhe uma certa tendência para a criação de cenários apocalípticos que têm sido assunto central de muitos filmes do género; mas não sei até que ponto a abordagem tem realmente a ver com ele. E, no fundo, um filme como este até podia ser assustador. Mas parece acima de tudo realmente ficção científica. Nada contra, até porque o filme, em muitos dos seus momentos, é bom. Mas não deixa de parecer, também ele, um tanto solitário no meio dos outros, tal como Anne termina.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: Pelts de Dario Argento (2x06)

THEY DIED FOR BEAUTY

Não é raro que Dario Argento ensaie, nos seus filmes, as relações entre beleza e morte. Se quisermos levar isto a um cúmulo freudiano, diríamos que ele analisa a relação eros-thanatos, amor e morte. A atracção como forma de cair no abismo marca muitos dos seus filmes, caso de "The Phantom of the Opera" (1988) ou até da trilogia das Mães, "Suspiria" (1977), "Inferno" (1980) e "The Mother of Tears" (2007); e, claro, de "Jenifer" (2005), a sua participação na primeira época de "Masters of Horror".


Nesta segunda época, Dario Argento volta à questão da beleza e da atracção, como portão para a morte, com este "Pelts". O argumento de Matt Venne, baseado num conto de F. Paul Wilson, conta-nos a história de Jake Feldman (Meat Loaf Adday), dono de uma pequena fábrica de peles para moda, um indivíduo solitário, cuja vida se passa entre as instalações da fábrica, onde trata os empregados, todos imigrantes, como escravos, e um clube de strip-tease, onde alimenta a sua paixão platónica por Shanna (Ellen Ewusie), uma das strippers.
Paralelamente, encontramos Jeb Jameson (John Saxon) e o filho, Larry (Mickal Suchanek), caçadores, que se encaminham para umas ruínas no meio de uma floresta, para caçarem guaxinins, de que venderão as peles.
Ao regressarem a casa, reparam que as peles daqueles guaxinins são impressionantemente belas, e o pai prevê um bom negócio, pelo que telefona a Jake a propor-lho.
No entanto, depois de acariciar uma das peles, subitamente, Larry mata o pai, batendo-lhe violentamente com um taco de baseball na cabeça -exactamente como matavam os guaxinins-, e depois suicida-se, colocando a cabeça numa armadilha de caça -outra técnica usada para apanhar os guaxinins.
Quando Jake visita a casa dos Jameson, encontra os cadáveres e, friamente, recolhe as peles para as levar consigo, e telefona à polícia muito depois, anonimamente.
Enquanto os empregados da fábrica trabalham com aquelas peles, dois deles suicidam-se. Um deles, encarregue de cortar as peles, mutila-se grotescamente; e outra, encarregue de costurar, costura os próprios olhos, nariz e boca.
Com o casaco já feito, Jake decide oferecê-lo a Shanna, que se apaixona imediatamente pelo casaco. Claro que isto culmina com uma cena particularmente gore, muitíssimo bem calculada.
A ideia de que aquelas peles conteriam algum tipo de maldição, como se hipnotizassem pela beleza, é explicada ainda a Jake por uma mulher que vivia perto das ruínas, uma "mãe" louca (E cá temos de novo a ideia das "mães" que Dario Argento só concluíria em 2007, com "The Mother of Tears".).
Há que ressaltar deste filme grandes qualidades na realização. Acima de tudo, Argento parece estar interessado em criar uma estética, de que são bons exemplos o elevador da cena final (E que aparece no início, em flashback.), a fazer lembrar uma espécie de relicário religioso, ou então as ruínas na floresta, que parecem nitidamente inspiradas numa pintura de Caspar David Friedrich.


E, uma vez mais, Dario Argento nos vem mostrar que a atracção pela beleza leva, em último caso, à morte. Claro que este filme não se limita à morte, acrescenta-lhe grandes traços de masoquismo, com suicídios impressionantes, que permitem imagens próximas do extreme-gore. Ainda assim, não é o lado gore que se recorda deste filme, mas sim a sua inteligência, a sua subtileza, que nos relembram que Argento já traz na bagagem cerca de vinte filmes, alguns dos quais são marcos do cinema de terror, como "Profondo Rosso" (1975) ou "Phenomena" (1985), além dos citados no início deste texto.
Se este filme nos ensina que a vaidade mata, Dario Argento tem nele uma boa razão para estar perto da morte.


Masters of Horror: Pro-Life de John Carpenter (2x05)

MÃE-CORAGEM


Faça o que fizer e esteja onde estiver, John Carpenter é sempre John Carpenter. O que significa que é sempre o Mestre do Horror por excelência. Digo "por excelência" pois ninguém como Carpenter consegue tão bem pegar no género "terror" e transformá-lo sempre em coisas originais e, em última análise, válidas também noutros sentidos, nomeadamente, o sentido político que caracteriza filmes como "Prince of Darkness" (1987), "Village of the Damned" (1995) ou "Ghosts of Mars" (2001); ou então o sentido ensaístico, sobre arte, religião ou História, como em "Prince of Darkness", "In The Mouth of Madness" (1995), "Vampires" (1998), "Ghosts of Mars" ou "Cigarette Burns" (2005) -sendo este último precisamente um dos episódios da primera época de "Masters of Horror".


Repetente na segunda época, Carpenter apresenta-nos este "Pro-Life". Apesar do argumento pertencer a Drew McWeeney e Scott Swan, sentimos, logo desde o início, a impressão digital de Carpenter, não só pela natureza da história, carregada de sentidos políticos e até religiosos, quer pelas características da realização.
"Pro-Life" é a história de Angelique Burcell (Caitlin Watches), uma rapariga que nos aparece a correr pela floresta, fugindo de alguém. Na estrada, é quase atropelada por Alex O'Shea (Mark Feuerstein). Alex é na verdade, um médico, que se encaminha para a clínica onde trabalha, e leva Angelique consigo, para ser analisada. Angelique acaba por explicar que Deus a terá levado ao caminho do médico para que ele a ajudasse a abortar.
Quando, já na clínica, Alex analisa Angelique e lhe pede que explique as razões por que quer abortar, cedo percebe que a rapariga estará muito perturbada, pois a sua barriga aparenta pelo menos três meses de gravidez, enquanto ela explica que engravidara há menos de uma semana.
Paralelamente, o pai de Angelique, Dwayne Burcell (Ron Pearlman), aproxima-se da clínica para trazer a filha, menor. Aqui entendemos que Dwayne tem na realidade uma sentença do tribunal que o impede de estar na clínica de aborto, pois, ao que entendemos, ele estaria ligado a movimentos religiosos contra o aborto, e teria tentado vandalizar a clínica.
Dentro da clínica, a barriga de Angelique cresce a um ritmo vertiginoso, e a ressonância magnética dá também indícios de a história de Angelique não ser mentira. De facto, a rapariga explica que havia sido violada por um monstro demoníaco, insistindo que teria que abortar.
No entanto, chega ao ponto em que está pronta a dar à luz, sendo já impossível abortar. Enquanto isto, Dwayne e os três filhos invadem a clínica, acabando por barricar o director dentro do gabinete, assassinando-o com requintes de sadismo.
Angelique dá à luz o seu monstro, e o pai desse monstro irrompe pela clínica.
Este filme está, de facto, cheio de pequenas subtilezas políticas, nomeadamente as ligadas ao aborto. Carpenter parece investido em demonstrar que manter uma gravidez a todo o custo pode dar mau resultado, como aqui acontece. Poderemos entender "Pro-Life" como uma parábola sobre esta questão. Afinal de contas, Angelique está grávida de um ser indesejado, e está investida a nem lhe dar vida. Quando confrontada com a impossibilidade de um aborto, Angelique acaba por matar o recém-nascido. No fundo, podemos entender que uma mulher grávida de um filho que não deseja, não o matando em estado fetal, acabará por fazê-lo depois, ainda que não literalmente, pois há muitas maneiras de matar sem necessariamente cometer homicídio, ou infanticídio.
O que neste filme há de grotesco também contribui para gerar em nós uma certa repulsa e um incómodo muito conveniente.
Também aqui Carpenter mantém um pouco a sua vontade de fundir o terror com o western, o que é particularmente evidente na invasão de Dwayne e dos filhos à clínica.


Tal como acontecia com "Cigarette Burns", o que nos chateia em "Pro-Life" é sentirmos que havia aqui material suficiente para fazer uma longa.
A realização de Carpenter é, como sempre, garrida, com uma noção muito adequada do tempo que cada sequência precisa; com grande atenção às formas de mostrar o espaço -este é, afinal, um filme muitíssimo arquitectónico-; e com criação de grandes tensões, quer entre os actores, quer entre eles e o desenrolar da história.
Uma vez mais, Carpenter prova-nos que ninguém como ele sabe resgatar o termo "terror" do aborrecimento em que ultimamente o género tem caído.


Masters of Horror: Sounds Like de Brad Anderson (2x04)

O DIA DOS PRODÍGIOS


Aos 37 anos, Brad Anderson realizou aquilo que me parece ser uma verdadeira obra-prima do cinema de terror. "Session 9" (2001), o filme em questão, passou despercebido nos grandes circuitos, pois tratava-se de um filme independente, um low-budget, e também um filme cuja génese estava anos-luz à frente das vulgaridades que recentemente mais se vêem no cinema de terror e que são bem aceites. Precisamente por se manter fora de todas as convenções, e estar mais preocupado em denotar uma identidade, e uma tão forte, "Session 9" era um filme absolutamente prodigioso.
Aquando da sua participação em "Masters of Horror", Brad Anderson contava apenas com cinco filmes -entre os quais uma curta-metragem- e, desses cinco, apenas dois eram de terror, "Session 9" e "The Machinist" (2004). No entanto, penso que "Session 9" justificaria perfeitamente a inclusão de Anderson nesta série.


E, agora de a década terminou, posso dizer com segurança que "Session 9" me parece verdadeiramente o melhor filme de terror entre 2000 e 2010, havendo apenas um capaz de quase ombrear com ele, "Jeepers Creepers" (2002) de Victor Salva.
Interessa muito falar de "Session 9" a propósito deste "Sounds Like", pois nalguns pontos os dois filmes se aproximam.
Tal como em "Session 9", neste filme encontramos um protagonista afogado numa vida familiar difícil, e, tal como em"Session 9", comportamentos ligados às doenças mentais como psicoses ou esquizofrenias são utilizados.
"Sounds Like" conta-nos a história de Larry Pearce (Chris Bauer), um telefonista, que sofre de uma complicada doença- ouve tudo, tudo, tudo, desde os mais pequenos movimentos do corpo, como piscar de olhos. O resultado é que o seu dia-a-dia é uma infeliz cacofonia, não conseguindo nunca descansar nem isolar-se completamente. Paralelamente, a sua relação com a mulher tornara-se difícil, pois, além do desagrado de Larry por ouvir tudo o que ela fazia, o filho que tinham havia morrido, e presentemente encontram-se em desacordo sobre se devem ou não ter outro.
Larry é, desde logo, uma personagem incomunicável. O excesso de audição faz com que frequentemente ele seja incapaz de distinguir, do que ouve, o importante do insignificante. O seu cansaço, acrescido do stress pós-traumático da perda da filha, fazem dele também um indivíduo estranho, com alguns comportamentos não distantes da catatonia.
Não se pode dizer que "Sounds Like" seja propriamente um filme de terror. Mas a tensão que nele sentimos, a angústia que resulta de também nós ouvirmos a cacofonia constante que Larry atravessa, cria em nós tamanho desconforto, que, de repente, este filme assusta-nos.
À medida que a tensão cresce, prevemos que Larry cai cada vez mais numa loucura desesperada, que poderá ou não ser uma espécie de surto psicótico. É decisivo se conhecemos ou não a natureza de algumas doenças mentais para entender "Sounds Like", pois aí mesmo se traça a divisória entre o acto de desespero resultante de um colapso e a pura maldade. Tal acontecia também com "Session 9", daí que eu diga que é importante tê-lo como contraponto para falar desta média.


A sequência final é mais uma prova da mestria de Brad Anderson, pois em nenhum outro filme senão o próprio "Session 9" vimos uma cena tão comovente, tão capaz de fundir perfeitamente beleza, paz e medo.
Sendo um dos realizadores mais jovens e mais inexperientes em "Masters of Horror", Brad Anderson não deixa de nos surpreender pela sua inteligência e sensibilidade e pela estranheza absoluta do seu mundo, da sua identidade. Lembro-me de um aforismo muito interessante de Agustina Bessa-Luís, que abre o seu romance "A Jóia de Família": "Não se escreve melhor porque se escreveu muito." Brad Anderson, em "Sounds Like", vem mais uma vez provar-nos que, no que toca à arte, algumas pessoas, independentemente da experiência que têm, são naturalmente capazes de criar coisas impressionantes.
Faz todo o sentido ver com muita atenção o cinema de Brad Anderson, mais ainda agora que nos chega "Vanishing on 7th Street" (2010); e dar particular ênfase a filmes como "Session 9" ou "Sounds Like", que, por ser uma média e um episódio de uma série de televisão, não é menos importante.

Masters of Horror: The V Word de Ernest Dickerson (2x03)

COINCIDÊNCIAS

Ernest Dickerson tem larga experiência em televisão. O seu nome surge associado a séries tão diversas como "Weeds", "Law & Order", "The Wire", "Heroes", "Dexter" ou "The Vampire Diaries".
Em "Masters of Horror", que tem tanto de televisão como de cinema, Dickerson surge na segunda época, a realizar um argumento de Mick Garris. Já a propósito desta série elogiei "Haekel's Tale", que Garris também havia escrito, e que, a meu ver, seria um dos melhores filmes da série, em contrapartida ao filme realizado pelo próprio Garris na primera época, "Chocolate", que me parecia ser um dos piores.


Este "The V Word" vem confirmar que, afinal, "Haekel´s Tale" foi mesmo uma vez sem exemplo. "The V Word" está muito mais dentro do estilo aborrecido de "Chocolate"; ou seja, é mais um filme que nem sabe o que quer ser.
E, no que toca a dividir a culpa, a Garris cabe a de ter escrito um filme realmente chato onde a predicabilidade é palavra de ordem; a Dickerson cabe a de também não ter sido capaz de transformar um argumento vulgar nalguma coisa de mais interessante.
Para começar, é-me difícil dizer se se trata de um filme de zombies ou de vampiros. Decido-me pelos vampiros por causa do título. Percebo que Garris terá querido evitar o lugar-comum dos dentes afiados e da pele pálida, mas a invulgaridade esgota-se aqui mesmo.
A história é a de dois amigos, Kerry (Arjay Smith) e Justin (Branden Nadon) que, para escaparem à análise depressiva dos seus problemas familiares, decidem ir visitar um primo de Justin que trabalha numa morgue. Quando chegam ao local, encontram-no deserto. Enquanto procuram o primo, encontram vestígios de sangue, e, do nada, um dos mortos levanta-se e propõe-se a atacá-los. Consegue atacar Kerry, comendo-lhe literalmente parte do pescoço, e Justin acaba por fugir.
Ao chegar a casa, Kerry já o espera, transformado num zombie-vampiro, e ataca-o.
O resto do filme divide-se entre as tentativas de Justin para descobrir a origem daquela questão, o paciente zero; e os seus esforços por não atacar a mãe e a irmã mais nova que entretanto regressam a casa.
O desenlace da história é rico em facilitismos e em vulgaridades. Durante todo o filme, ficamos com a impressão de que estamos realmente apenas a assistir a qualquer coisa. "The V Word" é incapaz de mexer conosco, limita-se a estar ali, no ecrã. Quando se aproxima do fim, é com uma velocidade vertiginosa que começamos a descobrir tudo, e, mesmo assim, não deixa de nos soar a precipitação exigida pelo limite de tempo. Os efeitos visuais também não são assinaláveis, os diálogos não têm absolutamente nada de inesperado e, quando o fim aparece, ficamos, literalmente, na mesma.


Como acima disse, se o argumento por si só era fraco, a realização não fica além. Parece que estamos perante uma assemblage de técnicas já utilizadas por outros realizadores, e até na mesma série. Dou um exemplo: quando Justin, já transformado em vampiro, se aproxima da mãe e da irmã, esforçando-se por não as atacar, é difícil não pensar na cena do confronto final de Julianne Moore e Anthony Hopkins em "Hannibal" de Ridley Scott. E isto é só a ponta do iceberg. Tudo o que são lugares-comuns do cinema de terror aqui está: o bosque, o nevoeiro, o sangue, a pretensão gore...
Qualquer semelhança entre a "mestria do terror" proposta pela série e este filme é pura coincidência.