terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: The V Word de Ernest Dickerson (2x03)

COINCIDÊNCIAS

Ernest Dickerson tem larga experiência em televisão. O seu nome surge associado a séries tão diversas como "Weeds", "Law & Order", "The Wire", "Heroes", "Dexter" ou "The Vampire Diaries".
Em "Masters of Horror", que tem tanto de televisão como de cinema, Dickerson surge na segunda época, a realizar um argumento de Mick Garris. Já a propósito desta série elogiei "Haekel's Tale", que Garris também havia escrito, e que, a meu ver, seria um dos melhores filmes da série, em contrapartida ao filme realizado pelo próprio Garris na primera época, "Chocolate", que me parecia ser um dos piores.


Este "The V Word" vem confirmar que, afinal, "Haekel´s Tale" foi mesmo uma vez sem exemplo. "The V Word" está muito mais dentro do estilo aborrecido de "Chocolate"; ou seja, é mais um filme que nem sabe o que quer ser.
E, no que toca a dividir a culpa, a Garris cabe a de ter escrito um filme realmente chato onde a predicabilidade é palavra de ordem; a Dickerson cabe a de também não ter sido capaz de transformar um argumento vulgar nalguma coisa de mais interessante.
Para começar, é-me difícil dizer se se trata de um filme de zombies ou de vampiros. Decido-me pelos vampiros por causa do título. Percebo que Garris terá querido evitar o lugar-comum dos dentes afiados e da pele pálida, mas a invulgaridade esgota-se aqui mesmo.
A história é a de dois amigos, Kerry (Arjay Smith) e Justin (Branden Nadon) que, para escaparem à análise depressiva dos seus problemas familiares, decidem ir visitar um primo de Justin que trabalha numa morgue. Quando chegam ao local, encontram-no deserto. Enquanto procuram o primo, encontram vestígios de sangue, e, do nada, um dos mortos levanta-se e propõe-se a atacá-los. Consegue atacar Kerry, comendo-lhe literalmente parte do pescoço, e Justin acaba por fugir.
Ao chegar a casa, Kerry já o espera, transformado num zombie-vampiro, e ataca-o.
O resto do filme divide-se entre as tentativas de Justin para descobrir a origem daquela questão, o paciente zero; e os seus esforços por não atacar a mãe e a irmã mais nova que entretanto regressam a casa.
O desenlace da história é rico em facilitismos e em vulgaridades. Durante todo o filme, ficamos com a impressão de que estamos realmente apenas a assistir a qualquer coisa. "The V Word" é incapaz de mexer conosco, limita-se a estar ali, no ecrã. Quando se aproxima do fim, é com uma velocidade vertiginosa que começamos a descobrir tudo, e, mesmo assim, não deixa de nos soar a precipitação exigida pelo limite de tempo. Os efeitos visuais também não são assinaláveis, os diálogos não têm absolutamente nada de inesperado e, quando o fim aparece, ficamos, literalmente, na mesma.


Como acima disse, se o argumento por si só era fraco, a realização não fica além. Parece que estamos perante uma assemblage de técnicas já utilizadas por outros realizadores, e até na mesma série. Dou um exemplo: quando Justin, já transformado em vampiro, se aproxima da mãe e da irmã, esforçando-se por não as atacar, é difícil não pensar na cena do confronto final de Julianne Moore e Anthony Hopkins em "Hannibal" de Ridley Scott. E isto é só a ponta do iceberg. Tudo o que são lugares-comuns do cinema de terror aqui está: o bosque, o nevoeiro, o sangue, a pretensão gore...
Qualquer semelhança entre a "mestria do terror" proposta pela série e este filme é pura coincidência.


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