Contigo partilhei os vários leitos
dos amigos dispersos. Mesas, sumos,
os degraus mal ardidos do terror.
Contigo um pouco em cada aldeia, enquanto
nada de nós podia ultrapassar
as paredes dos outros que jaziam
no repouso e no largo e tu compravas
permanecendo os nomes tumulares.
Já então começávamos a longa
inelutável morte dos estios
e eu colhia os agoiros nas fornalhas
de inratigável pão. E cada noite
um maior julgamento nos calava.
Já então nos vestíamos nos cantos
de antigamente sós. Contigo, aos poucos,
recomeçava o frio e as grandes vagens.
De terra em terra, humilde, e raramente
antecedendo a desamor final. Sem transição. Sem dor.
E hoje penso que sobreviverei sem ti
ainda quando a névoa sobreposta nos deixar
tão nús como se de hábitos nascêssemos.
Hélia Correia
na antologia "Poesia 71",
selecção de Fiama Hasse Pais Brandão e Egito Gonçalves
1971, ed. Inova
pintura de Edward Hopper
1 comentário:
gosto muito deste poema da Hélia Correia. Conheço pouco da sua poesia mas fiquei curiosa.
Também adoro a pintura solitária do Hopper, As suas atmosferas de incomunicabilidade...
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