Quase no final da primeira época de "Masters of Horror", encontramos esta interessante proposta, "Haeckel´s Tale" de John McNaughtan. Ainda que o argumento, de Mick Garris, tivesse originalmente sido orientado para George Romero, McNaughtan acabou por dirigir esta média.
Percebe-se por que haviam pensado em Romero, se é ele, afinal, ainda o grande mestre dos filmes de zombies, tipologia que não é, de todo, estranha a este "Haeckel's Tale".
McNaughtan será conhecido nos meandos do cinema de terror pelo seu filme de 1990, "Henry: Portrait of a Serial Killer", ainda que, eventualmente, o seu filme mais badalado nada tenha a ver com o terror; falo, claro, de "Sex, Drugs & Rock'n'Roll" (1991).
Mas há que dizer que não há em "Haeckel's Tale" nada de amadorismo nem de imaturidade.
Pelo contrário, creio ser este um dos melhores filmes da primeira época desta série.
Trata-se de uma espécie de filme de época, decorrendo no final do século XIX. Começa com a visita de Edward Ralston (Steve Bacic) a uma feiticeira conhecida por ser capaz de devolver a vida aos mortos. Ralston enviuvara recentemente, e quereria de volta a sua mulher. Antes de aceder ao seu pedido, no entanto, a feiticeira tenta dissuadi-lo, contando-lhe a história de Earnst Haekel (Derek Cecil).
Haekel, que é a figura central do filme, é um jovem estudante de medicina, obcecado com a ideia de criar vida, um pouco ao estilo de Victor Frankenstein. Esta ideia torna-se ainda mais importante para ele quando ao pai é diagnosticada uma grave doença.
Na sua busca por encontrar as possibilidades de criar vida, Haekel cruza-se com um feiticeiro, Montesquino (Jon Polito), conhecido por ser capaz de dar vida aos mortos; e com um estranho casal, Walter Wolfram (Tom McBeath) e Elise (Leela Savasta).
À medida que Haekel percebe que o casamento de Walter e Elise tem algumas fragilidades graves, vai-se apaixonando por Elise. E é quando se encontra perfeitamente dividido que descobre que a verdadeira razão do afastamento entre Walter e Elise reside no facto de ela não se encontrar capaz de se satisfazer sexualmente com nenhum homem, uma vez que está ainda fixa na vida que teve com o seu primeiro marido, entretanto falecido.
Criam-se então todas as condicionantes para que Elise tente reavivar o falecido marido, e finalmente ser feliz.
Este filme tem, evidentemente, algumas raízes bem profundas nos clássicos dos filmes de zombies, e também, claro no romance de Mary Shelley, "Frankenstein". Mas, em vez de se limitar a criar boas referências ou de a elas prestar homenagem, McNaughtan mostra-se definitivamente interessado em criar uma história que valha por si só, ou seja, auto-suficiente.
Assim sendo, aposta fortemente na cenografia, muitíssimo bem construída, com grande atenção aos detalhes, reforçados também pelo tipo de diálogos, perfeitamente capazes de nos transportar para a época em que o filme pretende acontecer. Mais ainda, o argumento de Mick Garris apresenta-se muitíssimo competente em abordar as questões essenciais para entender esta história: a morte, o luto e a necrofilia. Tanta mestria de escrita não deixa de surpreender, tendo em conta que Garris é responsável por aquele que me parece o pior filme desta série, "Chocolate", e também de um dos piores filmes que, pessoalmente, já vi.
É de um filme necrófilo que estamos a falar. A questão desse "amor dos mortos" é uma das mais fortes de toda a arte, desde sempre, e aqui temos dela um ponto de vista interessante, que está para além do amor, e parte para a obsessão, para o "dar a vida por alguém" de que tanto se fala.
Podemos entender este filme como algo de mórbido, mas também será isso a torná-lo adequado ao contexto em que surge.
E acima de tudo, levanta uma interessante questão: até que ponto será realmente benéfico trazer de volta os mortos? A resposta a esta pergunta não deixa de nos soar, aqui, satírica, terminando o filme de uma forma que, apesar de ser mais ou menos óbvia, é também a mais lógica.
Definitivamente, esta é uma proposta interessante, e também um dos filmes mais criativos de "Masters of Horror". Lamento apenas que Garris não tenha sido capaz de fazer um filme tão bom como aquele que escreveu para outro realizador.
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