Joe Dante está convicto de que o ser humano é mau. Eu concordo com ele.
No que toca, depois, aos filmes, há que aplicar essa ideia. Na primeira época de "Masters of Horror", ele apresentava-nos "Homecoming", aquele filme sobre zombies bons.
Na segunda época, apresenta-nos "The Screwfly Solution", adaptado de um conto de Alice Sheldon, e, como ouvimos no filme, uma vez mais vemos que, realmente "a humanidade é uma praga".
No que este filme tem de nefasto e mortífero, ele é um filme de terror. No resto, na maioria, é um filme de ficção científica. Já desisti um pouco de dar ênfase a esta questão, uma vez que a maioria dos filmes desta série não são propriamente de terror...
O filme inicia com um segmento documental acerca da screwfly, uma espécie de insecto particularmente mortífera, que elimina com grande rapidez e eficácia tanto gado como pessoas.
Depois, avança para a história de uma proliferação em massa de homicídios contra mulheres. Numa pequena comunidade no Texas, chega-se ao ponto de 1100 mulheres terem sido assassinadas. Bela (Linda Darlow), uma cientista e feminista, corre ao local para entrevistar os assassinos e recolher amostras de água e ar, convicta de que os homicídios terão uma origem biológica, ou seja, uma epidemia de loucura.
Também envolvidos nesta questão estão Alan (Jason Priestley) e Barney (Elliott Gould), dois cientistas que recentemente haviam desenvolvido uma enzima capaz de impedir a reprodução de um outro insecto mortífero.
Ainda que as localizações das áreas afectadas possam sugerir uma movimentação em enxame, tanto Alan como Barney ficam convictos de que o vírus que causava a loucura tinha origem laboratorial. Mais ainda, chegam à conclusão de que, tal como acontece com os insectos, este vírus actua sobre a sexualidade masculina, levando-a ao ponto da violência que se insurge contra o objecto de desejo.
E assim, rapidamente, a população feminina no mundo vai sendo assassinada, ao ponto de, a certa altura, sobrar apenas uma mulher, Anna (Kerry Norton), a esposa de Alan.
Este é um filme que poderia ser muito bom, apesar de nos apresentar algumas falhas. Por exemplo, não é muito clara a relação da sequência inicial sobre a screwfly com o enredo principal da história, e torna-se menos clara ainda, dada a convicção dos dois cientistas de que se trata de um vírus produzido em laboratório.
Mas, àparte estas questões, o filme vai correndo bem, até que se aproxima do fim, em particular, nos últimos dez minutos.
Confesso que, logo no princípio do filme, senti uma grande influência de "Twin Peaks" de David Lynch, em vários aspectos: uma série de corpos de mulheres deitados e enrolados em plástico, por exemplo, ou a imagem que aparece frequentemente da poeira na televisão, como acontece no genérico do filme, "Firewalk With Me". Mas, no final, se isto não é uma recriação de "Twin Peaks" então não sei o que seja. Uma série de aparições angelicais, que não primam pela qualidade dos efeitos especiais, que, de certa forma, vêm salvar a alma condenada da nossa Eva solitária, são o remate final à-la-David-Lynch.
Kerry Norton tem aqui uma prestação brutal, muito à vontade no papel de protagonista e muito capaz de se movimentar de uns ambientes para os outros, o que é particularmente importante quando estamos num filme em que a angústia e o peso da fatalidade são graduais.
Continuo sem entender muito bem o que faz Joe Dante entre os Mestres do Horror, confesso. Entendo-lhe uma certa tendência para a criação de cenários apocalípticos que têm sido assunto central de muitos filmes do género; mas não sei até que ponto a abordagem tem realmente a ver com ele. E, no fundo, um filme como este até podia ser assustador. Mas parece acima de tudo realmente ficção científica. Nada contra, até porque o filme, em muitos dos seus momentos, é bom. Mas não deixa de parecer, também ele, um tanto solitário no meio dos outros, tal como Anne termina.
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