terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Masters of Horror: Pelts de Dario Argento (2x06)

THEY DIED FOR BEAUTY

Não é raro que Dario Argento ensaie, nos seus filmes, as relações entre beleza e morte. Se quisermos levar isto a um cúmulo freudiano, diríamos que ele analisa a relação eros-thanatos, amor e morte. A atracção como forma de cair no abismo marca muitos dos seus filmes, caso de "The Phantom of the Opera" (1988) ou até da trilogia das Mães, "Suspiria" (1977), "Inferno" (1980) e "The Mother of Tears" (2007); e, claro, de "Jenifer" (2005), a sua participação na primeira época de "Masters of Horror".


Nesta segunda época, Dario Argento volta à questão da beleza e da atracção, como portão para a morte, com este "Pelts". O argumento de Matt Venne, baseado num conto de F. Paul Wilson, conta-nos a história de Jake Feldman (Meat Loaf Adday), dono de uma pequena fábrica de peles para moda, um indivíduo solitário, cuja vida se passa entre as instalações da fábrica, onde trata os empregados, todos imigrantes, como escravos, e um clube de strip-tease, onde alimenta a sua paixão platónica por Shanna (Ellen Ewusie), uma das strippers.
Paralelamente, encontramos Jeb Jameson (John Saxon) e o filho, Larry (Mickal Suchanek), caçadores, que se encaminham para umas ruínas no meio de uma floresta, para caçarem guaxinins, de que venderão as peles.
Ao regressarem a casa, reparam que as peles daqueles guaxinins são impressionantemente belas, e o pai prevê um bom negócio, pelo que telefona a Jake a propor-lho.
No entanto, depois de acariciar uma das peles, subitamente, Larry mata o pai, batendo-lhe violentamente com um taco de baseball na cabeça -exactamente como matavam os guaxinins-, e depois suicida-se, colocando a cabeça numa armadilha de caça -outra técnica usada para apanhar os guaxinins.
Quando Jake visita a casa dos Jameson, encontra os cadáveres e, friamente, recolhe as peles para as levar consigo, e telefona à polícia muito depois, anonimamente.
Enquanto os empregados da fábrica trabalham com aquelas peles, dois deles suicidam-se. Um deles, encarregue de cortar as peles, mutila-se grotescamente; e outra, encarregue de costurar, costura os próprios olhos, nariz e boca.
Com o casaco já feito, Jake decide oferecê-lo a Shanna, que se apaixona imediatamente pelo casaco. Claro que isto culmina com uma cena particularmente gore, muitíssimo bem calculada.
A ideia de que aquelas peles conteriam algum tipo de maldição, como se hipnotizassem pela beleza, é explicada ainda a Jake por uma mulher que vivia perto das ruínas, uma "mãe" louca (E cá temos de novo a ideia das "mães" que Dario Argento só concluíria em 2007, com "The Mother of Tears".).
Há que ressaltar deste filme grandes qualidades na realização. Acima de tudo, Argento parece estar interessado em criar uma estética, de que são bons exemplos o elevador da cena final (E que aparece no início, em flashback.), a fazer lembrar uma espécie de relicário religioso, ou então as ruínas na floresta, que parecem nitidamente inspiradas numa pintura de Caspar David Friedrich.


E, uma vez mais, Dario Argento nos vem mostrar que a atracção pela beleza leva, em último caso, à morte. Claro que este filme não se limita à morte, acrescenta-lhe grandes traços de masoquismo, com suicídios impressionantes, que permitem imagens próximas do extreme-gore. Ainda assim, não é o lado gore que se recorda deste filme, mas sim a sua inteligência, a sua subtileza, que nos relembram que Argento já traz na bagagem cerca de vinte filmes, alguns dos quais são marcos do cinema de terror, como "Profondo Rosso" (1975) ou "Phenomena" (1985), além dos citados no início deste texto.
Se este filme nos ensina que a vaidade mata, Dario Argento tem nele uma boa razão para estar perto da morte.


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