Já por várias vezes aqui falei de Brad Anderson, cujo trabalho considero de excepção, como atestam filmes como "Session 9" (2002) ou "Sounds Like" (2005), a média-metragem com que participou em "Masters of Horror", além do seu envolvimento numa série que também me parece absolutamente genial: "Fringe".
Ele é um dos realizadores que transita de "Masters of Horror" para "Fear Itself". E ainda bem. O seu filme é o segundo episódio, que tem como título "Spooked".
E este filme também contribui para que se perceba que, efectivamente, Anderson tem um estilo, quer-se dizer, um padrão que pode unir todos os seus filmes (Ou pelo menos os seus filmes ligados a este género.). Por norma, ele lida com situações traumáticas e com perturbações psíquicas, desfocando bastante o limite entre estas últimas e o sobrenatural. Em "Spooked", isso volta a acontecer, ainda que, ao contrário do que acontece em "Session 9" e em "Sounds Like", desta feita, o realizador não assine o argumento, entregue neste caso a Matt Venne.
Conta-nos a história de Harry Seigel (Eric Roberts), um polícia cujos métodos assaz cruéis levam à reforma antecipada e que, quinze anos mais tarde, ganha a vida como investigador privado, ocupação em que continua a usar alguns métodos um tanto ao quanto discutiveis do ponto de vista ético.
É neste contexto que é contactado por Meredith (Cynthia Watros), uma mulher que suspeita que o marido tem uma ou várias amantes. Harry instala-se numa casa abandonada em frente da casa de Cynthia a fim de gravar algumas imagens que ajudem Meredith no suposto divórcio.
A casa onde Harry se instala está num verdadeiro estado de decadência, cheia de grafittis e de estranhos símbolos místicos. Depois de descobrir que há alguns adolescentes a passarem lá a noite por causa de uma aposta, Harry descobre que aquela casa, suposto, terá assassinado quatro crianças há vários anos atrás, o que é corroborado por um dos grafittis que apresenta quatro figuras com facas. Como começa a ter alucinações e flashbacks do seu passado, nomeadamente no que toca ao facto de, acidentalmente, ter alvejado o irmão, quando eram ainda crianças, Harry decide desistir do caso. Meredith consegue convencê-lo a não desistir, e é assim que Harry regressa à casa que parece mesmo estar a afectar o seu discernimento relativamente ao real. Daí até que Harry descubra não só os verdadeiros efeitos da casa, mas também a verdadeira razão que o colocou ali, desenvolve-se toda a trama do filme, particularmente tensa e com uma dimensão psicológica distorcida, que vem confirmar um pouco os princípios a que Brad Anderson nos habituou, como acima já tinha dito.
Não é difícil encontrar aqui algumas semelhanças com "Session 9". Primeiro, pela própria concepção espacial, que, apesar da escala bastante menor, tem algumas semelhanças com o hospício de Denver, onde se passava o filme de 2002; e também pela própria relação entre o indivíduo e um espaço inóspito que despontará dentro dele uma série de processos desviantes que acabarão por constituir o cerne de todo o filme.
Mais ainda, a situação dos fantasmas do passado volta a ter importância, e aí, é mais fácil lembrarmo-nos de "Sounds Like", ainda que aqui tudo surja de uma maneira diferente.
O que Anderson tem de realmente bom é que, partindo de um argumento já de si interessante, tem suficiente inteligência visual para transformá-lo num filme ainda melhor. E ainda que neste filme se façam sentir negativamente os efeitos da limitação de tempo (45 minutos.), Anderson consegue contornar tudo e encontrar uma série de imagens fortes e invulgares que, definitivamente, falam por todo o filme.
O que é facto é que "Spooked" beneficiaria de mais tempo, ou seja, seria provavelmente mais equilibrado e mais pungente se fosse uma longa-metragem. Acontece com alguns dos filmes, já desde "Masters of Horror".
No entanto, não seria justo dizer que "Spooked" é alguma coisa, senão um bom fime.
Sem comentários:
Enviar um comentário