Christina não aceita os modelos de comportamento social, cultural e estético do século XIX, procura antes transformá-los de acordo com os seus desejos e expectativas. Aquela, para quem a poesia surge da angústia de querer sempre mais, possuía a arte de fazer seu tudo quanto existia e que o véu do silenciamento, tecido por uma ancestral cultura masculina , encobrira: "Este coração condenado/ Por um homem, em triste hora, / Leva-o p'ra ser estudado/ Por dentro como por fora./ Como fogo há-de brilhar,/ Expurga-o de sua escória." ("Duas Vezes").
No tempo em que a escritora viveu, as mulheres não eram encorajadas a ser artistas. Muito pelo contrário. Ainda que surgissem frequentemente como objecto de representação dos textos do Vitorianismo, e embora esses textos, de autoria masculina, configurassem um modelo de feminino, poucos são os nomes de mulheres que pertencem ao cânone literário da época. Mais ainda, não lhes era reconhecida legitimidade para escreverem sobre assuntos que pusessem em causa os valores da cultura patriarcal ou, até mesmo, as convenções literárias masculinas. Christina está consciente deste facto (...).
Ana Rosa Nobre
prefácio a "O Mercado dos Duendes e outros poemas"
2001, ed. Relógio d' Água
1 comentário:
ai as mulheres...
Afinal ainda no séc.XXI se APARECEM MULHERES AFIRMATIVAS surge logo o rótulo de "inveja do pénis"...Só as mulheres percebem a LUTA travada todos os dias, para terem direito à sua verdadeira identidade e a serem ouvidas!!!Claro, as que não se submetem...
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