"Zorro, The Gay Blade" (1981) e "Romeo Is Bleeding" (1993) são filmes que, goste-se ou não, deixam mais ou menos uma impressão sobre Peter Medak: essa impressão é a de que ele aprecia um certo humor negro e crítico sobre a sociedade e os seus mitos; que bem pode ser um estilo interessante em cinema.
A média-metragem com que se apresenta na segunda época de "Masters of Horror" não foge a esta regra. O argumento de "The Washingtonians", baseado num conto de Bentley Little, e assinado por Richard Chizmar e Johnathon Schaech, sendo que este último é também o protagonista, tem alguma coisa de ousado e de chamativo: Mike Franks (Schaech) muda-se com a mulher, Pam (Venus Terzo) e a filha, Amy (Julia Tortolano) para a casa da sua falecida avó. É lá que encontra um antigo retrato de George Washington, atrás do qual está escondida uma carta, assinada G.W., que sugere que o pai da América seria um canibal e um infanticida. A carta chega ao conhecimento de alguns habitantes locais, e logo Mike começa a receber visitas de homens mascarados de revolucionários que exigem que ele lhes dê a carta. Através da ajuda de um amigo, o professor Harkinson (Saul Rubinek), um historiador, Mike toma conhecimento de um clube de canibais, os Washingtonians, que vive naquela localidade e protege o segredo da verdadeira vida de George Washington, sendo, para eles, essencial que a carta não seja divulgada.
Pode haver aqui um sentido crítico bastante apurado; principalmente no que toca aos bastidores da História e da mitologia política americana e isso poderia ter resultado num filme interessante; e também num filme de terror interessante, ou pelo menos um bocadinho gore, já que o assunto do canibalismo, não sendo novo, também não tem sido dos mais explorados.
No entanto, "The Washingtonians" é tudo menos isso. Ainda que o argumento apresente algumas fragilidades, nomeadamente no que toca a clichés ligados às conspirações (Como a repetição da expressão "Sleep on it".); tinha potencial de resultar num filme bom, mas Medak parece, literalmente, dar cabo dele.
A começar pelo momento em que Mike descobre a carta, que parece seriamente mal resolvido em termos de aspecto; passando pelos gritos constantes de Amy que mais não são do que irritantes e forçados; a acabar na abordagem visual do tema do canibalismo. As cenas em que vemos os Washingtonians comer carne humana são realmente repugnantes, não no sentido em que geram um calafrio, mas no sentido em que se limitam a ser pura e simplesmente asquerosas, além de um tanto ao quanto incredíveis.
A própria concepção dos integrantes daquele clube não passa de uma teatralidade mal disfarçada, com uma maquilhagem bastante taxativa e nada realista, principalmente nos dentes, que mais parecem de um fumador compulsivo de haxixe do que de um canibal. Particularmente a cena em que pela primeira vez os Washingtonians batem à porta da família de Mike revela uma falta de jeito incrível: mais parece uma cena estranha para assustar crianças. Lembro-me que havia um episódio de CSI: Las Vegas que mostrava aqueles clubes que fazem re-encenações de guerras; esse episódio de CSI estava bastante mais conseguido do que este filme está.
A ideia de forjar algumas pinturas onde a verdade sobre George Washington fica expressa é boa, e provavelmente será das coisas que melhor corre neste filme, ainda que se trate de uma sequência de cerca de três minutos.
A própria resolução do problema, e aqui se revela outra fragilidade no argumento, peca por ser tão ambígua que se torna incompreensível. A sequência final parece realmente vir reforçar a ironia que o argumento pretende, mas a reação de Amy à troca de George Washington por George W. Bush nas notas de 1 dólar, francamente não fica bem.
É curioso ver que, na segunda época de "Masters of Horror", há uma série de filmes que parecem ter sido feitos para assustar criancinhas de 6 ou 7 anos. Eu não percebo bem como pode um realizador defender um filme destes, quanto mais mostrá-lo.
Por mais que ao longo do filme repitam "Sleep on it", para ser sincero, eu fiz um enorme esforço por não adormecer durante ele. E é tudo.
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