O mais recente filme de Roman Polanski tem, uma vez mais, tudo para ser polémico. Acontece um pouco com todos os filmes que envolvem tramas políticas, como é o caso deste "The Ghost Writer", baseado num romance de Robert Harris, que assina o argumento juntamente com Polanski.
A história fala-nos de um homem cujo nome nunca ouvimos (Ewan McGregor), que é um escritor-fantasma, ou seja: ele reescreve livros autobiográficos de figuras públicas, de modo a torná-las literariamente boas. É para esse efeito que ele é contratado para trabalhar nas memórias de Adam Lang (Pierce Brosnan), um antigo Primeiro-Ministro britânico. Acontece que o anterior escritor-fantasma de Lang havia morrido de uma maneira estranha muito recentemente. O escritor voa então para os Estados Unidos, onde o político se encontrava, numa pequena ilha sossegada. É aí que conhece Ruth (A minha querida Olivia Williams.), a mulher de Adam, e Amelia (Kim Catrall), a secretária e amante.
Ao mesmo tempo, Adam está a ser acusado de ter capturado ilegalmente alguns terroristas e de os ter entregue à CIA para serem torturados. Esta acusação gera várias manifestações contra Adam que, ao que dizem, havia sempre seguido políticas que beneficiassem os Estados Unidos.
O escritor-fantasma encontra-se então a trabalhar nas memórias do político e começa a perceber que a chave para as irregularidades e as tendências políticas de Adam podem estar escondidas no dactiloescrito em que está a trabalhar, e que havia já sido trabalhado pelo seu antecessor. E, impelido pelas suas descobertas, ele decide investigar, concluindo que uma série de questões subterrâneas da carreira política de Adam remontam à sua adolescência, nos anos 70.
É difícil não achar que, em "The Ghost Writer" há uma dura crítica a Tony Blair e às suas políticas que pareceram várias vezes interessadas em agradar aos Estados Unidos. Esta foi uma das críticas mais apontadas a este filme de Polanski que não se preocupa em ser brando e, pelo contrário, se permite fazer determinadas análises aos comportamentos políticos e às realações internacionais que, muitas vezes, parecem tomar a forma de fantasmas, ou seja, tornam-se invisíveis, um pouco como o papel do escritor neste filme.
Se essa "acusação" se destina a Blair ou não, é pouco relevante. Há vários políticos que se poderiam enquadrar no aqui descrito.
Mais ainda, parece-me que também os Estados Unidos são outro alvo de crítica neste filme pois, afinal, surge-nos como uma nação preocupada acima de tudo em manipular os países estrangeiros, defendendo dissimuladamente os seus interesses.
De resto, o filme de Polanski está, como seria de esperar, filmado com grande mestria, sendo que o realizador consegue realmente suscitar-nos a sensação de apagamento (Que é reforçada também pelo facto de o próprio escritor não chegar a ter nome.) e secretismo que a sinopse exige, nomeadamente através da paisagem escolhida, que é a de uma ilha quase deserta e inóspita, com um ambiente chuvoso ou cinzento. A própria casa escolhida é também uma fonte simbólica interessante, pois trata-se de uma casa moderna e grande, onde, no entanto, os personagens se encontram não raras vezes enclausurados e onde tudo é demasiado protegido e glacial.
A direcção de actores também não desilude: Ewan McGregor consegue acompanhar muito bem a transição que o seu personagem sofre ao longo do filme, Brosnan, apesar de aparecer e desaparecer várias vezes, consegue uma interpretação dúbia, muito conveniente para um personagem cheio de segredos e de questões dúbias; Olivia Williams, como sempre, está magistral, muito à vontade num papel de mulher altiva e forte, que é a sua especialidade, como vimos na série "Dollhouse".
Parece-me que, somadas as coisas, este é mais um bom filme, a juntar a outros como "Repulsion" (1965) ou "The Nineth Gate" (1999).
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