segunda-feira, 16 de maio de 2011

Canção

Quando eu morrer, meu querido,
Não me cantes canções tristes;
Nem rosas em minha campa
Plantes, nem sombrios ciprestes.
Sê tu a relva que cobre
E com orvalho me aquece;
E se quiseres recorda,
E se quiseres esquece.

Não hei-de sentir a sombra,
Não hei-de sentir a chuva;
Nem ouvir a cotovia
Cantando como viúva.
E, sonhando p'lo crepúsculo
Que nunca há-de findar,
Feliz possa eu lembrar
E feliz possa olvidar.


Christina Rossetti

Versão de Margarida Vale de Gato

in "O Mercado dos Duendes e outros poemas"

2001, ed. Relógio d' Água

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