Recentemente nos chega o novo álbum de originais de Sarah McLachlan. O anterior, "Afterglow", data de 2003. Nestes anos, Sarah parece ter estado a arrumar a casa, pois encontramos um álbum ao vivo, "Afterglow Live" (2004), um álbum de remixes, "Bloom" (2005), um de canções de natal, "Winter Song" (2006), "Rarities, B-Sides and Other Stuff, Volume 2" (2008) e o best-off, "Closer" (2008).
Sendo que eu sou absolutamente contra álbuns de remixes, salvo raras excepções, e que nunca ouço discos de natal, porque acho deprimentes; é de notar que os dois álbuns lançados em 2008 nos prenunciam, claramente, um ponto de viragem no percurso da cantora canadiana, que começa em 1998 com o álbum "Touch".
Quando começamos a ouvir "Laws of Illusion", percebemos que essa viragem, de facto, aconteceu.
"Afterglow" era, a meu ver, um álbum perfeito: conciso, coerente, equilibrado e realmente novo no contexto da discografia de Sarah McLachlan. Talvez por ser todas essas coisas, ele fechava completamente um ciclo, e impunha a necessidade de seguir outros caminhos. Sarah percebeu isso.
"Laws of Illusion" vem, em parte, retomar algumas pontas que haviam ficado soltas aquando dos primeiros álbuns, especificamente, "Touch", "Solace" (1991) e "Fumbling Towards Ecstasy" (1993). E se este último era um álbum também bastante conseguido, a verdade é que os primeiros dois pareciam, de alguma for, ter algo por terminar. Sarah deu o salto de maturidade no seu terceiro álbum, mas isso não significa que anteriormente não tivesse encontrado algumas soluções e algumas características que convinha não perder.
E se "Surfacing" (1997) vinha continuar essa fase de maturidade e "Afterglow" era o seu culminar, talvez nesse ponto Sarah se tenha encontrado com capacidade de repensar a sua fase inicial e reinventá-la.
"Laws of Illusion" é tudo isso, em primeiro lugar. Logo em "Awakenings" reconhecemos alguns traços que encontrávamos nos primeiros anos de Sarah McLachlan, mais ligados a uma dream-pop do que ao lado intimista entre o piano-rock e a alternativa que a pianista seguiu depois.
E isso acontece depois, em praticamente todas as canções. Sarah parece ter aceite um lado mais expedito e quase alegre, sem, no entanto, perder as características essenciais da sua música, que passam pelas vocalizações etéreas (É preciso ter em conta que estamos perante uma voz em que a suavidade encontra um lado grave também.) e por linhas de piano que fazem a estrutura das canções.
É assim com "Awakenings", que é uma das melhores canções de "Laws of Illusion", e também com "Illusions of Bliss".
À terceira faixa, "Loving You is Easy", econtramos elevadas ao máximo as características das primeiras duas canções. De facto, nunca ouvíramos a Sarah McLachlan uma canção assim, tão garrida e emotiva ao mesmo tempo. É também uma das canções onde se nota maior uso dos músculos criativos no piano, que nos relembra que Sarah é, além de uma boa voz, uma exímia pianista.
"Forgiveness", sendo uma canção que se encontra mais no estilo de "Fumbing Towards Ecstasy", é uma das melhores letras que Sarah já escreveu. É claro que Sarah foi sempre uma excelente letrista, encontrando-se em "Afterglow" letras que são verdadeiros poemas; e esta canção vem acrescentar-se à lista das melhores. É de notar que este é o primeiro álbum que Sarah McLachlan edita depois do divórcio do baterista Ashwin Sood. Por norma, interessa-me pouco a vida pessoal dos músicos, mas, neste caso, é importante referi-lo, pois o tema da separação amorosa e da ilusão/desilusão vem pautar muitas das canções que encontramos aqui.
"Rivers of Love" não é uma cover da canção de Lisa Ekhdal, mas é uma canção onde encontramos uma tendência jazzy que não é de desprezar; e que nos confirma que, de facto, "Laws of Illusion" é a procura de uma sonoridade renovada. "Love Come", outra das melhores canções do álbum, mantém-se nessa busca, mas faz algo interessante, que é procurar essa renovação nos concertos ao vivo. É claro que a grande maioria dos músicos sempre procura nos álbuns em estúdio recriar o que se passa no palco, mas nem sempre esta tentativa redunda nalguma coisa de especial. Não é o caso aqui. Ouvir álbuns como "Mirrorball" (1999) ou "Afterglow Live", confirmar-nos-á que, na sua maioria, estas canções conseguem recriar o palco. "Love Come" é bom exemplo disso, bem como "Out of Time", que parece ser uma espécie de segunda parte para uma canção já antiga de Sarah, "Possession", ainda que a criatividade na composição acabe por afastar "Out of Time" da outra canção.
Escusado será dizer que "Laws of Illusion" é um álbum de baladas, mas estamos longe de encontrar aqui lamentos lamechas. Nunca foi propriamente isso que encontrámos em Sarah, mas é facto que, onde "Afterglow" era calma e limpidez, "Laws of Illusion" vem-se mostrar esperançoso e nada amargo, acrescentando também alguns travos ligados ao folk na maioria das canções. Essa tendência vinha a acontecer um pouco desde "Surfacing" mas fôra um pouco posta de lado em "Afterglow". Agora, regressa em força. A canção onde notamos mais isso será, evidentemente, "Heartbreak", onde ouvimos uma linha de dobro, magistralmente tocada por Luke Doucet (Um dos músicos da banda ao vivo de Sarah, lá está.).
"Don´t Give Up On Us" aparece-nos aqui resgatado de "Closer", o best of. Apesar de não ter tanta força como a maioria das canções novas, entende-se a inclusão desta canção neste álbum, pois aí parecem estar já algumas raízes daquilo que este novo material viria a ser.
"U Want Me 2" é um pouco a mesma coisa, uma questão de raízes, ainda que se note que, ao contrário de "Don´t Give Up On Us", esta canção parece mais próxima de uma sonoridade pop que não foi exactamente a que Sarah seguiu nas canções novas.
De notar é que, pela primeira vez, na maioria das faixas, Sarah tem ajuda na composição de Pierre Marchand. Se este é já produtor dos seus álbuns desde há muitos anos, a verdade é que só agora tem realmente um papel mais omnipresente na composição das canções, o que nos pode fazer concluir que talvez venha um pouco dele a tendência mais "alegre" que se nota nalgumas canções.
A fechar o álbum encontramos "Bring on the Wonder", canção escrita por Susan Enan, que canta a canção em dueto com Sarah; e, por fim, uma versão acústica de "Love Come", com arranjos orquestrais.
Estas quatro canções poderiam funcionar um pouco como faixas extra.
Sete anos de espera, afinal, não foram em vão, e estou certo que este álbum, apesar de ter algo de inesperado, agradará aos que acompanham o percurso desta senhora, que, com mais ou menos Grammies, tem sido uma das mais interessantes.
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