domingo, 13 de março de 2011

Masters of Horror: The Black Cat de Stuart Gordon (2x11)

AQUI NÃO HÁ GATO

Na primeira época de "Masters of Horror", Stuart Gordon realizou um dos piores filmes que já vi. Falo de "Dreams In The Witch House", uma mistura muito duvidosa de Edgar Allan Poe com "The Amytiville Horror" que pura e simplesmente não conseguia evitar assemelhar-se a uma história para crianças e nem particularmente bem feita.


Na segunda época, Gordon traz-nos este "The Black Cat", onde a influência de Poe é assumida, visto que Poe é o personagem central do filme, que, não tendo nada de biopic, não deixa de se centrar na vida pessoal do escritor, em vez de num dos seus contos. Terreno pantanoso, portanto, principalmente se tivermos em conta que o mais provável é uma personalidade complexa e, em muitos aspectos, inexplicável como parece ter sido a de Poe, não caber numa média-metragem.
Infelizmente, essa suspeita com que podemos ficar ainda antes de vermos o filme, confirma-se nele.
Encontramos aqui Poe (Jeffrey Combs) em pleno bloqueio criativo, mas com necessidade de produzir, uma vez que se encontra praticamente falido, situação particularmente desesperante dado que a esposa Virginia (Elise Levesque) se encontra gravemente doente. Na mesma casa, vive ainda um gato preto que se demonstra bastante hostil para Edgar.
Este gato será, por um lado, razão de grande desequilíbrio para o escritor, ao mesmo tempo que acabará por lhe dar inspiração para aquele que viria a ser um dos seus contos mais conhecidos.
A tarefa que Stuart Gordon se auto-propõe é difícil, e a verdade é que o senhor não se mostra muito competente em resolvê-la da melhor maneira.
Em "The Black Cat", o que mais encontramos são cenas que surpreendem pela puerilidade, inaceitável num realizador com a experiência de Gordon. Serve de exemplo a cena em que Poe, tentando matar o gato preto, acaba por acidentalmente assassinar a mulher. Raramente em cinema vi uma cena tão mal aproveitada, tão desastrosamente filmada. Isto torna-se particularmente bizarro quando sabemos que Stuart Gordon já tem vindo a inspirar-se em Poe vezes e vezes sem conta ao longo do seu percurso, quer no cinema quer no teatro.
O mais difícil neste filme seria construir a personagem de Edgar Allan Poe. O Poe que aqui encontramos é excêntrico, de facto, mas parece sê-lo acima de tudo por incompetência, mostrando-se pouco mais que um bêbado ridículo e cheio de delírios estúpidos e ficamos com a sensação de que qualquer semelhança entre este Poe e o génio que o verdadeiro Poe foi, é pura coincidência. E qualquer caracterização da época não fica atrás da superficialidade com que o personagem central é tratado.


Uma vez mais, tenho que reconhecer que há realizadores que não distinguem o cinema de terror das histórias assustadoras que se contam às criancinhas para adormecer. Porque tudo aqui tem um lado muito infantil, mas que não soa a frescor, antes a falta de jeito.
Jeffrey Combs é parecido fisicamente com Poe, é um facto, mas a sua interpretação não vai muito além do óbvio e só contribui para desacreditar o filme.
Como se nada disto fosse suficiente, um final à conto de fadas e também muito mal resolvido coroa um filme que nada de interessante parece ter para dar.
Entre este "The Black Cat" e "Dreams in the Witch House", não me parece possível eleger um como o pior.


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