Eu ia na passadeira com um propósito mas
a gravata de um homem atirou-me para o coração
do abismo. Uma insuspeitada gravata de seda
com pintas discretas, o catalizador
da vertigem. Aquilo que o vento levantava
na avenida era uma espécie
de música, um barulho de sinos remoto
e descompassado, viam-se algumas flores
a entrar na boca do esgoto como se fosse ali
a casa delas. E sem deixar eco qualquer coisa ruía
nas fachadas, o próprio oxigénio era nesse instante
como uma língua estrangeira. Eu sentia na garganta os tambores
do sangue e os prédios enfadonhos pulsavam
na taquicardia, caíam em desamparo
para a cova do meu peito. Do outro lado da rua
um sinal de trânsito foi a minha âncora.
a gravata de um homem atirou-me para o coração
do abismo. Uma insuspeitada gravata de seda
com pintas discretas, o catalizador
da vertigem. Aquilo que o vento levantava
na avenida era uma espécie
de música, um barulho de sinos remoto
e descompassado, viam-se algumas flores
a entrar na boca do esgoto como se fosse ali
a casa delas. E sem deixar eco qualquer coisa ruía
nas fachadas, o próprio oxigénio era nesse instante
como uma língua estrangeira. Eu sentia na garganta os tambores
do sangue e os prédios enfadonhos pulsavam
na taquicardia, caíam em desamparo
para a cova do meu peito. Do outro lado da rua
um sinal de trânsito foi a minha âncora.
Rui Pires Cabral
Música Antológica & Onze Cidades
1997, ed. Presença
desenho de Tony Bevan
Sem comentários:
Enviar um comentário