quarta-feira, 30 de março de 2011

Ângelo de Sousa, 1938-2011


Sempre riscaste brancuras

te manchaste de marfins

pois sem ferida ...a cor não fora.

E o resto se lavava e deslavava

em manhã de barrela e nódoa

dessa luz do que não há

na tela a toda a trama ensaboando

buscando o timbre de outras primárias

luz sobre luz sobre luz sobre sombra.


Agora que rompeste a convenção do negro

e nos deixaste sem geometria de amar

estou certa de que acharás

a mão de mil dedos

o quadrado da rosa

o pássaro em seu infinito trapézio

o rio onde não falta a terceira margem

o triângulo manco de torso em osso

a fonte que é eterna

por se beber a si mesma.


Mas será que encontrarás a nossa sombra

e a resgatarás de ser anã

por entre ramos gigantes

tornando-a furta-cores

e ladra de luz

canina

agarrada às canelas do mendigo

ao cu do rico

ao caudal da multidão

como uma fotografia

instantaneamente perpétua.

Eu te imagino oscilante

como sorriso que não quer apagar-se

porque ainda morde

e lembro

a tua beleza incorrigível

de vermelho e recém-nascido

Regina Guimarães,

O Pintor Morreu

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