Sempre riscaste brancuras
te manchaste de marfins
pois sem ferida ...a cor não fora.
E o resto se lavava e deslavava
em manhã de barrela e nódoa
dessa luz do que não há
na tela a toda a trama ensaboando
buscando o timbre de outras primárias
luz sobre luz sobre luz sobre sombra.
Agora que rompeste a convenção do negro
e nos deixaste sem geometria de amar
estou certa de que acharás
a mão de mil dedos
o quadrado da rosa
o pássaro em seu infinito trapézio
o rio onde não falta a terceira margem
o triângulo manco de torso em osso
a fonte que é eterna
por se beber a si mesma.
Mas será que encontrarás a nossa sombra
e a resgatarás de ser anã
por entre ramos gigantes
tornando-a furta-cores
e ladra de luz
canina
agarrada às canelas do mendigo
ao cu do rico
ao caudal da multidão
como uma fotografia
instantaneamente perpétua.
Eu te imagino oscilante
como sorriso que não quer apagar-se
porque ainda morde
e lembro
a tua beleza incorrigível
de vermelho e recém-nascido
Regina Guimarães,
O Pintor Morreu
Sem comentários:
Enviar um comentário