hoje ouvi morrer uma noite
tu chegavas de tão longe que eu não te podia tocar
como se viesses de um sonho ou de uma mentira
o teu corpo era cruel como o nevoeiro
e onde ardia o amor eu era apenas um corpo
algum dia ouviste morrer uma noite
uma água de mágoa tritura os pulsos
um ruído trespassado desabita o coração
esfinges ocupam o quarto
a lua permanece raios decepados
abraço o teu corpo onde me sobrevivo
e adormeço futuro contra a luz
do amor de tão antes onde te espero
vejo um fantasma abrir um corpo de voz
e sangrar sobre a noite esvaziado
ninguém se levanta dentro do seu próprio coração
Pedro Sena-Lino
Zona de Perda: Livro de Albas
2006, ed. Objecto Cardíaco
fotografia de José Francisco Azevedo
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