De acordo com as sondagens publicadas no dia anterior às eleições, a vitória de Pedro Passos Coelho nas Legislativas de ontem não constitui surpresa alguma. As percentagens de votos é que talvez possam surpreender. Relembre-se que o PSD conseguiu 38,63% dos votos, o PS 28,05%, 11,74% para o CDS-PP, 7,94% para o PCP-PEV e 5,19% para o Bloco de Esquerda.
Apesar da nítida impreparação de Pedro Passos Coelho (Nada a ver com a experiência que, boa ou má, era vasta de Manuela Ferreira Leite.), o PSD sobre, em comparação a 2009, 9,52%. Eu penso que isto significa que o problema não era Portugal querer Passos Coelho mas sim, acima de tudo, não querer José Sócrates. Não só o PS desce 8,5% em comparação a 2009, como, desta vez, nem sequer consegue chegar a ter 30% dos votos, o que já não acontecia desde 1991, quando Jorge Sampaio concorreu contra Aníbal Cavaco Silva. O resultado, vergonhoso, não pode propriamente surpreender ninguém: os dois executivos de Sócrates foram demonstrações de pura falta de capacidade de governação, pois, afinal de contas, usou uma maioria absoluta, em 2005, contra os eleitores, denotando um perfil assustadoramente ditatorial e, ao perder essa maioria em 2009, mostrou-se ainda mais incapaz de governar, culminando as suas peripécias com a vinda do FMI para Portugal, de que, aliás, notavelmente Sócrates lavou as mãos, usando, como sempre foi seu costume, doses e overdoses de demagogia, manipulação e arrogância.
Sendo José Sócrates o tipo de homem que não convém ter-se por Primeiro Ministro, verdade se diga que Passos Coelho não é grande alternativa. Com um currículo político diminuto e um exacerbado talento para más escolhas a que, ainda por cima, falta subtileza; Passos benificiou, principalmente, de dois factores: o primeiro, já referido, foi a repulsa que os portugueses ganharam -e com razão -a José Sócrates; o segundo foi uma interessante campanha, arquitectada por alguns Górgias, em que o PSD conseguiu dissimular satisfatoriamente o facto de ter tido um papel importante, senão decisivo, nos eventos políticos que nos conduziram à situação em que nos encontramos. Os portugueses, pouco dados a hipermnésias, provavelmente esqueceram-se que os primeiros três PECs tiveram a participação e a aprovação do PSD e que, se o mesmo não sucedeu com o PEC 4, foi porque, por essa altura, já Sócrates avançava no seu jogo de recuperação de Poder que, afinal, resultou ao contrário.
De destacar, mas não de surpreender, é também a demissão de José Sócrates do cargo de secretário-geral do Partido Socialista. Nunca fui sequer simpatizante deste partido, mas acho que qualquer um de nós, com um pouco de objectividade, pode concluir que faz falta ao PS um outro líder que, se não mais, pelo menos seja de esquerda, num partido de centro-esquerda. Como seria de esperar, há já alguns sussurros não-oficiais sobre novos líderes, dos quais se destacam António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, Francisco Assis, deputado eleito pelo Porto e António José Seguro, eleito por Braga.
A terceira força política mantém-se à direita, com o CDS-PP, que sobe 1,31%. Contrariamente ao que possa parecer, este resultado é, na verdade, muitíssimo insatisfatório para o partido, por mais que os seus representantes digam o contrário. Isto porque, afinal de contas, até ao momento da vitória, muitos dos próprios militantes do PSD não acreditavam em Passos Coelho. Com a direita pouco convicta, seria de esperar uma subida considerável para o CDS e basta recordar que havia sondagens que apontavam para os 13% e Paulo Portas deixava subentendido que esperava mais. Pergunto-me eu se finalmente os portugueses terão percebido que Portas não passa de um sensacionalista que aproveita deixas vindas de todos os partidos, à direita e à esquerda, para fazer oposição; prostituindo, de certa forma, o programa que apresenta. Ninguém mais do que eu gostou de o ver desancar em José Sócrates, mas há que manter os pés bem assentes nesta terra e perceber que há um abismo entre os argumentos que Portas apresenta nos seus debates e as ideias que apresenta no seu programa. Tal como Miguel Sousa Tavares, eu não compreendo por que Portas ainda não se demitiu.
Já a CDU pode cantar de alegria. Apesar de uma subida quase imperceptível, de 0,08% em comparação a 2009, passam para quarto partido da Assembleia, acrescentando um deputado aos 15 que já contavam. Jerónimo de Sousa beneficia assim de se ter mantido firme ao programa e às ideologias do partido, nomeadamente no que toca a ter recusado o acordo com a troika.
O mesmo já não se pode dizer do Bloco de Esqueda, por mais que isso me incomode. A verdade é que foram os primeiros a recusar o acordo, mas isso não apagou o facto de se terem juntado ao PSD e ao CDS-PP na Moção de Censura ao Governo. Entenda-se que, por mais que o Governo o merecesse, todos sabiam de antemão que o resultado seria nulo e, de qualquer maneira, o Bloco juntou-se precisamente aos dois partidos de direita representados na Assembleia. Mais ainda, a junção ao PS para apoiar Manuel Alegre é capaz de não ter agradado a muitas pessoas de esquerda que já andavam de candeias às avessas com o partido de Sócrates. O resultado é a perda de metade dos deputados e a passagem para último partido na Assembleia.
O resultado não é mais do que um "mal por mal". O problema é que, seja como fôr, o futuro não aparenta ser em nada melhor do que o passado. O melhor é irmos todos embora e o último que sair apaga a luz.
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