As onze horas Oddur Mar Runarsson subiu ao palco para cantar algumas das suas canções, carregando assim o peso de uma plateia que não estava ali para o ver. Ainda assim, não se pode dizer que tenha corrido mal.
Pouco depois, acompanhada das suas duas guitarras, a cantora que todos esperavam entra em palco: Lou Rhodes é uma mulher bonita, cheia de ambiguidades, há nela algo de sereno e algo de selvagem, algo de angelical e algo de humano, tem um aspecto jovem, mas a sua voz parece velha, as suas músicas parecem existir há muito tempo, e no entanto, parece que cada momento da música nasce ali mesmo pela primeira vez.
De facto, é estranho que, ao promover “Beloved One”, mais simples a nível instrumental, Lou tenha feito digressão com uma banda, e, agora, em “Bloom” onde a diversidade e complexidade instrumental são bem maiores se apresente em palco sozinha. Mas, logo em “The Rain”, uma coisa fica muito evidente: as músicas não perdem força nem energia ao serem despidas de tudo o que não seja guitarra acústica e voz.
Lou tem uma postura tímida, por vezes até demais, mas a entrega ás canções é total, e canta-as como quem de facto as sente.
Assim, quando a sua voz de faz ouvir cantando
“I know a man with the world on his shoulders
And angel´s wings on his back…”
não há muitas probabilidades de sentirmos a falta dos restantes instrumentos. Prossegue por “This Love”, que, estranhamente soa melhor assim, na versão de solo de guitarra.
“No Re-Run” marca o primeiro ingresso pelo primeiro álbum, “Beloved One”, numa versão que o que perde em fluidez ganha em ritmo. Em “Tremble” pede a ajuda do público para marcar o ritmo (De que a canção muito vive.) batendo palmas.
Uma das melhores músicas de “Bloom”, “Bloom”, ainda que muito bem interpretada, é uma das poucas que de facto, perde pela redução instrumental. Sem as notas de xilofone, apenas com a guitarra e a voz, fica a parecer uma música demasiado repetitiva e simples. O som nocturno não se perde, ainda assim. “Each Moment New” pontua também, sendo não só um dos mais comoventes momentos ao vivo como uma das melhores canções que Rhodes já escreveu (Lamb incluídos.) e nesta nova roupagem ganha um intimismo que muito bem lhe fica. Depois de uma pequena conversa sobre como uma música assume diferentes significados de acordo com a fase que uma pessoa atravessa, Lou lança-se na interpretação de “Beloved One” que, como “No Re-Run”, o que perde em fluidez, ganha em ritmo. A versão de “Tin Angel” de Joni Michell é lindíssima, sem dúvida. Antevisão de um terceiro álbum, “Some Magic Day”, resulta numa canção que, ainda que musicalmente muito interessante, peca pela predicabilidade da letra. “Icarus”, momento nada transcendente no álbum, soa ao vivo a uma espécie de feixe de luz sobre a figura introspectiva de Lou Rhodes: muito bonito. Segue-se um dos picos de beleza de “Bloom”, “All We Are”, do qual é melhor nem falar por ausência de palavras. Como que apalpar terreno, segue-se a versão á capella de “Gabriel”, resgatada ao “What Sound” dos Lamb. Momento de uma estética muito diferente do que Rhodes faz agora, resulta bem. “Never Loved (A Man Like You)” é também um belíssimo momento, onde, mais uma vez, os instrumentos fazem alguma falta, ainda que não retirem de todo a carga emotiva á canção. Fazendo-me sofrer até ao último momento, Lou guardou a minha preferida para o final, “They Say”, absolutamente perfeita. Os encores foram feitos com “Save Me” (Onde Lou se engana na letra, o que não devia ter deixado perceber…) e com “Sister Moon”, uma das canções que me parece menos pertinente no contexto do álbum.
Relatado o concerto que amei, ficam as minhas palavras de ódio:
Primeiro ao público: estava a sala cheia de pessoas que claramente desconheciam as canções de Lou Rhodes, limitando-se a conhecer, provavelmente, “What Sound”, álbum de mais projecção dos Lamb. Não se esforçavam por aderir ás canções, limitando-se a aplaudir sem grande convicção no final. Devem ter sido meia dúzia de pessoas a bater palmas quando Lou o pediu em “Tremble”. No final, os comentários que ouvi eram de uma grande ignorância do contexto desta carreira a solo: queixavam-se da falta de banda (Quando Rhodes alega, desde “Beloved One” que quer que a sua música se faça apenas do que lhe é essencial, o que muitas vezes pode ser só uma guitarra e voz.) e da timidez da cantora (Que sempre assim foi.). Sinceramente, acho que quem não conhece a música nem devia poder ir ver. Se estivesse no lugar de Lou Rhodes estaria muito mal impressionado com o público. Desrespeitaram-na totalmente, atirando-lhe uma indiferença que é nojenta, como se ela só tivesse o direito de cantar as músicas do Lamb. O PÚBLICO PORTUGUÊS É UMA VERGONHA!
Segundo, á Casa da Música: é suposto ser um espaço onde se abriguem vários tipos de música, mas, na realidade, há por norma orquestras de música erudita e bandas de jazz. O resto das duas uma: ou não vai, ou vai á sala pequena, que é o caso. O programa da Casa da Música é elitista e fechado, ignora muitos tipos de música. Fica a minha deixa. Recomendo que vejam estas canções ao vivo, vivamente. Blessings Lou…
Veredicto: 19/20
De facto, é estranho que, ao promover “Beloved One”, mais simples a nível instrumental, Lou tenha feito digressão com uma banda, e, agora, em “Bloom” onde a diversidade e complexidade instrumental são bem maiores se apresente em palco sozinha. Mas, logo em “The Rain”, uma coisa fica muito evidente: as músicas não perdem força nem energia ao serem despidas de tudo o que não seja guitarra acústica e voz.
Lou tem uma postura tímida, por vezes até demais, mas a entrega ás canções é total, e canta-as como quem de facto as sente.
Assim, quando a sua voz de faz ouvir cantando
“I know a man with the world on his shoulders
And angel´s wings on his back…”
não há muitas probabilidades de sentirmos a falta dos restantes instrumentos. Prossegue por “This Love”, que, estranhamente soa melhor assim, na versão de solo de guitarra.
“No Re-Run” marca o primeiro ingresso pelo primeiro álbum, “Beloved One”, numa versão que o que perde em fluidez ganha em ritmo. Em “Tremble” pede a ajuda do público para marcar o ritmo (De que a canção muito vive.) batendo palmas.
Uma das melhores músicas de “Bloom”, “Bloom”, ainda que muito bem interpretada, é uma das poucas que de facto, perde pela redução instrumental. Sem as notas de xilofone, apenas com a guitarra e a voz, fica a parecer uma música demasiado repetitiva e simples. O som nocturno não se perde, ainda assim. “Each Moment New” pontua também, sendo não só um dos mais comoventes momentos ao vivo como uma das melhores canções que Rhodes já escreveu (Lamb incluídos.) e nesta nova roupagem ganha um intimismo que muito bem lhe fica. Depois de uma pequena conversa sobre como uma música assume diferentes significados de acordo com a fase que uma pessoa atravessa, Lou lança-se na interpretação de “Beloved One” que, como “No Re-Run”, o que perde em fluidez, ganha em ritmo. A versão de “Tin Angel” de Joni Michell é lindíssima, sem dúvida. Antevisão de um terceiro álbum, “Some Magic Day”, resulta numa canção que, ainda que musicalmente muito interessante, peca pela predicabilidade da letra. “Icarus”, momento nada transcendente no álbum, soa ao vivo a uma espécie de feixe de luz sobre a figura introspectiva de Lou Rhodes: muito bonito. Segue-se um dos picos de beleza de “Bloom”, “All We Are”, do qual é melhor nem falar por ausência de palavras. Como que apalpar terreno, segue-se a versão á capella de “Gabriel”, resgatada ao “What Sound” dos Lamb. Momento de uma estética muito diferente do que Rhodes faz agora, resulta bem. “Never Loved (A Man Like You)” é também um belíssimo momento, onde, mais uma vez, os instrumentos fazem alguma falta, ainda que não retirem de todo a carga emotiva á canção. Fazendo-me sofrer até ao último momento, Lou guardou a minha preferida para o final, “They Say”, absolutamente perfeita. Os encores foram feitos com “Save Me” (Onde Lou se engana na letra, o que não devia ter deixado perceber…) e com “Sister Moon”, uma das canções que me parece menos pertinente no contexto do álbum.
Relatado o concerto que amei, ficam as minhas palavras de ódio:
Primeiro ao público: estava a sala cheia de pessoas que claramente desconheciam as canções de Lou Rhodes, limitando-se a conhecer, provavelmente, “What Sound”, álbum de mais projecção dos Lamb. Não se esforçavam por aderir ás canções, limitando-se a aplaudir sem grande convicção no final. Devem ter sido meia dúzia de pessoas a bater palmas quando Lou o pediu em “Tremble”. No final, os comentários que ouvi eram de uma grande ignorância do contexto desta carreira a solo: queixavam-se da falta de banda (Quando Rhodes alega, desde “Beloved One” que quer que a sua música se faça apenas do que lhe é essencial, o que muitas vezes pode ser só uma guitarra e voz.) e da timidez da cantora (Que sempre assim foi.). Sinceramente, acho que quem não conhece a música nem devia poder ir ver. Se estivesse no lugar de Lou Rhodes estaria muito mal impressionado com o público. Desrespeitaram-na totalmente, atirando-lhe uma indiferença que é nojenta, como se ela só tivesse o direito de cantar as músicas do Lamb. O PÚBLICO PORTUGUÊS É UMA VERGONHA!
Segundo, á Casa da Música: é suposto ser um espaço onde se abriguem vários tipos de música, mas, na realidade, há por norma orquestras de música erudita e bandas de jazz. O resto das duas uma: ou não vai, ou vai á sala pequena, que é o caso. O programa da Casa da Música é elitista e fechado, ignora muitos tipos de música. Fica a minha deixa. Recomendo que vejam estas canções ao vivo, vivamente. Blessings Lou…
Veredicto: 19/20
Sem comentários:
Enviar um comentário