quarta-feira, 26 de março de 2008

Histórias Improvaveis de Benedita Kendall

"Histórias Improvaveis" é o nome da mais recente exposição de Benedita Kendall, artista nascida no Porto em 1971. Tendo formação em várias áreas, do Desenho de Arquitectura á Pintura, nestes trabalhos essas várias áreas cruzam-se. Era importante, não só para a diversidade de referências artísticas como pela diversidade de referências culturais o sentido gráfico que a artista apresenta, tela a tela.


"Conectividades II"

A primeira característica que se nota é a agressividade dos fundos. Neles, a pintora assume a pincelada, furiosa, frenética, entrecruzada e entrecortada. Noutros ainda, ela simula através da pincelada essa mesma agressividade, mas já remetendo a alguns padrões como os círculos interiores de uma árvore, a casca da árvore, caracóis de cabelo ou rendilhados. Sobre estes fundos, a artista aplica imagens que nos levam ao universo da fábula, com animais personificados (Vestidos, a fumar, a discutir, etc.), outras vezes para personagens mais introspectivas ("A Máquina do Tempo".), ou para imagens de reminiscência social. Em tudo isto, a artista não se coibe de utilizar métodos de representação muito variados e com incontáveis referências. Se nuns, as figuras simplificadas e deslocadas do espaço nos levam imediatamente ao universo da ilustração ("Fábula Sobre a Solidão."), noutros os edifícios surgem desenhados, o que nos leva á aquitectura ("Histórias Improvaveis".), noutros a ilustração é feita como se faria num prato ou numa jarra ("Margem de Segurança".), nalguns surge a pintura, com os modelados, noutros apenas a linha, desenhada. As figuras em si são ora plácidas e concentradas na sua própria forma ou nos seus próprios gestos ("Histórias Improvaveis".), ora dotadas de uma apresentação mais barroca ("Rivalidades".), ora um desenho mais ligado á banda desenhada ("Fábula sobre a Fragilidade".).



"Histórias Improvaveis"



Algumas referências á representação tradicional oriental também se fazem sentir, bem como figuras ligadas a esta mitologia, como o dragão com a cauda na boca ("Timidez".).
Assim não é só no cruzamento de tantas personagens e temáticas diferentes que as histórias de Benedita Kendall se tornam improvaveis. É também na multiplicidade de referências artísticas tão distantes, que também parecem originar um ecótono de tempos.
É nisto que o novo trabalho de Kendall é interessante: pela capacidade que a artista tem de, utilizando as suas capacidades gráficas, fundir referências tão variadas, vindas de áreas distintas (Ilustração, pintura, literatura, arquitectura.), que resultam, no final, em telas muito coerentes, e capazes de suscitar ideias multiplas.


"Rivalidades"

Para ver até Abril na Galeria de Sao Mamede, em Lisboa.

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