segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Isabel Lhano: A Concha Quadrada

É sob o título "A Concha Quadrada" que Isabel Lhano, artista nascida em Vila do Conde, expõe uma série de pinturas a acrílico sobre tela, carregadas de um fortíssimo realismo (Quase hiper-realismo.).




"Sinto-te a Boca"



São encontros entre Vénus e Marte, ou Marte e Marte que Isabel Lhano retrata aqui. Imagens eróticas, por vezes homoeróticas, momentos da mais inviolável intimidade, invios de representação (Aparentemente.).
Claramente há sexo e sensualidade em cada uma destas imagens, mas nessa representação violadora da privacidade das fusões destas pessoas num só corpo repartido, não há qualquer violação da privacidade. Raramente vemos as caras, e as cores surgem adulteradas, como se um filtro de cor nos impedisse de chegar á realidade da pele destas pessoas.







"Sentidos Absolutos"

Mas, se é verdade que não ficamos a conhecer as caras a quem pertencem estas mãos, estes mamilos, estas pernas, estes braços, a verdade é que ficamos a conhecer algo de muito mais interessante, e de muito mais belo: a forma como se tocam, as suas maneiras de seduzir, a intimidade que têm... quem é seguro de si, quem precisa de ser protegido, quem tem necessidade de se fundir com o outro para se sentir completo, quem domina quem... é a estas perguntas que Isabel Lhano tão brilhantemente responde com as pinturas de "Concha Quadrada".

O próprio espectador sente-se a mais ao olhar estas telas. Á nossa frente, pessoas tocam-se, pessoas pedem ao outro que lhes entre no corpo, e que lhes entre na alma. E nós assistimos. Talvez reconheçamos os nossos próprios gestos, a nossa própria forma de pedir ao outro que se torne parte do nosso corpo, parte da nossa alma.






"Pousa-me"



E o facto de não vermos as caras, só nos leva ainda mais a ser capazes de encontrar-nos a nós mesmos a segurar o outro assim, a puxar ou empurrar o outro assim, a desejá-lo assim, a saciarmos o nosso desejo assim. E é aí que se torna tão irrevogável, e mesmo comovente, a colecção "Concha Quadrada". Foi nesta concha que já todos nos fechámos, e é nela que nos queremos fechar tantas vezes, fechar a nossa concha em torno da concha do outro, e não largar. Porque pode ser esse o assunto desta exposição: a nossa intimidade com o outro.



"Segura-me o Coração"

A série completa está no site da Galeria de São Mamede, na página http://www.saomamede.com/fr_exposicoes.asp?idexp=258. A não perder.

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