Quando "The Milk Eyed Mender", album primogénito de Joanna Newsom viu a luz do dia, viu com ela uma verdadeira chuva de críticas positivas, que incluiam umas imprevisíveis comparações com Bjork (vocalmente falando).
Ainda que "Ys" não soe a nada como "The Milk Eyed Mender", a verdade é que também não deita por terra a confiança que a crítica e o público da música indie lhe deu. De facto, a sonoridade solitária do primeiro álbum não é repetida no segundo.
Quando "Emily", a primeira faixa começa, percebe-se que, desta feita, Newsom veio acompanhada, não só pela sua harpa, como também por outros músicos. Neste caso, há uma orquestra, com excelentes arranjos de Van Dyck Parks, baixo e guitarra eléctrica, além dos backing vocals que tanto vêm da irmã de Joanna, Emily, como de Bill Callahan aka Smog, em "Emily" e "Only Skin" respectivamente.
As canções, essas, parecem por vezes remeter-nos a árias de ópera, não só pela sua construção, como também pelo aspecto mais imediato: a duração: a verdade é que em "Ys", a canção mais curta tem uns meros sete mintuos. Mas em relação ao esquema, este é uma espécie de deambulação, em que a voz segue a harpa, acima de tudo, ou não fosse ela a base de composição de Newsom. Heterogénias, as canções assumem personalidades, mas contam com uma fortíssima sensação de unidade.
"Emily" é a nostalgia, por exemplo, enquanto que "Sawdust And Diamonds" é mais positivista.
A voz continua a soar a algo muito estranho, e isto é um elogio. As composições remetem para uma espécie de universo paralelo, povoado de imagens surrealistas, que nos cantam estes agradáveis sons.
Há, felizmente, aquele não comodismo. Este é, não se faça confusão, uma álbum muito arriscado. Se "The Milk Eyed Mender" era um álbum já de si perigoso, passar dele para um outro poderia ser um passo em falso para Newsom e a sua harpa. Mas, na realidade, não há qualquer desilusão em "Ys". Pelo contrário. O crescimento musical é tão notório, que até parece ser uma outra cantora. Sim, sim, "Ys" é melhor do que o seu predecessor. E também mais invulgar. Já não é só a voz, já não é só o tipo de arranjos, já são as próprias canções. Nada em Joanna Newsom é convencional, para muitos, ela é esquisita, até mesmo inserida no universo indie. Mas isto não é nada mau. A verdade é também que não há ninguém como ela. E não há nenhum álbum como "Ys" também.
A pergunta, agora, é: o que vem a seguir?
Veredicto: 18/20
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