Lua branca da madrugada pousaste teu cinto na terra e o mar te veio buscar.
Já lá estavas, de lá enviaste as palavras que um tempo fora do tempo te tinha dado e nós à espera desse momento alado, em que as tuas letras transformassem linhas pretas num campo iluminado.
Agora estás lá dentro, agora desde que a lua e o mar se unem e fazem as marés mas só alguns o sabem, tu soubeste e nisso és.
Voltaste à terra branca, e na cidade um sino bate a hora como se o dia de hoje apagasse um foco incendiário.
Teu fogo porém vivo, é de outra chama e a cama onde te deitas, doutra cambraia e a praia onde te banhas, de outra água.
Anathema: Dreaming Light (Do álbum 'We're Here Because We're Here', 2010)
As Sem Razões do Amor
de Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no elipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Joan as Police Woman: Flash (Do álbum 'The Deep Field', 2010)
Monna Innonimata IV
de Christina Rossetti
Poca favilla gran fiamma seconda. – Dante
Ogni altra cosa, ogni pensier va fore,
E sol ivi con voi rimansi amore. – Petrarca
I loved you first: but afterwards your love
Outsoaring mine, sang such a loftier song
As drowned the friendly cooings of my dove.
Which owes the other most? my love was long,
And yours one moment seemed to wax more strong;
I loved and guessed at you, you construed me
And loved me for what might or might not be –
Nay, weights and measures do us both a wrong.
For verily love knows not ‘mine’ or ‘thine;’
With separate ‘I’ and ‘thou’ free love has done,
For one is both and both are one in love:
Rich love knows nought of ‘thine that is not mine;’
Both have the strength and both the length thereof,
Both of us, of the love which makes us one.
Lou Rhodes: All We Are (Do álbum 'Bloom', 2007)
desenho de Luis Caballero
Promessa
de Sophia de Mello Breyner Andersen
És tu a primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante
Em que é pleno e perfeito cada instante.
Norah Jones: Come Away with Me (Do álbum 'Come Away With Me', 2002)
Quem cantará o vosso regresso morto Que lágrimas que grito hão-de dizer A desilusão e o peso em vosso corpo.
Portugal tão cansado de morrer Ininterruptamente e devagar Enquanto o vento vivo vem do mar
Quem são os vencedores desta agonia? Quem os senhores sombrios desta noite Onde se perde morre e se desvia A antiga linha clara e criadora Do nosso rosto voltado para o dia?
Cada dia é mais evidente que partimos Sem nenhum possível regresso no que fomos, Cada dia as horas se despem mais do alimento: Não há saudades nem terror que baste.