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sábado, 10 de dezembro de 2011

Regresso



Quem cantará o vosso regresso morto
Que lágrimas que grito hão-de dizer
A desilusão e o peso em vosso corpo.


Portugal tão cansado de morrer
Ininterruptamente e devagar
Enquanto o vento vivo vem do mar


Quem são os vencedores desta agonia?
Quem os senhores sombrios desta noite
Onde se perde morre e se desvia
A antiga linha clara e criadora
Do nosso rosto voltado para o dia?

Sophia de Mello Breyner Andersen
Mar Novo
1958, ed. Guimarães
pintura de Rogério Ribeiro

domingo, 13 de novembro de 2011

Psicanálise



Em cada homem, dez, ou mais ainda;
Em cada homem, nove disfarçados,
E todos nove, na voz, amordaçados,
Do homem que convém palco e berlinda.


Uma porta da cave aferrolhada
A malícia do sono desmantela:
Fugidos do segredo e da cancela,
Mostram os nove o dez igual a nada.


Depois de bem torcido e recalcado,
Sacode o dez a pele e os detritos,
Disfarçando, subtil, rugas e jeitos,
Do que foi o seu corpo analisado,


Velhaca mascarada, ou sem sentido
De sombras a fingir de corpos vivos,
Cicatrizes tapadas de adesivos,
O falso dez, o zero, o um perdido.

José Saramago
Os Poemas Possíveis (1966)
1982, 2a edição, Caminho
pintura de  Rogério Ribeiro

sábado, 30 de abril de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pequeno Poema Ilógico e Verdadeiro


que os fantasmas atravessem as paredes
e as vozes também sim
que haja quem se esgueire entre gotas
e viva gota a gota também não

eu de que lado estou dentro de mim
se o coração me ensurdece
como palavra
a retardador?

e os braços
que a mim trago agarrados
são os meus
ainda

desembainhá-los
para que sejam espadas
tuas?

Regina Guimarães
Caderno do Regresso
2010, ed. Hélastre
desenho de Rogério Ribeiro