quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Na Insónia Vivem

Dormia nos séculos, na obra (o azulejo),
e hoje vivo a vigília, reparto
os detritos do ouvido (nesses pátios chamam), a poeira urbana.
Se no sono mortal, entre frutos, pensava
na ciência, se os fenos, no exterior,
murmuram; que não recebi dos cereais o
seu dom; nada senti (as úlceras) entre arbustos velhos, portas de sombra
de um só solar; dançam, no peristilo, em pedra, e no entanto
assim dormem (o seu estado: a cerâmica). Só agora me exaltam;
arte, memória, as páginas, na insónia vivem,
lembro, como adormecem os mortos (silêncio vital) no seu tempo.


Fiama Hasse Pais Brandão
(Este) Rosto (1970)
in "Obra Breve"
2007, ed. Assírio e Alvim
imagem de Eduardo Luiz

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