quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Mês de Dezembro 1


continuamente, escuta, me destruo
e as longas águas sem sossego fogem
e os ossos de dezembro coincidem
e são do inverno estas metamorfoses

não falarei da vida porque a vida
perdidamente triste se sustenta
de surdos pensamentos e desastres
e devagar a luz se lhe estrangula

sempre assim foi esta periferia
da escrita a desfazer-se e é no inverno
que nos olhamos com ferocidade
antes que o tempo devore outros discursos


Vasco Graça Moura
O Mês de Dezembro e outros poemas

1972, ed. Inova
pintura de Caspar David Friedrich

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