Aqui começa a impossível ressurreição do corpo.
Um ácido tapa os dedos do homem como se fosse
uma luva de pedra. Cabe à mulher explicar o desenho
dos ombros, como é feita a curva das ancas no instante
da queda. O silêncio arrepia, não a morte. É preciso
descobrir de onde vem a lua cega, quem a carrega,
quem a anuncia nos dias em que os monstros das
lagoas invadem a terra. O homem arrepende-se,
não suporta a picada das aves que nascem do lodo
abraçadas aos crustáceos. Transforma o ferro em aço,
envolve-o em grandes anéis de pólvora, afugenta as
limalhas com o próprio sopro. O seu destino não
pertence ao chão que pisa, mas a ela, à luz que
transparece dos seus ossos.
Jaime Rocha
Lacrimatória
2005, ed. Relógio d´Água
desenho de Elizabeth Eleanor Siddal
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