Concretamente, “The Damned Thing”, baseado num conto de Ambrose Bierce, é uma história sobre uma força maligna que possui as pessoas conduzindo-as a brutais homicídios e suicídios. É o que acontece com a família de Kevin Reddle, quando, na noite do aniversário, o pai assassina a mulher e, prestes a matar também o filho, é repentinamente estripado por um ser invisível. Vinte e quatro anos depois, Reddle (Sean Partrick Flanery) é xerife da localidade de Cloverdale, Texas. A sua obsessão pela criatura que terá conduzido o seu pai à loucura levara a mulher, Dina (Marisa Coughland), a separar-se dele, levando o filho que tinham em comum.
Com o aniversário de Kevin a aproximar-se, começam a surgir pela localidade vários suicídios violentos e ataques, sem que a sua origem possa ser determinada.
Tentando entender a origem de tudo, Kevin acaba por abrir uma caixa que pertencia ao pai, para nela encontrar uma série de recortes de jornais, acerca de uma perfuração no solo, feito numa comunidade vizinha, com vista à implantação de uma fábrica. Essa perfuração teria estado na origem de um grande massacre que devastara a população da vila; e nela, teria estado envolvido o avô de Kevin.
Com a força maligna a tornar-se cada vez mais activa e mortífera, Kevin acaba por confrontar-se com os seus fantasmas, ao mesmo tempo que tenta salvar a família e a população da “coisa maldita”. E talvez seja esta a tónica mais interessante do filme.
Falando propriamente, este filme segue, tal como “Dance of the Dead”, o caminho do drama familiar, enquanto palco de problemas e traumas, que originarão mais tarde as situações que o filme em si permite explorar.
Não é raro encontrar-mos em filmes de terror indivíduos como Kevin, incapazes de vencerem os seus medos e a perder, por isso, a sua vida. Mais interessante do que o que nos é contado, no entanto, é, neste filme, o que não nos é contado.
Tobe Hooper parece querer guardar a resolução mesmo mesmo para o fim, e a verdade é que só temos acesso à imagem da “coisa maldita” no final, e sem grande tempo para a fixarmos. O filme evolui com lentidão, e parecemos acompanhar Kevin na sua inércia e no seu vazio, enquanto procuramos as respostas sobre a noite em que ele perdera a sua família.
A questão das forças malignas que tomam as pessoas, como parasitas, não é nova. A título de exemplos, cito “Ghosts of Mars” ou “Prince of Darkness” de John Carpenter; ou “Session 9” de Brad Anderson. Tratando-se de uma premissa por assim dizer “vulgar”, a única hipótese de salvação para o filme de Hooper seria a explicação da origem dessa força, e parece-me que, nesse aspecto, Hooper é bem sucedido.
Se há alguns aspectos negativos a comentar, eles parecem-me quase cosméticos. Por exemplo, no início, são muito realistas os efeitos especiais quando o pai de Kevin é esventrado; mas, no final, a figura da “coisa maldita” é tão nitidamente digital que é quase como se os operadores nem tentassem disfarça-lo. Isto, além do voz-off que, defendo, só deve existir se fôr mesmo estritamente necessário, o que não é o caso.
No entanto, estas pequenas falhas são compensadas com pequenas subtilezas, que vêm confirmar o olho certeiro e treinado para a estética do grotesco que é o de Tobe Hooper. Como exemplo, deixo a cena que mais me impressionou, a do suicídio de um homem que desfigura o próprio rosto com um martelo. Os planos utilizados para filmar essa cena em particular merecem, por si só, que se veja “The Damned Thing”.
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