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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Birthday



My heart is like a singing bird 
Whose nest is in a watered shoot; 
My heart is like an apple tree 
Whose boughs are bent with thickset fruit; 
My heart is like a rainbow shell 
That paddles in a halcyon sea; 
My heart is gladder than all these 
Because my love is come to me. 


Raise me a dais of silk and down; 
Hang it with vair and purple dyes; 
Carve it in doves, and pomegranates, 
And peacocks with a hundred eyes; 
Work it in gold and silver grapes, 
In leaves, and silver fleurs-de-lys; 
Because the birthday of my life 
Is come, my love is come to me.


Christina Rossetti
Goblin Market and Other Poems
1862, ed. MacMillan &Co, Londres
desenho de Júlio Resende

sábado, 12 de março de 2011

Pela Mão de Alguém


Olham pela vigia. Parados nas nuvens.
Atados a uma cadeira presa ao chão.
O tempo sobre com o aroma do café,
rodopia na colher que os vai adoçando.
Turbulência, cintos apertados.
Dez horas a passarem nas vozes em surdina.
Se eu soubesse, se pudesse saber tudo o que levam
nas malas. Mas também eu vou no porão.
Hei-de rolar no tapete até que peguem em mim.
Como um livro de bolso vou espreitar a cidade
pela mão de alguém. Tenho um segredo,
digo, uma combinação. Tenho os órgãos
espalhados pela cama de um quarto de hotel.
Mãos viajantes fecham-me os pulmões.
A cidade retalhada pelo clique da máquina
será deles por uns dias. Resta-me a tumba
do armário até à próxima reencarnação.

Rosa Alice Branco
O Mundo Não Acaba no Frio dos Teus Ossos
2009, ed. Quasi
desenho de Júlio Resende

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Arte Poética


Gostaria de começar com uma pergunta
ou então com o simples facto
das rosas que daqui se vêem
entrarem no poema.

O que é então o poema?
um tecido de orifícios por onde entra o corpo
sentado à mesa e o modo
como as rosas me espreitam da janela?

Lá fora um jardineiro trabalha,
uma criança corre, uma gota de orvalho
acaba de evaporar-se e a humidade do ar
não entra no poema.

Amanhã estará murcha aquela rosa:
poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte
e depois entrar num canteiro do poema,
enquanto um botão abre em verso livre
lá fora onde pulsa o rumor do dia.

O que são as rosas dentro e fora
do poema? Onde estou eu no verso em que
a criança se atirou ao chão cansada de correr?
E são horas do almoço do jardineiro!
Como se fosse indiferente a gota de orvalho
ter ou não entrado no poema!


Rosa Alice Branco
Soletrar o Dia, poesia reunida
2002, ed. Quasi
desenho de Júlio Resende

domingo, 30 de janeiro de 2011

Prova da Existência da Alma


Deixaste a ressurreição a meio.
Não me lembro de nada tão incompleto como ela.
O meu director fala de objectivos, fazemos mapas
e somos despedidos se. Ou temos prémios
e corrupção. Haja alguma arte em tudo isto.
Senhor, o teu corpo está seco na gaveta.
Estás no meio de nós coberto de bolor.
A morte chega a ser desejada tal o sofrimento.
Nas palavras de São Paulo a criação teve parto e dores
em relação. Um prelúdio, sabemos hoje, prelúdio
sem mais nada. Os animais não aspiram à eternidade.
Nisto devia consistir a alma que lhes foi negada.
Por menos despediria eu um empregado.
O meu cão brinca a que sou eu o cão dele.
Atira-me um osso e corro atrás, todos corremos atrás.
Mas é assim que se sobe na vida porque aspiramos.
Prova provada de que temos alma.

Rosa Alice Branco
O Gado do Senhor
2010, ed. Espiral Maior
imagem de Júlio Resende

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Apelo



Atravessa os campos da noite
e vem.

A minha pele
ainda cálida de sol
te será margem.

Nas fontes, vivas,
do meu corpo
saciarás a tua sede.

Os ramos dos meus braços
serão sombra rumorejante
ao teu sono, exausto.

Atravessa os campos da noite
e vem.






Luísa Dacosta
A Maresia e o Sargaço dos Dias
2002, ed. Asa
imagem de Júlio Resende

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dia a Dia



Estamos sempre a perder coisas,
as mais frágeis, ou as que caem pelo caminho
quando abrimos os braços para receber.
A nossa vida nunca tem as mesmas palavras
para o que transportamos,
mas tudo o que achamos nos deslumbra
a casa, cheia de coisas que temos
ou não temos cada dia.






Rosa Alice Branco
Da Alma e dos Espíritos Animais
ed. Campo das Letras, 2001
imagem de Júlio Resende