EXTREME MAKE-OVER
Marcus Nispel iniciou a sua carreira em 1989, a realizar videoclips. Os músicos que filmou são numerosos, e incluem nomes como os No Doubt, os Bush, Gloria Estefan, Janet Jackson, os Fugees ou Myléne Farmer. Só em 2003 estreou o seu primeiro filme. Tratava-se de um remake do "Massacre no Texas" de 1974. Apesar de aceitar alguns lugares-comuns do cinema de terror actual, a verdade é que o filme, ficando claro a dever um pouco ao de Tobe Hooper, funcionava muito bem como remake, na medida em que não traía propriamente o original, mas sabia também demarcar-se como objecto novo e diferente, que é mais ou menos aquilo que, penso, faz de um remake mais do que uma mera repetição.
Em 2004, de novo um remake de um clássico do terror, o "Frankenstein" de Dean Koontz, e contava com nomes de peso na equipa, entre os quais Martin Scorcese na produção e Angelo Badalamenti na banda sonora. O filme, que originalmente seria o episódio-piloto para uma série de televisão, acabou por se tornar efectivamente um filme.
Em 2007, novo remake, desta vez de "Pathfinder", um filme norueguês de 1987.
O padrão de Nispel recriar filmes de terror não é pois quebrado em 2009, e eis que estreia "Sexta-Feira 13", baseado no original de Sean S. Cunningham.
A questão é que o remaker que Nispel é no seu "Massacre no Texas" não é o mesmo remaker que ele se revela em "Friday the 13th".
A verdade é que se nota que Nispel quis criar um filme diverso do original, e pelo menos isso conseguiu. O resultado é que não é bom: é na verdade um verdadeiro fiasco.
Comecemos por assinalar que o argumento é da autoria de Damian Shannon e Mark Swift, os mesmos dois que escreveram "Freddy vs. Jason", que, cruzando dois clássicos do slasher movie, conseguem a sequela mais desastrosa de qualquer das duas sagas.
E o primeiro problema é precisamente o próprio argumento do filme que nem um bom realizador poderia salvar (A questão é se um bom realizador o aceitaria...). Porque este "Sexta-Feira 13" não é um refazer do filme de Cunningham: é uma mera re-utilização dos seus personagens, ou talvez nem isso, porque a película original de 1980 apresenta-nos Mrs. Vorhees, uma mãe despeitada, que assassina para vingar o seu filho defunto, Jason. Mas neste filme, que se propõe como o filme inicial, faz uma pequena referência a Mrs. Vorhees no princípio, mas tem em Jason o principal assassino, o que, na sequência original, só aconteceu no segundo filme, dirigido por Victor Miller.
Por isso, é com isto que partimos: este filme é um corte-e-costura dos filmes de Cunningham e de Miller. O que nem por isso resulta bem.
Os argumentistas deste remake utilizaram algumas das ideias de Miller, nomeadamente na primeira parte do filme, mas alterando-as. O que aqui vemos são cinco adolescentes que viajam até perto do campo de Crystall Lake, sobre o qual se conta ainda a história de Mrs. Vorhess e Jason, para procurarem uma enorme plantação de erva. E assim são assassinados um por um. É mais ou menos o que acontece no filme de Miller. Mas Nispel deita por terra toda a ideia ao aproveitar-se dela para despejar todo o tipo de clichés que são agora muito comuns, e que incluem cenas de sexo, o casal ajuízado, etc.
É precisamente esse casal ajuízado que vai ter à casa de Mrs. Vorhees, e descobre a sua cabeça guardada numa espécie de altar. Além disso, encontram uma fotografia da defunta, que é fisicamente muito parecida com a rapariga, Whitney (Amanda Righetti).
Rapidamente todos são assassinados e, semanas mais tarde, encontramos Clay (Jared Padalecki) que procura a irmã desaparecida, Whitney. Pelo caminho, cruza-se com um grupo de amigos que se encaminham para a casa do mais rico, Trent (Travis Van Winkle), para passar o fim-de-semana. Casa essa que fica também próxima de Crystal Lake.
Assim sendo, temos o irmão que procura a irmã incessantemente, ajudado por uma das raparigas do grupo, Jenna (Danielle Panabaker), enquanto na casa decorrem as cenas que já só podem causar um bocejo, e que incluem sexo, drogas, alcóol, jogos estúpidos, conversas idiotas de adolescentes, etc, etc, etc, nada de novo. Pelo meio, lá anda Jason, matando um a um e cada vez mais violentamente cada pessoa que encontra pelo caminho.
No fundo, aqui não há nada de novo. Quando o filme original surgiu, num espaço de tempo em que surgiram também "The Texas Chainsaw Massacre" de Tobe Hooper, "Halloween" de John Carpenter e "A Nightmare on Elm Street" de Wes Craven, talvez tudo isto fosse original e insólito, mas, no ano de 2009 fazer um filme nestes parâmetros é pura e simplesmente aborrecido.
E aqui está o problema principal deste "Friday the 13th": é que podemos argumentar que está no direito do realizador e dos argumentistas quererem fazer um filme que se demarque do original, e usar os personagens numa sinopse diferente. Mas não há, de facto, argumento contra a predicabilidade destes novos moldes que se dão a Jason Vorhees. Já não há nada de interessante em ver dois amigos a fazer sexo enquanto o assassino lá fora ergue a faca-de-mato, nem nada de especial na menina a fazer kite-surf em top-less. Nem sequer as mortes têm algo de surpreendente, limitam-se a fazer uma espécie de assimilação daquilo que já temos visto quer em filmes desta saga, quer noutros. Há que referir que Nispel tem algumas qualidades como realizador: alguns dos planos que aqui vemos são realmente de uma estranha subtileza, na escolha dos cenários, na luz: o que talvez seja uma herança dos seus tempos como realizador de videoclips.
No fundo, o único ponto realmente interessante neste filme é, no final, quando vemos que Whitney foi poupada à morte precisamente por ser tão parecida com a mãe de Jason: mas essa ideia já vinha do filme de Miller.
No fundo, o único ponto realmente interessante neste filme é, no final, quando vemos que Whitney foi poupada à morte precisamente por ser tão parecida com a mãe de Jason: mas essa ideia já vinha do filme de Miller.
Que Marcus Nispel tenha feito bons remakes, isso é um mérito que lhe cabe. Mas que definitivamente não há nenhum ponto de vista a partir do qual este filme seja bom, isso parece-me também muito evidente.
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