segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um Poema



Mas que do nada ao menos fique
um momumento de palavras.
David Mourão Ferreira

que fique um monumento de palavras
só de palavras que não arrefeçam
como lobas do sol sugando a terra
na densa arquitectura da estiagem

um arco incandescente que do nada
gere sílabas férteis alfabetos
como fachos de luz sobre o deserto
de minúsculas vidas em combate

que desse monumento surja o livro
o rumo a rotação em que se fundam
todos os dedos unos sem litígios

a síntese perfeita da puríssima
da silente verdade resoluta
dentro do homem novo em seus desígnios.

Olga Gonçalves
Três Poetas
1980, ed. O Oiro do Dia
desenho de Eduardo Nery

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